O Espírito e Poder de Elias

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O Espírito e Poder de Elias é uma tradução de extratos do Capítulo 4 do livro “Elijah and the Secret of His Power” (The Spirit and Power of Elijah), de F.B. Meyer.

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F. B. Meyer (1847-1929)

“Tomou o manto que Elias lhe deixara cair, feriu as águas e disse: Onde está o SENHOR, Deus de Elias?” (2 Reis 1:14).

“Vendo-o, pois, os discípulos dos profetas que estavam defronte, em Jericó, disseram: O espírito de Elias repousa sobre Eliseu” (2 Reis 2:15).

“E irá adiante do Senhor no espírito e poder de Elias…” (Lucas 1:17).

“Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do SENHOR” (Malaquias 4:5).

Como podem aqueles que viajaram para a Suíça se esquecer das manhãs nas quais foram chamados do sono para aguardar o alvorecer? Um silêncio estranho e misterioso toma a natureza, enquanto uma multidão é silenciada, na expectativa da aproximação de um rei. Então, uma estranha luz se espalha pelo céu oriental. Por fim, um dos Alpes mais altos é tocado com o rosado raiar da madrugada; depois outro, e outro, e mais outro, até que todos os picos, cobertos de neve, sejam iluminados e transfigurados com ardente esplendor. Mas, durante todo esse tempo, os vales ainda estão envoltos em uma névoa e velados na escuridão. Só depois de horas se passarem e o monarca do dia subir lentamente em direção ao seu trono, que a abençoada luz do sol penetra nas pequenas aldeias e nos chalés dispersos, brilhando nos riachos, lançando sombras nas pedras e nas flores.

Esta ilustração mostrará a diferença entre a dispensação que se encerrou com o primeiro advento de nosso Senhor e aquela na qual é nossa felicidade viver, e que se encerrará com Sua gloriosa Epifania. Cada um foi abençoado com o ministério do Espírito Santo; e somente nesta era, datando do dia de Pentecostes, Ele foi derramado sobre filhos e filhas, e sobre servos e servas (At 2:17-18). Agora todo crente, mesmo o mais humilde e o mais fraco, pode ser banhado por Sua influência Divina e sagrada. No tempo de Elias, no entanto, somente a elite da fé sabia o que significava Sua plenitude eterna. “Homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1:21). “Os profetas indagaram e inquiriram… investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava” (1Pe 1:11). “Pois o Espírito até aquele momento não fora dado, porque Jesus não havia sido ainda glorificado” (Jo 7:39).

Elias foi um desses homens cheios do Espírito Santo. Aprendemos pela Palavra de Deus que o único desejo de Eliseu, seu discípulo, era ser herdeiro do Espírito que era tão manifesto na vida de seu mestre (2Rs 2:9). “O espírito de Elias” era uma frase familiar nos lábios dos filhos dos profetas (2Rs 2:15). Anos depois, quando o anjo de Deus falou a Zacarias no Templo, não encontrou melhor ilustração da presença do Espírito Santo em seu filho prometido, do que dizer: “E irá adiante do Senhor no espírito e poder de Elias” (Lc 1:15-17). O glorioso ministério de Elias não se deveu a quaisquer qualidade inerente a ele mesmo, mas à extraordinária habitação do Espírito Santo, que foi dada a ele como aconteceu a outros homens santos de Deus nos tempos antigos, por meio da fé. Se então, pudéssemos ter esse mesmo Espírito, em igual medida, poderíamos repetir os mesmos feitos maravilhosos.

Dizem que seria possível reunir a poderosa força do Niágara e, transformá-la em eletricidade, transportando-a por meio de um fio para acionar máquinas a cento e cinquenta quilômetros de distância. Se isso fosse feito, seria quase indiferente se o fio fosse fino ou grosso. A força poderosa poderia viajar também por meio do fio delgado e realizar suas maravilhas, como através de um cabo elétrico. Então, a questão para todos nós é se o Espírito Santo está trabalhando “com” e “através de” nós com poder. Se Ele está, então, mesmo que nossa natureza seja insignificante e fraca, Ele realizará através de nós as mesmas ações poderosas que realizou através dos homens vastamente superiores em força mental e até mesmo moral. Podemos até nos gloriar em nossas fraquezas, desde que esse poder Divino possa repousar sobre nós mais evidentemente, e que essa glória possa ser mais claramente de Deus.

