O John Hyde que eu conheci

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O John Hyde que eu conheci é a tradução livre de texto homônimo contido no livro “The Life and Letters of Praying Hyde”, que é uma coletânea de cartas e tributos à vida do missionário John Hyde, organizados por suas duas irmãs, Gracia Hyde Bone e Mary Hyde Hall. Edição do Kindle.

Canon Haslam

“A intimidade do SENHOR é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança”. (Salmos 25:14)

Canon Haslam (Reitor da St. John’s Church, Canadá, foi anteriormente um missionário na Índia com John Hyde. Nesta mensagem, entregue na Conferência da Semana do Fundador no Moody Institute, Chicago, 1941, ele dá alguns vislumbres íntimos da vida de um grande homem de oração).

Ao expressar minha satisfação por estar presente nesta ocasião memorável, lembro-me de outro privilégio que tive quando, em meu primeiro ano na Universidade de Toronto, ouvi Dwight L. Moody fazer um de seus discursos de profunda reflexão. Nunca esqueci a experiência. Tê-lo visto e ouvido gerou um profundo interesse em tudo relacionado a ele.

No parágrafo introdutório de seu livro Oração Prevalescente, o Sr. Moody escreveu: “Aqueles que deixaram a impressão mais profunda nesta terra amaldiçoada pelo pecado foram homens e mulheres de oração”.

Você admitirá, pelo menos teoricamente, que isso é verdade, mas quantos estão colocando isso em prática? Quantos são os homens e mulheres de oração?

Quando pensei em falar sobre John Hyde, pareceu-me quase ridículo viajar 2.500 milhas para falar sobre um homem que era igual a nós, se considerarmos sua condição intelectual e social, embora ele estivesse imensuravelmente acima de nós na matéria da oração.

E seria injusto dizer que minha presença iria se resumir em falar sobre minha experiência de trinta a trinta e cinco anos atrás, quando tive o privilégio de conhecer John Hyde e compartilhar suas experiências e amizade.

Mas sei que é por outro motivo que fui convidado a estar aqui. Foi para que a partir da vida de de intercessão de John Hyde possamos aprender lições e princípios básicos de uma vida de oração eficaz.

Não é uma coisa surpreendente que existam tão poucas pessoas nesta terra cristã que prevaleçam e façam as coisas acontecerem pela oração? Não é incrível que sejamos levados a voltar nossos pensamentos para um homem que, vinte e oito anos atrás, passou além do véu para ser com o seu Senhor, um homem que viveu em uma terra pagã, no meio das trevas e da degradação do paganismo, para aprender com ele como orar? Não é uma anomalia? Apesar de ser estranho, acredito que é por isso que estamos aqui.

Não consigo conceber nada que causaria mais dor a John Hyde do que dizer qualquer coisa pudesse nos levar a engrandecê-lo. Ele diria a vocês, através de mim: “Tire seus olhos de mim. Direcione seu olhar para Aquele que vive para interceder por nós – para Jesus Cristo, nosso Senhor! Aprenda com Ele!”

Lemos que quando nosso Senhor estava orando em certo lugar e parou, um de Seus discípulos Lhe disse: “Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou a seus discípulos” (Lucas 11:1).

A seguir o Senhor os instruiu sobre quais palavras deveriam usar e também lhes deu uma parábola reveladora para indicar alguns dos principais requisitos para a oração.

Mas vocês sabem, tanto quanto eu, que mesmo quando nosso Senhor diz aos santos como orar e nos incita à oração, de alguma forma ainda não compreendemos o segredo – embora seja dito que aprendemos melhor como orar praticando.

Parece-me que, consciente ou inconscientemente, quando aquele discípulo fez aquele pedido a Jesus Cristo, ele fez um apelo para que lhe fosse permitido entrar no Santo dos Santos da vida de nosso Senhor.

É somente quando alguém entra na própria presença de Cristo que aprende dEle o que significa Sua oração e o que significa orar.

