Participante de Cristo
“Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações, segundo lhe fora dito: Assim será a tua descendência. E, sem enfraquecer na fé, embora levasse em conta o seu próprio corpo amortecido, sendo já de cem anos, e a idade avançada de Sara, não duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus; mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus, estando plenamente convicto de que ele era poderoso para cumprir o que prometera” (Romanos 4:18-21).
A vida de Abraão tem um grande destaque na Palavra de Deus. O patriarca foi chamado de Ur dos Caldeus pelo Deus vivo, convidado a abandonar tudo que conhecia e seguir em direção à uma terra que seria mostrada ao longo de sua caminhada. Sua vida não foi fácil, porque ele se tornou um peregrino e passou a viver com uma santa insatisfação. Deus lhe prometeu uma descendência prolífera, mas isso era completamente impossível pelas suas forças. Também sabemos que, onde quer que fosse, Abraão sempre desejava algo mais. Ele nunca fixou raízes em nenhum lugar. Ele viu algo. Como sabemos disso? O escritor de Hebreus deixou registrado que Abraão esperava por uma cidade que tem fundamentos, e da qual Deus é o arquiteto e edificador.
“Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia. Pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa; porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hebreus 11:8-10).
Ele ambicionava habitar na cidade celestial. O próprio Cristo disse que Abraão viu o Seu dia (João 8:56). Então imaginamos que ele viu muito mais do que está registrado em Gênesis. O testemunho mais impressionante das Escrituras a respeito desse patriarca é que ele foi um amigo de Deus (Tiago 2:23). Sua vida é fonte de constante meditação para cada um de nós, seus filhos na fé (Gálatas 3:7).
As Pisadas de Abraão
Dentre as diversas chaves encontradas na vida do patriarca Abraão, vamos analisar uma das mais difundidas entre nós: sua fé. Na vida de Abraão, vemos a fé de forma tridimensional. Abraão cresceu em obediência, revelação e fé. Vemos que a fé de Abraão foi sendo desenvolvida à medida que ele ousava se apoiar mais e mais na Palavra do Altíssimo, o que permitiu que, a cada novo passo dado, essa fé se tornasse cada vez maior.
Deus primeiramente deu a Abraão a promessa da bênção futura: “Farei uma aliança entre mim e ti” [Gn 17:2]. Ao receber tal promessa, Abraão prostrou-se com o rosto em terra diante de Deus. Sim, ele a desejava. Então ele creu que no futuro, o Senhor cumpriria essa aliança.
Logo a seguir, vemos que Deus muda o tempo verbal em Sua interlocução com Abraão, e a fé dele logo se ajusta à mudança, porque agora Deus fala no presente: “Quando a mim, eis que minha aliança é contigo” (Gn 17:4 – AA). Aquilo que Deus iria fazer no futuro, agora Ele faz. Aquilo que Abraão esperava que acontecesse no futuro, agora ele aceita e toma como um fato presente. O futuro se torna presente, e a fé se torna ação. Abraão então ousa se ajustar àquilo que Deus lhe falou, e assume o fato como cumprido.
Entretanto, ainda existe um terceiro tempo verbal, e um terceiro passo para a fé. Abraão precisaria se ajustar mais uma vez à visão de Deus: “Abrão já não será o teu nome, e sim Abraão; porque por pai de numerosas nações te constituí” [Gn 17:5]. Agora temos o tempo perfeito. Aquilo que foi prometido foi feito e totalmente concluído. Deus paulatinamente afirma que aquilo que Ele prometeu e que Abraão creu no presente, já se realizou.
Não devemos nos enganar, pensando que a nossa fé pode ter uma atitude passiva, e que Deus tratará conosco de forma diferente da que tratou com seu servo Abraão.
“E recebeu [Abraão] o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que teve quando ainda incircunciso; para vir a ser o pai de todos os que crêem, embora não circuncidados, a fim de que lhes fosse imputada a justiça, e pai da circuncisão, isto é, daqueles que não são apenas circuncisos, mas também andam nas pisadas da fé que teve Abraão, nosso pai, antes de ser circuncidado” (Romanos 4:11,12).
A fé sempre será chamada a agir ativamente, baseada na Palavra viva de Deus. Vemos claramente que, quando Deus falou com Abraão, aquilo se tornou uma transação, que passou além do tempo presente. Abraão tomou a posição de alguém que passou todos aqueles estágios e ultrapassou a esfera temporal, como a conhecemos, quando verdadeiramente creu. Ele acreditou na Palavra de Deus, mesmo quando não viu aquilo que o Senhor disse que havia lhe dado.
Abraão penetrou na dimensão celestial, onde o tempo não é contado da mesma forma que na nossa existência, porque a fé demanda essa atitude. A fé é um sentido espiritual.
Mas havia uma contrapartida no “agora”. Devemos nos lembrar que Abraão precisou mudar seu nome, se posicionar publicamente diante de todos, baseado em sua fé somente, e isso pode ter se tornado motivo de piada. Sim, ele pode ter sido chamado de tolo. Um homem idoso em sua senilidade, um sonhador! Seus vizinhos perguntariam a ele a razão da estranha diferença no seu nome, e ele deveria dizer que Deus o tornou pai de muitas nações! A Fé deveria ser selada pelo testemunho, e o testemunho deveria ser saturado nas provações, na vergonha e muitas horas de confiança, a despeito das trevas ao seu redor.
“Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações… sem enfraquecer na fé, embora levasse em conta o seu próprio corpo amortecido, sendo já de cem anos…” (Romanos 4:18,19).
Não podemos esperar que a fé se desenvolva em circunstâncias favoráveis, e que nosso testemunho pelo Senhor tenha que esperar o cumprimento visível de sua promessa. Se esse fosse o caso, não poderíamos dizer que isso é fé.
Mas, finalmente, chegou o dia da vindicação de Abraão, o dia do riso, e o pequeno Isaque então recebeu esse nome, “Riso”, porque Deus os fez rir, na gloriosa vindicação da fé.
Vivemos em tempos onde aparentemente a Palavra está sempre sendo contrariada, e que a própria Igreja parece não acreditar nas claras promessas do Senhor. Será que iremos acreditar nas circunstâncias ou ambicionaremos ser aqueles que rirão na vindicação de sua esperança? Será que aguardaremos aquela mesma cidade que Abraão esperou, ou ansiamos por um lugar confortável aqui na terra? Estamos conformados aqui, ou temos o coração peregrino, que almeja pelo Deus vivo?
Hoje temos a história de Abraão e diversos heróis da fé para nos ajudar, além do testemunho mais precioso de todos – do Filho de Deus! Atentemos para Suas palavras:
“Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?” (Lucas 18:8)
Baseado em texto homônimo de A. B. Simpson, extraído do devocional “The Lord My Portion”.