Surge então a pergunta: Será que nós, cristãos comuns que vivem na sociedade moderna, devemos esperar receber o Espírito Santo naquela medida extraordinária e especial que o Senhor derramou sobre Elias? É claro que todos nós recebemos o Espírito Santo, ou nunca poderíamos ter vindo a Jesus. Todas as graças do caráter cristão, todo o nosso conforto, todas as nossas vitórias são devidas à Sua presença.

“Toda virtude que possuímos
E todas as vitórias vencidas
E todo pensamento de santidade
São Dele somente”.
Autor Desconhecido

É claro, entretanto, que além desta graça comum, que é dada a cada crente, existe uma abençoada unção do Espírito Santo que dá uma preparação especial e aptidão para o serviço. Elias a possuiu. Nosso abençoado Senhor, como o Servo perfeito, a teve. Sendo cheio do Espírito Santo, Ele retornou no poder do Espírito para a Galiléia, e Seu maravilhoso poder foi devido ao fato de que o Espírito Santo estava sobre Ele (Lc 4:1, 14, 18). Os apóstolos receberam esse Espírito desde o dia de Pentecostes, quando receberam a Sua plenitude para dar testemunho, embora, em caráter pessoal, já O haviam recebido antes (compare At 1:8 e 2:4 com Jo 20:22). Os crentes samaritanos O receberam, mas somente depois que Pedro e João oraram por eles “para que recebessem o Espírito Santo”, embora seja evidente que sua conversão e alegria anteriores tivessem sido devidas à Sua bendita obra (At 8:15-16). Os discípulos em Éfeso O receberam, mas somente depois que Paulo impôs suas mãos sobre eles. Isso é certamente o que queremos, e é isso que podemos ter.

Essa Unção especial para o serviço não é apenas para homens como Elias, Paulo ou Pedro, que planam muito acima de nós na direção do céu azul, mas é para todos nós, enquanto houver nas páginas das Escrituras tais palavras inestimáveis: “A promessa [referindo-se obviamente a At 1:4] é para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” (At 2:39). Estamos entre os de longe, e portanto, podemos reivindicar a promessa para nós mesmos e receber a plenitude do Espírito Santo, para nos preparar para essa vida e ministério. Há entretanto, três condições para receber e guardar esse presente abençoado.

Nós Devemos ser Esvaziados

Deus não pode nos preencher se já estivermos cheios. Talvez esse tenha sido um dos segredos do espírito e poder de Elias. Levou dez dias para que os apóstolos fossem drenados, embora tivessem passado três anos sob o ensino imediato de Cristo. Mas o processo de esvaziamento foi uma preliminar indispensável para o dia de Pentecostes. Para Elias, esse processo continuou ao lado do riacho seco, durante a longa e triste marcha a Sarepta e durante toda a sua estadia ali. Aparentemente isso levou três anos e seis meses. Foi um longo e cansativo tempo de espera, mas foi um tempo bem gasto.

Ao esvaziar-se do ego, da auto-suficiência e da auto dependência, Elias tornou-se cada vez mais cheio do Espírito de poder, de modo que o próprio Carmelo, com todos os seus feitos heróicos, se tornou gloriosamente possível para ele. Estamos dispostos a pagar esse preço? Estamos preparados para que Deus nos esvazie de tudo o que é contrário a Sua vontade? Estamos contentes em sermos vasos vazios e quebrados, para que o rio, em cujo leito nos encontramos, possa fluir facilmente através de nós? Se não, peçamos a Ele que trabalhe em nós para desejarmos Seu próprio prazer – que Ele mergulhe o ferro frio e teimoso na fornalha incandescente de Sua graça, até que possamos ser inclinados à perfeita conformidade de Sua própria vontade gloriosa.

