Amaleque e sua História

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Major W.Ian Thomas

“Então, disse o SENHOR a Moisés: Escreve isto para memória num livro e repete-o a Josué; porque eu hei de riscar totalmente a memória de Amaleque de debaixo do céu… E disse: Porquanto o SENHOR jurou, haverá guerra do SENHOR contra Amaleque de geração em geração” (Ex 17:14;16).

Jamais raiará um dia em que Deus estará em paz com Amaleque! Deus diz a nosso respeito que em nossa própria carne não habita bem algum, e também que, perante Ele, nunca se gloriará carne alguma (Rm 7:18 e 1 Co 1:29). Lembre-se do que é a carne – ela se sujeita ao “…espírito que agora atua nos filhos da desobediência…” (Ef 2:2), o qual encontrou expressão inicial na queda do maligno, quando ele se exaltou no seu próprio coração:

“Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14:13,14).

Ele queria possuir alguma coisa,  fazer alguma coisa e ser alguma coisa, à parte de Deus, e é exatamente essa ambição satânica que a carne deseja operar em nós. A carne é tudo aquilo em que você se torna ao procurar possuirfazer ou ser à parte do que Cristo é – e Deus está em guerra, de geração em geração, contra esse princípio satânico que faz de nós aquilo que somos, à parte do que Cristo é.

Haverá um bom motivo pelo qual Amaleque representa a carne? Qual foi a característica dos amalequitas que nos fornece base legítima e bíblica para encontrarmos em Amaleque o quadro simbólico da natureza caída de um homem pecaminoso? Precisamos examinar uma significativa passagem no vigésimo quinto capítulo de Gênesis, cuja relevância não seja óbvia a princípio, a partir do versículo vinte e nove:

“Tinha Jacó feito um cozinhado, quando, esmorecido, veio do campo Esaú e lhe disse: Peço-te que me deixes comer um pouco desse cozinhado vermelho, pois estou esmorecido. Daí chamar-se Edom. Disse Jacó: Vende-me primeiro o teu direito de primogenitura. Ele respondeu: Estou a ponto de morrer; de que me aproveitará o direito de primogenitura? Então, disse Jacó: Jura-me primeiro. Ele jurou e vendeu o seu direito de primogenitura a Jacó. Deu, pois, Jacó a Esaú pão e o cozinhado de lentilhas; ele comeu e bebeu, levantou-se e saiu. Assim, desprezou Esaú o seu direito de primogenitura” (Gn 25:29-34).

Em que consistia o direito de primogenitura, que foi desprezado por Esaú, e que Jacó haveria de herdar? O direito de primogenitura consistia na promessa que Deus dera a Abraão de que, em seu descendente, seriam abençoadas todas as famílias da terra. Como Paulo salientou no terceiro capítulo de Gálatas: “…não diz: e aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo…”. 

Vale dizer, portanto, que o direito de primogenitura envolvia o nascimento de Cristo – o descendente de Abraão em particular, Aquele que haveria de redimir os homens de sua condição de perdição, restaurando-os à verdadeira relação com Deus – tornando-os uma vez mais dependentes d’Aquele cuja presença significa vida, e que é o único capaz de capacitar o homem a comportar-se como Deus sempre desejou que o homem fosse. 

Esse, pois, era o direito de primogenitura – que Deus, na pessoa de Seu Filho encarnado, estava preparando para fazer dos homens verdadeiros homens, restaurando-lhes a sua verdadeira humanidade – mas Esaú desprezou o direito de primogenitura! É como se Esaú tivesse murmurado em seu próprio coração: “Isso é conversa de crianças! Não preciso dessas coisas! Já tenho tudo o que é preciso para ser um homem, e não tenho necessidade de Deus!”. Assim, pois, se perpetuou nele aquela mentira básica que Satanás impingiu a Adão, isto é, “és o que és em razão do que és, e não em virtude do que Deus é. Podes perder a Deus, que nada perderás”.

Em um contexto mundano, alguns iriam considerar Esaú um homem autêntico. Era caçador, de peito cabeludo; podia sair pela floresta, arranjaria seu próprio almoço! Jacó, por outro lado, parecia até um “moleirão”. Era o filho preferido de sua mãe! Gostava de ficar em casa, ajudando sua mãe na cozinha! Ela nem ao menos permitiu que ele procurasse uma namorada até que ele chegou aos setenta anos de idade! Seu nome tem o sentido de “dissimulado” ou “enganador”, e fazia jus a esse nome! Era um mentiroso, fraudulento. Mentiu para o pai, idoso e cego, e por duas vezes defraudou o seu irmão.

Por qual razão Deus aborreceu a Esaú? Porque Deus nada pode fazer, em absoluto, com um homem que não admite que necessita de alguma coisa da parte de Deus. Esaú rejeitou o meio de graça oferecido por Deus, repudiou a necessidade que o homem tem da intervenção de Deus e, assim, desprezou seu direito de primogenitura – e Deus nunca o perdoou! Essa é a atitude básica do pecado – não dá importância a Deus com respeito às suas exigências e dá ao homem um senso lisonjeiro de auto-importância.

Deus nada pode fazer pelo indivíduo corroído pelo espírito de Esaú. O que há de mais entristecedor em tudo isso é que o próprio crente pode ficar tão impressionado consigo mesmo e com as suas habilidades que, embora reconheça de lábios o fato, pode, contudo, não perceber qualquer aplicabilidade pessoal da presença de Cristo em nós. Tudo isso lhe cheirará a misticismo; considerará tal ensino um exagero subjetivo, e se orgulhará de ser um homem de ação prática – e dessa maneira o próprio crente terminará por desprezar seu direito de primogenitura.

Não obstante, no caso de Jacó, o enganador, Deus podia fazer alguma coisa em seu benefício! Deus podia fazer lago em favor de Jacó, ao passo que nada podia fazer por Esaú.

Deus pode entrar em cena e pode começar a trabalhar no caso do homem que chega ao lugar do mais completo desespero, quando o homem deixa de estar impressionado consigo mesmo e com o que é, e se despe de toda a esperança em si mesmo. Deus amou Jacó! Certamente não o amou por aquilo que ele era – mas o amou por causa daquilo que poderia fazer dele; e Deus  nunca amou a você por aquilo que você é. Ele nos amou, e continua a amar-nos, por causa daquilo que Ele sabe que pode fazer de nós.

Extraído do livro “Salvos pela Vida de Cristo” – Cap. 7 – Major W.Ian Thomas

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