“A oração da fé” é uma coletânea do capítulo 12 do livro “Behind the Ranges: Fraser of Lisuland“, de Mrs. Howard Taylor.
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James Outram Fraser (1886–1938)
“E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará… Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo. Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu. E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos” (Tiago 5:15-18).
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Em outubro de 1915, Fraser escreveu uma carta aos seus amigos do círculo de oração pelo povo Lisu, quando estava em sua residência em Tantsah. Essa carta pode nos ajudar a também orar “a oração da fé”, como Fraser fazia:
“Tantsah.
09 de Outubro de 1915.
Meus caros Amigos,
As Escrituras fazem referência a diversos tipos de oração. Temos a intercessão, a súplica, temos a oração perseverante e a oração da fé. Todas, talvez, sejam fundamentalmente iguais, mas cada uma apresenta aspectos diversos desse grande e maravilhoso tema.
O estudo desses diferentes termos nas Escrituras seria certamente muito proveitoso.
Falando de maneira geral, entretanto, temos outra distinção que é muito familiar a todos nós, entre a oração geral e oração específica. Considero oração específica aquela que é realizada segundo o padrão descrito em Mateus 21:21,22; João 15:7.
“Jesus, porém, lhes respondeu: Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não somente fareis o que foi feito à figueira, mas até mesmo, se a este monte disserdes: Ergue-te e lança-te no mar, tal sucederá; e tudo quanto pedirdes em oração, crendo, recebereis” (Mt 21:21,22).
“Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito” (Jo 15:7).
Na oração específica, temos uma petição clara e fé é exercida para seu cumprimento. A fé também é necessária no outro tipo de oração, quando ela envolve muitas coisas, mas ainda não temos o conhecimento da vontade de Deus em todos os detalhes. Posso orar muito de maneira geral, por exemplo, sobre a Guerra sendo travada na Europa, mas não posso oferecer muitas orações específicas, pois não conheço os propósitos de Deus suficientemente bem para fazê-lo.
Na oração geral, sou limitado pela minha ignorância. Mas esse tipo de oração é o dever de cada um de nós (1Tm 2:1,2), por mais vaga que ela seja. Posso saber muito pouco, em detalhes, sobre o objeto de minha oração, mas posso, de qualquer forma, recomendar tudo a Deus, entregando em Suas mãos.
É bom e correto orar, vagamente, por todas as pessoas, todas as terras, todas as coisas, em todos os momentos.
Mas é diferente com a oração específica. Em um sentido especial seria ‘a oração da fé‘.
Um pedido específico é feito com fé, na busca de uma resposta específica.
Vou compartilhar com vocês alguns pensamentos que me ocorreram a respeito desse tipo de oração nos últimos dias. Sobre esse assunto: a ORAÇÃO DA FÉ.
Vamos tomar o caso de um imigrante canadense como ilustração. Seduzido pela perspectiva do “grão dourado”, ele deixa a Inglaterra rumo ao oeste canadense. Ele tem em vista um objetivo específico. Ele sabe muito bem o que está buscando: o trigo. Ele pensa nas boas colheitas que terá, e no dinheiro que delas resultará.
Isso se parece muito com a situação de um filho de Deus que se propõe a orar a ‘oração da fé’. Ele também tem seu objetivo específico. Pode ser a conversão de um filho ou filha; pode ser a busca de poder para o serviço cristão; pode ser a necessidade de uma orientação do alto em uma situação difícil, ou uma centena de outras coisas – mas é algo específico. Vou considerar algumas semelhanças entre o caso do futuro agricultor canadense e do cristão:
1 – Abrangência do território
Pense no escopo ilimitado que está diante do futuro agricultor no Canadá. Ali existem, literalmente, milhões de acres esperando para serem cultivados. Não há necessidade de pisar nos pés dos outros! Vastas extensões de terras não ocupadas são desperdiçadas, e boas terras também.
