Amor, a melhor coisa no mundo – 5

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Amor, a melhor coisa no mundo – 5” é a tradução do livreto homônimo de Henry Drummond. 

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Henry Drummond (1851-1897)

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“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor” (1 Coríntios 13:13).

Estamos meditando no texto de 1 Coríntios 13, o tratado do apóstolo Paulo sobre o amor. Até aqui, o irmão Henry Drummond discorreu sobre a análise do amor e sua comparação com outros dons. Depois, analisamos suas características ou elementos e a sua prática. Nesse post vamos meditar na sua importância. O que pode ter levado Paulo a considerar o amor como o Dom Supremo? Leia os textos anteriores aqui.

A Defesa

Ainda tenho uma ou duas frases finais para destacar a razão de Paulo ter escolhido o amor como bem supremo. 

É uma razão extraordinária! Se resume em uma palavra: “permanece”. “O amor”, insta Paulo, “jamais acaba” (vs 8). Então, ele lista coisas grandiosas, e expõe cada uma delas. Ele menciona coisas que as pessoas consideravam permanentes, mostrando como são passageiras e temporárias, como elas em breve passarão.

Mas, havendo profecias, desaparecerão” (vs 8). Naquela ocasião, a grande ambição de uma mãe era ter um filho profeta. Por centenas de anos, Deus não mais falava por meio de um profeta, por isso naquela ocasião um profeta era considerado superior à um rei. As pessoas aguardavam saudosamente por outro mensageiro, por isso atentavam para as palavras de seus lábios como se fosse a própria palavra de Deus. Paulo assevera: “As profecias desaparecerão“. A Bíblia é cheia de profecias. Uma a uma elas “desapareceram”, isto é, se cumpriram e realizaram sua função, não tendo mais nada a fazer no mundo além de alimentar a fé de um homem devoto.

A seguir, Paulo fala sobre as línguas, que era outra grande ambição. “Havendo línguas, cessarão” (vs 8). Como todos sabemos, muitos séculos se passaram desde que as línguas se tornaram conhecidas no mundo. Elas cessaram. Interprete como desejar. Tome, apenas a título de ilustração, as línguas em geral. Não era esse o sentido que Paulo estava adotando, mas será útil para apontar essa verdade de maneira geral. Considere o idioma adotado para escrever esses capítulos aos Coríntios – o grego. Ele se foi. Tome o Latim – outra língua célebre naqueles dias. O latim é uma língua morta há muito tempo. Veja as línguas dos nativos de muitas nações. Estão desaparecendo. A língua de Gales, da Irlanda, do Planalto Escocês está morrendo diante de nossos olhos. O livro mais popular no idioma inglês no momento, depois da Bíblia, é uma das obras de Dickens: “As Aventuras do Sr. Pickwick”. Esse livro foi escrito, em grande parte, tomando o linguajar corrente das ruas de Londres daquela ocasião. Especialistas garantem que, dentro de cinquenta anos, será ininteligível para o leitor inglês comum.

Então, Paulo vai ainda mais longe, e com grande ousadia afirma: “Havendo ciência, passará” (vs 8). Onde está a sabedoria dos antigos? Desapareceu completamente. Uma criança hoje sabe mais do que Sr. Isaac Newton, o seu conhecimento se foi. O jornal de ontem vai direto para o lixo, sua informação passou. Você pode comprar uma grande enciclopédia por uma ninharia, seu conhecimento está obsoleto. Observe: as carruagens foram superadas pela máquina à vapor, a eletricidade varreu centenas de invenções para o esquecimento. Uma das maiores autoridades de nossos dias, Sir William Thompson, afirmou em um encontro onde eu estava presente, na Escócia: “O mecanismo à vapor está se tornando obsoleto”. Todo o conhecimento passará. Vemos nas oficinas um monte de ferro velho, algumas rodas, alavancas, manivelas, quebradas e devoradas pela ferrugem. Vinte anos atrás eram o orgulho de uma cidade. Os homens vinha do interior para ver as grandes invenções, que agora foram superadas, seus dias de glória se passaram. A tão falada ciência e filosofia de nossos dias em breve estará ultrapassada.

Isso aconteceu à uma pessoa eminente da Universidade de Edimburgo, Sir James Simpson, que descobriu o clorofórmio. Recentemente o bibliotecário da universidade pediu à seu sucessor e sobrinho, Professor Simpson, que fosse até lá e selecionasse os livros de sua área (obstetrícia) que não fossem mais necessários. Sua resposta foi: “Tome todos os livros com mais de dez anos e os leve ao porão”. Sir James Simpson havia sido uma grande autoridade há poucos anos, as pessoas vinham de toda parte para consultá-lo, e quase todo o ensino daquele período foi consignado ao esquecimento. Isso acontece em todas as áreas da ciência. “Porque, em parte, conhecemos… vemos como em espelho, obscuramente” (vs 9, 12). O conhecimento não resiste ao tempo.

