Desfrutando de Cristo na Terra

Print Friendly, PDF & Email

Desfrutando de Cristo na Terra é um artigo baseado em meditações nos versículos iniciais do livro de Rute. Tomamos por referência os livros: “Estudos sobre o livro de Rute” de H. L. Heijkoop.

***

“À hora de comer, Boaz lhe disse: Achega-te para aqui, e come do pão, e molha no vinho o teu bocado. Ela se assentou ao lado dos segadores, e ele lhe deu grãos tostados de cereais; ela comeu e se fartou, e ainda lhe sobejou. Levantando-se ela para rebuscar, Boaz deu ordem aos seus servos, dizendo: Até entre as gavelas deixai-a colher e não a censureis. Tirai também dos molhos algumas espigas, e deixai-as, para que as apanhe, e não a repreendais. Esteve ela apanhando naquele campo até à tarde; debulhou o que apanhara, e foi quase um efa de cevada”. (Rute 2:14-17).

“Boaz permitiu que Rute molhasse o seu pão no vinagre (na nossa tradução, vinho). Além de ser encontrada nesta passagem, a palavra grega (na Septuaginta) e hebraica para “vinagre” também se encontra em Números 6:3; Provérbios 10:26; 25:20; Salmo 69:21; Mateus 27:48 (e talvez no vs. 34); Marcos 15:36; Lucas 23:36; e João 19:29-30. Todas as referências no Novo Testamento e no Salmo 69 aludem aos sofrimentos do Senhor na cruz, especialmente quando Ele passou pelo julgamento de Deus ao ser feito pecado por nós. O Mar Vermelho simboliza a morte e ressurreição do nosso Senhor por nós. É assim que entramos no deserto. O Jordão tipifica a nossa morte e ressurreição com Cristo”. (HEIJKOOP, HL – Estudos RUTE-Capítulo 2, p.84,85).

***

Vamos revisar esse assunto do desfrute de Cristo na terra, conforme figurado na experiência do povo de Israel ao cruzar o Rio Jordão, depois do período probatório no deserto.

A travessia do Mar Vermelho

A passagem pelo Mar Vermelho tipifica a morte e ressurreição do Senhor por nós. A Páscoa antecedeu a passagem pelo Mar Vermelho. O Cordeiro precisou ser morto e o seu sangue aspergido nos umbrais da porta. As pessoas que estivessem dentro casa com esse sangue nos umbrais de sua porta estariam livres do julgamento que vinha sobre a nação do Egito.

O mesmo acontece conosco – este mundo (tipificado pelo Egito) está sob julgamento, como vemos no livro de Apocalipse. Mas nós fomos lavados pelo sangue do Cordeiro. O julgamento que está sobre o mundo não pode nos afetar, pois ele não tem jurisdição sobre nós. O sangue de Cristo, sob o qual estamos, nos garante esse livramento.

Em 1Pe 3:20 encontramos a comparação do batismo com a história de Noé no dilúvio, indicando que Noé e sua família foram salvos através da água. No verso 21, Pedro indica que o batismo não nos salva no sentido de nos dar a vida eterna, mas nos salva do mundo, em relação à nossa consciência com Deus. No tempo de Noé, o mundo estava condenado e, por causa da arca, aquelas oito pessoas foram salvas daquele mundo condenado. No batismo, a nossa vida com o mundo é deixada para trás. Proclamamos com o batismo que não temos parte mais com este mundo que está sob o julgamento de Deus.

“Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Cl 1:13).

“E, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (Ef 2:6).

Não somos mais deste mundo. Estamos assentados com Cristo nos lugares celestiais. Não pertencemos mais ao império das trevas, mas fomos transportados para o Reino de Cristo.

A peregrinação do deserto

Assim como o sangue do cordeiro nos umbrais das portas do povo de Deus no Egito os libertou da morte, lhes garantindo vida, o sangue de Jesus nos dá a vida eterna. Mas, e agora que já temos a vida eterna? Tão logo atravessamos o Mar Vermelho, entramos no deserto. Teremos que peregrinar. É um tempo que iremos conhecer a nós mesmos e aprenderemos a depender do Senhor.

“Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o Senhor, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos. Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Senhor viverá o homem” (Dt 8:2,3).

A travessia do Rio Jordão

A travessia do Jordãorepresenta a nossa identificação com a morte e ressurreição do Senhor. O processo de travessia do Jordão foi diferente da travessia do Mar Vermelho. No Jordão, o povo participou, por meio dos sacerdotes, e também precisaram tirar doze pedras do rio, cada uma representando uma tribo de Israel. Assim que atravessaram o rio, tiveram que passaram pela circuncisão.

“Assim que o povo entrou na terra prometida, eles precisaram ser circuncidados. A circuncisão não ocorreu no deserto. Quando nos apropriamos da morte e da ressurreição do Senhor e consideramos a nós mesmos mortos e ressurretos com Cristo, então devemos ser circuncidados”.  (HEIJKOOP, HL – Estudos RUTE-Capítulo 2, p.84,85)

A circuncisão

Em Gn 17:11-13, temos a primeira menção de circuncisão na Palavra de Deus:

“Circuncidareis a carne do vosso prepúcio; será isso por sinal de aliança entre mim e vós… Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa e o comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será aliança perpétua”.

O que era a circuncisão? Um sinal da aliança entre Deus e o povo. A aliança estaria na carne deles.

No Novo Testamento, Paulo fala que a verdadeira circuncisão é no coração (Rm 2:29). Essa circuncisão do coração traz o mesmo princípio da circuncisão do Velho Testamento – Uma aliança na nossa carne.

Toda a obra do Senhor foi completa e plena. Isso é tipificado pela travessia do Mar Vermelho. E o que preciso fazer? Me apossar dessa obra que o Senhor fez. Em Romanos 6:3-11, Paulo fala um pouco disso. Jesus fez essa obra 2000 anos atrás. Mas, eu preciso primeiro preciso saber disso (vs 6), para então considerar (vs 11). Além de saber do fato consumado e descrito na Palavra, preciso me considerar morto para o pecado. O considerar é a sequência do saber. Mas ainda falta algo. Nos versos 12 e 13 Paulo traz à luz outra palavra – oferecer:

“Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça”.

No Mar Vermelho, a obra foi feita pelo Senhor, independente de eu ter consciência disso ou não. Mas para atravessar o Rio Jordão, preciso saber, me considerar e me oferecer como sacrifício agradável, andando em novidade de vida, seguindo o meu Josué (um tipo do Senhor Jesus).

O Jordão – oferecei-vos

O Jordão representa o me oferecer – tomo essa obra para mim, me considerando morto para o Egito e vivendo para o Senhor – assumo uma posição pessoal em relação àquela obra completa feita por Jesus.

E o que essa morte do eu representa? Vemos isso bem claro em Mateus 16:24-27:

“Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á. Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma? Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras”.

Aqui a referência não é a salvação eterna, recebida pela graça, mas o elemento de retribuição de acordo com as obras. Aqui vemos obras, então não estamos falando de salvação pela graça. Agora vivemos em obediência, essa é a nossa vida!

A Conquista de Canaã

Quais seriam os povos de Canaã para conquistar? Eles representam nossa própria vida, nossa psuché, que precisa ir para a cruz. Essa é a nossa circuncisão.

Qual é a marca que está na nossa carne para mostrar que o Senhor vive em nós? Não vivo mais para mim mesmo. “Já não sou eu quem vivo, mas Cristo vive em mim”. O Senhor disse que se alguém quisesse segui-Lo precisaria tomar uma posição.

Deus abriu o mar vermelho para nós e nós passamos. Mas, atravessar o Jordão depende da nossa disposição em seguir. Do outro lado, nossa carne será marcada – a circuncisão. Teremos que desalojar esse povo que está em Canaã, que representa o nosso eu, como aprendemos em Ester, na pessoa de Assuero. Deus havia falado ao povo que era necessário exterminar todos os inimigos de Canaã, mas o povo falhou nessa tarefa.

E o que quer dizer essa morte do eu?

Em Mateus 16:24-27:

“Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á. Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma? Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras”.

