Cidades de Refúgio (Josué 20) – Parte 1

Print Friendly, PDF & Email

Participante de Cristo

“Para que, mediante duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, forte alento tenhamos nós que já corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta” (Hb 6:18).

“Fala aos filhos de Israel: Apartai para vós outros as cidades de refúgio de que vos falei por intermédio de Moisés para que fuja para ali o homicida que, por engano, matar alguma pessoa sem o querer; para que vos sirvam de refúgio contra o vingador do sangue” (Js 20:2,3).

O capítulo 20 de Josué descreve como Israel organizou cidades para proteção de pessoas acusadas de homicídio, o que não era incomum naquele tempo. É muito importante percebermos a ênfase do Senhor sobre o Seu cuidado com o pecador, principalmente quando lembramos que o livro de Josué é devotado a representar os princípios da Vida Cristã mais Elevada.

Logo no início do livro de Josué vemos Raabe, de Jericó. Esta mulher representava a pior categoria da sociedade, e não apenas a vemos sendo salva, mas também vemos a graça de Deus leva-la a se tornar parte da linha ancestral do Rei Davi, ou seja, do Próprio Cristo. Essa pecadora, pela graça, se tornou uma das mulheres participantes da família real nas eras eternas. No final do livro de Josué, vemos um cuidado especial de Jeová com a proteção do homicida – que demonstra uma pista do cuidado gracioso de Deus para com o pecador e perdido.

Certamente, isso nos ensina que, quanto mais crescermos na experiência da graça de Deus, mais iremos nos reclinar para baixo no exercício da Sua misericórdia para com os perdidos. Que não nos tornemos tão “santificados” ao ponto de não termos capacidade de alcançar os pobres pecadores, ou de perder a compaixão por eles. Quanto mais próximos estivermos do Mestre, mais nos encontraremos ao Seu lado ao redor de publicanos e pecadores.

É interessante então notar que essas cidades de refúgio eram colocadas aos cuidados dos Levitas. Os Levitas, entre outras coisas, tipificam a mais alta consagração ao Senhor, porque eles viviam integralmente para o cuidado dos interesses do Senhor. Essa tribo não tinha herança na terra de Israel. A sua herança era o Senhor. Portanto, podemos extrair disso que Deus concede o mundo pecador aos cuidados daqueles que estão mais entregues à Ele.

Cabe lembrar que, apesar dessas cidades serem um asilo aos homicidas, isso não era um mero ato de escape da punição, mas uma garantia da segurança da justiça de Deus. Não era um mero capricho, mas sim uma proteção para toda a vida, baseada nos princípios do imutável trono de Deus. O débito não era meramente perdoado, mas pago absolutamente e para sempre. Se aceitarmos o Evangelho de Jesus Cristo, teremos o poder de Deus para nos defender do vingador. A expiação de Jesus Cristo cumpriu cada demanda da justiça, e seria errado da parte de Deus punir alguém que confiou nessa provisão.

Um ponto muito importante é ver que Deus fez uma provisão para Seu povo em relação ao homicídio, anos antes de Israel assassinar o Seu Messias. Pedro disse, em At 2:23 e 3:17, que os Israelitas crucificaram Jesus pelas mãos de iníquos, e fizeram isso na ignorância. O próprio Senhor disse, quando estava na cruz, que eles não sabiam o que faziam (Lc 23:34). É impressionante então ver como esse tipo se aplica a Israel! Mas também tem uma aplicação encorajadora para nós.

O homem que matou seu vizinho, mesmo que sem desejar fazê-lo, abriu mão do direito de viver em sua porção da herança. Seu ato o expôs às atividades do vingador de sangue, e por isso ele perdeu o desfrute de sua possessão. Será que hoje não passamos por isso? Muitas coisas aconteceram, mesmo que não tenham sido intencionais, e elas trouxeram um estado de coisas no meio da cristandade, não permitindo mais um desfrute normal da nossa herança. Hoje as coisas estão em um estado anormal, assim como aquelas cidades de refúgio eram estabelecidas como provisão para condições anormais.

