O testemunho determina nossa posição

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O Testemunho determina nossa posição é uma releitura do capítulo 4 do livro “The Testimony of Christ”, de T. Austin-Sparks.  É importante salientar que não se trata de uma tradução do texto original, podendo conter divergências em relação ao entendimento original do autor. 

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“Aconteceu que, enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles. Os seus olhos, porém, estavam como que impedidos de o reconhecer. Então, lhes perguntou Jesus: Que é isso que vos preocupa e de que ides tratando à medida que caminhais? E eles pararam entristecidos” (Lucas 24:15-17).

“Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim. E chamou o SENHOR Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás?” (Gênesis 3:8,9).

“Ali, entrou numa caverna, onde passou a noite; e eis que lhe veio a palavra do SENHOR e lhe disse: Que fazes aqui, Elias?” (1 Reis 19:9).

“Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus, achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus” (Apocalipse 1:9).

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Na primeira mensagem, meditamos a respeito de como o Senhor Jesus abordou aqueles dois discípulos em sua jornada à Emaús. Então, discorremos um pouco sobre a grande revelação que o Senhor estava prestes a comunicar a eles naquela conversa. Aquele revelação era a chave para que compreendessem melhor as circunstâncias que os afligiam.

Agora vamos considerar um fator chave desse incidente: que o testemunho do Senhor deve determinar nossa posição, e isso vai refletir na maneira como enfrentamos as provações e circunstâncias ordenadas por Deus com o propósito de que Sua Vida possa se manifestar em nós. 

Podemos ver isso retratado nas quatro passagens citadas acima e nas pessoas envolvidas: os discípulos caminhando para Emaús, Adão e Eva, Elias e o apóstolo João.

Em todas essas ocorrências vemos um questionamento relacionado diretamente ao testemunho do Senhor.

O propósito do Senhor no início, no caso do jardim, foi simbolizado e representado pela Árvore da Vida. Aquela árvore era o ponto central, toda a questão da Vida estava atrelada à Árvore da Vida. 

Todos os demais acontecimentos que se desenrolaram na história da humanidade tiveram sua origem ali. Ao seguir para o livro de Apocalipse, temos a consumação máxima de tudo que é representado pela Árvore da Vida, posicionada no meio da cidade de Deus. 

Essa árvore representa o testemunho do Senhor. Vemos então que a posição do homem foi questionada em relação a esse testemunho: da Vida do Senhor.

A Vida governa 

Elias foi o grande profeta da Vida! Vemos como seu testemunho foi prevalente em relação à morte e como ele a superou continuamente. Esse foi seu grande ministério, que culminou quando Elias foi arrebatado em um redemoinho e a morte não teve poder algum sobre ele. Sua vida é um grandioso testemunho da vitória sobre a morte. 

Enquanto viveu, esse foi o testemunho de Elias: vida tragando a morte. Mas na passagem citada acima, encontramos Elias sendo questionado em relação à esse testemunho, sua posição… e ele precisou declarar onde estava e por que estava ali. 

Aqueles dois discípulos na estrada de Emaús estavam envolvidos no testemunho do Senhor, no testemunho da Sua morte e Sua poderosa vitória sobre ela, mas eles não desfrutavam desse benefício. O Senhor os questiona diretamente em relação à sua posição. 

E não temos dúvidas no caso de João. VIDA é uma das palavras favoritas nos escritos de João, e é ele quem resume o que representa o testemunho: “E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho” (1Jo 5:11). Temos nessa afirmação um resumo da Bíblia em poucas palavras. No texto selecionado acima, João declarou onde ele estava e por que estava ali – por causa do testemunho de Jesus.

Esse é o critério em cada um destes incidentes.

Será que compreendemos que nosso cristianismo e tudo aquilo que ele compreende; todo nosso estudo e conhecimento da Bíblia, nossas atividades e obras atendem a esse critério: devem ser fruto de um testemunho vivo efetivo do fato de que a morte foi vencida? 

Esse é o teste supremo! Manifestar o testemunho do Senhor indica que onde estivermos existirá uma expressão efetiva do fato de que a morte foi superada. Isso acontecerá por meio de um impacto dessa VIDA ressurreta em nós, não na solidez da nossa doutrina. Esse é o testemunho do Cristo. Qual é a nossa posição, onde estamos e por que estamos ali?

