Aquietai-vos e Sabei que Eu Sou Deus

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Harry Foster

“Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra” (Salmos 46:10).

Porque assim diz o SENHOR Deus, o Santo de Israel: Em vos converterdes e em sossegardes, está a vossa salvação; na tranquilidade e na confiança, a vossa força, mas não o quisestes” (Isaías 30:15).

Os homens que proferiram essas palavras não foram teóricos. Eles obtiveram provas pessoais das obras poderosas de Deus, realizadas em favor daqueles que nEle esperaram. O Próprio Deus não é teórico, mas tem especial interesse naquilo que é vital e que produz resultados espirituais. O Senhor nos convida a conhecer, ou melhor, a provar que Ele é verdadeiramente um Deus todo-poderoso, nos mostrando, assim, como poderemos obter esse conhecimento. Isso ocorre por meio da obediência à Sua direção: “Aquietai-vos”.

O que significa “aquietar-se”? Talvez seja de grande ajuda considerar algumas ocasiões onde o povo de Deus passou por experiências dessa natureza, momentos em que foram conduzidos ao silêncio e, como resultado, experimentaram provas maravilhosas de que Deus é, de fato, um Deus vivo.

A Vitória em Jericó

Um registro notável desse tipo de experiência aconteceu em Jericó. Quando aquelas muralhas foram derrubadas, ficou evidente: Deus é Deus. Mas isso não aconteceu antes que o povo de Deus passasse por uma severa disciplina de quietude e confiança (Js 6:10).

A ordem tríplice de Josué indicava que o povo não deveria gritar, conversar, nem mesmo sussurrar, enquanto realizasse sua marcha ao redor da cidadela.

Essa parece uma boa ilustração da verdade espiritual que estamos tentando compreender, porque fica bem claro que “aquietar-se” não significa ficar paralisado, ocioso, passivo. O silêncio era parte da atividade de fé proposta a eles.

Cada dia eles se levantariam cedo e caminhariam ao redor das muralhas de Jericó. Mas enquanto realizassem essa caminhada, deveriam adotar um certo procedimento: manter completo silêncio. Ao observarem aquelas enormes fortificações, poderiam ser tentados a comentar um com o outro a respeito de sua impossível tarefa. Isso não era permitido. Eles podem ter sentido diversas emoções que os motivassem a falar, dizer qualquer coisa, talvez apenas para manter o ânimo. Mas isso também não era permitido. O poder Divino não é produzido pelo otimismo humano. Outros assuntos devem ter brotado em suas mentes com relação aos acontecimentos do passado, ou até mesmo aos prospectos do futuro adiante deles. Não! Começar a conversar iria dissipar sua concentração espiritual, distraindo-os de sua tarefa.

Sua marcha deveria ser executada em quietude e confiança. Eles precisariam continuar marchando, mas também deveriam permanecer quietos. O único som ouvido seria das trombetas, que eram uma simples afirmação de sua fé no poder do Senhor. Tal afirmação era uma parte essencial da demonstração de sua calma confiança no Senhor.

Quando falamos, de fato arrazoamos, argumentamos, reclamamos pelas nossas derrotas ou até mesmo oferecemos sugestões de como as coisas deveriam ser feitas. Quando o povo de Deus gasta o seu tempo falando, vemos pouca evidência de poder entre eles.

Eles podem até decidir o que é errado e distinguir o que é certo, mas falham em conhecer a única coisa que realmente importa, que é saber que o Senhor é Deus. Para obter esse conhecimento, precisamos nos aquietar.

O Vale da Bênção

Outra ilustração impressionante desse princípio é encontrada na experiência do rei Josafá, descrita no relato de 2 Crônicas 20. Josafá e todo o seu reino estavam em uma situação extremamente perigosa. O rei tinha cometido um grave erro espiritual anteriormente, a ponto de ter sido severamente repreendido por um profeta (2 Cr 19:2).

Ainda assim, Josafá tinha um desejo sincero de agradar a Deus, algo que o Senhor sempre busca, e aprecia grandemente quando encontra. Quando chegaram à Josafá as notícias a respeito da calamidade que estava prestes a acometê-los (2 Cr 20:4), o rei se humilhou, e convocou todo o povo a fazer o mesmo.

“Todo o Judá permaneceu diante do Senhor” … Que diferença da sua postura anterior, quando Josafá se ofereceu para lutar junto com Acabe! (2 Cr 18:3). Outrora Josafá tinha agido com autoconfiança, mas agora admitia abertamente sua impotência. Seus olhos, que anteriormente estavam fixos em si mesmo e em seus aliados, agora estavam focados somente em Deus, em uma fé pura e simples (2 Cr 20:12).