O mesmo ocorre conosco, certamente. Temos um campo muito vasto a ser reivindicado pela fé diante de nós. Existe muito pecado, sofrimento, influência destruidora de Satanás nesse mundo, o que seria suficiente para absorver todas as nossas orações de fé, centenas de vezes mais…pois “ainda muitíssima terra ficou para se possuir” (Js 13:1).
2 – O governo encoraja a imigração
Pense também nos esforços que o governo canadense está fazendo para encorajar a imigração. Todas as terras desocupadas pertencem a ele, mas os colonos são tão necessários que a eles são oferecidos diversos incentivos, passagens marítimas e tarifas ferroviárias reduzidas, além de concessões de terras gratuitas!
Deus não estaria convidando Seu povo a fazer a oração da fé com semelhante urgência ao afirmar: ‘Pede, pede, pede’, como Ele continuamente nos diz. Ele oferece Seu incentivo também: “pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa” (Jo 16:24). Todo o território desocupado da fé pertence a Ele, e Ele nos convida a vir e ocupar livremente.
“Até quando sereis remissos em passardes para possuir a terra que o SENHOR, Deus de vossos pais, vos deu?” (Js 18:3).
3 – Limites estabelecidos
Este aspecto da verdade não deve ser enfatizado em demasia. Embora seja um fato bendito que a terra seja tão ampla, isso pode ser ampliado além da proporção devida. O importante não é a amplidão do território, mas o quanto dele é realmente atribuído a nós. O governo canadense fará uma doação de 160 acres para o agricultor imigrante, e nada mais. Por que não? Porque eles sabem muito bem que ele não pode trabalhar em uma área maior. Se eles lhe dessem uma área 10 vezes maior, ele não saberia o que fazer com tudo isso. Portanto, eles sabiamente limitam a quantidade de terra à sua capacidade.
É mais ou menos isso que acontece conosco quando oramos essa oração de fé específica.
A palavra ‘específica‘ significa ‘com limites estabelecidos‘. Muitas vezes somos exortados, e com razão, a pedir grandes coisas a Deus.
Entretanto, existe um equilíbrio em todas as coisas e podemos ir longe demais nessa direção. É possível ‘morder’, mesmo em oração, ‘mais do que podemos mastigar’. Existe um princípio subjacente a 2 Coríntios 10:13 que pode se aplicar a este mesmo assunto.
A fé é como um músculo que se torna cada vez mais forte por meio do uso, diferente da borracha, que pode ser esticada até quase qualquer comprimento desejado.
A fé sobrecarregada não é pura, mas temos a mistura do elemento carnal nela. Não temos desgaste no ‘descanso da fé’, pois ela busca por uma bênção específica dentro da direção de Deus; sem se deter em timidez, nem avançar em uma ânsia carnal.
No meu próprio caso aqui (em Tantsah), pedi definitivamente ao Senhor por várias centenas de famílias de crentes Lisu. Temos mais de duas mil famílias Lisu nesse distrito.
Vocês podem indagar: ‘Por que você não pede mil?’
Com toda a franqueza respondo que não faço isso porque não tenho fé para mil. Tenho fé – ou prefiro dizer que acredito que o Senhor me deu fé – para mais de cem famílias, mas não para mil.
Então eu aceito os limites que o Senhor tem estabelecido para mim. Talvez Deus me dê mil; talvez Ele ainda me leve a me comprometer com esta oração de fé ainda mais específica mais adiante.
Certa vez alguém disse que o Senhor nos promete pão, mas Ele nos dá pão e manteiga. Isso concorda com Efésios 3:20: ‘Acima de tudo que pedimos ou pensamos.‘
Mas não devemos sobrecarregar a fé: devemos ser sóbrios e práticos. Não vamos reivindicar pouco na fé, mas também não reivindiquemos além da conta.
Lembrem-se dos 160 acres do imigrante canadense. Considere, também, como o governo exerce autoridade em matéria de localização. O Governo tem a última palavra no que tange o onde e quanto de terras serão concedidas ao imigrante.
