Dias negros, milagres extraordinários

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“Dias negros, milagres extraordinários” é uma coletânea de extratos selecionados do capítulo 13 do livro “O Segredo Espiritual de Hudson Taylor”, de Howard Taylor (esgotado).

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“Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus concedida às igrejas da Macedônia; porque, no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade. Porque eles, testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários, pedindo-nos, com muitos rogos, a graça de participarem da assistência aos santos. E não somente fizeram como nós esperávamos, mas também deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor, depois a nós, pela vontade de Deus” (2Co 8:1-5).

“Entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo” (2Co 6:10).

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Na Inglaterra, o Sr. Berger enfrentava uma tempestade naquele inverno que avassalara a missão na China. O motim em Yangchow suscitou críticas no Parlamento e por todo o país. Baseada em informações mal interpretadas, a imprensa pública atacou os missionários que, segundo eles, levaram o país a beira de uma guerra com a China. Nem é preciso dizer que o Sr. Taylor e seus amigos deram pouco ou nenhum motivo às críticas. A Sra Taylor escreveu:

“Quanto ao juízo severo do mundo ou ainda as mais dolorosas incompreensões dos irmãos em Cristo, geralmente sentimos que o melhor plano é prosseguir em nosso trabalho e deixar que Deus reivindique a nossa causa.”

Era duplamente penoso que numa crise dessa viesse à tona a falta de amor de certos membros da Missão (…). A interpretação que davam dos fatos aumentava os desentendimentos na sua terra, e apesar da sábia e forte liderança do Sr. Berger um bom número de cooperadores foi afastado. Isso, mais as críticas da imprensa em geral, afetaram seriamente a arrecadação financeira, de modo que não foram poucos nem insignificantes os problemas que sobrevieram aos líderes da Missão.

“Orem por nós (escreveu o Sr. Taylor depois da revolta). Precisamos de graças abundantes. Vocês nem imaginam quanta paciência e longanimidade, quanto tato e sabedoria são exigidos diariamente nas situações que surgem entre tantas pessoas de nacionalidade, língua e temperamentos diversos. Roguem ao Senhor que me conceda unidade de propósito, juízo lúcido, sabedoria e bondade no trato, espírito paciente, resolução inabalável, e o amor cristão como exige o eficiente desencargo dos meus deveres. E peçam que nos enviem os meios suficientes e os auxiliadores aptos para a grande obra que nós apenas iniciamos.”.

Porém, em vez do incremento de recursos e homens pelo qual oravam, houve um considerável declínio nas contribuições vindas de sua pátria. Felizmente, embora imprevista por eles, a resposta à situação estava já sendo preparada, como vieram a descobrir. Pois aquele Deus que permitiu as dificuldades também providenciou a solução, conforme sabe bem fazer.

Um pobre da Inglaterra – um homem que LITERALMENTE não possuía nada mais do que possuem as aves do céu ou os lírios do campo – já estava sustentando, através das orações e da fé, uma família de cerca de duas mil crianças, que mais tarde se tornaram quatro mil. Sem um tostão de verba ou dotação, sem quaisquer apelos financeiros, sem avisar ninguém de suas necessidades, senão ao Pai do céu de cuja promessa podia depender, este homem, George Mueller, estava provando a fidelidade de Deus de um modo que já há muito tempo servia de inspiração à fé de Hudson Taylor. 

Acontece que este servo de Deus em Bristol, na Inglaterra, quis ser também uma parte direta na obra missionária dos recantos mais longínquos do globo terrestre. Orou pedindo meios que pudesse usar para incrementar a pregação do Evangelho em muitas terras, inclusive na China; e Deus lhe deu o gozo de ser o Seu instrumento de ajuda em muitas situações difíceis. Parecia que Deus lhe falava de perto, ou ao seu ouvido, e que podia usá-lo em serviços especiais que outros não tinham notado ou para os quais não estavam preparados.

A revolta de Yangchow acabava de ocorrer, por exemplo, e MUITO ANTES que a notícia pudesse chegar à Inglaterra, foi colocado no coração do Sr. Mueller o desejo de mandar auxílio financeiro à Missão do Interior da China. Ele já era contribuinte, mas um dia ou dois depois do motim, escreveu ao Sr. Berger pedindo o nome de outros membros da Missão que pudesse acrescentar à sua lista para ajudá-los e orar por eles. O Sr. Berger mandou seis nomes entre os quais poderia escolher, e ele escolheu os seis. 

E então, um ano depois, quando a escassez de recursos se fazia sentir mais profundamente, o Sr. Mueller escreveu outra carta, aumentando sua contribuição. Essa carta estava a caminho quando o Sr. Taylor, com um pagamento de dezembro, escreveu a um dos obreiros:

“Mais de mil libras a menos, do que há um ano atrás, foram doadas durante o primeiro semestre deste ano. Agora não emprego um cozinheiro. Acho mais econômico servir-nos de marmita a um dólar por pessoa por mês… Oremos com fé pelos recursos, para que não precisemos cortar o nosso trabalho”.

