“Na Arena da Fé – parte 7” é parte da tradução do capítulo 5 do livro “In the arena of faith”, de Erich Sauer.
Erich Sauer (1898 – 1959)
“Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça” (Hebreus 12:11).
Essa é a última das sete mensagens intituladas Na Arena da Fé. Elas discorrem sobre a infinita sabedoria de Deus em Seus tratos conosco, descortinada especialmente por meio das próprias tribulações que nos acometem. Em cada mensagem analisamos um aspecto de uma verdadeira fé provada e aprovada, segundo o autor, Erich Sauer.
Se você ainda não leu as mensagens anteriores, a sugestão é começar aqui na primeira mensagem, onde temos a introdução e o resumo de tudo que a série abrange. Nessa última mensagem, iremos meditar na sétima e última característica de uma fé provada e aprovada pela adversidade. Que o Senhor nos ajude a ter os olhos espirituais do entendimento iluminados para compreender essas coisas, para assim nos apossarmos dessas tão preciosas verdades espirituais.
A Verdadeira Fé avalia as trevas da vida como meios de Deus para alcançar o Seu brilhante alvo eterno
“A Pressão aumenta!”.
O “depois” logo chegará.
“Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça”.
Até mesmo o Cristão sente a pressão aguda das dificuldades. Elas são reais para ele também. Essas dificuldades nos “parecem” problemáticas, e a Bíblia não nos acusa de nos sentirmos assim.
As coisas de Deus são sempre tão naturais, e Ele não faz exigências além das faculdades e das possibilidades humanas.
A Bíblia nunca vai tão longe ao ponto de demandar do Cristão que desconsidere suas tribulações, e as considere superficialmente, porque nesse caso as provações não seriam dificuldades, nem as consideraríamos como angústias. Assim, as dificuldades não teriam sentido algum para o cristão, não seriam “provas”, sem seu consequente fruto e efeito.
Não! Se os golpes de Deus não nos gerassem dor, não seriam uma ajuda para vencer nossos pecados. Mas é simplesmente pelo fato delas nos causarem dor é que elas nos ajudam.
As Escrituras usam até mesmo palavras muito fortes como “açoita” (Hb 12:6). A palavra Grega usada aqui é mastigai, e está relacionada com a palavra usada para “chicote” (Grego mastix). Compare At 22:24; Hb 11:36.
Lemos em Jó que antes que ele pronunciasse essas impressionantes palavras: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!”, ele expressou sua mais profunda tristeza e dor depois de ter recebido as notícias das catástrofes que lhe aconteceram.
De fato, ele demonstrou sua dor e sofrimento abertamente: “Então, Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a cabeça e lançou-se em terra” (Jó 1:20).
O sentido de quão agudo é o sofrimento pode até mesmo desvanecer a visão espiritual do coração por um espaço de tempo. Sabemos bem que o Sumo Sacerdote celestial tem compreensão até mesmo dessas coisas, porque Ele é condoído com nossos sentimentos e enfermidades (Hb 4:15).
As agonias da prova algumas vezes podem obscurecer nossa visão interior.
No entanto, aquele que permanecer confiando, descobrirá, finalmente, que os caminhos de Deus não devem ser comparados com uma caverna escura, ou um labirinto subterrâneo infinito, sem luz, com passagens obscuras, que nos devoram e nos deixam cativos sem nenhuma saída para sempre.
Não! Os caminhos de Deus devem ser comparados com o passar por um túnel apertado e muitas vezes longo, que primeiro conduz para baixo nas profundezas e escuridão, mas sua outra saída, o “depois”, conduz para o raiar do sol, um ponto muito mais glorioso e brilhante.
Esse “depois” é muitas vezes experimentado ainda em antecipação, até mesmo enquanto trilhamos esse difícil caminho.
Sofrimentos são as sementes que fazem brotar os frutos de paz e justiça.
Aquele que é exercitado nas dificuldades irá colher o “fruto” desse plantar. Grande paz adentra seu coração. Assim ele obtém o “fruto” que no seu coração é chamado “pacífico”, e com respeito à sua posição pode ser considerada como o fruto de “justiça”.
Cada vez que permanecemos firmes no teste, progredimos um pouco mais espiritualmente.
Os anjos de Deus ministram-nos depois e cada vitória (Mt 4:11). Crescimento em santificação aumenta nossa alegria.
O fruto pacífico de justiça cresce na aparentemente torta árvore da tribulação. Esse fruto celestial em seu caráter é “justiça”, e em seu sabor é “paz”. Deus opera em nós uma justiça prática na vida e uma caminhada que é baseada na justiça de nossa posição recebida por meio da fé em Cristo Jesus (Fp 3:9).
Justiça produz paz, santidade, pureza e alegria. O caráter da nova vida é justiça, e a harmonia interior, desfrute e paz.
Talvez a expressão paz como fruto de justiça seja uma lembrança do primeiro verso de Hebreus 12, onde a arena da fé é mencionada. No final da corrida, quando a batalha for vencida, iremos desfrutar o fruto de justiça em paz.