O imigrante não pode vagar por toda a pradaria de acordo com sua própria doce vontade, decidindo se estabelecer em qualquer lugar que escolher. Ele precisa consultar o Governo até mesmos em relação à localização de sua propriedade.
Será que sempre fazemos isso em nossas orações e clamores? Consultamos o Governo Celestial logo no início, ou oramos ‘a primeira coisa que vem à nossa cabeça‘?
Passamos tempo suficiente esperando em Deus para saber qual é a Sua vontade, antes de tentar embarcar em Suas promessas? Em 1 João 5:14,15 aprendemos que este é um princípio sobre o qual Deus opera:
“E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que obtemos os pedidos que lhe temos feito”.
Não posso deixar de sentir que esta é a causa (não a única) de muitas orações não respondidas. Tiago 4:3 tem uma aplicação muito abrangente, precisamos examinar nossos corações à sua luz.
Li um testemunho do Dr. Stuart Holden, não faz muito tempo, onde ele disse que algumas das maiores bênçãos de sua vida foram suas orações não atendidas. Posso dizer o mesmo na minha situação. As orações não respondidas me ensinaram a buscar a vontade do Senhor no lugar da minha própria vontade.
Suponho que a maioria de nós já passou por essas experiências. Oramos, oramos e oramos, sem receber nenhuma resposta. Os céus acima de nós são como bronze. Sim, bronze bendito, se nos ensinar a aprofundar um pouco mais deste nosso EU na Cruz de Cristo.
Às vezes, nossa petição tem sido tão boa, ao que tudo indica, mas isso não garante que ela seja proveniente de Deus. Muitos ‘bons desejos’ procedem de nosso EU não crucificado.
As Escrituras e a nossa experiência certamente concordam que aqueles que vivem mais perto de Deus são os que têm maior probabilidade de conhecer Sua vontade. Somos chamados a transbordar ‘de pleno conhecimento de Sua vontade‘ (Cl 1:9).
“A intimidade do SENHOR é para os que o temem; aos quais Ele dará a conhecer a Sua aliança” (Sl 25:14).
Precisamos conhecer mais da comunhão com a morte de Cristo. Precisamos nos alimentar mais da Palavra de Deus do que fazemos. Precisamos de mais santidade, de mais oração. Não estaremos, então, correndo tanto perigo de nos enganarmos a respeito de Sua vontade.
A maravilhosa promessa de João 15:7 é limitada por um ‘se’ de longo alcance. Me pergunto se esse versículo não deve ser parafraseado: ‘Se NÃO permanecerem em Mim e as Minhas palavras NÃO permanecerem em vós, NÃO peçam tudo o que quiserem (porque) NÃO será feito‘.
Talvez, se nos examinarmos mais profundamente diante de Deus, poderemos até descobrir, em alguns casos, que toda a nossa vida não estava de acordo com Sua vontade.
Que direito teria um homem, nesse caso, de esperar que suas orações fossem atendidas? Mas não é este o fato com respeito a muitas ‘boas obras cristãs? ‘Obtenha seu trabalho de Deus’ é uma determinação essencial.
Quantas vezes os líderes cristãos fazem seus próprios planos, trabalham duro para realizá-los e, então, pedem sinceramente a bênção de Deus sobre sua própria obra.
É muito melhor esperar em Deus para conhecer Seus planos antes de começar, como Hudson Taylor fez! Muito da obra cristã parece ter a marca carnal. Pode ser bom, pode ser bem-sucedido externamente – mas a Glória da Shekiná não está ali.
Tudo isso se aplica à oração da fé. Devemos ter a certeza de que estamos no lugar certo, fazendo o trabalho certo. Devemos ter certeza de que Deus está nos guiando, quando entramos em oração específica.
Não é porque algo é da vontade de Deus, que Ele necessariamente o levará a orar a respeito. Ele pode ter outros fardos para você.