Adão

Adão havia perdido aquele relacionamento vivo que fora designado por Deus como testemunho de Sua Vida. Ele e Eva se esconderam quando ouviram a voz o Senhor, e isso indica, é claro, que sua consciência fora despertada e que eles entenderam interiormente que estavam em um desajuste com o Senhor, havia algo errado em sua posição. O Senhor como que indagou: ‘Onde você está? Você está onde deveria estar, ou está em outro lugar?’.

Adão estava em uma posição errada devido à desobediência. Ele recebeu luz, o Senhor lhe mostrou onde deveria estar e o que fazer, qual era a Sua vontade, mas ele não obedeceu àquela luz que o Senhor lhe havia concedido. Em vez disso, desobedeceu. 

Talvez Adão pensasse que conseguiria algo melhor optando por outro caminho, ou imaginou que iria perder algo se escolhesse o caminho indicado pelo Senhor. Aquela foi uma sugestão do inimigo. Fosse motivado por interesses pessoais ou qualquer coisa parecida, a questão é que Adão recebeu a luz e não a seguiu, e isso o tirou da esfera de um relacionamento vivo com o testemunho de Deus. 

No que diz respeito a Adão e sua descendência, a porta para esse testemunho fora fechada. O Senhor iniciou um processo de retomada de Seu testemunho com outras pessoas. Será necessário que outro Adão reabra essa porta no futuro. É sério pecar contra a luz, rejeitá-la. É uma coisa muito séria ver o que o Senhor busca e não seguir adiante.

Elias

A situação de Elias e a de Adão foram diferentes, mas podemos dizer que ele corria o mesmo perigo. Este homem que havia defendido tão gloriosamente o testemunho do Senhor da Vida, da transcendência da Vida sobre a morte estava ali… completamente abatido. 

Elias proclamou a Vida e a manifestou. Sua vida e ministério demonstraram claramente esse poder: o testemunho de Vida em uma condição absolutamente contraditória. 

O profeta talvez seja um daqueles homens no Antigo Testamento de quem nunca esperaríamos ouvir: “Basta; toma agora, ó SENHOR, a minha alma, pois não sou melhor do que meus pais.” (1Rs 19:4).

Elias pediu pela morte, não via mais saída para sua situação. Não devemos culpar Elias, não devemos reprovar o profeta! Às vezes a pressão se torna tão intensa que indagamos a nós mesmos se vale a pena continuar. 

Vemos o homem que perdeu o ânimo quando estava debaixo do tremendo ímpeto das forças do mal, ficou desencorajado e temeroso a respeito do futuro e se permitiu ceder àquela pressão tão conhecida de todos nós: ‘Abandone  tudo, fuja’. Você nunca sentiu desejo de fugir? 

Mas e se te perguntasse: ‘Do que você está fugindo? Por que está onde está? Declare para mim!’ Ao responder essa pergunta (ainda que seja para nós mesmos) somos trazidos para cima. 

Quantos de nós sentimos essa vontade de fugir por alguns dias para obter algum alívio – e quando o fazemos, descobrimos que é melhor retornar à posição anterior o mais rápido possível, porque saímos do caminho da Vida. Por maior que fosse a pressão, ali é o lugar do testemunho da Vida e é exatamente onde está a morte.

Pobre Elias, o que ele ganhou fugindo? Nada. Sim, desânimo, talvez decepção, medo do futuro, um forte abalo pelo terrível ímpeto do inimigo.

Mas o Senhor usa essa tática com Seus servos, Ele diz: ‘Explique sua posição, porque está aí’, e quando começamos a contar a Ele nossa triste história, descobrimos que não há muita base que a sustente, afinal. 

Ao ouvirmos nosso próprio relato vemos que não satisfaz nossos próprios corações e então, quando conhecemos os fatos do Senhor, descobrimos que nosso julgamento estava absolutamente errado:

“Também conservei em Israel sete mil, todos os joelhos que não se dobraram a Baal” (1Rs 19:18). 

Descobrimos que estamos totalmente enganados! ‘Onde você está e por que você está aí no que diz respeito a Minha Vida poderosa?

