A grandiosa revelação

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A grandiosa revelação é uma releitura dos capítulos 2 e 3 do livro “The Testimony of Christ”, de T. Austin-Sparks. É importante salientar que não se trata de uma tradução do texto original, podendo conter divergências em relação ao entendimento original do autor. 

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“Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais” (Efésios 1:17-20).

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Na mensagem anterior meditamos a respeito desses dois discípulos que encontraram o Senhor Ressurreto quando se dirigiam à Emaús. Observamos aqueles dois discípulos, sua condição espiritual e a presença de um estranho acompanhante. O Senhor começa Sua abordagem com perguntas e faz menção de passar adiante. Então, aqueles dois homens insistem para que Ele permaneça. Vamos continuar nossa meditação a respeito desse incidente tão especial, que também acontece em nossa história espiritual.

Aqueles dois discípulos que caminhavam em direção a Emaús estavam diante do maior fato da história e estavam prestes a desfrutar da mais elevada experiência possível, ainda que não suspeitassem disso. 

Aquela jornada muito provavelmente foi dirigida por uma sensação de necessidade de afastamento, de tempo para pensar e se ajustar aos fatos que haviam ocorrido. Tudo aconteceu naquele breve intervalo de tempo, e tudo se iniciou com uma nota triste, ainda que ao final daquele percurso tudo tivesse mudado.

A simplicidade e aparente eventualidade dos fatos e como eles ocorreram deve nos impressionar. O capítulo 24 de Lucas é uma das porções mais importantes registradas no Livro Sagrado. Aquele relato traz muito mais do que um simples registro da aparição do Senhor Jesus às pessoas após Sua ressurreição. Esse evento abrange todo o sentido de nossa vida.

A experiência dos dois discípulos

Esses dois homens estavam abatidos e suas esperanças foram desintegradas, de fato, eram homens divididos. Quando discorriam sobre as coisas que recentemente ocorreram, ora falavam uma coisa, ora diziam exatamente o oposto. 

Eles também estavam desesperados, haviam perdido sua esperança. “Esperávamos …” [vs 21]. Essa frase está no pretérito. “Esperávamos que fosse Ele…“, a esperança se foi, estava no túmulo,  morta, e em seu lugar havia a terrível escuridão do desespero e desesperança. 

Além disso, os dois discípulos estavam perplexos e desnorteados. Eles simplesmente não podiam ver nenhuma luz, nenhum sentido, nenhuma razão para os acontecimentos. Não conseguiam compreender. Para eles, não havia saída para aquela situação. Aqueles homens estavam em trevas absolutas e não apenas isso, mas também careciam de visão, não tinham a capacidade ou a faculdade para ver. 

Cristo resumiu sua condição: “Ó homens insensatos”. Essa é a palavra que Ele usou, assim Ele resumiu a condição dos discípulos. Não se tratava de um epíteto, nem falta de cortesia. Quando o Senhor usou essa palavra, abrangia com todo o efeito da força invasora do mal, pois quando Adão deixou o invasor entrar, a humanidade perdeu os sentidos que lhes possibilitavam compreender o pensamento e propósito de Deus. O homem se tornou, em primeiro lugar, insensível às coisas do Espírito de Deus, perdendo sua visão espiritual, desde então ficou cego.

Quando o Acompanhante desconhecido fala

“Então, lhes disse Jesus: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras.” (Lc 25:25-27).

Vamos meditar nas palavras daquele estranho desconhecido que os acompanhou naquela jornada até Emaús.

O testemunho do Antigo Testamento

A partir de Lucas 24 aprendemos que o Antigo Testamento é um testemunho abrangente e detalhado. Vemos que as Escrituras do Antigo Testamento integram esse minucioso testemunho centralizado em uma pessoa: o Cristo. Tudo que envolve o Cristo pode ser dividido em duas grandes coisas: morte e ressurreição. 

Resumidamente, essa verdade envolve uma questão suprema: a conquista da morte e o triunfo da vida. 

“Para resumir, todas as Escrituras do Antigo Testamento tratam, em última análise, de uma questão: a conquista da morte e o triunfo da Vida” (T. Austin-Sparks). 

Você não pode ler o Antigo Testamento com os olhos abertos – como Jesus e aquelas pessoas fizeram quando Ele lhes abriu os olhos – sem ver que existe um ponto fundamental constantemente apresentado diante de nós, e que ele pode ser visto de mil maneiras diferentes: a conquista da morte e o triunfo da Vida. Este é o testemunho. 

A ofensa da Cruz

“Mas, alcançando socorro de Deus, permaneço até ao dia de hoje, dando testemunho, tanto a pequenos como a grandes, nada dizendo, senão o que os profetas e Moisés disseram haver de acontecer, isto é, que o Cristo devia padecer e, sendo o primeiro da ressurreição dos mortos, anunciaria a luz ao povo e aos gentios” (At 26:22,23).

“Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus…Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo? Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação. Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus” (1Co 1:20-24).