Devemos obter nossas orações de Deus e orar para saber Sua vontade. Isso pode demandar algum tempo.
Deus preparou Hudson Taylor por quinze anos antes de colocar sobre ele o fardo da oração específica pela fundação da Missão para o Interior da China. Deus não tem pressa. Ele não pode fazer coisas conosco até que estejamos treinados e preparados para elas. Vamos prosseguir, então (Fp 3:12).
Podemos estar certos de que Ele tem mais serviço, mais fardos de fé e oração para repartir conosco, quando estivermos preparados. E Ele vai liderar. Abraão nunca teria sido um padrão de fé se tivesse permanecido em Ur dos caldeus. Nem jamais teremos uma fé digna de ser chamada de fé, a menos que avancemos nas pegadas dAquele que disse: ‘Siga-me’.
4 – A reivindicação endossada
Vamos voltar para o exemplo do imigrante novamente. Ele chegou a um acordo com o governo canadense, concorda com seus termos, aceita suas condições, aceita assumir as terras que lhe foram atribuídas. Assim, ele apresenta sua reivindicação no lugar apropriado, e ela é imediatamente endossada. Alguma coisa poderia ser mais simples?
Da mesma forma, nossa reivindicação na presença de Deus deve acontecer. Quando temos a certeza profunda e calma de Sua vontade no assunto, fazemos nossa reivindicação como uma criança diante do pai. Um simples pedido e nada mais. Sem adulação, sem súplica, sem lágrimas, sem luta. Também não é preciso perguntar novamente.
A parábola do juiz iníquo nunca teve a intenção de ensinar que devemos arrancar nossa resposta de um Deus relutante, principalmente pela força. Um pedido verdadeiro é suficiente para toda a vida.
No meu caso, orei continuamente pelo povo Lisu de Tengyueh por mais de quatro anos, pedindo muitas vezes que várias centenas de famílias pudessem se voltar para Deus. Entretanto esta foi apenas uma oração geral.
Deus estava lidando comigo nesse ínterim. (É claro que não pretendo sugerir que qualquer outra pessoa seria necessariamente conduzida da mesma maneira. Será que Deus lida com duas pessoas diferentes exatamente da mesma maneira?). Então, perto do final de novembro do ano passado (1914), quando fiquei com o Sr. e Sra. Geis em Myitkyina na Birmânia, essa mesma petição veio a mim como um fardo específico.
Você sabe como uma criança às vezes é repreendida pelos pais por perguntar algo de maneira errada – talvez, no caso de uma criança, por pedir de maneira rude. O pai dirá: ‘Me peça da forma correta’. Isso é exatamente o que Deus parecia estar me dizendo então: ‘Me peça da forma correta.’ É como se tivesse dito: ‘Você tem Me pedido para fazer isso pelos últimos quatro anos, sem nunca realmente acreditar que Eu o faria: agora peça EM FÉ’.
Reconheci claramente o fardo. E foi um fardo real: me sobrecarregou. Fui para o meu quarto sozinho numa tarde e me ajoelhei para orar. Eu sabia que havia chegado a hora da oração da fé.
E então, sabendo perfeitamente o que estava fazendo e o que isso poderia me custar, definitivamente me comprometi a cumprir esta petição com fé. Lancei meu fardo sobre o Senhor. Levantei-me de meus joelhos com a convicção profunda e repousante de que já havia recebido a resposta. A transação fora concluída.
Desde então (quase um ano atrás agora), nunca tive nada além de paz e alegria (quando em contato com Deus) quando defendia o terreno já reivindicado e tomado. Nunca repeti o pedido e jamais o repetirei: não há necessidade.
Pedir, tomar e receber ocupam apenas alguns momentos (Mc 11:24). O passado nunca pode ser desfeito, nunca precisa ser refeito. É solene entrar em uma aliança de fé com Deus, vincula as duas partes. Você levanta a mão para Deus, talvez até literalmente; definitivamente pede e definitivamente recebe aquilo que pediu; então não volte atrás em sua fé, mesmo que viva até os cem anos.