Para ele, diminuir o conforto parecia de pouca importância, mas “cortar nosso trabalho”… isso era coisa que, graças a Deus, eles não precisaram fazer. Nessa circunstância, antes do fim do ano, a carta do Sr. Mueller lhe chegava às mãos.

“Meu caro irmão (disse o Sr. Mueller), a obra do Senhor na China está mais e mais em meu coração, e por isso anseio e oro para que possa ajudá-lo cada vez mais tanto financeiramente como pela oração. Ultimamente sinto o desejo especial de ajudar financeiramente TODOS os queridos irmãos que estão com você. Desejei isso para que vissem o meu interesse pessoal. E essa vontade o Senhor me concedeu agora.”

Os onze cheques que acompanhavam a sua carta eram para TODOS os membros da missão a quem o Sr. Mueller não ajudara anteriormente. Escrevendo pelo mesmo correio, o Sr. Berger disse:

“O Sr. Mueller, após a devida consideração, pediu-me os nomes de TODOS os irmãos e irmãs ligados à M.I.C. achando por bem mandar auxílio quando puder a cada um, se nada tivermos a obstar… Por certo Deus sabia que nossos recursos eram escassos, e colocou assim no coração de Seu honrado servo o desejo de ajudar”.

Mas não era só o dinheiro, era a simpatia e as orações desse homem extraordinário que tornavam suas ofertas num encorajamento tão maravilhoso.

[Os donativos do Sr. Mueller durante estes anos seguintes perfaziam quase dez mil dólares anuais – exatamente a quantia que fora diminuída da renda da Missão depois da rebelião de Yangchow].

“Meu principal objetivo (escreveu o Sr. Mueller em carta aos missionários) é dizer-lhes que eu os amo no Senhor; que me interesso profundamente pela obra do Senhor na China, e que oro diariamente por vocês.

Achei que poderia ser um incentivo em meio às suas dificuldades, provações, sofrimentos e desapontamentos, saber de mais alguém que sente e lembra de vocês perante o Senhor. Mas se fosse diferente, se nunca ninguém se importasse com vocês – ou se pelo menos estivessem em uma posição em que aparentemente ninguém se importasse – terão sempre o Senhor ao seu lado. Lembrem-se do caso de Paulo em Roma (2Tm 4:16-18). 

Contem com Deus, então, olhem para Ele, dependam dEle. Estejam certos de que se andarem com Ele, olharem para Ele e esperarem o Seu auxílio, Ele nunca falhará. Quem escreve isso é um irmão mais velho que conhece o Senhor há quarenta e quatro anos e que lhes conta, para sua inspiração e estímulo, que nunca Ele falhou. Por Sua graça sempre pude confiar nEle, que sempre foi meu auxílio. Deleito-me em louvar o Seu nome”.

Extratos selecionados do livro “O Segredo Espiritual de Hudson Taylor”, capítulo 13.

Leia mais textos do autor aqui.


James Hudson Taylor (1832-1905) foi um médico inglês grandemente usado pelo Senhor para disseminar o Evangelho no interior da China. Seu grande segredo era cultivar o hábito simples de buscar constantemente o Senhor para o suprimento de todas as suas necessidades temporais e espirituais. 

Seu filho Howard Taylor escreve em sua biografia que, apesar de sua pequena estatura e limitações físicas que o deixavam com pouca energia, Hudson Taylor era um médico muito eficiente e um homem muito ativo em suas tarefas cotidianas – sabia cuidar de um bebê, preparar refeições, cuidar das finanças e consolar doentes e aflitos – tudo isso com a mesma segurança que se lançava em grandes empreendimentos. Ele foi um pai de família, com grandes responsabilidades e era um homem muito prático, vivendo uma vida que sofria constantes mudanças.

Acima de tudo, Taylor soube pôr as promessas de Deus à prova, atestando que era possível viver uma vida espiritual íntegra, em um nível muito elevado. Dezenas de milhares de almas foram ganhas para Cristo em muitas províncias chinesas que, até então, nunca tinham sequer conhecido um missionário. Cerca de mil e duzentos homens e mulheres trabalhavam em sua Missão para o Interior da China, dependendo somente de Deus para suprir todas as suas necessidades, pois viviam sem compromisso fixo de salário. Ele andava com Deus numa progressão contínua.

“Nunca fiz um sacrifício”, disse Hudson Taylor, recordando sua vida. De fato, se conhecermos seu testemunho, descobriremos que esse foi um elemento marcante em toda a sua trajetória. No entanto, Taylor entedia que as compensações de cada renúncia eram reais e duradouras, e que quando tratamos com Deus “de coração para coração”, negar-se a si mesmo sempre significa RECEBER.

Seu livro “Cântico dos Cânticos – União e comunhão pessoal com Cristo” retrata muito o seu coração, e foi um maravilhoso legado deixado pelo Senhor para a Igreja.

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