F. B. Meyer (1847-1929)
“Então, Elias, o tesbita, dos moradores de Gileade, disse a Acabe: Tão certo como vive o SENHOR, Deus de Israel, perante cuja face estou, nem orvalho nem chuva haverá nestes anos, segundo a minha palavra” (1 Reis 17:1).
“Onde está o SENHOR, Deus de Elias?” (2 Reis 1:14).
O Capítulo 17 de 1 Reis se inicia com a conjunção “então”. É, portanto, um acréscimo ao que aconteceu antes; e é um acréscimo do próprio Deus. Quando lemos o final do capítulo anterior – que conta a história melancólica da rápida disseminação e prevalência universal da idolatria na terra concedida às dez tribos de Israel – poderíamos supor que esse seria o final da história; e que a adoração de Jeová nunca mais teria o prestígio e poder que haviam sido perdidos. Sem dúvida, os principais atores da história também pensavam assim. Acabe, Jezabel e os falsos profetas certamente pensavam isso, e talvez até o próprio remanescente disperso de discípulos escondidos. Mas eles fizeram uma infeliz omissão em seus cálculos – eles deixaram de fora o próprio Jeová. Ele deveria ter algo a dizer em tal momento de crise, algo a acrescentar antes que o registro histórico fosse encerrado. Quando os homens terminaram de fazer o seu pior, chegou a hora de Deus começar. E quando Deus começa, é provável que, com um golpe, reverta tudo o que foi feito sem Ele, e escreva algumas páginas da história humana que serão lição e inspiração para todo o tempo que virá. Aquele “então” é suficientemente ameaçador para os Seus inimigos, mas é cheio de esperança e promessa para aqueles que O amam.
Naquele momento, toda a terra parecia apóstata. De todos os milhares de Israel, restavam apenas sete mil que não haviam dobrado seus joelhos, nem beijado a mão de Baal. Mas estes estavam paralisados de medo e mantidos tão imóveis, que sua própria existência era desconhecida por Elias em seu momento de maior solidão. Tais tempos têm ocorrido muitas vezes ao longo da história, cheios de aflições, falsas religiões ganhando vantagem, iniqüidade abundando e o amor de muitos se esfriando.
Assim foi quando os turcos varreram as comunidades cristãs da Ásia Menor e substituíram a cruz pela crescente. Também foi assim quando o catolicismo romano se espalhou pela Europa, como um manto de escuridão, que se tornou mais denso à medida que a aurora da Reforma estava prestes à irromper. O mesmo ocorreu no século passado, quando o modernismo e apatia reinaram na Escócia e na Inglaterra. Mas Deus nunca está perdido. A terra pode ser invadida pelo pecado, as lâmpadas do testemunho podem parecer estar todas apagadas, toda a força da corrente popular pode contrariar a verdade de Deus, mas o tempo todo Ele estará preparando um homem fraco, em algum vilarejo obscuro e, no momento de maior necessidade, o enviará como Sua resposta amplamente suficiente às piores tramas de Seus inimigos.
“Temerão, pois, o nome do SENHOR desde o poente e a sua glória, desde o nascente do sol; pois virá como torrente impetuosa, impelida pelo Espírito do SENHOR” (Is 59:19).
Elias era um habitante de Gileade, que ficava à leste do Jordão. Era uma região selvagem e acidentada, suas colinas estavam cobertas de florestas desordenadas, suas terríveis imensidões só eram quebradas pelas correntes de riachos das montanhas, e seus vales eram o refúgio de furiosas feras selvagens. O que as terras altas de Argyleshire e Inverness foram há um século atrás para as cidades baixas da Escócia, deve ter sido Gileade para o povo mais refinado e civilizado de Jerusalém e Samaria. Os habitantes de Gileade participavam do caráter do seu país – um povo selvagem, sem lei e desleixado. Eles viviam em aldeias de pedra rudimentares e subsistiam criando rebanhos de ovelhas. Elias cresceu como os outros rapazes da sua idade. Em seus primeiros anos, ele provavelmente fez o trabalho de um pastor naquelas colinas selvagens. À medida que crescia, sua figura ereta, seus cabelos desgrenhados, seu manto de pêlo de camelo, sua força musculosa e vigorosa – que poderia alcançar os fulminantes carros da carruagem real e suportar a fadiga física excessiva – distinguiam-no dos habitantes da planície. Mas em lugar nenhum ele seria especialmente diferente dos homens que cresceram com ele na obscura vila de Tisbe, de onde ele derivou o nome de Tesbita. Havia muitos entre eles, tão ágeis, rápidos, fortes e capazes quanto ele. Não devemos olhar para essas coisas como o segredo da sua força.
Ao longo dos anos, à medida que crescia, Elias se tornou caracterizado por uma intensa seriedade religiosa. Ele era “zeloso pelo Senhor, Deus dos Exércitos” [1Rs 19:10,14]. Profundamente instruído nas Escrituras, especialmente naquelas passagens que diziam o quanto Jeová havia feito por Seu povo, Elias ansiava, com desejo ardente, que eles Lhe concedessem a gratidão merecida. Ele descobriu que isso estava sendo negligenciado pelas terríveis notícias que chegaram até ele. Mas a pergunta era: “Deveria ele agir?” O que ele poderia fazer, aquela criança selvagem e solitária do deserto? Havia apenas uma coisa que podia fazer – o recurso de todas as almas muito provadas – ele poderia orar, e isso ele fez: “Ele orou, com instância” (Tg 5:17).
