O Segredo dos Valentes de Davi

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“O segredo dos valentes de Davi” são nossas notas baseadas no artigo “Attaining Unto The First Three”, de T. Austin-Sparks, disponível para leitura no site www.austin-sparks.net. É importante salientar que não se trata de uma tradução do texto original, mas da nossa compreensão daquilo que o autor escreveu, podendo conter divergências em relação ao seu entendimento. 

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“São estes os nomes dos valentes de Davi: Josebe-Bassebete… Eleazar… Sama” (2 Samuel 23:8-12).

“Também Abisai… era cabeça de trinta… E tinha nome entre os primeiros três. Era ele mais nobre do que os trinta e era o primeiro deles; contudo, aos primeiros três não chegou” (2 Samuel 23:18,19).

Esses extratos são parte de um registro a respeito do segredo dos “valentes de Davi”, descrito no livro de 2 Samuel. Nesse momento, atentaremos para o fato de Davi ter tido o cuidado de listar nominalmente aqueles homens poderosos que estiveram com ele enquanto viveu na fortaleza do deserto, ao fugir de Saul. Ao registrar seus nomes, Davi os dividiu em grupos, representando determinados padrões. Os 30 indicavam um padrão de excelência, e então eles foram divididos em grupos menores, cada um representando um padrão ainda mais elevado, até chegarmos àquilo que foi denominado de “primeiros três”.

O Espírito Santo nos deixou esse registro nas Sagradas Escrituras certamente por ter um proveito universal para nós. Davi, em alguns aspectos, tipificou o Senhor Jesus, principalmente enquanto rei perseguido e ainda não reconhecido por Israel. Tendo esse pano de fundo em mente, vamos observar aqueles que seguiram a Davi enquanto ninguém mais o reconhecia – recebendo grande crédito por isso – e seremos ensinados sobre o grande proveito de servir ao Senhor hoje, quando o Seu reino ainda é oculto, e Sua glória ainda não é manifestada.

Um ponto chave em nossa meditação é como obter a preeminência na estimativa do Senhor, tomando por base esses valentes, os primeiros três.

Se pensarmos que a Bíblia foi escrita baseada em fundamentos espirituais, podemos tentar buscar esses fundamentos escondidos na história desses homens.

Diferentes Categorias de Grandeza Espiritual

Podemos perceber que existe a possibilidade de ser primeiro, segundo ou terceiro dentro da estimativa do Senhor. Existe uma categorização de efetividade e grandeza espiritual. Ao lermos as epístolas de Paulo à Timóteo, percebemos que o apóstolo o encorajou a estar entre os primeiros, dar o melhor de si. Timóteo não deveria ser apenas um na multidão, mas ser alguém especial para Deus.

Esse é o ponto central nesse registro. Podemos ser classificados entre os 30, que indica um alto valor espiritual, e certamente esses trinta não podem ser comparados nem de longe aos cristãos nominais. Mas existem aqueles que estariam muito acima do nominal de Israel. Podemos ir ainda mais longe. Existe um lugar representado pelos primeiros três.

Paulo pode ser um exemplo que personifica esse espírito. Em sua epístola aos Filipenses, no capítulo 3, versos 13 e 14, vemos como ele prosseguia para o alvo, em uma incessante busca pelo “prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”.

Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo” (Fp 3:7,8).

Esse é o espírito dos primeiros três.

Uma Questão de Alcançar

Paulo usa essa expressão em Filipenses 3:11. Isso não tem nada a ver com a salvação. O Senhor anseia por ver em nós essa determinação de que, pela Sua graça, não aceitaremos nada menos do que o mais elevado e pleno dentro daquilo que Deus deseja para nós, e no que diz respeito ao valor e utilidade que devemos ter para Ele. Vamos observar então, naqueles valentes, algumas marcas de grandeza espiritual.

Marcas de Grandeza Espiritual

A) Percepção do Supremo Propósito

O que fez esses homens sobressaírem? Quais seriam essas marcas de preeminência? Não sabemos ao certo o que eles fizeram de tão excelente, mas certamente fizeram proezas.

Se lermos a história, vemos que um deles entrou numa cova com um leão e ali o matou, isso em tempo de neve. Tente entrar numa cova com um leão! Isso requer muita coragem. Outros combateram com gigantes poderosos e os destruíram. Os primeiros três podem ter feito coisas ainda mais impressionantes que essas. Mas não penso que o que eles fizeram foi a única base de sua superioridade, apesar de seus feitos terem sito extraordinários:

“Josebe-Bassebete… o principal de três; brandiu a sua lança contra oitocentos e os feriu de uma vez”.

“Eleazar… entre os três valentes que estavam com Davi, quando desafiaram os filisteus ali reunidos para a peleja. Quando já se havia retirado os filhos de Israel, ele se levantou e feriu os filisteus, até lhe cansar a mão e ficar pegada à espada. Naquele dia, o SENHOR efetuou grande livramento, e o povo voltou para onde Eleazar estava somente para tomar os despojos”.