Uma Provisão para Israel

Quando Israel matou seu Messias e abriu mão das divinas promessas, Pedro falou com eles sobre o Evangelho, em Atos 2 e 3, assim como Paulo falou com os judeus em Antioquia. Eles abriram as portas das cidades de refúgio para aqueles judeus que tinham matado o Senhor, mostrando que, mesmo nessa posição totalmente anormal, Deus ainda tinha um refúgio proporcionado para eles. O que seria mais anormal do que o Messias, com Suas mãos cheias de bênçãos para Seu povo, ser crucificado? E isso aconteceu na ignorância! Ainda assim, Pedro e Paulo mostraram que as melhores bênçãos da aliança e da herança ainda estavam disponíveis.

“O que faremos?”, disseram os Judeus em Atos 2. A resposta de Pedro veio imediatamente, apresentando aquela cidade de refúgio. A Epístola aos Hebreus mostra como essa herança pode ser desfrutada por aqueles que correm na direção do refúgio, como as pessoas obtém sua herança e podem desfrutar dos imutáveis propósitos de Deus. Entretanto, esse desfrute depende do princípio estabelecido no tipo dessa cidade de refúgio.

Matar Jesus foi o pecado peculiar dos judeus, e isso corresponde ao pecado da profissão Cristã hoje, que é deixar o Espírito Santo de lado. Para os judeus, tudo estava ligado ao Messias e, ao O terem matando, cortaram de si mesmos tudo o que dizia respeito a Ele. Para nós, tudo está ligado de forma vital ao Espírito Santo. Se colocamos o Espírito Santo de lado, todo o poder das bênçãos cristãs é abandonado. Esse é o pecado atual da Cristandade. O Espírito Santo é desonerado e colocado de lado. E o pior, isso pode ser feito sem intenção direta, mas, mesmo assim, as consequências são terríveis. É um testemunho maravilhoso do coração de Deus o fato de que Ele leva em conta até mesmo as coisas feitas sem intenção. Deus olha para o estado da cristandade e vê que o desfrute da herança é abandonado por meio da desonra feita ao Espírito Santo, colocando-O praticamente de lado. Deus, em Sua maravilhosa graça e paciência, percebe que isso aconteceu de forma não intencional. Seu povo não sabe o que está fazendo. Então o princípio da cidade de refúgio entra em cena.

Em Números 35:26-28 nos é dito: “Porém, se, de alguma sorte, o homicida sair dos limites da sua cidade de refúgio, onde se tinha acolhido, e o vingador do sangue o achar fora dos limites dela, se o vingador do sangue matar o homicida, não será culpado do sangue. Pois deve ficar na sua cidade de refúgio até à morte do sumo sacerdote; porém, depois da morte deste, o homicida voltará à terra da sua possessão”.

A morte do sumo sacerdote pode se referir à presente posição do Senhor Jesus Cristo, como sumo sacerdote, o que não acontecerá para sempre. Hoje Ele está em posição sacerdotal à destra de Deus, mas futuramente ocorrerá uma mudança. A dispensação mudará, e quando sairmos da Era da Graça para a Era da Justiça, a Sua posição mudará. Quando isso ocorrer, Cristo será um Rei em Seu trono, acumulando as funções de sacerdote e rei, de acordo com Zacarias 6. Naquele momento, Israel não estará mais restrito, mas voltará ao desfrute de sua herança. Quando o arrebatamento acontecer, nós também não estaremos mais sob limitação, mas apreciaremos plenamente nossa herança celestial sem restrições. Essa dispensação atual, que limita o desfrute pleno da nossa herança, terá cessado.

O princípio da cidade de refúgio é provisório, ocorrerá por uma certa duração de tempo, tempo este que impõe limitações.

Continue no Próximo Post

Bibliografia:

  • Commentary on Joshua – C.A.Coates
  • Christ in the Bible – Joshua – A.B.Simpson
  • Site bridgetothebible.com
Post anterior
Uma Só Coisa – Uma coisa para não Esquecer
Próximo post
Cidades de Refúgio (Josué 20) – Parte 2

4 Comentários. Deixe novo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.