Nosso “eu” não deve mais nos dominar. Não podemos viver como as pessoas do mundo, de acordo com inclinações da nossa carne e dos nossos pensamentos. Hoje vivemos em obediência ao Senhor. A nossa marca de circuncisão é não viver mais para mim mesmo, mas para Aquele que morreu por mim e ressuscitou (Gl 2:20).

O Rio Jordão é o ponto onde deveremos seguir o Senhor, e a partir dali, haverá uma marca na nossa carne. Vamos começar a contender com nosso inimigo, a nossa carne.

“Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer” (Gl 5:17).

Também temos essa ilustração muito clara em 1 Coríntios 10, quando vemos a diferença entre o povo que passou pelo Mar vermelho, mas não assumiu a posição de morrer e viver com Cristo:

“Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar, tendo sido todos batizados, assim na nuvem como no mar, com respeito a Moisés. Todos eles comeram de um só manjar espiritual e beberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo. Entretanto, Deus não se agradou da maioria deles, razão por que ficaram prostrados no deserto. Ora, estas coisas se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram.” (vs 1-6). 

Há uma diferença entre crer e tomar uma posição. Eles passaram pelo Mar Vermelho, mas não pelo Rio Jordão. Eles murmuraram e Deus não permitiu que eles entrassem em Canaã. Só a segunda geração que tomou posição pôde entrar.

Algumas pessoas acham que Canaã representa o céu. Mas precisamos lembrar que a entrada no céu não pode ser condicionada à uma posição ou ação nossa, mas é garantida pela graça que nos foi concedida. Além disso, não temos como admitir que no céu há a presença de inimigos como encontramos em Canaã.

Então, o Jordão é a minha entrega à obra que já foi cumprida lá na cruz pelo Senhor Jesus.

As novidades da terra de Canaã

“Quando estamos na terra e somos circuncidados, recebemos um alimento diferente. O maná cessa, e passamos a comer pães asmos e grãos tostados (Js 5:11-12). Foi isto o que Boaz deu a Rute também. Simboliza o Senhor glorificado nos céus, que é alimento para todo crente que agora se assenta com Cristo nos lugares celestiais (Ef 2:6)”. (HEIJKOOP, HL – Estudos RUTE-Capítulo 2, p.84,85)

“E, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (Efésios 2:6).

Recebemos um alimento diferente em Canaã – os grãos tostados. Eles representam o alimento no Senhor nas regiões celestiais, que vemos na epístola aos Efésios.

Em Cristo Jesus, estou assentado nas regiões celestiais. Estou com os pés na terra, e recebendo dEle nos lugares celestiais, porque, assim como Jacó sonhou a respeito de uma escada que ligava o céu e a terra (Gn 28:12), nós também temos a escada que liga o céu e a terra, que é Cristo (Jo 1:51). Poderemos experimentar uma porção do que é o céu.

A Páscoa

“Como são poucos os que realmente entendem isto em seu coração! São muitos os que não passaram além da Páscoa (Êx 12). Essas pessoas entendem que são pecadores e se refugiam no sangue no sangue precioso do Cordeiro para não cair no julgamento de Deus. Elas vêem Deus como um juiz terrível”. (HEIJKOOP, HL – Estudos RUTE-Capítulo 2, p.84,85).

A páscoa tem relação com julgamento. Muitos ainda vivem debaixo do medo do julgamento, de perder a salvação, vendo Deus como um juiz terrível. Sabem que o sangue de Cristo liberta, mas não tem segurança que estão livres do julgamento de Deus. Temem que só poderão ter certeza disso quando o dia da perdição tiver realmente passado. Muitos irmãos vivem debaixo desse medo terrível.

Chegando ao Mar Vermelho

“Outras pessoas têm ido mais adiante, até o Mar Vermelho. Elas sabem que escaparam do julgamento, que Deus é um terrível juiz para com Seus inimigos, mas é amigo delas. Sim, foi o próprio Deus que lhes deu o Senhor Jesus. Esta é a posição de Romanos 8. É a posição de estar no deserto, mas no favor de Deus, como visto em Êxodo 12.”. (HEIJKOOP, HL – Estudos RUTE-Capítulo 2, p.84,85).

