O Mistério da Piedade

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Major W. Ian Thomas (1914-2007)

“Amam o sacrifício; por isso, sacrificam, pois gostam de carne e a comem, mas o SENHOR não os aceita…” (Oséias 8:13).

“Visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu…” (Isaías 29:13).

“O homem pode admitir estar arrependido do que fez, sem admitir que o que fez é uma consequência do que ele é” (W. Ian Thomas – The Mystery of Godliness).

Uma fé vazia, sem essência. Foi esse o ponto em que chegou Israel, com exceção de um remanescente que permanece pela graça (Rm 11:5). Deus sempre tentou trazer o relacionamento Dele com o homem para uma base real, viva, trazendo aqueles que Ele chamava à uma caminhada, um viver lado a lado com Ele. Podemos perceber isso na própria vida dos patriarcas, profetas e homens de Deus do Antigo Testamento. A fé precisa ser viva, atuante, fresca, precisa crescer e ser desafiada continuamente. Cada homem de fé viveu essa experiência de “conhecer a Deus”.

No texto de Êxodo 20:19, encontramos uma figura clara daquilo que está patente em nossa natureza, e “foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 11:4). “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia” (Rm 10:12). Cada fraqueza registrada nas escrituras é para nossa advertência. Então, com o devido temor, vamos prosseguir.

Naquele momento, Deus apareceu de forma impressionante sobre o monte Sinai. Moisés se achegou a Deus e recebeu os 10 mandamentos. Naquele dia o povo disse a Moisés: “Fala-nos tu, e te ouviremos; porém não fale Deus conosco, para que não morramos” (vs 19). O povo percebeu que, para estar com Deus, era necessário alguma condição da parte deles, porque apesar do Senhor amá-los, Ele é santo! O coração do povo não ansiava tanto pela presença de Deus… não a esse ponto. O povo de Israel desejou uma religião de segunda mão, que dependia de um mediador humano.

“Ali eles encontraram conforto, alívio da má consciência, liberdade do medo, mas sem nenhuma mudança no relacionamento com Deus. Eles até tinham alguma resposta interior à pregação de Moisés, mas não queriam se relacionar diretamente com Deus” (W. Ian Thomas – The Mystery of Godliness).

Como o Senhor Jesus era diferente! Seu compromisso sempre foi com o Pai em primeiro lugar!

A Experiência de Abraão

Ao longo da trajetória de Abraão, percebemos como sua compreensão de quem era Deus e de Seus caminhos foi sendo iluminada. Ao longo dos tratos do Senhor com ele, sua visão foi se alargando. Deus prometeu à Abraão um descendente, e ele precisava aprender que “não existe substituto para a obra de Deus sendo realizada da maneira de Deus”.

Abraão logo tentou ajudar nesse processo, porque ele confundiu o Senhor com Sua vontade – e o resultado foi Ismael. Mas depois, Abraão compreendeu que Deus deveria vir primeiro, e então Sua vontade aconteceria, independente do caminho que Ele escolhesse. O nosso compromisso é com o Senhor.

“Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar o seu unigênito aquele que acolheu alegremente as promessas, a quem se tinha dito: Em Isaque será chamada a tua descendência; porque considerou que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo dentre os mortos, de onde também, figuradamente, o recobrou” (Hb 11:17-19).

“A vida Cristã só pode ser explicada nos termos de Jesus Cristo, e se a sua vida ainda pode ser explicada nos termos de você mesmosua personalidade, sua força de vontade, seus dons, seus talentos, seu dinheiro, sua coragem, sua escolaridade, sua dedicação, seu sacrifício, ou qualquer outra coisa SUA – então apesar de possuir a vida cristã, você não a está vivendo!” (W. Ian Thomas – The Mystery of Godliness – Cap. 2, pg 162).

A Consideração de Filipe

“Então, Jesus, erguendo os olhos e vendo que grande multidão vinha ter com ele, disse a Filipe: Onde compraremos pães para lhes dar a comer? Mas dizia isto para o experimentar; porque ele bem sabia o que estava para fazer” (Jo 6:5,6).

O que você leva em consideração em uma situação como essa? Será que Filipe, por um momento, considerou a presença do Senhor? Não! Ele só levou em consideração o dinheiro da sacola. Filipe não percebia a diferença que a presença de Jesus traria naquela situação. Ele tinha uma mente materialista, e deu a mesma resposta que um ateu provavelmente daria.

Quanto dinheiro você tem? Filipe não considerou Cristo! O que levamos em consideração hoje quando as situações nos confrontam? Estamos considerando Cristo?

Lembre que nas áreas de sua vida que você não considera Cristo como peça relevante, você ainda está tentando ser “adequado” sem Ele – tentando ser “a causa” do seu próprio “efeito”- e se você é a causa, não haverá nenhum efeito miraculoso!

Diferente de Filipe, o rapaz que tinha cinco pães foi até o Senhor. Mesmo assim, André também não considerou o Senhor, somente os pães e peixes…

“Um de seus discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, informou a Jesus: Está aí um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas isto que é para tanta gente? (João 6:8,9).

A Solução de Cristo

Como Jesus encarou essa adversidade? Jesus “deu graças” (vs 11). Esse foi o segredo. Jesus era Deus, mas se recusou a “ser a causa do Seu próprio efeito”. Em tudo que fazia, Ele declarava o Pai. “As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras” (João 14:10).

Quem alimentou os 5000? O Pai por meio do Filho. Cristo se fez nada (Fp 2:7), para que o Pai fosse tudo, e assim Seu Pai foi glorificado Nele! Viveu em total dependência e num relacionamento de fé e amor para o qual o homem havia sido originalmente criado.

