Peregrinos no Caminho Celestial – 1

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T. Austin-Sparks (1888-1971)

“Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Porque os que falam desse modo manifestam estar procurando uma pátria. E, se, na verdade, se lembrassem daquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade” (Hebreus 11:13-16).

A Terra Relacionada aos Céus

A Bíblia se inicia com os céus: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gênesis 1:1). A ordem não foi “a terra e os céus”; os céus vieram primeiro. A Bíblia se encerra com a santa cidade, a nova Jerusalém, descendo dos céus, da parte de Deus (Ap 21:2). Se os céus estão no início e no fim, tudo o que está entre esses dois relatos na Palavra de Deus, do início ao fim, é dos céus e para os céus. Assim como ocorre na esfera natural, é também na esfera espiritual. Os céus governam a terra e o que é terreno. O terreno, então, deve responder ao celestial. É o céu que é supremo. Tudo deve estar à luz dos céus, deve responder a ele, como que vindo de lá. Esse é um resumo da Palavra de Deus.

Esse mundo, esta terra não está sozinha e sem relação com o que está ao seu redor. Não importa o quão importante ela seja no esquema Divino de coisas  – e certamente é um objeto de grande interesse celestial, porque talvez as coisas mais impressionantes do universo possam ter tomado lugar nesta terra. Deus veio aqui em carne, viveu, Se deu pelo mundo; o grande drama dos eternos conselhos Divinos está relacionado a esta terra – entretanto ela não está isolada, sozinha, mas está relacionada ao céu, e todo o seu significado é devido a tal relacionamento. A terra toma seu significado e importância pelo fato de estar relacionada a algo maior do que ela mesma – os céus.

A Bíblia ensina que “Deus está nos céus“ (Ec 5:2). Essa é a declaração. Ela ensina que existe um sistema, uma ordem nos céus, que é a verdadeira e suprema ordem do universo. No final de tudo, a consumação de todos os conselhos de Deus será a reprodução da ordem celestial sobre esta terra. Cristo desceu dos céus e retornou para lá. O Cristão, como filho de Deus, é nascido dos céus e sua vida é centrada lá, e a vida do filho de Deus será consumada nos céus. A Igreja, a obra-prima de Deus, tem sua origem, chamamento e destino celestial. Em todas essas e outras muitas coisas, “os céus dominam” (Dn 4:26). Esse grande fator do céu governa tudo.

Filhos de Deus Relacionados aos Céus

No que tange a nós, se somos filhos de Deus, tanto a nossa educação como a nossa história estão relacionadas aos céus e, com isso, não me refiro ao simples fato de estarmos indo para lá. Estamos relacionados ao reino dos céus por nascimento, no que diz respeito ao nosso sustento e vocação eternos. Toda a nossa educação está relacionada com os céus. Tudo o que precisamos aprender está relacionado às coisas que são feitas nos céus, que equivale àquilo que o Senhor disse: “Faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6:10). Esse é um fragmento muito compreensivo, cobrindo toda a educação dos filhos de Deus, porque essa oração se inicia com: “Pai nosso, que estás nos céus“.  Por estarem nos céus, então essas coisas devem ser reproduzidas aqui. Mas essa educação dura a vida toda, é profunda e drástica, pois está envolvida com a conformidade com o céu.

A Bíblia do tempo dos cristãos do Novo Testamento era o Antigo Testamento. Quando lemos o Novo Testamento, como fazemos com frequência, e lemos – “para que se cumprisse a Escritura”, “como está escrito nas Escrituras”… – essas eram referências ao Antigo Testamento. O Antigo Testamento era tudo o que os cristãos primitivos tinham em termos de Escrituras, a única Bíblia disponível aos primeiros Cristãos que viveram nas primeiras décadas da história da igreja. Eles não tinham o Novo Testamento. O Antigo Testamento era continuamente consultado, referido, tomado e usado para exemplificar a experiência espiritual dos Cristãos. A carta aos Hebreus, da qual foi retirada a nossa citação inicial, é assim. Do início ao fim está recheada com o Antigo Testamento, e o Antigo Testamento é usado incessantemente para ilustrar e demonstrar o sentido da vida espiritual de um Cristão do Novo Testamento.

Uma Peregrinação Relacionada ao Céu

O que encontramos ao longo de todo o Antigo Testamento é uma peregrinação em relação ao céu. Vamos voltar ao início de tudo. A intenção Divina na criação foi que houvesse tal harmonia entre o céu e a terra, de forma que Deus pudesse estar aqui neste mundo em prazer, alegria e descanso, assim como Ele podia estar nos Seus céus. Ele fez a terra para Seu prazer, para Si mesmo, para que Ele pudesse ir e vir em perfeita satisfação, descanso e alegria. A primeira figura é Deus estando satisfeito em vir ao mundo que Ele criou. Ele o fez, era obra Sua, e nos é dito que Ele entrou no Seu descanso quando a concluiu. Seu descanso foi encontrado quando Ele estava aqui com Sua criação.

Entretanto, desde a tragédia da queda, os céus e a terra perderam a sua harmonia e estão em divergência. Este mundo está em conflito com os céus. Deus não tem mais prazer em estar nele, ou vir até ele. Sua presença aqui é em testemunho, não em plenitude – em testemunho pois esse é Seu lugar de direito e pelo fato de que “ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém” (Sl 24:1), e que Ele a fez para Seu próprio deleite. Mas Deus está aqui apenas em testemunho, num símbolo, sinal. Ele precisa ter aquele testemunho, mas não está aqui em plenitude hoje. Num sentido muito real e muito amplo, Deus está fora do mundo, e existe conflito entre os céus e a terra; mesmo enquanto há um testemunho aqui. Ele está fora. O próprio vaso do testemunho da presença de Deus é algo que não pertence a este mundo. Não existe uma habitação, não há uma cidade. Ele está ‘dentro’, mas não é ‘de’. É como algo estranho a esse mundo. Tem sido assim desde a queda.

Então, toda a história dos instrumentos Divinamente tomados para aquele testemunho, sejam eles individuais ou corporativos, é a história da peregrinação espiritual em relação aos céus. Você percebe isso?  Toda a história dos vasos Divinamente escolhidos e tomados para testemunho de Deus, sejam individuais ou corporativos, é a história de pioneiros abrindo caminho, fazendo algo que era novo até então no que diz respeito a este mundo, abrindo um novo terreno, fazendo novas descobertas em relação aos céus; pioneiros na esfera celestial. Quanta história pode ser juntada numa afirmação como essa!

Continua no próximo post.

Tradução do Capítulo 1 do Livro “Pioneers of the Heavenly Way” (Pioneiros do Caminho Celestial), de T. Austin-Sparks, publicado por Emmanuel Church.

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