Essas pessoas passam pela condenação do mundo e prosseguem um pouco mais. Elas sabem que entraram pela graça na vida cristã, e tudo foi pela obra de Jesus, mas vivem no deserto, no meio termo, murmurando, reclamando, ainda sentindo falta do Egito. Não desfrutam da vida abundante.

Atravessando o Rio Jordão

“São poucos, no entanto, que entendem no seu coração a profunda verdade da epístola de Efésios. Nesta epístola, vemos que estávamos mortos e fomos ressuscitados com Cristo, e que a nós foi permitido assentar com Ele nos céus. Podemos desde já viver nos céus pela fé e nos apropriar de todas as bênçãos celestiais para nós (Ef 1:3). Esta é a verdadeira posição cristã. Por isso também Boaz deu grãos tostados para Rute. É alimento para aqueles que estão nos céus. Quando experimentamos este maravilhoso alimento, Cristo glorificado nos céus, então desejamos mais para que possamos entender melhor e, de forma prática, nos apoderar desta posição”. (HEIJKOOP, HL – Estudos RUTE-Capítulo 2, p.84,85).

Em Efésios vemos que estávamos mortos e fomos ressuscitados com Cristo. Temos que cuidar para não parar na metade do caminho proposto pelo Senhor para nós, mas devemos seguir até o fim! Que possamos nos submeter ao Senhor e responder às Suas palavras, pois “que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mc 8:36).

A Herança

Em seu livro “União com Cristo”, no capítulo 3, o irmão Christian Chen diz que herança é um conceito muito importante na Palavra de Deus, e é uma chave importante para compreendermos o livro de Rute e nossa união com Cristo. Essa palavra aparece 3 vezes na narrativa do livro. Por essa razão é muito importante entendermos o seu sentido espiritual muito bem. Veja as referências abaixo:

“Disse, porém, Boaz: No dia em que tomares a terra da mão de Noemi, também a tomarás da mão de Rute, a moabita, já viúva, para suscitar o nome do esposo falecido, sobre a herança dele. Então, disse o resgatador: Para mim não a poderei resgatar, para que não prejudique a minha [herança – KJV]” (Rute 4:5,6).

“E também tomo por mulher Rute, a moabita, que foi esposa de Malom, para suscitar o nome deste sobre a sua herança, para que este nome não seja exterminado dentre seus irmãos e da porta da sua cidade; disto sois, hoje, testemunhas” (Rute 4:10).

Na primeira porção do Antigo Testamento, o Espírito Santo toma a palavra herança sempre com referência à terra de Canaã, mas depois que o povo entrou na terra e ela se tornou sua herança, a partir do livro de Salmos, o Espírito Santo emprega essa palavra se referindo ao povo de Deus.

“O povo podia desfrutar da terra como sua herança, mas Deus tinha como propósito que esse povo fosse Sua herança”. (CHEN, Christian).

Semelhantemente, a nossa herança é o Senhor Jesus. Ele é a nossa terra de Canaã. Paulo disse: “…Perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo” (Fp 3:7).

Jesus, antes de ser crucificado, disse aos discípulos:

“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco… Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros”. (Jo 14:16,18).

O Senhor não os deixou órfãos quando ascendeu aos céus, mas voltou para eles (e também para nós) na Pessoa do Espírito Santo.

“…Fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef 1:13,14).

Agora, o Espírito Santo é o penhor da nossa herança, que é Cristo. O Espírito Santo em nós é a garantia de que Cristo voltará para resgatar Sua propriedade.

Veja então que Deus, em Cristo, é a nossa herança. Mas Deus também tem Sua herança em nós.

“Nele, digo, no qual fomos também feitos herança” (Ef 1:11).

“Iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos” (Ef 1:18).

A sua herança – A Filiação

“A terra prometida mana leite e mel. Isso nos fala da plenitude da vida de Cristo. Mas esse é apenas o início, um meio para alcançar um fim. O propósito final do Senhor é sermos transformados à imagem de Cristo. Quando desfrutamos de Cristo como nossa herança, crescemos na Sua graça e somos transformados à Sua imagem. Então, Deus encontrará Sua herança nos santos. Como filhos maduros de Deus nos tornamos na Sua herança. (…) Somente quando formos transformados à Sua imagem, quando alcançarmos a maturidade, a plenitude da vida, nos tornando em filhos maduros, Deus poderá desfrutar de nós como Sua herança. Essa é a filiação da qual a Bíblia nos fala. Filiação significa colocação na posição de filho. 