5 – Mãos à obra
Vamos voltar ao exemplo do fazendeiro canadense. Ele fez sua reivindicação, a terra lhe foi concedida, a escritura redigida e selada com o selo oficial. Então é o fim? Não! Apenas o começo!
Ele ainda não atingiu seu objetivo. Seu objetivo é a colheita de trigo, não um pedaço de terra devastada; e existe uma grande diferença entre os dois.
O governo canadense não prometeu a ele sacos de farinha prontos para exportação – apenas a terra, que poderia ser usada para produzi-los. Agora é a hora de arregaçar as mangas e começar a trabalhar. Ele deve construir sua casa, obter gado, chamar trabalhadores, limpar o terreno, arar e semear. O governo lhe diz, com efeito: ‘Nós atendemos a sua reivindicação: agora vá e trabalhe’.
E essa distinção não é menos clara no reino espiritual. Deus nos dá o terreno em resposta à oração da fé, mas não a colheita. Isso deve ser trabalhado em cooperação com ele. A fé deve ser seguida por obras, por um labor em oração.
A salvação é pela graça, mas precisa ser desenvolvida (Fp 2:12) para se tornar nossa. O mesmo acontece com a oração da fé. Ela nos é dada por meio de Sua graça, mas nunca será nossa enquanto não a seguirmos e a desenvolvermos.
‘Fé e obras’, novamente [Tg 2:14-26], as duas nunca devem ser divorciadas; pois a indolência não obterá nenhuma colheita no mundo espiritual. Acho que o princípio será válido em qualquer ocasião onde a oração da fé for oferecida, mas não tenho dúvida de que sempre é válida nos casos em que as fortalezas de Satanás são atacadas, onde a presa deve ser arrancada do homem forte.
Pense nos filhos de Israel sob o comando de Josué: Deus havia dado a eles a terra de Canaã – e essa terra foi dada a eles pela graça (observe) – mas veja como eles precisaram lutar quando realmente começaram a tomar posse desse território que lhes fora concedido!
Vamos nos lembrar de Daniel (Dn 10:12,13): sua oração foi atendida no primeiro dia em que a ofereceu; mas esse foi apenas o sinal de uma batalha de vinte dias nas regiões celestiais!
Essas me parecem ser as táticas de Satanás: em primeiro lugar, ele se oporá à nossa passagem para essa posição de uma fé viva e real, usando todos os meios que estiverem ao seu alcance. Ele detesta a oração da fé, pois é um anúncio de autoridade de que ele deve ‘desistir’. Ele não se importa muito com orações divagantes e carnais, pois elas não lhe causam muitos problemas. É por isso que é tão difícil atingir uma fé definida em Deus, com um foco, um objeto definido.
Muitas vezes precisaremos nos esforçar e lutar em oração (Ef 6:10) antes de atingirmos essa fé tranquila, esse descanso. E enquanto não conseguirmos vencer isso e nos unir a Deus não teremos obtido a fé verdadeira.
A fé é um dom de Deus (Rm 12:9) e se ficarmos e nos contentarmos em prosseguir sem ela, estaremos empregando mera energia carnal ou força de vontade, armas sem valor nesta guerra de natureza espiritual. No entanto, uma vez que alcançamos uma fé verdadeira, todas as forças do inferno são impotentes para anulá-la.
O que acontece, então? Elas se retiram e arremetem com todas as suas forças neste terreno que Deus se comprometeu a nos dar, contestando cada centímetro de conquista dele. A verdadeira batalha começa quando a oração da fé é oferecida.
Mas, louve o Senhor! Estamos do lado vencedor. Vamos ler e reler o décimo capítulo de Josué, e nunca mais falar sobre derrota novamente. Derrota, de fato! Não, Vitória! Vitória! Vitória!
Uma passagem dentro dessa linha é 2 Samuel 23:8-23, e ela tem sido comida e bebida para mim nos últimos dias.