Luz depois das trevas,
Ganho depois da perda,
Força depois da fraqueza,
Coroa depois da cruz,
Doce depois do amargo,
Esperança depois dos medos,
Casa depois de peregrinar,
Louvor depois de lágrimas”.
Feixes depois de plantio,
Sol depois de chuva,
Visão depois de mistério,
Paz depois de dor,
Alegria depois de tristeza,
Calmaria depois da tempestade,
Descanso depois da fadiga,
Finalmente doce descanso”.
(Frances Ridley Havergal).
Todos os aparentes obstáculos na vida são, portanto, na realidade, avanços.
Não deveríamos, assim, mesmo no vórtice da tribulação, ser “submissos ao Pai espiritual”? (Hb 12:9). Isso significa “viver” no sentido espiritual profundo da palavra.
“Vida”, não representando apenas “viver” no senso de apenas existir, mas viver no sentido pleno, cheio de força, alegria, com sentido e propósito. De fato, ser cheio de Deus e Cristo.
‘A tribulação não destrói a fé, ao contrário, a estabelece. Tribulação não é um mensageiro da ira de Deus, mas de Sua bondade. Tribulação não nos exclui de comunhão com Deus, mas nos prepara para o pleno desfrute de Sua graça e presença’.
A Fé, portanto, crê apesar de todos os arrazoamentos humanos contrários. A Fé sabe que enquanto Deus algumas vezes aparenta ser apenas Aquele que toma, na realidade Ele é Aquele que dá.
De fato, apenas por “tomar” algo de nós e em fazendo isso, Ele normalmente está nos dando.
Mas Ele dá de Sua própria maneira, que é frequentemente diferente da nossa. Então Ele normalmente cumpre nossas expectativas, aparentemente quando as desaponta.
Seus caminhos são mais sábios que os nossos; Seus pensamentos são mais elevados que os nossos pensamentos (Is 55:9), e Ele está sempre certo. Por isso, poderemos louvá-Lo eternamente.
Maria chorou diante do túmulo aberto do Senhor. Ela viu sua perda. Nem mesmo o corpo morto do seu Mestre estava mais lá. E aquele túmulo vazio era de fato a prova da Sua ressurreição, o sinal da vitória, e, se ela tivesse compreendido corretamente a situação, teria sido para ela uma razão para triunfante louvor.
Mas como “depois” sua lamentação se transformou em júbilo! (Mt 28:8). ‘Maria – Raboni!’- quanto está contido nessas poucas palavras (Jo 20:16). E depois que ela compreendeu o verdadeiro sentido do túmulo vazio, imagine como esse conhecimento a tornou numa testemunha da ressurreição, uma proclamadora do mais poderoso triunfo da vida, uma alegre testemunha do poder vitorioso do Ressurreto! (Lucas 24:10).
Assim, para o redimido, tudo tem um aspecto duplo: natureza e fé.
A partir do ponto de vista natural vemos a perda; a fé, entretanto, vê ganho. A partido do ponto de vista natural vemos morte, mas a fé vê ressurreição e vida. A natureza vê um túmulo, a fé vê a ressurreição. A natureza parece se voltar para os tesouros da memória, a fé olha adiante para a glória que virá. Dessa forma, a fé se torna uma expectativa alegre e uma esperança. Ela aguarda pelo dia da redenção e aguarda sermos revestidos com um corpo glorificado.
Então o dia do verdadeiro e real, o “depois”, chegará. O alvo será alcançado por aqueles que se empenharam na arena da fé. E quando as coroas e prêmios tiverem sido concedidos, o corredor louvará o Capitão de sua fé especialmente pelas dificuldades que Ele, o grande Árbitro da corrida, em Sua sabedoria e amor, colocou em seu caminho.
De fato, foram muitos obstáculos no caminho, algumas vezes as dificuldades pareciam vencê-lo, mas na realidade todos os impedimentos eram parte de uma “corrida de obstáculos”, especialmente ordenada por seu organizador.
Devemos sempre lembrar que o nosso Árbitro celestial nunca comete erros.
Ele coloca os “obstáculos” em nosso caminho para testar a força espiritual e energia do corredor, para exercitá-lo, fortalecê-lo, e assim trazê-lo com toda a certeza e toda a glória para o pódio.
O dia da eternidade irá alvorecer, dia esse que não conhecerá entardecer ou noite. O sol se levantará, e a luz celestial irá reluzir, deixando tudo radiante e claro na plena e eterna luz do dia da glória de Deus.
Então, iremos louvar Aquele que nos guiou até aqui! O louvaremos por Seus caminhos conosco, admiraremos Sua sabedoria e desfrutaremos Seu interminável amor, e a visão de Sua face será nosso eterno deleite.
Erich Sauer (1898-1959) foi um dos teólogos alemães mais conhecidos deste século. O teólogo britânico F. F. Bruce afirmou que “provavelmente, Sauer era teólogo e professor bíblico mais capacitado nos círculos de irmãos do continente [europeu]“. Seus livros sobre a história da salvação tiveram grande circulação e foram traduzidos para diversos idiomas. Muitos cristãos se beneficiaram de seu trabalho e receberam inestimável ganho espiritual por meio de seus escritos.