Mas, se estivermos dispostos, apresentaremos nossa natureza vazia ao Filho de Deus, para que Ele nos encha com a plenitude do Espírito. Vamos também crer que Ele nos preencherá, tão logo nos entreguemos a Ele. Você não deseja mais Dele, com mais urgência que Ele deseja você, e uma coisa é a condição básica para a outra (Tg 4:5 RV). Graça, como a natureza, abomina o vácuo. Assim como o ar fresco e frio se apressará em encher um receptor exaurido logo que tiver a chance de entrar, a graça do Espírito Santo também entrará no coração que não pode se gabar de nada além de um dolorido vazio. Pode não haver êxtase, vento impetuoso, batismo de fogo, mas, “De repente, virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais” (Mq 3:1), em inundações de luz silenciosa e dourada. “Este disse: Assim diz o Senhor: Fazei, neste vale, covas e covas. Porque assim diz o Senhor: Não sentireis vento, nem vereis chuva; todavia, este vale se encherá de tanta água” (2Rs 3:16-17).

Muitos cristãos, em busca dessa bendita plenitude, cometem o mesmo erro que é constantemente cometido por aqueles que buscam o perdão e a aceitação de Deus. Eles buscam evidências da habitação do Espírito, se recusando a acreditar na Sua presença, a menos que detectem certos sinais que consideram dignos disso. Isso é completamente errado. A consideração não deve ser por meio dos sentimentos, mas pela fé. Se tivermos cumprido as instruções de Deus, devemos crer, quer sintamos alguma diferença ou não, que Deus fez a Sua parte e cumpriu Sua promessa, que foi dada a nós através de Jesus Cristo, nosso Senhor. Devemos crer que Ele não tem sido mais lento para nos dar o Espírito Santo, do que os pais terrenos o são ao dar pão aos seus filhos famintos (Lc 11:13).

Quando deixamos o aposento onde nos dedicamos solenemente a Deus e buscamos ser cheios do Espírito, não devemos examinar nossos sentimentos para descobrir se existe alguma diferença em nós, mas devemos clamar na certeza da fé: “Eu te louvo, Abençoado, Tu não falhou em realizar a Tua obra. Entraste no meu coração ansioso e tomaste a Tua morada em mim. A partir de agora, Terás o Teu caminho comigo, para fazer Tua boa vontade”. Nós não devemos procurar conhecer a presença do Espírito Santo por quaisquer sinais que apontem para Ele. Ele não revela a Si mesmo, mas a Cristo. O Espírito Santo glorifica Cristo (Jo 16:14). Os sintomas mais seguros de que Ele está dentro são a sensibilidade ao pecado, a ternura da consciência e o crescente amor à Jesus, à fragrância do Seu nome, e uma simpatia pelos Seus. Então, você conhecerá um pouco do Seu enchimento gracioso. Uma criança pequena foi questionada sobre sua idade, e ela respondeu: “Eu não me sinto com sete. Sinto-me como seis; mas minha mãe diz que tenho sete anos”. Aqui estava a consideração da fé, colocando a palavra de sua mãe antes de seu próprio sentimento. Assim devemos nos recusar a nos considerar a nós mesmos, diagnosticando nossos sintomas, tomando nosso próprio pulso. Devemos nos lançar profundamente na veracidade de Deus e baixar nossas redes na direção de um serviço de poder e bênção.

Precisamos ser Obedientes

Já insistimos nisso, mas é tão indispensável que sejam feitas repetidas ênfases. Cristo reiterou Seus apelos para que guardássemos Seus mandamentos em quase todas as sentenças de Seus discursos finais com Seus discípulos (Jo 14: 15,21,23-24). Ele dá o segredo da Sua própria permanência no amor de Seu Pai nestas marcantes palavras: “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço” (Jo 15:10).

A obediência instantânea e implícita ao ensino da Palavra e aos sussurros interiores do Espírito Santo é uma condição absoluta de manter ou aumentar essa sagrada influência dentro de nós. Ao contrário, sustentar um pequeno item de desobediência é suficiente para entravar outras dádivas e até nos privar do que já alcançamos. “Se quiserdes e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada” (Is 1:19-20).

