A Eternidade da Cruz – Parte II

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Watchman Nee

“Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus”. (1 Co 1:18)

Se o sangue de touros e bodes não era capaz de remover pecado, como mencionamos anteriormente, como, então, os homens no Antigo Testamento eram salvos? Pela cruz. O homem havia pecado. Portanto, somente um homem podia cumprir a redenção do pecado. Embora os animais fossem inocentes e sem mácula, eles não podiam redimir o homem de seus pecados.

Por que, então, Deus prometeu, em Levítico 17, que o sangue de criaturas era capaz de redimir alguém do pecado? Deve existir algum significado muito profundo aqui. As coisas da lei são “sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo” (Cl 2:17).

Portanto, todos os sacrifícios e ofertas no Antigo Testamento referem-se a Cristo. Apesar de Cristo ainda não ter morrido na época da primeira aliança, Deus pretendia que todos os sacrifícios oferecidos naquele período fossem prefigurações de Cristo. A morte deles era tomada como a morte de Cristo. Por intermédio do sangue de muitos animais, Deus contemplava o sangue de Seu Filho amado. Por meio de muitos touros e bodes, Ele via “o Cordeiro de Deus”. Nos muitos sacrifícios, Ele contemplava a morte substitutiva de Cristo. Ao aceitar aquelas ofertas, era como se aceitasse o valor da morte de Seu Filho.

Por causa disso, o homem era redimido dos pecados. Ele reconheceu nos inocentes touros e bodes o Seu querido Filho. Assim Ele podia perdoar os pecadores com base nos sacrifícios que ofereciam. Toda vez que as ofertas eram imoladas, elas falavam do sacrifício vindouro do Filho de Deus como a oferta pelo pecado no Gólgota e do Seu cumprimento da eterna obra de salvação. Pelo fato de o Senhor ser um homem, Ele é capaz de redimir o homem do pecado. Por ser Ele Deus, é capaz de redimir dos pecados todos os homens, do passado e presente.

Os que ofereciam os sacrifícios no Antigo Testamento, consciente ou inconscientemente, criam em um Salvador crucificado que havia de vir. Todos os seus sacrifícios eram para fazê-los voltar ao Salvador que viria. Embora o Senhor Jesus ainda não tivesse nascido naquela época, a fé não contemplava o que podia ser visto. Pelo contrário, ela contemplava o que não podia ser visto. A fé viu ao longe um Salvador vicário e creu Nele. Quando chegou o tempo, o Filho de Deus veio e morreu pelos homens. Então, o que havia sido apenas questão de fé, tornou-se fato.

Sabemos que estamos na era do novo testamento. Como somos salvos nesta era? Cristo morreu e a salvação foi consumada. Se crermos no Senhor Jesus, que significa recebê-Lo pela fé como o Salvador, seremos salvos. Alguns têm dificuldade para compreender como Cristo pôde morrer por eles mesmo antes de terem nascido. De fato, isso representa um problema para os sentidos físicos. Contudo, para a fé, é uma verdade gloriosa.

Primeiramente, precisamos perceber que o tempo não pode restringir Deus. Para nós, mortais, umas poucas décadas são um longo tempo, mas o nosso Deus é eterno. Para Ele, até mesmo mil anos não significam muito. Embora o tempo possa restringir-nos, ele não pode restringi-Lo. Sendo assim, muito embora tenhamos crido em um Senhor que morreu por nós uma única vez, há muitos anos, somos salvos.

A Bíblia diz que o Senhor Jesus ofereceu-se a Si mesmo uma vez por todas e cumpriu a obra da redenção (Hb 7:27). Ele é Deus, por isso pode transcender o tempo para redimir os que viveram milhares de anos antes Dele, bem como os que vivem milhares de anos depois Dele. E Ele não somente pode redimir estes; se, infelizmente, o mundo continuar por outros milhares de anos, a Sua redenção ainda será eficaz. Uma vez que Ele terminou a Sua obra, ela foi cumprida eternamente. Se um pecador desejar ser salvo agora, o Senhor não precisa morrer por ele novamente. Ele só precisa aceitar o valor da oferta única do Senhor e será salvo. A nossa fé também não é restringida pelo tempo; a fé pode conduzir alguém para a realidade da eternidade.