Foi apenas uma vez no Seu ministério do Senhor que vemos os discípulos serem admitidos na Sua presença quando Ele orava, além dos relatos de Suas orações mais curtas. Em João 17, temos a revelação do próprio coração de nosso Senhor enquanto Ele orava, e os elementos que entraram em Sua oração são revelados.

Em primeiro lugar, notamos a estreita intimidade entre o Filho e o Pai. Depois, temos a revelação de Seu amor maravilhoso por Seus discípulos, por aqueles por quem orava, elemento essencial para a verdadeira intercessão.

Novamente, Sua oração foi o reflexo e a revelação de todo o Seu ministério. Ele orou: “Pai… Eu te glorifiquei na terra: terminei a obra que me deste para fazer. . . . Manifestei o teu nome (o caráter revelado) aos homens que me deste. . . . Eu dei a eles as palavras que tu me deste. . . . Enquanto estive com eles no mundo, guardei-os. . . . Eu oro por eles.”

As orações serão eficazes se permanecermos na vontade de Deus, fazendo Sua obra, manifestando Seu caráter e entregando Sua Palavra ao mundo. A oração de Cristo foi a amplificação de Sua vida. Foi Sua vida colocada na forma de oração de intercessão por Seus discípulos entre os quais Ele estava trabalhando. Isso sem dúvida será verdade na vida de qualquer intercessor genuíno de quem aprenderemos quaisquer lições.

Devemos ter permissão para uma comunhão íntima com o Senhor se quisermos aprender seus segredos, pois a oração eficaz é apenas o resultado de uma vida que foi preparada por Deus para intercessão por intermédio de Seus próprios processos divinos de purificação, iluminação, enchimento do Seu Espírito, capacitação e transformação.

Para obter conhecimento destes é preciso, em maior ou menor grau, ser admitido na presença do homem que ora, sim, ter contato com sua própria personalidade.

Como a lembrança das horas passadas com John Hyde e outros como ele me traz  a vivificação do senso da realidade de Deus e da presença divina! Esses dias eram impregnados com a doçura da comunhão que desfrutávamos quando nos reuníamos em nossas casas nas planícies de Punjab para estudo da Bíblia e oração, ou em salas de oração nas convenções e conferências. Nesses momentos o mundo estava fechado e somente a glória de Deus parecia ser revelada diante de nós, quando pensávamos em nosso ministério a favor das almas perdidas da Índia.

A lembrança dessas experiências traz a convicção da comparativa falta de oração de nossas vidas agora, por causa da pressão das tarefas nesta terra nominalmente cristã.

Deixe-me dar um breve histórico da vida de John Hyde quando o conheci na Índia. Havia um círculo de homens cristãos, missionários e cristãos indianos, em cujos corações pesava o fardo da Igreja no Punjab.

Durante o crescimento da Igreja, muitos da população marginalizada na Índia foi batizada e, sem dúvida, eram cristãos, mas a vida da Igreja como um todo estava em um processo de declínio espiritual. Algo drástico se fazia necessário, e parecia que a única esperança estava na oração sacrificial – todos se entregaram a esse ministério.

Um dos principais membros do grupo era John Hyde. Eu o conheci em um acampamento de estudantes onde um grande número de jovens do Forman Christian College e outras instituições missionárias se reuniam em um fim de semana para orar e estudar a Palavra. Quando estivemos lá, o espírito de oração e súplica foi derramado sobre todos de maneira notável. Quando estávamos prestes a encerrar o encontro noturno, um humilde aldeão, mais tarde conhecido em toda a Índia como “o Apóstolo da Oração”, orou a Deus com “grande clamor e lágrimas” por três horas clamando que Ele vivificasse a vida da Igreja de Punjab.

Nenhum aluno saiu da sala, embora todos estivessem livres para fazê-lo. John Hyde estava lá – quieto, gentil, modesto, ligeiramente surdo, com um olhar estranhamente melancólico. Eu o conheci naquela época, mas não fiquei particularmente impressionado.