Para o rei, não haveria esperança, se não fosse pela misericórdia do Senhor. Ele não tinha méritos nos quais se apoiar, conselhos para oferecer, força alguma para prover. Seria Deus ou não seria nada. Como o Senhor Se deleita em abençoar os homens, quando eles estão reduzidos a essas condições!

Ali, enquanto humildemente confessavam suas necessidades, o Espírito de Deus se manifestou, trazendo a resposta de Deus para Judá, Jerusalém e Josafá:

Neste encontro, não tereis de pelejar; tomai posição, ficai parados e vede o salvamento que o SENHOR vos dará, ó Judá e Jerusalém. Não temais, nem vos assusteis; amanhã, saí-lhes ao encontro, porque o SENHOR é convosco” (2 Cr 20:17).

O rei exortou o povo a acatar a mensagem, crer no Senhor, e o povo se moveu em direção aos seus inimigos cantando, “Rendei graças ao SENHOR, porque a sua misericórdia dura para sempre” (2 Cr 20:21). Eles não estavam inertes, nem amedrontados pela paralisia da incredulidade, mas permaneceram em uma calma confiança no Senhor dos Exércitos que ali estava. Em sua quietude, eles experimentaram que o Senhor era verdadeiramente Deus.

Uma das maiores lições desse incidente é que podemos e devemos esperar na misericórdia de Deus. Se Josafá tivesse dado ouvidos às acusações Satânicas relacionadas ao seu passado, poderia ter tentado se justificar ou certamente teria ficado oprimido pelo desespero. Mas ele não teve nenhuma das duas reações.

Quando humildemente esperamos em Deus, Ele mesmo assume o nosso caso. Essa batalha não é nossa, mas dEle, e apesar de sermos indignos e insuficientes, Ele está pronto para manifestar Sua Divindade para aqueles que em simples fé, obedecem à Sua Palavra revelada.

Em Caná da Galiléia

Podemos pensar que tais ilustrações são limitadas ao Antigo Testamento, e não se aplicam às nossas circunstâncias atuais. Um estudo dos Evangelhos nos mostrará que esses mesmos princípios aconteceram nos tempos do Novo Testamento, e que o Senhor Jesus demandava que os homens obedecessem ao mandamento do salmista, para se aquietar e saber que Ele (Jesus) é o verdadeiro Deus.

O primeiro exemplo ocorreu na transformação de água em vinho em Caná da Galiléia (Jo 2:1-11). Novamente a sabedoria humana e seus recursos naturais são encontrados em falta. Nos é dito que Maria, a mãe de Jesus, estava presente. Parece provável que ela estivesse um pouco envolvida nos procedimentos da festa, pois ela sabia que o vinho estava se acabando, mesmo quando o mestre-sala (vs 8) ainda não tinha consciência disso. Foi ela que se sentiu impelida a demandar que o Senhor Jesus fizesse algo por eles.

Sem dúvida suas palavras foram bem-intencionadas, mas encararam uma repreensão da parte do Senhor. Ele não poderia agir sob a direção dela, nem agiria em conformidade com suas sugestões. Essa hora não chegaria até que chegasse o momento em que ela deixasse todos os esforços naturais de lado e entregasse toda a questão em Suas mãos.

Isso foi o que ela fez. “Fazei tudo o que ele vos disser” (vs 5), foi o que ela ordenou aos servos, deixando claro que não estava mais no controle da situação, para que eles não esperassem nenhuma outra ordem de sua parte. Como é desafiador para nossos espíritos irritadiços aceitar uma repreensão! Como é difícil ficar quietos! Pela graça de Deus, Maria foi capaz de fazê-lo, e como resultado disso, ela e os discípulos tiveram o primeiro relance da glória de Cristo – eles souberam que Ele era Deus (vs 11).

Isso também é verdade conosco. Mas em primeiro lugar precisaremos aprender a aquietar toda a agitação e barulho, deixar de lado nossas tentativas pessoais de resolver os problemas, e até mesmo parar de tentar dizer ao Senhor o que Ele deve fazer. Então, apenas a partir daí, a Sua hora vai chegar, e Sua glória será manifesta.

No Deserto

No mesmo Evangelho de João, que descreve a plenitude do Filho de Deus, vemos o registro da multiplicação dos pães para alimentar cinco mil pessoas. Percebemos uma ênfase de que essas multidões só poderiam ser alimentadas, se primeiro elas se assentassem.

