A soberania de Deus retratada na experiência de Rute

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A soberania de Deus retratada na experiência de Rute é um artigo baseado em meditações nos versículos 2 e 3 do capítulo 2 de Rute. Tomamos por referência os livros: “Waiting on God”, de Andrew Murray, “Life applications from every chapter of the Bible”, de G. Campbell Morgan e “O Cristo Todo-inclusivo”, de Witness Lee.

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“Rute, a moabita, disse a Noemi: Deixa-me ir ao campo, e apanharei espigas atrás daquele que mo favorecer. Ela lhe disse: Vai, minha filha! Ela se foi, chegou ao campo e apanhava após os segadores; por casualidade entrou na parte que pertencia a Boaz, o qual era da família de Elimeleque” (Rute 2:2,3).

“Porque o SENHOR, teu Deus, te faz entrar numa boa terra, terra de ribeiros de águas, de fontes, de mananciais profundos, que saem dos vales e das montanhas” (Deuteronômio 8:7).

“Por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama, como enganadores e sendo verdadeiros; como desconhecidos e, entretanto, bem conhecidos; como se estivéssemos morrendo e, contudo, eis que vivemos; como castigados, porém não mortos; entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo” (2Co 6:8-10).

A geografia Divina e Sua soberania

O texto de Deuteronômio 8 nos diz que na Boa Terra as águas fluem dos vales e das montanhas. Qual é o sentido disso? Vemos vales e montanhas descritos por Paulo em sua experiência espiritual relatada na segunda epístola aos coríntios. Quando era “honrado” estava numa montanha, e a “desonra” era correspondente a um vale. Nesses versículos [8:10] temos 9 pares, nove vales, nove montanhas. Mas perceba, junto com um vale há sempre uma montanha. 

Se nossa vida se resumisse apenas num plano, sem montanhas e vales, como brotariam águas de nosso interior? Todos os vales representam as experiências da cruz, experiências da morte de Cristo, e todas as montanhas são experiências da vida de ressurreição do Senhor. Um vale é a cruz, uma montanha é a ressurreição. 

Na passagem de Deuteronômio 8:7 temos águas saindo dos vales e das montanhas. Não deveria ser ao contrário? Primeiro as montanhas, então os vales? Bem, os vales são o ponto para onde a água flui. Quanto mais baixo descermos, mais receberemos dessas águas. Ao seguir o fluir do rio até sua origem, chegaremos às montanhas. O rio está no vale, o manancial nas montanhas. 

Mas de onde vem toda essa água? Em Deuteronômio 11:11 e 12 temos a resposta: “Da chuva dos céus beberá ás águas”. As montanhas e vales não são a fonte. O céu é a fonte! Todas as águas vivas vem do céu.

Sem os vales, a geografia desse mundo seria incompleta. Como os rios transbordariam? As nascentes celestiais que brotam nas cadeias de montanhas iriam correr para onde? O necessitado é conduzido para o “vale da bênção” [2Cr 20:26], para ali encontrar despojos de uma guerra que ele não combateu. Basta cumprir uma condição: acreditar no seu Benfeitor.

A Fé essencialmente brota e se desenvolve nos vales profundos de nossa existência (Ct 2:12), onde brotam os preciosos lírios, que crescem até mesmo entre os espinhos e têm um profundo apreço do nosso Noivo.

Que possamos aprender dessa geografia espiritual, não temendo as condições que nos trazem os maiores frutos. Sim, cada necessidade e cada anseio podem ser lançados nEle, de fato, esse é o desejo do Pai, que tudo em nossa vida possa convergir para CRISTO.

Que possamos trilhar o caminho que vai nos ensinar a louvar com júbilo a canção da cidade amada: “Todas as minhas fontes são em ti” (Sl 87:1).

O vale da experiência de Rute

Rute e a sua sogra estavam em profunda fome, necessidade. Elas haviam retornado de Moabe, e estavam absolutamente falidas. Então, Rute se dispôs a apanhar espigas “atrás daquele que a favorecesse”. O que Rute buscava? Ela saiu em busca de graça (“favor”) e encontrou uma graça imerecida, superabundante e surpreendente na Boa Terra de Boaz, o homem de muitos bens (Rt 2:10; 13).

Esse não é um retrato claro dAquele que é maior que Boaz? Na verdade, todos nós buscamos o Senhor da graça (2Tm 2: 1) e como Rute, ansiamos por entrar nos campos frutíferos e no conhecimento experimental (não apenas mental) de Sua abundante provisão de graça transformadora.

Mas a soberania de Deus é tão grandiosa, que nos conduz até o ponto onde poderemos receber desse suprimento inesgotável do Seu amor. Isso pode ser visto claramente na experiência de Rute.

A insondável soberania de Deus

“Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai. E, quanto a vós outros, até os cabelos todos da cabeça estão contados. Não temais, pois! Bem mais valeis vós do que muitos pardais” (Mt 10:29-31).

“Deus está nos bastidores e controla os fatos a partir dali. Deus não comanda apenas nossos passos ao longo do caminho, mas nossas paradas também”. (George Muller).

Grandes coisas podem advir de pequenos começos, quando temos Deus grandioso envolvido. Nesta primeira cena de Rute 2, vemos dois atos da providência Divina: Rute chega no campo de Boaz e Boaz se encontra com Rute.

“Noemi e Rute retornaram para Israel em condição de pobreza, e  por isso enfrentaram problemas muito práticos. Isso foi dificultado pelo fato de Rute ser uma moabita. Ainda assim, foi Rute que enfrentou essa luta e saiu como respigadora para buscar alimento suficiente para o sustento imediato das duas. 