À medida que Elias orava, uma convicção foi forjada em sua mente de que sua oração deveria se cumprir, e que ele deveria informar a Acabe desse fato. Independente do perigo que isso representasse para si mesmo, tanto o rei quanto as pessoas envolvidas deveriam ser obrigados a relacionar suas calamidades com a sua verdadeira causa. Isso eles evidentemente fizeram, como veremos (1Rs 18:10). O fato de que a seca foi relacionada à sua oração também deve ser inferida pelas palavras expressas por Elias em seu anúncio ao rei: “Nem orvalho nem chuva haverá nestes anos, segundo a minha palavra” (1Rs 17:1).
A Fonte da Força de Elias
Mas qual foi o segredo dessa força? Se puder ser demonstrado que isso foi devido a algo inerente e peculiar à pessoa de Elias, alguma força da natureza, alguma qualidade especial de sua alma, à qual os homens comuns não podem reivindicar, então podemos também encerrar nossas investigações sobre o assunto, devendo nos afastar dessas alturas inacessíveis que apenas nos ironizam. Mas, se puder ser demonstrado, como penso, que esta esplêndida vida foi vivida, não por meio de qualidades inerentes a ela mesma, mas por fontes de força que estão ao alcance do mais humilde filho de Deus que lê estas linhas, então cada detalhe passa a ser uma inspiração, acenando para o seu próprio nível glorioso. Coragem, irmãos! Não há nada na vida desse homem que não possa ter sua contrapartida na nossa, se pudermos afirmar que sua força foi obtida de fontes também acessíveis a nós.
A força de Elias não estava em si mesmo ou em seu entorno. Ele era de raiz humilde e também não teve treinamento especial. Ele foi expressamente chamado de “homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos” [Tg 5:17]. Quando, por falta de fé, ele foi cortado da fonte de sua força, demonstrou mais covardia de coração do que a maioria dos homens teria feito. Deitou-se nas areias do deserto, pedindo para morrer. Quando o solo de sua natureza se mostra, vemos que ele não é mais rico que o da maioria dos homens. Se alguma coisa puder ser dita, talvez seja o contrário. Entretanto, Elias nos dá três indicações da fonte de sua força.
1. “Tão certo como vive o Senhor”. Para os demais, Jeová poderia parecer morto; mas para Elias, Ele era a suprema realidade da vida. Se formos fortes, também devemos ser capazes de dizer: “Porque eu sei que o meu Redentor vive” (Jó 19:25), “vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7:25), e “porque eu vivo, vós também vivereis” (Jo 14:19). A morte da cruz foi amarga, mas Ele vive. A lança fez estragos, mas Ele vive. A sepultura foi fechada rapidamente, mas Ele vive. Homens e demônios fizeram o pior, mas Ele vive. O homem que ouviu Jesus dizer: “eu sou… aquele que vive” (Ap 1:18), também O ouvirá dizer: “Não temas, sim, sê forte.“
2. “Perante cuja face estou”. Ele estava em pé na presença de Acabe, mas estava consciente da presença de Alguém maior do que qualquer monarca terrestre. Ele estava na presença de Jeová, diante de Quem os anjos se curvam em humilde adoração, ouvindo a voz da Sua palavra. O próprio Gabriel não poderia empregar uma designação mais elevada (Lc 1:19). Cultivemos este reconhecimento habitual da presença de Deus, e isso nos elevará acima de todos os outros medos. Vamos construir nossa habitação, de forma que cada janela possa olhar para os poderosos Alpes da presença de Deus; e que possamos viver, nos mover e ter nosso ser sob a constante impressão de que Deus está aqui. Além disso tudo, em Elias havia uma forte convicção de que ele fora escolhido por Deus para ser Seu servo, além de mensageiro chamado e reconhecido; e nessa capacidade, ele permanecia diante Dele.
3. “Jeová é a minha força”. O nome ELIAS pode ser traduzida como “Jeová é meu Deus”, mas há outra tradução possível: “Jeová é a minha força”. Isso dá a chave para a sua própria vida. Deus era a força da sua vida; quem ele deveria temer? Quando os ímpios, até mesmo seus inimigos e adversários, atacaram sua carne, eles tropeçaram e caíram. Embora um exército pudesse acampar contra ele, seu coração não deveria temer. Que revelação nos é dada neste nome! Ah, se isso fosse verdade para cada um de nós! No entanto, por que não deveria ser? De agora em diante, deixemos de lado nossa própria força, que na melhor das hipóteses é fraqueza; e vamos nos apropriar da fé diária e horária em Deus. Então este será o lema das nossas vidas futuras: “Tão-somente no SENHOR há justiça e força” (Is 45:24), “tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4:13), “O SENHOR é a minha força e o meu cântico, porque ele me salvou“(Sl 118:14).
Tradução de extratos do Capítulo 1 do livro “Elijah and the Secret of His Power” (The Source of Elijah’s Strength), de F.B.Meyer.
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