“Confrontado pelos famintos, Cristo deliberadamente se sujeitou às limitações que Ele, como Palavra criadora, impôs ao homem como Sua própria criação – Ele expôs a situação ao Pai, e em humilde dependência, considerando Sua incapacidade, simplesmente disse: “Obrigado”, levando em conta que o Pai estava ali quando Ele dividiu o pão e os peixes. É assim que fazemos o impossível” (W. Ian Thomas – The Mystery of Godliness).

Vemos o mesmo princípio em outra situação “impossível”. A ressurreição de Lázaro. Como Jesus ressuscitou a Lázaro? A situação era impossível para os recursos naturais (João 11:40). Ele o fez da mesma maneira que alimentou os 5000. Ele expôs a situação ao Pai e, em humilde dependência, disse simplesmente: “Pai, graças de dou” – considerando que o Pai levaria a cabo o restante (João 11:41,42).

“O Senhor Jesus deseja ser para você agora tudo o que o Pai foi para Ele ali – Deus. Mas isso só será possível se você for para Ele agora, tudo o que Ele foi para o Pai enquanto viveu aqui – homem” (W. Ian Thomas – The Mystery of Godliness).

Devemos aprender a expôr cada situação ao Senhor Jesus em humilde dependência de Sua capacidade, e simplesmente dizer: “Obrigado”. Então, podemos considerar que Ele é capaz de enfrentar aquela situação. Uma das lições mais importantes e mais difíceis de aprender é que nenhum de nós é indispensável para Deus, mas Deus sempre será indispensável para nós! Não deixe que a pobreza de sua auto-suficiência te roube o miraculoso!

Tudo Debaixo dos Pés do Senhor

Em um novo episódio, o Senhor Jesus tenta novamente ensinar os discípulos, porque o coração deles estava endurecido (Marcos 6:52). Então eles estavam no meio do mar, com o vento contrário, passando por um momento de grande dificuldade (Mt 14:24). Ali eles encontram o Senhor andando sobre as águas (vs. 25). Um passo de cada vez, Jesus demonstrou aos seus discípulos que aquilo que ameaçava a cabeça deles, o Pai já tinha colocado sob os Seus pés.

O que está te ameaçando? Te deixando assustando? Do que você está fugindo? Parece que algo vai afundar o seu barquinho, te deixar desconcertado, te desorientar, te abater? Boas notícias! Tudo isso já está debaixo dos pés do Senhor! E Ele espera para compartilhar Sua vitória!

Quando Pedro pede ao Senhor para ir até Ele, imediatamente ele é convidado a ir! Pedro fez o impossível! “E Pedro, descendo do barco, andou por sobre as águas e foi ter com Jesus” (Mt 14:29).

Enquanto Pedro manteve os olhos no Senhor, ele compartilhou da Sua vitória, experimentou o impossível! Quando sua atenção foi distraída de Cristo, tornando-se mais uma vez consciente do vento e das ondas, ele parou de relacionar a situação ao Senhor e começou a relacioná-la a si mesmo. Ali ele provavelmente começou a pensar: Não posso fazer isso! Isso é impossível! Logo começou a afundar e clamou: “Senhor, salva-me” (Mt 14:30). O Senhor prontamente o salvou, recapturando sua atenção. Ao regressarem ao barco, o vento cessou (vs 32) e a lição acabou.

Depois de toda essa lição preciosa, o que disse o Senhor a Pedro? “Homem de pequena fé, por que duvidaste?” (vs 31). E então: “E os que estavam no barco o adoraram, dizendo: Verdadeiramente és Filho de Deus!” (vs 33).

“Sem esse tipo de fé é impossível agradar a Deus, porque sem ela é impossível a Ele reproduzir o Seu caráter em você, que é a piedade!” (W. Ian Thomas – The Mystery of Godliness).

A Santidade é um Mistério

Sim, a Santidade é um Mistério! A semelhança com Deus é uma consequência de Deus agindo direta e exclusivamente em um homem, não a consequência de nossa capacidade de imitar a Deus. A santidade é uma consequência da capacidade de Deus de Se reproduzir em nós! Se tentarmos explicar isso, o resultado será desastroso.

Adão repudiou esse princípio básico da sua própria humanidade e decidiu por seguir sozinho – sem Deus! O homem pode se esconder de Deus – como Adão tentou fazer – mas o cicio suave o persegue, ecoando no vácuo de sua saudosa alma. Deus, com toda a persistência incessante de um amor que nunca falha, clama: “Adão, onde estás?”

“Uma das sutilezas de Satanás é fazer o homem se afastar de Deus e então buscar silenciar Sua voz, por meio da prática da religião. A partir do momento que você perceber que apenas Deus pode tornar o homem santo, não terá outra opção senão buscar a Deus, onde quer que Ele esteja – e isso deixará você sem margem de escolha – porque só há um Deus, Ele é absoluto, e Ele nos criou para Ele mesmo” (W. Ian Thomas – The Mystery of Godliness).

Sem fé é impossível agradar a Deus”(Hebreus 11:6). Deus criou o mundo para o Seu próprio prazer (Ap 4:11), e a única forma de dar prazer a Ele, agradá-Lo verdadeiramente é crendo. A fé envolve dependência. Se agirmos de forma independente de Deus, desafiamos nosso Criador, independente de nossas obras. Precisamos adentrar na escola da obediência, que foi a mesma escola na qual Cristo se graduou.

Resumo do capítulo 2 do livro “The Mystery of Godliness, de Major W. Ian Thomas.

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