“Depois dele, Sama… quando os filisteus se ajuntaram em Leí, onde havia um pedaço de terra cheio de lentilhas, e o povo fugia de diante dos filisteus. Pôs-se Sama no meio daquele terreno e o defendeu, ferindo os filisteus, e o SENHOR efetuou grande livramento”.

Pode haver um sentido simbólico em cada uma dessas proezas, mas não é esse ponto que desejo enfatizar no momento. A questão é que esses homens poderosos viveram em um momento de transição. Algo não estava de acordo com a vontade plena de Deus para o Seu povo naquela ocasião.

O povo de Israel vivia no limiar da fome, derrota, fraqueza e incertezas espirituais. As pessoas careciam de direção. O pensamento central de Deus estava relacionado à Davi, e a primeira característica daqueles valentes é que eles perceberam aquela condição, e aquela “visão” foi o início do movimento, da transição.

Esse seria o primeiro ponto relacionado ao segredo dos valentes de Davi: ver algo que ainda não é visto de maneira geral pelo povo de Senhor. Ver aquilo que, uma vez estabelecido, traria uma grande mudança para o povo de Deus. Aqueles homens se comprometeram com aquela visão, e isso foi o início de sua grandeza.

B) Senso de Responsabilidade

Outra característica importante desses homens é que eles não pareciam precisar de encorajamento, estímulo exterior para seguir Davi. Essa foi umas das características dos valentes de Davi, seu segredo. Eles tomaram a iniciativa nessa questão da responsabilidade, se recusando a abandonar o barco. Independente de quantos fossem os filisteus, 800, 300? Aqueles homens permaneceram no combate, ainda que fossem sozinhos.

Existem pessoas que se movem em conjunto com as multidões, e agem se tiverem outros lhe dando suporte ou as encorajando, mas muitos desaparecem quando tudo envolve somente eles – quando estão sozinhos no barco. Superior grandeza é demonstrada quando assumimos a responsabilidade que outros abandonaram.

Olhe para Paulo, veja o texto de 2 Timóteo 1:15: “todos os da Ásia me abandonaram”. Veja 2 Timóteo 4:11: “Somente Lucas está comigo”. Ali ele está praticamente sozinho, mas não vemos evidência de desistência. É exatamente em tempos como esse que ele se posicionou pelo pleno propósito de Deus, e temos o fruto disso em suas cartas da prisão.

C) Estamina Espiritual

Vemos que a capacidade de perseverança entra em cena em momentos como esse. “Até lhe cansar a mão e ficar pegada à espada” (2Sm 23:10). Eleazar segurou sua espada com tanta firmeza e persistência que não podia largá-la nem mesmo quando desejou. A espada quase se tornou parte de sua mão. Existem muitas advertências no Novo Testamento sobre a necessidade de permanecer até o fim.

A questão é que, mesmo se desejarmos deixar tudo, simplesmente não conseguiremos fazer isso – essa é a marca da grandeza, a estamina que vai além da empolgação inicial, além dos estímulos do desafio inicial, daquela situação nova.

Aqueles homens foram até o fim. Não encare apenas o leão, ou o gigante, mas permaneça e lute com um homem, então com outro… um ataque depois de outro ataque, arremetida após arremetida, repelindo constantes avanços do inimigo. Podemos ver que aqueles bandos de filisteus não realizaram um único assalto contra aqueles homens, e ainda assim cada filisteu caiu diante deles – assim como Paulo, não houve desistência (2Tm 4:7): “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”.

D) Inclusividade – Permanecendo na Plenitude de Cristo

Esse é um teste da estatura espiritual! Primeiro precisamos ver o propósito de Deus e não aceitar nada menos que isso. Depois precisamos de iniciativa e responsabilidade com aquilo que foi visto, e não depender de alguém nos dizer o que é necessário, precisar ser convencido ou coagido a fazer algo. Aquela questão se tornou pessoal. Em terceiro lugar, pegando no arado, não olhar mais para trás. Nunca abandonar tudo porque as coisas ficaram monótonas, difíceis.

Essa é a situação hoje. A maioria das pessoas não está disposta a pagar o preço. É mais fácil aceitar diminuir o padrão de Deus, porque o padrão dEle tem um alto preço.

Será que chegaremos aos primeiros três? Aprenderemos o segredo dos valentes de Davi?

Em uma palavra, seria o estabelecimento do Absoluto Senhorio do Senhor Jesus Cristo. A Absoluta Soberania do propósito e plano proposto por Deus em Cristo Jesus. Isso era o que Davi representava naquele momento. A plenitude viria por meio dele, e nesse sentido, ele era um tipo do Senhor Jesus.

O Caminho da Fé

Um outro ponto desse segredo dos valentes de Davi é que os dias que eles viveram foram dias de fé. Esses homens viram o propósito de Deus em Davi, mas ele era um homem sozinho naquela ocasião. Davi tinha poucos seguindo com ele, e os que ali estavam, experimentaram severa condição de fraqueza. Eles tinham sido despojados de tudo, porque todo o país estava com Saul, e a posição deles era de extremo risco.

