A Disciplina do Filho

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Participante de Cristo

“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2:5-8).

Você já deve ter percebido que a vida do Senhor Jesus foi uma vida de disciplina do início ao fim. Sim, Ele viveu em uma profunda e terrível disciplina, tocando a nota mais profunda do aspecto da fraqueza humana quando disse: O Filho não pode fazer nada de Si mesmo (Jo 5:19; 8:28). Que contradição e contraste com a natureza humana, que vive sempre afirmando: ‘Eu posso, eu consigo, eu farei, sou bom nisso’. Esse é o orgulho do homem, sua ambição. Não é o fato de apenas o ser capaz de fazer as coisas, mas também de ser alguém. No Filho de Deus temos a tremenda negativa de tudo isso: mesmo o Filho, mesmo Ele, não poderia fazer nada de Si mesmo (Jo 5:19,30). Por que repetir isso? Para que possamos apreender muito bem: Jesus é o Filho de Deus, e Nele vemos como Ele trabalha por meio da disciplina.

Vejamos o caso do povo de Israel, qual era o objetivo de Deus quando os disciplinava? E depois, quando disciplinou Seu Filho Jesus? O que é esse objetivo? Formar um servo, produzir um servo de Deus, constituir essa esfera de serviço.

Vamos considerar as próprias circunstâncias do nascimento do Filho de Deus. Ele é o Senhor da Glória! Ele é o “Senhor da Vida”, “o Príncipe da Vida”. Ele é o “Filho Eterno de Deus”, o único homem que podia dizer verdadeiramente: “Pai, glorifica o Teu Filho… glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (Jo 17:1;5)… Ainda assim não havia lugar para Ele na hospedaria. Não havia lugar, nenhuma casa, cama, berço, pessoas para ajudar quando Ele nasceu. Quão verdadeiras são aquelas palavras: “Ele se esvaziou” (Fp 2:7). Que esvaziamento! O esvaziamento dAquele que nunca poderia dizer: ‘nasci de pais importantes’, ‘nasci dentro de um palácio, uma casa nobre’. Não, nada disso! “A si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo”. Tudo isso demonstrava a disciplina necessária para se obter um espírito servil; algo de grande valor e apreço para Deus. Esse espírito vai encher todo o universo no final de tudo. O que farão Seus servos então? Serão servidos? Não! “Os seus servos o servirão” (Ap 22:3).

Então, pelos próximos trinta anos, temos um período oculto que gera tamanho desapontamento no meio da Cristandade. Quantas pessoas tentaram desenvolver algo a fim de preencher esse tempo e explica-lo. Por que esses anos silenciosos, com apenas um pequeno relance na idade de doze anos? O desaparecimento acontece de novo dos doze aos trinta anos, com um silêncio e ocultamento. Trinta anos! Um período no qual qualquer menino ou rapaz desenvolve suas habilidades, suas qualificações para a vida. Um período de treinamento que vai possibilitar um lugar nesse mundo. É nesse período que obtemos algum tipo de equipamento e qualificação para poder tomar um lugar digno e de reputação nesse mundo. Esses são os trinta anos. Se você não tiver algo assim quando tiver trinta anos, vai precisar se esforçar para obter. Normalmente, esse é o período no qual você obtém sua graduação, seus diplomas, suas habilidades, seu treinamento.

Para o Senhor, temos silêncio. Até onde sabemos, nada dessas coisas que mencionamos antes, mas apenas silêncio e ocultamento. O que estava acontecendo? O que podemos dizer? Olhando o contexto, vemos que tudo está ligado a sustentar aquele princípio permanente de Deus, das disciplinas do negativo.

Será que existe alguma disciplina maior na sua vida, caros amigos, do que quando nada acontece? Existe o suspense e a espera. Deus parece não estar fazendo nada. Você conhece um pouco dessa agonia? Seguir lado a lado com a consciência de que Deus certamente planejava algo melhor do que isso. Imaginar que Deus tem um propósito maior na vida do que isso. Eu diria que isso é disciplina, ou será que não é? Eu não chamaria uma pessoa de um ser humano normal se ela não tiver nenhuma preocupação com sua vida, nenhuma preocupação de sua vida ter valido a pena, ou de ter feito algo que valeu a pena.

Para Deus tomar um longo período nessa terra e manter tudo em suspense, esperando dia e noite. Oh, que monotonia terrível. O Velho Testamento fala sobre aqueles que se revoltaram, porque não tiveram mudanças em suas vidas. Como precisamos de mudanças! Monotonia é uma aflição terrível, não é? Bem, vemos no Senhor Jesus trinta anos de espera dessa maneira. O que Deus está fazendo? Se isso não é um esvaziamento do ego, então não sei o que seria… Se isso não visa inculcar, ensinar e instilar uma absoluta sujeição e submissão a Deus, compreendendo-O ou não – no final teríamos uma profunda perplexidade e espanto. Não me refiro à uma passividade de espírito ou indolência. Apesar de ter atividade no espírito, Deus ainda continua não trazendo Seus propósitos à luz. Esse é um sofrimento para a alma, a submissão, tornando o espírito servil a própria natureza e constituição de tudo.

Bem, se isso foi verdade com Ele, vamos olhar para a nossa própria história espiritual. A infinita agonia de um longo suspense, inatividade, espera e perseverança. Que grande paciência é concedida pelo Senhor nesses períodos. Mesmo no final da Bíblia, a perseverança de Jesus Cristo é o marco da alma santa (Ap 1:9).

Nós sabemos que isso é verdade; mas não temos a explicação. Temos o negativo por um lado, mas Deus sabe que existe um tipo positivo de negativo, por assim dizer. É um agonizante negativo: o esvaziar, o enfraquecer, o desamparo. Existe por outro lado, a vontade de Deus preeminente, absolutamente dominante, e uma vontade completamente entregue – é disso que o céu será feito! É isso que as eras que virão irão demonstrar! Quando Deus é tudo, e em tudo (Cl 3:11).

Isso não é apenas algo na Bíblia, mas é a ruptura da alma humana para chegar a esse ponto. Jesus saiu dos Seus trinta anos com nada; sem distinções acadêmicas, sem status ou referências de homens. Ele começou com muitas limitações. Jesus de Nazaré, ‘mas pode vir algo bom de lá?’ (Jo 1:46). Esse foi o comentário feito sobre esse homem de trinta anos de idade, iniciando Sua obra. Sim, limitações.

Talvez essa seja uma interpretação dos tratos de Deus conosco. Tudo gira em torno disso: Deus sofre infinitas dores conosco, nos quebrando, esvaziando, humilhando, enfraquecendo, tirando nossa habilidade para fazer e concretizar as coisas, para nos trazer ao lugar onde Sua vontade é preeminente; e em fazendo a Sua vontade, Ele pode Se mostrar ao mundo, aos homens. É por meio de pessoas assim que isso acontece. Você nunca vê o Senhor Jesus no arrogante, forte, auto-suficiente. Não, você não O vê nesse tipo de pessoa. Isso não é o Senhor Jesus. Não, “antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo” (Fp 2:7).

Esse é o objetivo de Deus. Isso é muito prático. Isso é muito real. É claro que muitos Cristãos não desejarão isso, e não o terão.

“O segredo de uma vida frutífera é, resumidamente, derramar suas vida para outros, e não desejar nada para si mesmo – entregar-se inteiramente nas mãos de Deus e não se preocupar com o que acontecerá com você”.
Jessie Penn-Lewis (Molded by the Cross)

Se desejar ler mais sobre o assunto, clique aqui.

Texto baseado em extrato do livro “The Horizon of Christ”, de T.Austin-Sparks.

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