Disse Jesus: Fazei o povo assentar-se; pois havia naquele lugar muita relva. Assentaram-se, pois, os homens em número de quase cinco mil. Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os entre eles; e também igualmente os peixes, quanto queriam” (João 6:10,11).

O que será que representa a repetição do fato de que o milagre não foi realizado, até que as cinco mil pessoas estivessem sentadas? Não seria esse um exemplo da condição estabelecida pelo salmista para descobrir, pela experiência, que o Senhor é Deus? “Aquietai-vos!” Calma, não mandem o povo embora! Parem com suas perguntas de por que e como alimentá-los! Sosseguem-se, deixe de lado os cálculos matemáticos sobre a quantidade de dinheiro necessária para realizar tal façanha, e cessem com os argumentos de que cinco pães tão pequenos serão insuficientes! “Aquietai-vos e sabeis que eu sou Deus!”

Isso aconteceu com os discípulos e com a multidão. Todos precisaram encontrar um lugar de descanso. A sua agitação era muito bem-intencionada, sem dúvida alguma. Aquela foi uma reação natural em um momento de stress. Nós, os discípulos modernos, não somos melhores do que eles. Com frequência estamos sob pressão, e apesar de bem-intencionados, acabamos sendo movidos de nossa tranquila confiança no nosso Senhor. Somos pressionados a agir. É dito que depende de nós. Somos condenados quando desejamos orar, ao invés de fazer alguma coisa. Existem tantos argumentos que parecem espirituais e que podem ser atrelados a textos específicos, mas são absolutamente contrários àquilo que o salmista em questão se refere.

No livro A Vida de Hudson Taylor lemos a respeito de seu maior companheiro em suas viagens pioneiras ao interior da China, o Sr. Duncan. Certa vez, o Sr. Duncan se encontrou abandonado na cidade de Nanking, sem a menor possibilidade de receber qualquer ajuda financeira. Quando conseguiu vender sua última peça de prata, o ansioso cozinheiro lhe perguntou o que faria quanto todo o seu dinheiro tivesse acabado. “Fazer?”, foi a resposta tranquila de Duncan: “Iremos confiar no Senhor e fazer o bem, e certamente seremos alimentados”. E isso de fato aconteceu.

O que foi verdade na Palestina no início dessa era, também foi verdade na China em 1867, e ainda é verdade em Londres em 1962. Se nos mantivermos confiantes, o Senhor manifestará Seu poder.

Pentecostes

O período dos Evangelhos chegou ao fim, sendo seguido por uma nova dispensação, na qual os servos do Senhor teriam o poder Divino habitando neles, por meio do Espírito Santo. Será que isso indicava que a antiga base teria mudado? A resposta é não.

A base para provar o poder e presença de Deus ainda seria a mesma. O livro de Atos trará toda essa evidência à luz. Vamos citar dois exemplos, e o primeiro deles é o próprio evento do Pentecostes.

O que os discípulos estavam fazendo quando o Espírito desceu tão poderosamente sobre eles? Estavam fazendo planos? Certamente não, porque eles evidentemente não tinham ideia de como o mandamento do Senhor para evangelização do mundo seria cumprido. Eles estavam discutindo a respeito? Não!

Se eles estavam certos ou errados pelo fato de terem se sentido incumbidos de completar os Doze, e se a ação de escolher Matias foi correta ou necessária, fica a cargo da opinião de cada um. Independente disso, quando o tempo do Pentecostes se cumpriu, todas as considerações e ações haviam chegado a um fim. Eles não pareciam estar conversando um com o outro.

Será que eles estavam orando? Não podemos dizer ao certo, mas parece muito duvidoso. Nos é mencionado anteriormente que eles permaneceram em oração (Atos 1:14), mas quando um judeu está orando, espera-se que ele esteja de joelhos ou de pé. Nesse caso, sabemos que não aconteceu nenhuma das duas coisas ali no dia de Pentecostes, porque a única indicação que recebemos é que eles estavam assentados (At 2:2). Será que eles decidiram se aquietar? É bem possível. Ou pode ser que eles tenham orado até chegar a uma certeza, que possibilitou que aguardassem confiantemente por uma resposta. Não sabemos ao certo. Mas sabemos que eles estavam “assentados” – apenas sentados! Isso é tudo que o Espírito Santo parece considerar digno de registro. Mas, evidentemente, isso foi considerado importante o suficiente.