Os versículos 11 e 12 contêm tudo o que estou falando em poucas palavras. Por favor, leia:
“Depois dele, Sama, filho de Agé, o hararita, quando os filisteus se ajuntaram em Leí, onde havia um pedaço de terra cheio de lentilhas; e o povo fugia de diante dos filisteus. Pôs-se Sama no meio daquele terreno, e o defendeu, e feriu os filisteus; e o SENHOR efetuou grande livramento”.
Deixe que Sama represente o guerreiro cristão. Deixe Davi representar o Cristo crucificado e ressuscitado – e observe que Sama era ‘um dos valentes de Davi‘. O ‘terreno’ pode representar a oração da fé. Que as lentilhas representem as pobres almas perdidas dos homens. Que os filisteus representem as hostes da maldade nas regiões celestiais. Deixe ‘o povo’ representar os cristãos (podem ser boas pessoas) aflitos, com anemia espiritual. Posso imaginar o que essas pessoas estavam dizendo quando viram os filisteus se aproximando e fugiram: ‘Talvez não tenha sido a vontade do Senhor nos conceder aquele terreno. Devemos nos submeter à vontade de Deus ‘.
Sim, devemos realmente nos submeter a Deus, mas devemos ‘resistir ao diabo’ também (Tg 4:7). O fato de que o inimigo nos ataca fortemente não é nenhuma prova de que estamos fora da vontade de Deus.
O prefixo constante do ‘se for da tua vontade’ empregado em nossas orações é frequentemente um mero subterfúgio da incredulidade.
A verdadeira submissão a Deus não é incompatível com virilidade e ousadia. Observe o que Sama fez – simplesmente se manteve firme.
Ele não estava procurando mais mundos para conquistar naquele momento. Ele apenas permaneceu onde estava e combateu, à direita e à esquerda. Observe também o resultado de sua ação e a quem a glória foi atribuída!
6 – Orando até a vitória
Repito que isso não se aplica necessariamente a todo tipo de oração. Um jovem cristão Lisu gosta de contar uma experiência que teve há alguns meses. Ele estava caminhando pelos campos à noite, quando começou inexplicavelmente a sentir uma dor abdominal. Ele caiu de joelhos e, baixando a cabeça até o chão, pediu a Jesus para curá-lo. Imediatamente a dor de estômago o deixou. Louvado seja o Senhor! Sem dúvida, há milhares de casos semelhantes – fé simples e respostas simples. Mas não devemos nos contentar com tal oração. Devemos ir além da dor de estômago ou de qualquer outra dor, para entrar na comunhão mais profunda dos propósitos de Deus.
“Para que não mais sejamos como meninos” (Ef 4:14). Devemos avançar para a maturidade. Devemos atingir “a medida da estatura da plenitude de Cristo” [vs 13] e não permanecer no jardim de infância de Deus indefinidamente. Se crescermos à perfeita varonilidade na vida espiritual, não escaparemos do conflito espiritual.
Enquanto Efésios 6:10-18 permanecer na Bíblia, devemos estar preparados para um sério combate: “depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis”. Precisaremos lutar do princípio ao fim, e então permanecer firmes e vitoriosos no campo de batalha.
Não seria esse o segredo de tantas orações não respondidas: o fato de não orarmos até o fim?
Quando o resultado não for obtido tão rapidamente quanto esperado, os Cristãos rapidamente desfalecem, e se a demora ainda se prolongar, tendem a abandonar totalmente o propósito inicial.
Na Inglaterra, costumamos dar nomes a lugares que tem a construção abandonada na metade do processo de: ‘tolice do fulano’.
Imagino se muitas de nossas orações não merecem esse mesmo estigma.
O texto de Lucas 14:28-30 se aplica tanto à orações quanto à construções. Precisamos avaliar o custo antes de começar a orar a oração de fé. Devemos estar dispostos a pagar o preço. Devemos ser sérios em relação a isso, e estar dispostos a ir até o fim (Ef 6:18 – com toda a perseverança).
