T. Austin-Sparks (1888 – 1971)
“Que eu possa conhecê-lo, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, tornando-se conformado na sua morte” (Filipenses 3:10).
Existem algumas palavras nos escritos do apóstolo Paulo que revelam o quão comprometido com o Senhor Jesus ele era. Todo o contexto abordado aqui é um derramamento consumado de seu coração para Aquele que, segundo ele, “o conquistou”. Ele concentra tudo em uma breve sentença: “Que eu possa conhecê-lo”!
A coisa impressionante sobre a essa ambição que ele expressa é o momento da sua vida no qual ele a expressa. Aqui está um homem que teve uma revelação e conhecimento de Jesus Cristo maior do que qualquer outro homem até aquele momento. Esse conhecimento começou – como ele disse – quando “aprouve a Deus revelar o seu Filho em mim”. Esso início o devastou, mandando-o para o deserto para tentar compreender essas implicações. Mais tarde, ele foi “arrebatado ao terceiro céu e ouviu palavras inefáveis, que (disse ele) não era lícito ao homem referir”. Entre e depois dessas duas experiências, há evidências de um crescente conhecimento de Cristo. Aqui, depois de tudo isso, perto do fim de sua vida, ele clama com paixão: “Para que eu possa conhecê-lo”.
O mínimo que podemos dizer sobre isso é que o Cristo que ele tinha em vista era muito grande, de fato, superando a capacidade de compreensão do homem, por maior que ela seja. Isto está em tremendo contraste com o Cristo limitado que conhecemos! Como há muito mais em Cristo do cada um de nós já viu! Temos de quebrar esse versículo em partes. Vamos dividi-lo por suas principais palavras, em suas quatro frases:
(1) O sentimento que governa: “Que eu possa conhecê-lo”.
(2) O poder eficaz: “O poder da sua ressurreição”.
(3) A base essencial: “A comunhão dos seus sofrimentos”.
(4) O princípio para o progresso: “Conformado com a sua morte”.
1. O sentimento que governa
“Que eu possa conhecê-lo“.
Aqui um pouco de estudo de palavras é útil e necessário. Na língua original do Novo Testamento, há duas palavras para “conhecer” ou “conhecimento” ou “saber”. Eles ocorrem em numerosas ocasiões e conexões através do Novo Testamento.
Uma dessas palavras tem o significado de conhecimento por informação; algo que nos foi contado, aprendido pela leitura, por relatório. É, em especial, o conhecimento que vem pela observação, estudo, pesquisa, ou fala. É preferivelmente o conhecimento sobre as coisas, pessoas, etc. A outra palavra tem o significado de uma experiência pessoal, uma íntima familiaridade e conhecimento interior. Às vezes há um prefixo que dá o significado de “pleno conhecimento” (epi). A segunda dessas palavras é a que Paulo está usando e empregando aqui: “Que eu possa ter ou ganhar mais do conhecimento de Deus, que é a experiência pessoal, por meio de conhecimento pessoal, vivendo, em primeira mão um relacionamento com Ele”.
Isso tira tudo o que está sendo dito do terreno da mera teoria, do intelecto. Tudo é o resultado e o efeito de um ato do Espírito Santo dentro do apóstolo. É por isso que Paulo relaciona com esse conhecimento “o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos”. É um conhecimento poderoso, nascido da experiência profunda. E este é o único verdadeiro conhecimento de Cristo! É plantado ou forjado no profundo da vida interior.
2 . O poder eficaz
“O poder da sua ressurreição“.
Embora haja um aspecto futuro em toda a declaração, ou seja – a consumação na glória – devemos entender que, em cada uma dessas frases, Paulo está pensando nesta vida. Mesmo no versículo seguinte, onde ele fala de alcançar a “ressureição dentre os mortos”, ele está pensando principalmente na ressurreição presente do espiritual e moral. Ele já havia conhecido algo desse poder. Sua conversão foi assim. Uma e outra vez, quando ele mencionou “morte, muitas vezes” ele sabia disso. Talvez a maior de todas as suas experiências foi a de Ásia e Listra (II Coríntios 1:9; Atos 14:19-20 ) .