João

Que história diferente com João! Adão estava em um lindo jardim e ainda assim perdeu contato com o testemunho. João estava em uma ilha terrível, em Patmos, e estava totalmente dentro do testemunho. 

Aí percebemos que não é o ambiente que responde ao nosso problema, não são as circunstâncias. Podemos estar no Paraíso, se houvesse tal lugar nesta terra, e ainda assim podemos estar fora do testemunho da Vida. Por outro lado, podemos até ser banidos pelos homens e pelo grande inimigo para Patmos, e exatamente ali desfrutar dos benefícios da Vida. 

João estava com a caneta na mão e em breve estaria escrevendo a respeito de coisas grandiosas e notáveis como o rio da água da Vida e a Árvore da Vida! Quantas vezes no livro do Apocalipse essa palavra ‘Vida’ é mencionada! Pense nisso, lembre de onde João estava, sua situação, sua posição.

A palavra ‘Vida’ é amplamente usada ao longo de todo esse livro, e essa é a grande questão. 

João era um homem que vivia entre exilados e banidos do império de Nero, e exatamente essa pessoa escreveu tudo o que vemos naquele maravilhoso livro. Que gloriosa introdução: “achei-me na ilha chamada Patmos” (vs 9). Não vemos: ‘Oh, estava na ilha chamada Patmos passando um momento terrível…’. Não: “achei-me na ilha chamada Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus”.

Alguns de vocês podem estar reclamando de sua situação, suas circunstâncias, seus arredores. Isso equivale a dizer: ‘Não estou entendendo nada sobre este testemunho na minha posição. Não espero que haja uma manifestação real desta Vida triunfante sobre a morte em minha casa, nos meus negócios, nas coisas que me rodeiam.’ 

Bem, vá ao livro de Apocalipse e leia o capítulo 1, verso 9 novamente. Ouça João cantando em triunfo, em meio àquela situação. 

Nossa vida hoje

A questão central de nossa vida hoje se resume nessas duas alternativas: a posição que nos encontramos pode estar dentro ou fora da vontade de Deus. 

Esse é o ponto decisivo. 

  • A posição de Adão estava fora da vontade de Deus. 
  • A posição que Elias se encontrava naquele momento em Horebe estava fora da vontade de Deus. 
  • João estava onde estava pela da vontade de Deus, em uma situação difícil, mas estava na vontade de Deus. 

Se você tem convicção que está dentro da vontade de Deus, não importa qual seja a sua situação, resultará em Vida! Se você estiver fora da vontade de Deus, embora possa estar no mais glorioso jardim desta terra, tudo resultará em morte.

Isso, é claro, se aplica em primeiro lugar à nossa posição espiritual, e então pode ser ampliado aos nossos relacionamentos. Você está dentro ou está fora da vontade de Deus?

Nosso inimigo invisível

Vemos uma terrível força antagônica que age no pano de fundo de todas essas situações.

Havia um testemunho paralelo à espreita, como alternativa ao testemunho representado e simbolizado no jardim, um testemunho falso, maligno, que se posiciona contra o testemunho da Vida. 

O inimigo sabe que se o homem se tornar um participante da Vida incorruptível de Deus, perderá para sempre sua chance com ele. 

A única coisa a fazer é ficar entre aquele homem e sua participação na nesse testemunho da Vida eterna. 

Com Adão o método empregado foi o ENGANO. A serpente os enganou, torcendo os princípios de Deus como o direito de primogenitura e o propósito de Deus para com eles. Esse inimigo tem um objetivo claro, ainda que use mil e um ardis: seu foco é SÓ UMA COISA, O PROPÓSITO DE DEUS.

Vemos isso claramente em Jezabel, quando se posicionou contra Elias. Jezabel tinha um relacionamento estreito com os poderes malignos, e então trouxe essa pressão terrível sobre o profeta ao ponto dele temporariamente quase que sucumbir. Por vezes é difícil resistir à pressão do inimigo quando estamos cansados e sobrecarregados. Isso concede a ele oportunidade. 

O método do inimigo com Elias não foi o ENGANO para tirá-lo da sua posição, mas foi focado em DEPRECIAR seu ministério, levá-lo a recuar, escapar. Saiba que esse é um método frequentemente usado pelo inimigo. 

