A. B. Simpson
“Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte; não foi achado, porque Deus o trasladara. Pois, antes da sua trasladação, obteve testemunho de haver agradado a Deus” (Hebreus 11:5).
Em Enoque, a raça humana atingiu sua sétima geração. Sete é o número hebraico de perfeição. Então, neste caso, o tipo, representando a humanidade ideal, respeita tanto seu caráter quanto seu destino. No que diz respeito ao seu caráter, Enoque foi o primeiro padrão de santidade desde a queda; e no que diz respeito ao seu destino, ele foi o primeiro que ascendeu acima da maldição da morte, dando testemunho e promessa, em seu arrebatamento e em seus ensinamentos, da gloriosa imortalidade que aguarda o povo de Deus na Segunda Vinda do Senhor.
A vida santa de Enoque é descrita por duas frases: “Ele agradou a Deus” [Hb 11:5] e “Ele andou com Deus” [Gn 5:22]. O prazer e a vontade divinos são sempre o padrão de santidade. “Eu faço sempre o que lhe agrada” [João 8:29], foi o relato simples de Cristo a respeito de Seu caráter e vida perfeitos e inculpáveis. ”A fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado” [Cl 1:10], é a oração do apóstolo para os crentes. A própria expressão é infinitamente gentil e atraente, mostrando que Deus está disposto a sentir prazer real em nosso amor e obediência, ou melhor, até mesmo em agradar a Si mesmo nas tentativas sinceras e de coração de Seus filhos terrenos de encontrar Sua aprovação.
Existe uma maneira de tentar cumprir a vontade de Deus, que se torna como uma parede de inflexibilidade e um laço de ferro. Entretanto, há um caminho mais doce que a reconhece como o amor do Pai, uma vontade graciosa adaptada à nossa capacidade e recursos, e cujo coração sincero e amoroso pode ser capacitado a cumprir, para constantemente agradá-Lo.
Agradar a Deus é o objetivo da alma santificada. Ela não tenta agradar o mundo, e talvez pareça aos outros uma pessoa muito estreita, desagradável e unilateral. Ela não vive para agradar a si mesma; e, no entanto, nenhuma outra pessoa tem tanto prazer real; pois, antes de fazer uma escolha ou dar um passo, ela sempre espera conhecer o prazer de Deus e, mantendo sua vontade na linha da vontade Dele, não é incomodada como os outros. Seus caminhos são caminhos deliciosos, e todas as suas veredas, paz” [Pv 3:17]. Tal pessoa foi abençoadamente liberta do espírito de escravidão e vive perpetuamente no sentido alegre da aceitação e do amor de Deus. Para ela, são as doces palavras: “Jurei que não mais me iraria contra ti, nem te repreenderia” [Is 54:9]. O sorriso de Deus brilha cada vez mais em seu caminho, e ela vive na terra de Hefzibá [Is 62:4], a terra da qual o Senhor Disse: “Terá grande prazer em ti“.
Mas como podemos agradar assim a Deus? É possível ao homem pecador agradar a Deus? Não é verdade que o melhor que o homem pode fazer é como trapos imundos, e que os homens mais santos já se colocaram mais baixos no pó e se lançaram inteiramente sobre a misericórdia e a graça de Deus? Ah, aqui está o mistério da piedade, do qual Jesus é a solução maravilhosa. Há apenas um homem que sempre agradou a Deus. É Aquele de quem o Pai disse: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” [Mt 17:5]. Há apenas uma maneira pela qual podemos perfeitamente agradar a Deus, e é por estarmos tão unidos a Ele, tendo Ele assim habitando em nós, que Ele responderá por nós em tudo, e nós podemos apresentá-lo a Deus como nossa oferta perfeita e vida completa. Este é o segredo da justificação: nós aceitamos o Seu sangue e justiça, e somos “aceitos no Amado” [Ef 1:6].
Não há outro caminho de santidade que possa alcançar o alto padrão de Deus e tirar o homem do mais baixo nível de perfeito desamparo. Somente isso é divino, tudo o mais é humano. Isso é maior do que o melhor que o homem pode fazer, porém mais fácil que a menor das Suas próprias lutas. Não é uma conquista, mas algo obtido. Não é uma tarefa, mas um dom. É “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” [Gl 2:20]. Não é o nosso melhor, mas “o melhor de Deus”.
Tudo isso é trazido com grande beleza na próxima expressão, empregada para descrever a santidade de Enoque: “Ele andou com Deus”. Sua vida era um companheirismo pessoal com Deus, não uma justiça auto-suficiente e auto-sustentável. Ele era dependente da comunhão divina, tão pessoal quanto nossa caminhada com Jesus agora. Porque o mesmo Jesus veio à cena futura de Sua labuta e sofrimento, e Se fez conhecido. Ele foi o companheiro constante da vida e caminhada de Enoque. Este é o segredo da vida cristã – “o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, CRISTO EM VÓS, a esperança da glória” [Cl 1:26,27].
Esse não é um estado maravilhoso ou uma admirável experiência, mas uma união perfeita com Jesus, o Vivo e Perfeito. Nós não meramente recebemos a graça, mas recebemos O Deus de toda graça; não apenas santidade, mas O Santo; não meramente poder, mas O Poderoso em nosso meio; não apenas sabedoria, mas a companhia e o conselho do Maravilhoso Conselheiro. Este ainda é o segredo da santidade divina. É a união com Jesus, a permanência Nele, dependência de Jesus em todos os momentos e para tudo. “Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça” [Jo 1:16].
Não me refiro a um amigo rico que adianta uma grande quantia para nos ajudar em nossos negócios, mas a um amigo que vem, Ele mesmo, e nos dá Sua parceria, Seu conselho e Seu capital. E isso é recebido pela fé, como dom gratuito e obra acabada de nosso pleno Salvador. Em um único ato, renunciamos a nós mesmos e a todo o nosso pecado e autoconfiança, e aceitamos a Ele e a Sua suficiência para todas as necessidades futuras. A partir de agora, nossa vida é simplesmente nos revestirmos mais plenamente de Cristo, dia a dia, e cessarmos de viver por nós mesmos. Nesse momento abençoado de apropriação pela fé, Ele Se dá a nós como nossa vida completa, cobrindo todas as nossas necessidades futuras, e, dia a dia, passo a passo, nós apenas entramos nessa vida.
Extratos do Capítulo 3 do livro “Standing on Faith”, de A. B.Simpson.