Nossa força natural irá sucumbir, e nesse ponto reside a necessidade de uma fé concedida pelo alto. Só dessa forma poderemos descansar nos Braços Eternos do Senhor e renovar nossas forças continuamente. Assim poderemos combater e descansar. Nesse conflito de oração, depois do exercício da fé, não é necessário pedir, repetidamente, pela mesma coisa. Isso me parece inconsistente. Debaixo desse tipo de circunstâncias, diria que a oração deveria tomar o seguinte curso:
(a) Um posicionamento firme no terreno concedido por Deus, em uma declaração constante de fé e reivindicação da vitória.
(b) Uma luta definida e uma resistência às hostes malignas no Nome do Senhor Jesus Cristo. Gosto de ler passagens das escrituras como 1 João 3:8, ou Apocalipse 12:11 em oração, usando-as como armas diretas contra Satanás.
(c) Orar do início ao fim em relação a cada aspecto do assunto relacionado.
No caso do meu trabalho aqui com o povo Lisu, oro continuamente para que Deus me conceda um um conhecimento renovado de Sua vontade, me dê mais sabedoria para lidar com as pessoas, conhecimento de como orar, como manter a vitória, como instruir as pessoas no Evangelho, no louvor e oração, me ajude no estudo da língua, na conversação normal com as pessoas, na pregação, e busco orientação quanto a me estabelecer em algum lugar específico, sobre a construção de uma casa (se for necessário), orientação quanto aos meus próprios assuntos (dinheiro, comida, roupas, etc. .) busco ajuda e bênção para a minha correspondência, abertura para disseminar a Palavra e bênção em outras aldeias, peço pelo levantamento de líderes e ajudantes, oro nominalmente por cada um dos cristãos, e me lembro também, nominalmente, de um dos meus colaboradores de oração. Essa oração detalhada é exaustiva, mas creio que seja eficaz no que diz respeito a buscar a vontade de Deus e obter Sua mais elevada bênção.
Não pediria a ninguém que se juntasse a mim na oração definitiva pela conversão a Deus de várias centenas de famílias de Lisu, a menos que Deus lhe desse orientação individual para isso.
É melhor oferecer oração de uma maneira mais geral do que fazer uma petição específica a Ele, que não esteja debaixo de Sua condução.
Entretanto, valorizo muito a cooperação em oração de qualquer um que se sentir levado a se juntar a mim. O que eu desejo, também, não é apenas uma menção ocasional de meu trabalho e suas necessidades diante do Senhor, durante o devoções matinais ou noturnas, mas um tempo definido (digamos, meia hora ou mais?) separado para esse propósito diariamente, seja durante o dia ou à noite. Você pode dar esse tempo para mim – ou melhor, para o Senhor? . . .
(…)
Na esperança de escrever novamente no próximo mês e com orações sinceras por todos vocês,
Atenciosamente no serviço do Senhor,
J. O. Fraser.
James Outram Fraser (1886-1938) foi um missionário do “MIC – Missões para o Interior da China” e foi pioneiro entre o povo Lisu, que é considerada uma das minorias oficiais da China. O povo Lisu é originário do leste do Tibete, onde tinham um reino no século 10, antes de migrarem para as atuais regiões que vivem na China e no Mianmar. Antes de se tornarem cristãos, os Lisus eram descritos como absolutos selvagens. Eram dominados pela bebida e pelo jogo. A conversão dos Lisus é uma das mais interessantes histórias do trabalho missionário. Alguns missionários trabalharam de forma sacrificial entre esse povo antes de 1949, inclusive James O. Fraser, A.B. Cooke, John e Isobel Kuhn e a família Morse. Hoje, estima-se um número de 300.000 cristãos Lisus na China. Outros 4% ainda precisam ouvir o Evangelho, enquanto 54% ouviram, mas não se converteram. A igreja Lisu atingiu muitos outros grupos na região.