Qualquer que fosse o método empregado, o meio e o objetivo era tirar aquele homem de sua posição, do lugar onde deveria estar, afastando-o de sua posição, abandonando o lugar da Vida, do testemunho.

Vemos inimigo sem dúvida nenhuma naquele demônio Nero. As forças do mal estavam procurando destruir João porque ele representava esse testemunho do Senhor. Mas por ter permanecido na vontade de Deus e não ter se rendido às suas circunstâncias, pois mais difíceis e humanamente impossíveis que fossem, João se manteve firme pelo testemunho e o inimigo foi vencido. Todo o seu poder destruidor foi reduzido a nada, e por todos esses séculos temos o ministério de João em seu evangelho, suas epístolas e no maravilhoso livro e Apocalipse.

O testemunho determina nossa posição

É o testemunho do Senhor que deve determinar nossa posição – não são as coisas, as pessoas, os argumentos, as aparências, não é um momento ou situação, mas o testemunho de Vida do Senhor deve ditar onde devemos estar. 

Aplique isso em todas as conexões: mantenha sua posição determinada e ditada pelo testemunho da Vida do Senhor.

Existe uma batalha atrelada a isso, é claro. Você não poderá permanecer nessa posição facilmente. Certamente surgirão inúmeras dificuldades, mas não estamos sendo governados por elas, nem mesmo por nossos próprios interesses. 

O ponto que deve nos governar é saber onde o testemunho do Senhor em Vida demanda que eu esteja? Esse é o lugar onde permanecerei, por meio de Sua graça e bondade. 

Onde você está? O que você está fazendo aí? Porque está falando assim? Por que está nessa condição? Explique.

Talvez essa explicação seja o primeiro grande passo no caminho de volta para a restauração. Assim a porta será aberta para o Senhor, se formos honestos e não ficarmos nos desculpando. 

Esse é o nosso desafio: onde estou? Por que estou aqui? Você pode realmente dar uma razão para  sua posição atual? Você tem um motivo para isso? Nunca poderemos enfrentar a oposição e a pressão do inimigo, a menos que tenhamos uma boa razão e uma boa base debaixo de nossos pés. Que o Senhor nos conceda isso.

Continua no próximo post.


T. Austin Sparks (1888-1971) nasceu em Londres e estudou na Inglaterra e na Escócia. Aos 25 anos, iniciou seu ministério pastoral, que perdurou por alguns anos, até que, depois de uma crise espiritual, o Senhor o direcionou a abandonar aquela forma de ministério, passando a segui-Lo integralmente naquilo que parecia ser “o melhor que Deus tinha para ele”. Sparks foi um homem peculiar, que priorizava os interesses do Senhor em vez do sucesso do seu próprio ministério. Sua preocupação não era atrair grandes multidões, mas ansiava desesperadamente por Cristo como a realidade de sua pregação. Por isso, suas mensagens eram frutos de sua visão e intensas experiências pessoais. Ele falava daquilo que vivenciava, e sofria dores de parto para que aquela visão se concretizasse primeiramente em sua própria vida. Pelo menos quatro linhas gerais podem ser percebidas em suas mensagens: (a) o grandioso Cristo celestial; (b) O propósito de Deus focado em ganhar uma expressão corporativa para Seu Filho; (c) a Igreja celestial – a base da operação de Deus na terra e (d) a Cruz – o único meio usado pelo Espírito para tornar as riquezas de Cristo parte da nossa experiência. Sparks também acreditava que os princípios espirituais precisavam ser estabelecidos por meio da experiência e do conflito, quando finalmente seriam interiorizados no crente, tornando-se parte de sua vida. Sparks desejava que aquilo que recebeu gratuitamente fosse também assim repartido, e não vendido com fins lucrativos, contanto que suas mensagens fossem reproduzidas palavra por palavra. Seu anseio era que aquilo que o Senhor havia lhe concedido pudesse servir de alimento e edificação para os seus irmãos. Suas mensagens são publicadas ainda hoje no site www.austin-sparks.net e seus livros são distribuídos gratuitamente pela Emmanuel Church.

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