Quando um menino judeu se torna adulto, seus pais chamam todos os seus amigos para que o menino passe por uma cerimônia muito séria. O pai então dirá a todos: “Este meu filho é herdeiro de toda esta herança. Antes que ele crescesse, nós, pais, éramos apenas mordomos dessa herança, mas essa herança lhe pertence”.

Após o menino crescer, toda a herança, todos os bens e a riqueza dos pais tornam-se do filho, porque ele é herdeiro daquela herança. Essa cerimônia é denominada de “a colocação na posição de filho”. Aquele menino é colocado na posição de filho porque alcançou a maturidade. Essa é a herança de Deus. Hoje somos tão egocêntricos, tudo o que queremos é Cristo como nossa herança. Mas esse é apenas o início. Pelo fato de desfrutarmos de Cristo como nossa herança, crescemos em direção à maturidade e, finalmente, nos tornamos a Sua herança. Esse é exatamente o mesmo pensamento que encontramos no livro de Rute” (CHEN, Christian). 

Foi isso que aconteceu com Rute. Ela saiu de Moabe, uma terra de maldição e foi trazida para a Sua maravilhosa graça. Em Canaã, ela pôde desfrutar dos campos de Boaz, que figuram as insondáveis riquezas de Cristo. Mas no final, Rute herdou aquela terra, crescendo na graça de Deus. Ela não mais diria quão rico Boaz era, pois ela mesma herdou a sua terra. Mas o outro lado da história é que Boaz também recebeu Rute como sua herança. Rute, como esposa, satisfez também o coração de Boaz! Apenas ao sermos unidos com Boaz ele, de fato, ficará satisfeito.

“A carta aos Efésios tem seis capítulos, os primeiros três falam de estarmos “em Cristo”; os últimos três falam de “Cristo em nós”. (…) No livro de Rute a mesma coisa acontece: nos primeiros dois capítulos, Rute está na terra, nos dois últimos, a terra está em Rute” (União com Cristo: Um vislumbre do livro de Rute, Christian Chen).

***

“Sim, Aquele que é maior que Salomão ou Davi está aqui. Ele veio e tocou a mais profunda depravação humana (…). Quem não acredita na depravação da natureza humana e numa depravação total ainda não viu a Cruz do Senhor Jesus, nem nos viu ali, desamparados por Deus, de um lado. Sim, a graça atinge o ponto mais profundo da tragédia humana, que é o abandono do homem (…). Graça! Que palavra é esta! Se Salomão, em toda a sua glória, foi fruto daquela terrível iniquidade [de Davi com Bate-Seba], julgamento, algo não coberto pela provisão dos sacrifícios Levíticos; se toda a sua glória derivou daquilo, o que você pode dizer a esse respeito? Que palavra existe para explicar isso? Só Graça! Seguiremos com essa palavra o tempo todo, e por toda a eternidade.

Será que Paulo não estava certo ao falar das riquezas insondáveis de Sua graça? Paulo sabia do que estava falando. Havia um pano de fundo na vida desse homem. “Não sou digno”, disse ele, “de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja” [1Co 15:9]. Ele estava de joelhos diante do Senhor, e o Senhor estava mostrando a ele Sua graça e Sua misericórdia. Ele disse: ‘Mas, Senhor, quando se derramava o sangue de Estêvão, Tua testemunha, eu também estava presente, consentia nisso. Que base tenho eu para o apostolado? Que base tenho para ser alguma coisa? Minhas mãos estão manchadas da culpa de sangue, tudo premeditado, planejado e executado com força terrível. Como ouso olhar para o Teu rosto e ser um discípulo, um filho de Deus, para não dizer um apóstolo!’ 

“A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo” [Ef 3:8]”.

T. Austin-Sparks (As Riquezas da Sua Graça).

Leia mais sobre o livro de Rute aqui.
Post anterior
Filhos da ressurreição
Próximo post
Onde encontrar Boaz?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.