Você pode me mostrar alguma coisa que vai durar? Ainda temos muitas coisas que Paulo sequer mencionou. Ele não se referiu ao dinheiro, fortuna, fama, mas escolheu as coisas que eram grandes no tempo em que vivia, as coisas que as pessoas mais bem sucedidas acreditavam ser importantes e, categoricamente, colocou todas elas em segundo plano. Paulo não tinha nada contra essas coisas, apenas afirmou que elas não eram perenes. Eram coisas boas, mas não supremas. Haviam outras coisas mais importantes. Aquilo que somos excede aquilo que fazemos ou possuímos. 

Existem muitas coisas consideradas pecaminosas pelos homens, que não são de fato pecados, mas são coisas temporárias. Esse é o argumento favorito do Novo Testamento. João afirma que o mundo “passará”, ele não afirma que o mundo é necessariamente errado. Existem muitas coisas no mundo que são lindas e prazeirosas, coisas grandes e atraentes, mas que NÃO PERMANECERÃO. “Porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida“, tem uma curta duração (1Jo 2:16). Por isso, não ameis o mundo (1Jo 2:15). Nada daquilo que existe nesse mundo vale a vida e a consagração de uma alma imortal. A alma imortal precisa se entregar à algo imortal. As únicas coisas imortais são: “a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor” (vs 13).

Alguns acreditam que chegará o dia em que duas dessas coisas também passarão – a fé se tornará em visão e a esperança, em realização. Paulo não disse isso. Pouco sabemos a respeito das condições da vida vindoura. Mas o amor certamente permanecerá. Deus, o Eterno Deus, é AMOR. 

Por isso, almeje o dom eterno, a única coisa que certamente permanecerá, a única moeda que permanecerá corrente no Universo, quando todas as outras moedas das nações perderem seu valor e importância. Nos devotamos à muitas coisas, mas priorizemos o Amor. Mantenha as coisas nas devidas proporções. Que o supremo objetivo de nossa vida seja expressar o caráter expresso nessas palavras: o caráter de Cristo, que é edificado em torno do Amor.

Afirmo que isso é eterno. Você já percebeu como o apóstolo João associa frequentemente o amor com a Vida Eterna? Quando era menino, não me ensinaram: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16). Me foi dito, pelo que me lembro, que Deus amou o mundo de tal maneira que, se depositasse nEle minha confiança, teria paz, descanso, alegria, segurança. Mas precisei descobrir por mim mesmo que qualquer pessoa que nEle confiasse – que equivale a amá-Lo, pois a confiança é a única avenida do Amor – teria VIDA ETERNA. 

O evangelho oferece VIDA ao homem. Nunca ofereça a um homem um Evangelho pequeno. Não ofereça simplesmente alegria, paz, descanso, segurança, expresse como Cristo veio a nós para dar ao homem uma vida mais abundante do que a que eles tem – abundante em amor, provendo-lhes abundante salvação, tão transbordante ao ponto de poder trazer alívio e salvação ao mundo à sua volta.

Só assim o Evangelho poderá tomar o homem por inteiro: seu corpo, alma e espírito, concedendo à cada parte de sua natureza humana o devido exercício e recompensa. Muito do Evangelho atual é dirigido apenas à parte da natureza humana. Se oferece paz, não oferece vida, quando oferece fé, não apresenta o amor, se apresenta a justificação, não aborda a regeneração. As pessoas apostatam desse cristianismo porque, na verdade, nunca as apreendeu integralmente. Não envolveu toda a sua natureza. Não ofereceu um estilo de vida mais profundo e alegre do que aquela vida que experimentavam antes. Somente o amor completo pode competir com o amor oferecido pelo mundo.

Amar abundantemente é viver abundantemente, amar eternamente equivale a viver eternamente. Assim, a Vida Eterna está inseparavelmente atrelada ao amor. Nós queremos viver para sempre pela mesma razão que desejamos viver amanhã. Por que desejamos viver amanhã? Porque existe alguém que nos ama, e desejamos vê-lo amanhã, estar com ele, retribuir esse amor. Não existe uma outra razão para continuar vivendo que não seja para amar e ser amado. Quando alguém não sente que é amado, pode chegar ao suicídio. Enquanto tiver amigos amados, que o amam também, ele viverá, porque viver é amar. Tenha o amor de um cachorro, isso o estimulará a continuar a viver, mas se ele perder isso, perderá a razão de viver, sua vida acabou.

A Vida Eterna também é conhecer a Deus, pois Deus é amor. Essa é a definição provida pelo próprio Cristo. “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17:3). O amor precisa ser eterno, pois é a essência de Deus. Em última análise, então, amor é vida. O amor nunca falha, e a vida nunca acaba, enquanto o amor existir. É essa a verdade que Paulo está tentando nos mostrar, e a razão do amor ser supremo – ele é perene, pois, em sua natureza, o amor é a Vida Eterna. Esta vida ETERNA é a vida que experimentamos neste momento, não a partir de nossa morte. Em verdade, teremos poucas chances de recebê-la quando morrermos, se não a vivermos agora.

