Encontrar a Palavra, Comê-la e se Alegrar

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Andrew Murray (1828-1917)

“Quando as tuas palavras foram encontradas, eu as comi; elas são a minha alegria e o meu júbilo” (Jeremias 15:16).

Temos aqui três coisas: (1) Encontrar a Palavra de Deus – Só a encontram aqueles que a procuram diligentemente; (2) Depois, o comer – É a apropriação pessoal para o nosso sustento. É absorvemos no íntimo do ser as palavras de Deus. “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt.4:4); (3) Em seguida, a alegria.

Podemos resumir essas três coisas assim: encontrar, apropriar-se e alegrar-se. Comer, que é apropriar-se da Palavra, é a ideia central, mas antes deve vir o encontrar, e então, a alegria. Comer é o único propósito e utilidade do encontrar e é a causa e a vida do alegrar-se.

Para bem compreender a diferença entre o comer e o encontrar as palavras de Deus, compare o trigo guardado no celeiro com o pão sobre a mesa. Todo o trabalho diligente em semear, colher e guardar o trigo no celeiro, toda a recompensa pelo trabalho, de nada vale ao homem se ele não se alimentar diariamente do pão que seu corpo necessita. No encontrar, no colher e no guardar procura-se a maior quantidade e a maior rapidez possível – e essas coisas têm que ser feitas. No comer acontece justamente o contrário – aqui é a porção pequena e o processo continuado, vagaroso e incessante que caracteriza a apropriação do alimento.

Você percebe a aplicação que essa ilustração tem ao estudo das Escrituras em sua hora tranquila matinal? Você precisa achar as palavras de Deus e, em meditação, conhecê-las a fundo, de tal modo que elas fiquem armazenadas em sua mente e sua memória, para o seu próprio uso e para o uso de outros. Nesse trabalho é possível que haja muitas vezes uma grande alegria, a alegria da colheita ou a alegria da vitória, a alegria do tesouro adquirido ou das dificuldades vencidas. Entretanto, é preciso que nos lembremos de que o encontrar e possuir as palavras de Deus ainda não significam comê-las, pois somente o comer traz vida divina e força para a alma.

O fato de estar ocupado em conseguir e possuir o bom trigo não alimenta o homem. Estar profundamente interessado no conhecimento da vontade de Deus não vai, por si só, alimentar a alma. “Quando as tuas palavras foram encontradas”, foi a primeira parte, “Eu as comi”, foi o que trouxe alegria e gozo.

O que é comer? O trigo, cultivado pelo agricultor, que muito se alegrou em possuí-lo, não pode alimentar o seu corpo enquanto não o tomar e comer. É preciso que ele o assimile tão bem, que se torne parte do seu corpo, entrando em seu sangue e formando a sua própria carne. Isso tem de ser feito em pequenas quantidades de cada vez, duas ou três vezes ao dia, todos os dias do ano. É essa a lei do comer. Não é a soma da verdade que eu extraio da Palavra de Deus, não é o interesse ou o sucesso do meu estudo bíblico, nem é a maior clareza ou a maior quantidade de conhecimento adquirido que me asseguram a saúde e o crescimento espiritual. Jesus disse: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e concluir a sua obra” (João 4:34).

É preciso tomar uma pequena porção da Palavra de Deus – alguma ordem explícita para a nova vida – recebe-la em sua vontade e coração, e submeter-se de modo absoluto à ordem divina. É preciso então comer a Palavra para que ela permaneça no mais íntimo do ser e se torne parte integrante da vida. Seja uma verdade ou uma promessa, aquilo que você come torna-se parte de você; você o leva por onde quer que vá, como uma parte da vida que você vive.

Você pode colher e armazenar trigo para muitos e muitos anos, mas você não pode ingerir quantidade suficiente de pão que o alimente por vários dias. É preciso que o comer da Palavra de Deus seja feito em pequenas porções e na quantidade que a alma possa receber e digerir, diariamente, ano após ano. George Muller diz que aprendeu que não devia parar de ler a Palavra enquanto não se sentisse feliz em Deus. Só então ele se sentia preparado para enfrentar o seu dia de trabalho.

Coletânea extraída do capítulo 22 do livro “A Vida Interior”, de Andrew Murray, publicado pela Editora Vida.

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