O artigo “Parábolas da Cruz – 2” é a tradução do capítulo 2 do livro “The Parables of the Cross”, de Isabella Lilias Trotter, publicado em 1890.
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Isabella Lilias Trotter (1853-1928)
“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus…Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida.” (Romanos 5:1,2; 18).
A morte para a penalidade do pecado é o caminho para uma vida de justificação
Leia o primeiro capítulo aqui.
Logo que somos libertos descobrimos, do outro lado da Cruz, o início de uma nova existência: o amor do Crucificado toca as fontes do nosso ser e nos encontramos em outro mundo, debaixo de um céu aberto.
“Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus” [1Pe 3:18].
Será que alguém que leu essas palavras está se esforçando para substituir sua vida natural pela espiritual tomando “algum outro caminho” que não seja o da Cruz?
Isso é tão impossível quanto chegar ao dia de amanhã sem precisar passar pela noite. Seu combate é contra o próprio Deus. Se entregue, achegue-se e aceite os Seus termos. Renda-se agora.
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Mas, por mais abençoada que seja esta passagem para uma vida de paz com Ele, ai da alma que pára nesse ponto, acreditando que a meta foi alcançada. Essa alma míngua, por assim dizer, como um broto atrofiado. Santidade, não segurança, é o objetivo de nosso chamado.
Logo, surge uma nova necessidade de libertação, que exerce pressão sobre aquele que é fiel à voz de Deus falando em seu coração. Vemos as duas vidas juntas, uma recém-nascida e fraca, a outra forte, devido ao crescimento anterior.
“A carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne” [Gl 5:17]. A força da vontade é distraída entre essas duas vidas, assim como a seiva de uma planta flui parcialmente para as folhas antigas e condenadas, enquanto flui também para os novos brotos que acabam de despontar.
Consequentemente, vemos o conflito de um reino dividido: às vezes uma vida cresce e floresce, em outros momentos, a outra. As duas vidas também combatem, em outras ocasiões, até que é levantado o clamor: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará?” [Rm 7:24].
Aqui novamente, quando o ponto de desespero é alcançado, percebemos que nossos esforços em busca da santidade são tão fúteis quanto foram nossos esforços na busca da aceitação de Deus. A porta de fuga se abre diante de nós mais uma vez.
Glória a Deus, pois há uma saída definitiva dessa vida de prisão, combates e fracassos, pecados e arrependimentos, na qual muitas almas se debatem por anos a fio, mesmo depois que a questão do perdão de pecados inicial é resolvida.
Esse caminho é, novamente, o caminho da morte.
Um estágio de morte deve ocorrer na planta antes que as novas folhas possam crescer e prosperar. Deve haver uma escolha deliberada entre a folhas antigas e as folhas novas; uma deve dar lugar à outra. O fruto do carvalho precisa chegar ao ponto quando deixará de preservar os farrapos da existência anterior, deixando tudo para trás na direção do novo broto. O galho deve tirar sua seiva da folha do ano anterior, deixando-a fluir para o broto jovem.
Antes que a alma possa realmente adentrar numa vida de santidade com todas as suas infinitas e benditas possibilidades, uma escolha semelhante a essa deve ocorrer: todo pecado conhecido deve ser deliberadamente abandonado, para que a corrente ascendente possa fluir com todo o seu poder.
“Mas”, você diz, “tentei repetidamente desistir do pecado: orei e tomei essa decisão, mas a vontade encontra seu caminho de volta na direção dos canais antigos, reavivando o passado, antes mesmo que eu perceba”.
Veja a nossa parábola:
Se você examinasse o pedúnculo de uma das folhas mortas em um microscópio, descobriria que o canal antigo está sedimentado por uma barreira invisível a olho nu. A planta fechou o canal da folha do ano anterior, condenando-a à decomposição, logo, sem mais esforço, o talo afrouxou, os ventos de Deus sopraram ao seu redor, e elas caíram.
[Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus].
Mas que barreira é essa que podemos colocar entre nós e a velha natureza? Onde está essa sentença de morte?
Vamos voltar à cruz novamente! Está lá, ao nosso alcance.
“Foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos; porquanto quem morreu está justificado do pecado” [Romanos 6:6,7].
Leia o próximo capítulo aqui.
Isabella Lilias Trotter (1853-1928) era uma amante da beleza e de Deus, e isso foi demonstrado em sua vida como artista, autora e missionária. Nascida em 1853 em uma família rica de Londres, seu talento foi notado pelo famoso crítico de arte John Ruskin. No entanto, em vez de seguir uma carreira artística, sentiu-se comissionada para ir à Argélia como missionária. Após ter sido rejeitada por uma sociedade missionária, seguiu para aquele país de forma independente, junto com outras duas mulheres solteiras. Ali viveu até sua morte, em 1928. A mensagem do livro “The Parables of the Cross” é simples e, ainda assim, de grande profundidade espiritual. Todas as imagens anexadas aos posts são de sua autoria. Mas a grande contribuição de Lilias Trotter não se resumiu em fazer belas ilustrações, mas principalmente pela capacidade de ilustrar verdades espirituais profundas que lhe eram percebidas a partir da natureza e da vida ao seu redor.
Mais informações sobre sua vida podem ser lidas na Wikipedia e em outros sítios na Internet, também em diversos livros escritos sobre sua vida.