Será que podemos traçar alguma relação com o que estamos falando? Será que tem ligação com a exortação do salmista: “aquietai-vos”? Não temos dúvidas quanto ao restante dessa afirmação: “e sabei que Eu sou Deus”. A seguir, vimos uma grandiosa demonstração de quão maravilhoso Deus é, porque enquanto eles se assentaram, se manifestou na terra uma das mais impressionantes evidências da realidade da presença Divina que já aconteceu. “Todos ficaram cheios do Espírito Santo” (vs 4).

Nos dias que se seguiram, não faltou ação. Os discípulos ficaram muito ocupados. Mas a ação foi Divina, provava que Deus era Deus, e ela se manifestou àqueles que primeiramente aprenderam a estar quietos em Sua presença.

Pedro na Prisão

Desde o evento do Pentecostes até o dia de hoje, essa mesma experiência espiritual tem se repetido. O próprio apóstolo Pedro experimentou o poder de Deus de forma notável, quando seu espírito aguardava pacientemente no Senhor. Vejamos suas próprias palavras: “Agora, sei, verdadeiramente, que o Senhor enviou o seu anjo e me livrou…” (Atos 12:11). A situação de Pedro era desesperadora, mas o resgate miraculoso aconteceu para tornar patente o fato de que Deus é Deus.

Fechado no cárcere, na véspera de uma possível execução, ele estava diante de uma situação sem volta. Então, de forma maravilhosa, cadeias caíram de suas mãos, as portas da prisão se abriram automaticamente, e ele estava livre (vs 7,10). Só havia uma explicação. Pedro provou a realidade do poder vivo de Deus. Ele já sabia há um bom tempo que Deus era uma grande Realidade, mas naquela noite, Pedro O conheceu como nunca antes. “Agora, sei, verdadeiramente…”.

Mas qual foi sua contribuição nesse acontecimento? Sabemos, é claro, que o que aconteceu foi gerado pela oração incessante da igreja. Entretanto, não estamos considerando esse aspecto aqui. Desejamos saber o que Pedro fez.

Bem, isso não precisa ser muito elucubrado, porque a Palavra de Deus registra claramente a verdade: “Pedro dormia” (At 12:6). Isso pode até nos surpreender. Pedro não deveria estar combatendo em oração? Claramente ele não pensava assim. Sem dúvida ele deve ter orando antes de adormecer, mas provavelmente foi uma simples oração de confiança. “Na tranquilidade e na confiança” ele foi salvo. Deus operou enquanto Pedro dormia. Poderíamos até arriscar dizer que Deus operou porque ele dormia.

Alguns podem até tentar culpar Pedro pelo seu sono tão pesado, uma vez que o anjo precisou tocá-lo para que ele acordasse. Dormir assim em uma ocasião como essa pode até parecer algo carnal! Mesmo assim, se nos colocarmos em seu lugar, devemos nos perguntar se teríamos feito a mesma coisa sob tais circunstâncias. Passando por provas infinitamente menores, somos roubados de nosso sono. Podemos falar, pensar, até mesmo orar; mas uma coisa que parece impossível a nós fazer, em ocasiões como essas, é relaxar em um sono profundo e pacífico. Então me parece que a ação de Pedro, longe de ser carnal, foi a melhor maneira de expressar sua fé triunfante. Na base desse coração descansado e confiante, o Senhor encontrou Suas melhores oportunidades de manifestar Seu poder e Deidade.

Assim, o nome de Pedro foi acrescentado à lista daqueles que receberam provas impressionantes de quão correto é colocar os assuntos nas mãos do Senhor, lançar sobre Ele todas as nossas cargas, recusar toda a ansiedade e inquietação, e exercitar nossa confiança nEle (1 Pe 5:7).

Aquietai-vos”, foi o mandamento do salmista. Pedro obedeceu. Ele estava quieto. “E sabei que Eu sou Deus”, foi a promessa dada pelo salmista, promessa essa provada por Pedro como confiável e verdadeira. “Agora, eu sei…”, ele disse, e ao dizer isso, encorajou a todos nós que passamos por provações semelhantes, sem esperança de auxílio. O Deus do salmista foi o mesmo Deus de Pedro. Ele é o nosso Deus também. Obteremos provas vivas de que Ele é a grande Realidade, se pudermos aprender a lição essencial de quietude e confiança: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus”.

Tradução do livreto “Be Still, and Know That I Am God”, de Harry Foster, publicado e distribuído gratuitamente por Emmanuel Church.

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