Essa obediência não é difícil, pois todos os mandamentos de Deus são passíveis de serem cumpridos e Sua graça é suficiente. Cuidado com isso! Se ao menos cada crente que lesse estas linhas pudesse resolver, a partir desta hora, imitar Elias, que foi e fez de acordo com a palavra do Senhor (1Rs 17:5,8-10) – não com o pensamento no mérito, mas sob a inspiração de seu amor; não apenas nos assuntos mais importantes, mas nos cruzamentos dos T’s e pontos dos i’s – eles descobririam imediatamente que isso lhes abriria uma vida de glória quase inconcebível. É das alturas da obediência inabalável que vislumbramos o amplo e aberto mar da bem-aventurança. A obediência de Elias é a condição inviolável de receber e manter o espírito e o poder de Elias.

Precisamos Viver pela Palavra de Deus

Elias, a viúva e seu filho viviam com seus estoques reabastecidos diariamente; mas o profeta tinha outra carne para comer, da qual eles não conheciam: “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4:4). Foi dessa palavra que Elias se alimentou durante aqueles longos e lentos dias.

Às vezes ele subia nas alturas atrás da pequena cidade, em profunda meditação sobre aquela Palavra que é como as grandes montanhas. Às vezes ele andava de um lado para o outro, refletindo sobre esses julgamentos que são muito profundos. Ele podia dizer: “Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração” (Jr 15:16). E, sentado com a viúva e seu filho, ele faria da Palavra o tópico de sua constante conversação, de modo que ela foi obrigada a se referir a ele nestes significativos termos: “Nisto conheço… que a palavra do Senhor na tua boca é a verdade” (1Rs 17:24). Esta é a condição mais absoluta de se tornar e permanecer cheio do Espírito Santo. O Espírito trabalha “com” e “através” da Palavra. O que o metal é para a locomotiva, o que o fio é para a fagulha elétrica, o que a gramática é para o professor, a Palavra de Deus é para o Espírito de Deus.

Se negligenciarmos o estudo reverente das Escrituras, nos afastaremos do próprio veículo através do qual o Espírito de Deus ensina os espíritos humanos. Esta é a grande falha dos nossos tempos. O povo cristão participa de convenções, mergulha em todo tipo de obra cristã, lê muitos livros bons sobre a Bíblia e a vida cristã; mas dão à própria Bíblia a mais superficial atenção. É por essa razão que a Bíblia não fala com eles.

Se você conhecesse toda a maravilhosa beleza de uma clareira na floresta, não deveria se satisfazer em atravessá-la com passos apressados, na companhia de uma tropa de crianças alegres, cuja gargalhada traz pânico aos corações de milhares de seres vivos tímidos que, com corações trêmulos, permanecem em seus buracos e em seus ninhos. Não, você deve ir sozinho ali, sentar-se em silêncio no tronco de uma árvore derrubada e esperar. Então o mistério da beleza começará a se desdobrar: veja os musgos, os ramos entrelaçados. Logo, uma nota vai soar, como o sinal para a explosão de muitos coralistas de doces vozes, e a floresta irá tocar com a música dos pássaros, enquanto o esquilo sobe em uma árvore vizinha, os coelhos saem para se alimentar e as jovens raposas brincam sobre seus buracos. Tudo isso está escondido daqueles que não podem esperar.

Portanto, há mistérios de glória e beleza nas Escrituras, escondidos dos sábios e prudentes, mas revelados aos bebês. Não há livro que recompense mais o tempo gasto em suas páginas do que a Palavra de Deus. Uma Bíblia negligenciada significa um espírito faminto e sem força, um coração sem conforto, uma vida estéril e um Espírito Santo entristecido. Se as pessoas que agora estão correndo para reuniões, em busca de migalhas de ajuda e conforto, ficassem em casa e revistassem suas Bíblias, haveria mais felicidade na Igreja e mais bênçãos no mundo. É um conselho muito prosaico, mas é verdade.

Gostou? Continue lendo mais a respeito de Elias na série “Onde está o Senhor, Deus de Elias?”.


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