Mas a palavra hebraica traduzida por “acaso” [Rt 2:3] não significa necessariamente que o que ocorreu foi acidental, embora esse seja seu uso mais frequente. Todas as questões ali descritas revelam o governo Divino. Aquilo que Rute encontrou foi aquilo para o qual foi guiada por Deus – embora inconscientemente.

Deus conduziu esta mulher, que havia abandonado tudo pelo princípio da fé, a um homem completamente dirigido pela mesma fé. A descrição da pessoa dele é curta, mas forte, e vemos em Boaz um homem da melhor qualidade. Essa é uma ilustração radiante da verdade de que Deus guia aqueles que confiam nEle, e isso de maneira muito precisa. 

Algumas experiências costumam ser tão simples, que somos tentados a dizer que simplesmente aconteceram e atribuímos tudo a uma espécie de acidente. No entanto, pelo seu desenlace vemos que não foi de fato um acidente, mas era parte de uma aliança ordenada em todas as coisas e segura. Quando nos lançamos em fé em Deus com lealdade, estaremos sempre escolhendo o caminho que é seguro e certo. Não existem acidentes na vida de fé. Os acidentes musicais aperfeiçoam a harmonia da música”. (Morgan, G. C .: Life Applications from Every Chapter of the Bible.)

“Se nossas circunstâncias se encontrarem em Deus, encontraremos Deus em nossas circunstâncias” (George Muller).

Deus está no trono

C. H. Spurgeon disse que “não há atributo de Deus mais consolador para Seus filhos do que a Sua Soberania. Debaixo das circunstâncias mais adversas, nas mais severas provações podemos crer que a Soberania Divina ordena, domina e santifica nossas aflições. 

Não há coisa tão importante, pela qual devamos contender mais fervorosamente, do que a doutrina do Governo do Senhor sobre toda a criação, do Seu Reinado sobre todas as obras de Suas mãos, sobre o Trono de Deus e o Seu direito de assentar-se nele. 

Por outro lado, não há doutrina mais odiada e desprezada pelo mundo do que a grandiosa, estupenda, e absolutamente correta doutrina da Soberania do infinito Jeová. 

Os homens concederiam a Deus livre acesso a todos os lugares, exceto Seu trono. Eles permitem que Ele esteja em Sua oficina, modelando mundos e fazendo estrelas. Não se incomodarão se Ele lhes dispensar Suas esmolas e Sua generosidade. Permitirão que Ele sustente a terra e erga seus pilares, acenda as lâmpadas do céu, governe sobre as ondas do oceano, com seus movimentos incessantes; mas quando Deus sobe no Seu trono, Suas criaturas rangem os dentes. 

Proclamamos um Deus entronizado, e atestamos os Seus direitos de fazer o que desejar com os Seus, dispor de Suas criaturas como bem quiser, sem necessidade de consultá-las a respeito. Por isso somos silenciados e execrados, e os homens se farão de surdos, pois um Deus no Seu trono não é o Deus que eles amam. Mas amamos pregar a respeito de Deus no trono. É nesse Deus entronizado que confiamos”. (SPURGEON, C. H.   – Soberania Divina).

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Nossas primeiras experiências quando escolhemos Cristo nem sempre são ensolaradas. Temos que respigar nos campos de estranhos. Momentos de provação como esses desenvolvem nossas qualidades mais nobres, e deixam claro que escolhemos Deus por Ele mesmo, e não pelas bênçãos que Ele concede.

As naturezas mais nobres são nobres até mesmo nas coisas mais simples. Aqueles que são no fiéis no pouco, serão considerados dignos de serem promovidos para ser fiéis no muito. Imite Rute, fazendo o que está ao alcance de sua mão, e provavelmente será conduzido a uma esfera mais ampla. Devemos morrer em pequenos atos de abnegação, antes de podermos produzir muitos frutos. Não é buscando grandes coisas para nós mesmos, mas fazendo pequenos atos de serviço para aqueles que estão perto de nós, que nos qualificamos para utilidade e bem-aventurança.

Os que respigam nos campos da Terra da Promessa terão o suficiente e de sobra, encontrarão seu grande Resgatador e estarão preparados para entrar na experiência superior daquela união com Ele, da qual o casamento é uma sombra. Recolha, oh minha alma! e ajunte após os ceifeiros, entre os feixes! Debulhe o que você coleta com paciente esmero! Não hesite em trazer e repartir daquilo que colheu com aqueles que precisam permanecer em casa! Chegará o tempo em que esses belos campos da verdade bíblica se tornarão seus, pela união com seu dono.

Boaz (força), o parente próximo, é um vislumbre dAquele que, séculos depois, nasceu nesta mesma Belém, e que chama cada um que faz a vontade de Seu Pai, de irmão, irmã ou mãe. Ele toma conhecimento dos estranhos, é rápido em perceber os traços da graça e todas as ações bondosas feitas ao menor dos Seus, Ele provê pão e vinho, faz com que punhados de alimento sejam derrubados de propósito, protege contra aborrecimento e dano, conforta e fala ao coração, abençoa, e quando o faz, o espírito humilde e quebrantado é abençoado para sempre”. (F. B. Meyer).

Referências:

“O Cristo Todo-inclusivo” – Witness Lee.

“Waiting on God” (O Verdadeiro lugar da Criatura) – Andrew Murray. 

“Life applications from every chapter of the Bible”G. Campbell Morgan.

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