Assim como os homens no Antigo Testamento contemplaram um Salvador vindouro e foram salvos, da mesma forma contemplamos um Salvador no passado e somos salvos. O fato de a questão ter sido no passado não significa que tenha terminado. Pelo contrário, significa que está feito. Os homens no Antigo Testamento olhavam para frente; nós, no tempo presente, olhamos para trás. A fé levou os do Antigo Testamento a aceitar um Salvador que viria. Não irá a nossa fé levar-nos a aceitar um Salvador que passou?
Ao ler Hebreus 9:12-15 seria muito significativo se ligássemos os três “eternos” desses versículos. O que o Senhor cumpriu foi uma redenção eterna. Portanto, quando alguém crê Nele, recebe essa redenção. É necessário percebermos que a importância da cruz não foi determinada pelo homem, e, sim, por Deus. Deus avalia a redenção da cruz como sendo eterna. Por conseguinte, nós, pecadores que não temos justiça própria, deveríamos reconhecer a palavra de Deus como verdadeira, agir de acordo com ela, crer na cruz do Seu Filho e ser salvos.

Embora a Bíblia diga que o Senhor Jesus ofereceu um único sacrifício pelos pecados, ela ressalta que “tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se” (Hb 10:12). A palavra “único” significa que o sacrifício do Senhor pelos pecados foi perfeito; Ele somente teve de redimir o homem dos pecados uma vez. Entretanto, esse sacrifício pelos pecados é para sempre. É um eterno sacrifício pelos pecados! Isso quer dizer que não somente o efeito desse sacrifício pelos pecados é eterno, mas o próprio sacrifício é eterno. Muito embora Cristo tenha ressuscitado e viva eternamente, parece que a Sua cruz continua a existir! Que possamos perceber a eternidade da cruz! Não se trata de um acontecimento ocorrido há mil e novecentos anos. Hoje ele permanece cheio de frescor.

Apocalipse 13:8 diz: “Do Cordeiro que foi morto, desde a fundação do mundo”. O nosso Senhor é o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo, até agora e eternamente. Para Ele, a cruz não é meramente um evento de determinado tempo, em determinada data, de determinado mês, de determinado ano. Pelo contrário, é algo que tem existido desde a fundação do mundo até agora. Ao criar o homem, Ele já sabia de antemão o preço da redenção vindoura. Ele criou o homem com Seu poder. Da mesma maneira redimiu o homem com Seu sangue. É como se fosse crucificado desde o início quando criou o homem. Por milhares de anos Ele suportou o prolongado sofrimento da cruz. A morte única no Gólgota simplesmente expressou a aflição que o Espírito de Deus havia suportado por longo tempo. Que graça! Que maravilha! Não temos palavras para expressar o significado desse versículo. Antes de o Senhor Jesus deixar o céu e enquanto ainda estava na glória, Ele já conhecia o sofrimento da cruz. Ele o conhecia durante os milhares de anos antes de vir. Ele conhecia isso na época da criação. Desde a eternidade passada, a cruz tem estado no coração de Deus.

Ao considerar como, na eternidade passada, Deus sabia que iria criar o homem e este iria cair, nós percebemos como o Seu coração, humanamente falando, deve ter-se afligido com isso. Por amar tanto os homens, Ele determinou antes da fundação do mundo que Cristo morreria em nosso favor (1 Pe 1:20). Embora Cristo tenha aparecido uma única vez, nos últimos tempos, pelos nossos pecados, por causa do Seu amor pelo mundo Ele vem sofrendo aflição e dor desde a fundação do mundo, como se já houvesse sido crucificado milhares de vezes! Que lástima que muitos, ainda agora, O aflijam, como que crucificando-O novamente. Quando ficamos cientes de Seu tão grande amor, nada podemos fazer senão ficar maravilhados e admirados diante Dele! Esse é o coração de Deus! Se percebermos isso, não amaremos a Deus muito mais? Portanto, humanamente falando, os do Antigo Testamento criam em uma cruz vindoura, enquanto os do Novo Testamento crêem em uma cruz do passado. Na verdade, não existe distinção de tempo e período. A cruz do Antigo Testamento é algo presente e a cruz do Novo Testamento também é algo presente. Possa o Senhor abrir-nos os olhos a fim de vermos que a cruz independe do tempo.

Extraído do livro “A Cruz” – Watchman Nee

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