O Senhor Jesus dividiu as Escrituras em três seções e em cada uma delas expôs esta grande verdade a respeito de Si mesmo: em Moisés, nos profetas e nos Salmos, que de acordo com o arranjo hebraico compõem o Antigo Testamento. Exatamente aí, é claro, começa nossa dificuldade. Não sabemos como Cristo fez isso, como Ele usou Moisés, os profetas e os Salmos, não conhecemos os pormenores de Seu discurso, mas sabemos qual foi Seu objetivo central.

Qual foi o resumo de tudo que Ele falou? Qual era Seu propósito? Tudo pode ser resumido em apenas uma declaração:

“Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória?” (vs 26). 

Essa é a questão, esse é o fim, essa é a meta, e Ele evidenciou isso tomando textos do todo das Escrituras. “Não era necessário que o Cristo padecesse essas coisas e entrasse na sua glória?”.

Sofrimento e glória

O sofrimento claramente significava a Sua morte e tudo o que a envolvia. A glória claramente representava Seu triunfo sobre a morte e a natureza da Sua vida ressurreta.

Essa é a substância do Antigo Testamento, esse é o Seu testemunho: o sofrimento na luta terrível com a morte de muitas maneiras, a glória no triunfo completo sobre ela e sua destruição e a natureza da vida ressurreta. 

Essa é a essência de tudo, e essas duas coisas sempre foram e sempre serão preservadas juntas:  a morte e a ressurreição. Uma concede sentido a outra.

Por que o Senhor morreu?

Você só encontra uma resposta para essa pergunta na ressurreição. O que significa a vida de ressurreição? Não teremos resposta para essa pergunta se não compreendermos o sentido da Cruz, da morte.

O que o Velho Testamento contém a respeito da Cruz do Senhor Jesus? Desde Adão até Cristo vemos o relato de uma força invasora adentrando o universo criado por Deus. Tudo o que representa ou fala da morte do Senhor Jesus está relacionado à ação tomada por Deus para lidar com esta força invasora. 

Por outro lado, a ressurreição foi a introdução de um poder dinâmico para se opor a essa força. 

Esta Vida – a Vida de Ressurreição – é por natureza uma Vida que não pode ser tocada pela morte, concentra força e dinâmica, e é mais poderosa do que qualquer força no universo de Deus. Essa é a questão central ao longo do registro Bíblico: a poderosa força criativa da Vida de ressurreição do Senhor Jesus.

O pecado foi a força invasora e a morte estava em seu encalço, temos a tragédia do pecado e da morte. 

Foi com isso que Cristo tratou em Sua Cruz: com o pecado e com a morte. 

A dinâmica para superar, governar isso e anular seu efeito foi obtida quando a Justiça e a Vida que foram trazidas à existência por meio da ressurreição do Senhor Jesus. 

Paulo deixou isso perfeitamente claro ao dizer: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados” (1Co 15:17). A justiça só foi de fato estabelecida na ressurreição do Senhor Jesus.

Estamos lidando com questões imensas! O problema na estrada de Emaús não era nada simples. Olhe para aqueles dois discípulos naquela pequena estrada, veja seu estado e terá uma pista do que Cristo estava lidando em Sua morte e ressurreição.

O Senhor concede visão

“Nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus… Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo” (2Co 4:4;6).

“Então, lhes abriu o entendimento…” (Lc 24:45).

Bem, todo o Antigo Testamento é uma revelação dessa desintegração do homem, de seu desespero em sua própria condição, da perplexidade e  cegueira do homem no que diz respeito a Deus.

Vejamos isso de outra maneira. Observemos esses discípulos indo e voltando de Emaús. Veja a mudança que lhes aconteceu quando o Senhor Jesus veio até eles com o poder da ressurreição, trazendo essa realidade para dentro de suas experiências. Enquanto eles iam, estavam despedaçados, no retorno estavam absolutamente exultantes. Aquela realidade cativante tragou todo o desengano: Ele está vivo! 

Essas não são apenas partes de algum grande acontecimento, de uma história, mas se trata de um fato consumado e abrangente: a vitória sobre a morte e tudo que ela representa, e o estabelecimento de uma vida imortal. 

Esse é o cerne de toda a questão.

A questão central

“Não temas; eu sou o primeiro e o último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno… Pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia.” (Ap 1:17,18; 19:10).

O Senhor Jesus, por meio de Sua morte e ressurreição enfrentou com triunfo toda aquela força invasora terrível, desfazendo todas as suas consequências na esfera da criação. O Senhor lidou com elas e as venceu. Morrendo, Ele destruiu a morte, Ele a aniquilou. Se você conhece bem sua Bíblia será capaz de evocar diversas citações do Novo Testamento a respeito deste glorioso testemunho. 

“Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho” (2 Timóteo 1:10). 

Vida e incorruptibilidade foram trazidas à luz por meio do Evangelho. Então essa vida deve ser algo diferente da vida que temos por natureza.