NÃO EXISTE DESTINO PIOR para o homem neste mundo do que viver sem amar e ser amado. Estar perdido é viver uma vida não regenerada, sem amar e ser amado. Estar salvo é amar, porque permanecer no amor é permanecer em Deus, pois Deus é amor.

Concluindo, gostaria de sugerir a leitura desse capítulo uma vez por semana pelos próximos três meses. Certo homem fez isso, e mudou sua vida. Você está disposto? É a melhor coisa nesse mundo. Você pode começar lendo-o diariamente, especialmente os versos que descrevem seu caráter perfeito. “O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece…” Torne esses ingredientes parte de sua vida, e tudo que fizer será eterno. Vale a pena dedicar tempo a isso. Nenhum homem pode ser santificado dormindo, para experimentar isso precisamos dedicar tempo para a oração e meditação, da mesma maneira que empregamos tempo e preparação para desenvolver nosso corpo ou mente. Se dediquem a essa única coisa: que a qualquer preço esse caráter transcendente possa tomar o lugar do caráter de vocês. 

Olhando para trás, perceberá que os momentos mais importantes de sua vida foram aqueles quando agiu no espírito do Amor. Enquanto sua memória varre o passado, acima e além dos prazeres transitórios dessa vida, momentos se destacam: quando você foi capaz de praticar um ato de bondade anônimo àqueles que o cercam, coisas insignificantes demais para mencionar, mas que você sente que fizeram parte da Vida Eterna. Já vi quase todas as coisas maravilhosas que Deus criou, já usufrui de quase todos os prazeres que Ele planejou para o homem e, ainda assim, quando olho para trás, de todas as coisas que se passaram em minha vida, se destacam quatro ou cinco experiências nas quais o amor de Deus se refletiu de forma limitada, num pequeno ato de amor. Estas parecem ser as únicas coisas que permanecem em nossa vida. Tudo mais parece transitório, fantasioso, mas os atos de amor ocultos nunca passarão.

No livro de Mateus, onde temos o Dia do Juízo descrito na imagem de Alguém assentado em um trono separando ovelhas de cabritos, veremos que o teste consistirá em algo além da pergunta: “Como você creu?”. A questão será: “Como você amou?” [Mt 25:31-46]. Esse é teste final da vida espiritual, não baseado na religiosidade, mas no Amor. Não será fundamentado naquilo que fizemos, cremos, conquistamos, mas em como dispensei o amor em minha vida. Naquele terrível julgamento não são mencionados os pecados relacionados à nossa comissão, mas nossas omissões. Nem poderia ser diferente, pois reter o amor é negar o espírito de Cristo. É a prova cabal de que nunca O conhecemos de fato, de que para nós Ele viveu em vão. Isso indica que Ele não exerceu qualquer influência em nossos pensamentos, não nos serviu de inspiração, de que nunca vivemos próximos dEle o suficiente para sermos capturados pelo fascínio de Sua compaixão pelo mundo. Seria o mesmo que afirmar: 

“Vivi para mim mesmo, pensei para mim mesmo, 

Para mim mesmo, e ninguém mais,

Tão somente como se Jesus jamais tivesse vivido,

e como se Ele nunca tivesse morrido.”

Graças a Deus, o Cristianismo hoje está mais próximo das necessidades do mundo. Viva para contribuir para isso. Graças a Deus, as pessoas hoje sabem melhor o que é vida espiritual, o que Deus é, quem é Cristo e onde Ele está. Quem é Cristo? Aquele que alimentou os famintos, vestiu os que estavam nus, visitou os doentes. E onde Cristo está? Onde? “E quem receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe” (Mt 18:5). E quem é de Cristo? “E todo aquele que ama é nascido de Deus” (1Jo 4:7).


Henry Drummond (1851-1897) nasceu em Stirling, Escócia. Segundo seu biógrafo, o prof. George Adam Smith, “ele mudou a atmosfera espiritual de sua geração”. Drummond foi um cientista, um explorador e um grande comunicador da fé cristã nos cinco continentes, especialmente a estudantes. Sua família era cristã e Henry tomou sua decisão por Cristo ainda criança, jamais se desviando de sua fé. Atuou como professor, sempre ministrando o evangelho especialmente aos jovens e desfavorecidos. Fazer a vontade de Deus era sua prioridade. Cooperou em várias campanhas evangelísticas no Reino Unido, e em um momento de descanso dos cooperadores de uma dessas campanhas, D. L. Moody (18837-1899) pediu que ele compartilhasse a mensagem. Essa mensagem sobre 1 Coríntios 13 se tornou depois um livreto, intitulado “The greatest thing in the world”. Moody referia-se a ele como o homem mais parecido com Cristo que já havia visto.

“Henry Drummond foi um dos homens mais amáveis que já conheci… De fato se podia reconhecer, assim como aconteceu com os primeiros apóstolos, “que ele havia estado com Jesus” [At 4:13]… Não conheci outro homem que, em minha opinião, tenha vivido mais próximo ao Mestre, ou que tenha procurado cumprir Sua vontade mais plenamente”. D. L. Moody (1837-1899)

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