O poder da ressurreição e da vida é o conhecimento de Cristo. É assim que nós o conhecemos, e isso está disponível para todo crente. Esse é o poder para a resistência, superação, o cumprimento do ministério, para manter o testemunho do Senhor no mundo, para cada necessidade relacionada aos interesses e glória de Cristo. Ele coloca a vida em uma base sobrenatural. É o poder da Sua ressurreição, o maior milagre da história.
3 . A base essencial
“A comunhão dos seus sofrimentos“.
Neste contexto, há algumas coisas que devemos imediatamente colocar de lado. Houve sofrimentos de Cristo que não compartilharemos, e não somos chamados a compartilhar, embora, por vezes, parece haver uma linha muito pequena e fina entre eles.
Nós não compartilharemos os sofrimentos expiatórios de Cristo. Há todo um terreno de sofrimento que era só dEle. A obra da redenção do homem era apenas Sua, por nós. Quando Aquele que não tinha pecado foi feito pecado por nós, Ele estava sozinho, até mesmo Deus o abandonou – naquele momento eterno. Sobre esse fato toda a verdade da sua Pessoa única se apoia, e todo o sistema de sacrifício perfeito descansa, no Cordeiro imaculado.
Mas, quando tudo isto é aceito e estabelecido, existem sofrimentos de Cristo dos quais podemos participar em comunhão com Ele. Nós, por causa dEle, podemos ser desprezados, e rejeitados pelos os homens. Podemos ser desacreditados, condenados ao ostracismo, perseguidos, ridicularizados, torturados e até mesmo “mortos”, tanto em um ato e “por todo o dia”. Paulo fala de um resíduo dos sofrimentos de Cristo, que ele estava ajudando a completar por “amor do seu corpo que é a Igreja”. Esta é outra área e sistema de sofrimento. Paulo encarava isso como uma honra e algo com o que se alegrar, porque era por Aquele a quem ele amava tão profundamente. Mas ele também viu que esse sofrimento com e por Cristo fornecia uma base para conhecê-Lo e o poder da Sua ressurreição. Este Apóstolo concordaria que só quem conhece essa comunhão, verdadeiramente conhece o Senhor. Sabemos disso! É perfeitamente evidente que a real utilidade no sentido espiritual sai do lagar, e “os que sofreram mais tem mais para dar”. Não há nada de artificial sobre o fruto de Cristo.
4 . O Princípio para o Progresso
“Tornar-se conformado na Sua morte“.
É importante se quisermos compreender o Apóstolo, perceber que ele não estava pensando em conformidade com a morte de Cristo como o fim de tudo. Seu real significado é que ele deveria aumentar no conhecimento de Cristo, conhecer o poder da Sua ressurreição, e a comunhão dos Seus sofrimentos, conformando-se com a Sua morte. Sua morte – a morte de Cristo – estava por trás de tudo, algo que, no início, e na história espiritual do crente é um trabalho de volta para o que essa morte significava. Ela significou o fim do “velho homem”, crucificação para a mente e vontade, para o mundo, o fechamento da porta para todo um sistema que não era centrado em Cristo e governado por Cristo.
Tudo isso tinha sido afirmado e apresentado nas cartas iniciais de Paulo, mas seu pleno significado que teve de ser tornado progressivamente real e verdadeiro na sua experiência espiritual. O significado da morte de Cristo – Paulo ensinou – deveria ser a história interior do crente, e isso seria exercitado – progressivamente – no poder da Sua ressurreição, e na comunhão dos Seus sofrimentos. Assim é que, por ser conformado à Sua morte, ele chegaria ao conhecimento mais completo dEle e daquele poder Divino. É sempre assim.
O sentimento que governa abre o caminho para o poder eficaz, e o poder para realizar, pela base essencial, através do princípio para o progresso na conformidade com a Sua morte.
Da revista “Uma Testemunha e um Testemunho”, publicado em setembro- outubro de 1969, Volume 47-5. Texto original: “An Apostle’s Supreme Ambition”
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PAZ DO SENHOR. ESCELENTES ESTUDOS.