A Vida e a Morte

Mas o que quero dizer com Vida? Você pode alegar que está vivo, que é uma criatura biologicamente viva. Mas não é disso que o Senhor estava falando. Esta Vida que Ele traz à luz é uma Vida diferente, transcendente, incorruptível. Essa certamente não é a vida que possuímos. 

Por outro lado, o que representa a Morte? Podemos afirmar que os filhos de Deus possuem uma Vida sem morte. Se você já assistiu à morte de um verdadeiro incrédulo e a de um santo, sabe a diferença. Isso é muito mais do podemos explicar! Simplesmente digo que essas duas palavras, vida e morte, não se resumem no seu sentido direto, mas são forças imensas.

A morte é espiritual, absolutamente mortal em todos os domínios, é maligna. Diga o que quiser em sua arte e sua poesia sobre a morte ser um amigo. Ela não é!

A Bíblia diz: “O último inimigo a ser destruído é a morte” (1Co 15:26). Sim, a morte é um feroz inimigo. Tente sublimá-la, se quiser, mas a morte continuará sendo algo maligno, originado de Satanás, fruto do pecado, verdadeira destruição. 

Mas Cristo destruiu a Morte e estabeleceu esta outra Vida que está acima dela. Não pense que a morte do corpo é o fim da morte. Não, não – a morte não se trata de apenas algo físico. A morte é muito maior que o corpo. A vida é uma coisa espiritual, é muito maior e melhor do que esta vida que temos em nosso corpo.

O Testemunho do Senhor a respeito do Seu filho se resume na SUA ABSOLUTA VITÓRIA SOBRE A MORTE.

Uma Morte representativa

Para entender melhor esse princípio, devemos reconhecer que a morte do Senhor Jesus foi uma morte representativa e inclusiva. Não se tratou apenas da crucificação de um homem, nem foi apenas a crucificação do Filho de Deus. O Senhor Jesus foi um homem representativo e Sua morte incluiu todos os homens. Dessa forma Sua morte, aos olhos de Deus, foi a morte de todos os homens. 

Sua ressurreição também é representativa para todos aqueles que aceitam pela fé o significado de Sua morte e ressurreição. 

Podemos nos perguntar então por que Ele teve que morrer? Certamente não foi por Seus próprios pecados, não foi por causa de si mesmo, mas para se tornar nosso Representante e Substituto, Ele morreu por nossa causa! 

É isso que podemos vislumbrar, começando com Moisés e passando pelos profetas e Salmos, o princípio da Sua Cruz, que Ele deveria morrer. Tudo foi indicado, tipificado e sugerido em uma longa história, na vida de pessoas que assumiam e davam continuidade a este testemunho. O Antigo Testamento contém as representações desse testemunho e tudo está agregado em Sua Pessoa. 

Tudo no Antigo Testamento é fragmentado, mas vai se acumulando até o ponto em que Seu testemunho (em tipo ou figura) fica completo, e todo esse Testemunho pode então ser vislumbrado em Sua Pessoa.

Continua no próximo post.


T. Austin Sparks (1888-1971) nasceu em Londres e estudou na Inglaterra e na Escócia. Aos 25 anos, iniciou seu ministério pastoral, que perdurou por alguns anos, até que, depois de uma crise espiritual, o Senhor o direcionou a abandonar aquela forma de ministério, passando a segui-Lo integralmente naquilo que parecia ser “o melhor que Deus tinha para ele”. Sparks foi um homem peculiar, que priorizava os interesses do Senhor em vez do sucesso do seu próprio ministério. Sua preocupação não era atrair grandes multidões, mas ansiava desesperadamente por Cristo como a realidade de sua pregação. Por isso, suas mensagens eram frutos de sua visão e intensas experiências pessoais. Ele falava daquilo que vivenciava, e sofria dores de parto para que aquela visão se concretizasse primeiramente em sua própria vida. Pelo menos quatro linhas gerais podem ser percebidas em suas mensagens: (a) o grandioso Cristo celestial; (b) O propósito de Deus focado em ganhar uma expressão corporativa para Seu Filho; (c) a Igreja celestial – a base da operação de Deus na terra e (d) a Cruz – o único meio usado pelo Espírito para tornar as riquezas de Cristo parte da nossa experiência. Sparks também acreditava que os princípios espirituais precisavam ser estabelecidos por meio da experiência e do conflito, quando finalmente seriam interiorizados no crente, tornando-se parte de sua vida. Sparks desejava que aquilo que recebeu gratuitamente fosse também assim repartido, e não vendido com fins lucrativos, contanto que suas mensagens fossem reproduzidas palavra por palavra. Seu anseio era que aquilo que o Senhor havia lhe concedido pudesse servir de alimento e edificação para os seus irmãos. Suas mensagens são publicadas ainda hoje no site www.austin-sparks.net e seus livros são distribuídos gratuitamente pela Emmanuel Church.

 

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