Falando humanamente, não dava para saber se a causa de Davi iria ter sucesso ou não, segui-lo equivalia a arriscar tudo.

Naquele tempo, aqueles que assumiram aquela posição o fizeram pela fé. Eles se entregaram ao propósito de Deus em plenitude (aquilo que não correspondia ao objetivo geral do povo), e eles fizeram parte de um núcleo que buscava algo mais do que a média. É preciso muita fé para fazer isso.

E que mais direi? Certamente, me faltará o tempo necessário para referir o que há a respeito de Gideão, de Baraque, de Sansão, de Jefté, de Davi, de Samuel e dos profetas, os quais, por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros” (Hb 11:32,33).

Isso nos desafia profundamente. Vamos ser cristãos de segunda linha? De terceira linha? Precisamos reconhecer que haverá um preço a mais envolvido nessa busca, e o Senhor precisa disso. Davi precisava desesperadamente desse tipo de ajuda, e não estamos errados em dizer a mesma coisa do Senhor. Ele precisa desesperadamente de um povo assim.

Hoje não temos muitos valentes, e a Sua causa está sofrendo grandemente porque Ele não tem essas pessoas à Sua disposição. Certamente Ele está nos chamando a encarar o desafio que isso representa. Vamos aprender o segredo dos valentes de Davi?

 


T. Austin Sparks (1888-1971) nasceu em Londres e estudou na Inglaterra e na Escócia. Aos 25 anos, iniciou seu ministério pastoral, que perdurou por alguns anos, até que, depois de uma crise espiritual, o Senhor o direcionou a abandonar aquela forma de ministério, passando a segui-Lo integralmente naquilo que parecia ser “o melhor que Deus tinha para ele”. Sparks foi um homem peculiar, que priorizava os interesses do Senhor em vez do sucesso do seu próprio ministério. Sua preocupação não era atrair grandes multidões, mas ansiava desesperadamente por Cristo como a realidade de sua pregação. Por isso, suas mensagens eram frutos de sua visão e intensas experiências pessoais. Ele falava daquilo que vivenciava, e sofria dores de parto para que aquela visão se concretizasse primeiramente em sua própria vida. Pelo menos quatro linhas gerais podem ser percebidas em suas mensagens: (a) o grandioso Cristo celestial; (b) O propósito de Deus focado em ganhar uma expressão corporativa para Seu Filho; (c) a Igreja celestial – a base da operação de Deus na terra e (d) a Cruz – o único meio usado pelo Espírito para tornar as riquezas de Cristo parte da nossa experiência. Sparks também acreditava que os princípios espirituais precisavam ser estabelecidos por meio da experiência e do conflito, quando finalmente seriam interiorizados no crente, tornando-se parte de sua vida. Sparks desejava que aquilo que recebeu gratuitamente fosse também assim repartido, e não vendido com fins lucrativos, contanto que suas mensagens fossem reproduzidas palavra por palavra. Seu anseio era que aquilo que o Senhor havia lhe concedido pudesse servir de alimento e edificação para os seus irmãos. Suas mensagens são publicadas ainda hoje no site www.austin-sparks.net e seus livros são distribuídos gratuitamente pela Emmanuel Church.

“Nenhum homem é infalível e ninguém ainda ”obteve a perfeição”. Muitos homens piedosos precisaram se ajustar, seguindo um senso de necessidade, após Deus lhes haver concedido mais luz.” (De uma Carta do Editor publicada pela primeira vez na revista “A Witness and A Testimony“, julho-agosto de 1946).

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7 Comentários. Deixe novo

  • ADILTON LUIZ PIO PEREIRA
    12 de julho de 2021 14:51

    Que O Eterno tenha misericórdia de nós.
    Falta neste tempo, mesmo em tempo de apostasia, uma atitude de fé e perseverança.
    Pois, mesmo em tempo como esse, no passado muitos filhos e filhas de Deus se puseram a ouvir e a obedecer ao Senhor Jesus Cristo.
    Lembremos da tribo de Issacar e mesmo desses valentes de David ou mesmo dos irmãos e irmãs da Igreja primitiva. Além dos próprios apóstolos.
    Falar que estamos em tempo de apostasia para justificar nossa desobediência é amaciar e dar afagos para a nossa alma.

    Responder
  • GLÓRIAS A DEUS, que estudo top, que DEUS vos abençoe muito

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  • ebenezermodas@gmail.com
    23 de junho de 2022 10:25

    Deus Abençoe meu irmão .

    Responder
  • Que preciosidade!! Glorias a Deus!!!

    Responder
  • Deus se a louvado por sua vida ,q Deus traga mais visão cm essa e q vc seja canal para vida de outras pessoas!!

    Responder
  • Glória a Deus

    Responder
  • Cesar augusto pereira Alves
    31 de março de 2024 13:53

    Lindo é esse estudo vou até colocar o tema da campanha que vou começar na minha igreja de :
    Os valentes de Davi

    Responder

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