Foi mais tarde que a mudança transformadora aconteceu em sua vida. Foi no outono de 1904 na Convenção de Sialkot, numa reunião com a presença de cerca de mil e seiscentos cristãos e missionários, quando Deus o chamou para seu ministério de intercessão.

Um pequeno grupo passou trinta dias e noites em oração para que Deus visitasse Seu povo. Pouco depois do início da convenção propriamente dita, o Sr. Hyde passou por uma experiência que fez dele o que ele se tornou: um homem que tinha poder com Deus e um verdadeiro missionário. Sempre pensei nessa mudança como um arrependimento vicário e confissão em nome de toda a Igreja.

Você sabe que, a menos que um homem abra seu coração e desdobre sua vida e testemunhe suas experiências interiores, só poderemos supor que algo extraordinário aconteceu quando vemos uma grande mudança em seu ministério.

Se quisermos nos beneficiar com sua mudança, precisamos conhecer sua experiência. No caso de John Hyde, algo cataclísmico aconteceu. Por natureza, ele era o último homem no mundo que “usaria o coração na manga do casaco para as gralhas bicarem”; a última pessoa a discorrer sobre um conflito interior com o pecado ou tentação em seu coração; o último a contar das experiências interiores de sua vida. Para ele não havia nada de “compartilhar abertamente” sua vida. Mas aquilo que por natureza, estava tão longe de Hyde, tornou-se numa compulsão e necessidade divina para ele. Foi assim que aconteceu.

A Hyde foi revelado que a Igreja não tinha poder por causa do pecado que não havia sido purificado; e esse pecado é lavado apenas quando há verdadeiro arrependimento e confissão.

Ele fazia parte daquela Igreja e se sentia sobrecarregado com esse pensamento. Depois de uma noite inteira de vigília e um dia de jejum e oração, ele veio à presença de um grande grupo de cristãos indianos e falou abertamente, embora reservadamente e com muita angústia de espírito, de seu conflito pessoal com o pecado secreto que muitas vezes se repetia e de como Deus o havia conduzido à vitória. O efeito dessa confissão aberta foi eletrizante.

Eu não estava presente na época, e com muitos outros que não estavam lá, eu já estava preparado para reproduzir testemunhos de homens santos, como o falecido bispo Handley Moule e outros, sobre os prováveis efeitos malignos desse tipo de confissão aberta. Confessar a Deus e a um irmão ofendido, sim; mas não confessar abertamente.

Mais tarde, participei de uma reunião de homens onde houve um grande desabafo de corações que estavam feridos pelo pecado e quebrantados, seguidos imediatamente pelo sentimento e alegria do perdão. Nunca estive em uma reunião com atmosfera mais santa em minha vida. Eu fui silenciado. A mensagem de Deus para mim foi: “Tire as mãos da arca de Deus!” Essa experiência marcou o início de uma vida de grande poder espiritual no caso de John Hyde, e o início de um trabalho de profundo reavivamento na Igreja de Punjab.

O que normalmente poderia ser desaconselhável e desnecessário, debaixo dessa circunstância especial foi usado por Deus para colocar aquela Igreja nascente de joelhos.

Acima me referi a isso como uma convicção vicária, arrependimento e confissão de pecado. Hyde estava sofrendo com e pela Igreja. A Igreja respondeu e seguiu seu exemplo quando foi convencida do seu estado.

Você pode imaginar a reação do Diabo a isso. Ele odeia isso. “Ele treme quando vê o santo mais fraco de joelhos”, e detesta ainda mais quando testemunha arrependimento genuíno e confissão de pecados.

Críticas violentas foram proferidas contra John Hyde por muitos missionários, que mais tarde se arrependeram de sua atitude e viveram para lamentar o dia de suas críticas. Eles argumentaram um pouco dessa maneira: ‘Qual será o efeito disso na Igreja Cristã, quando um homem que ocupa a posição do Sr. Hyde como missionário, confessa abertamente que estava cedendo a um pecado secreto, mesmo que agora ele já tenha a vitória? Isso não será usado pelos irmãos mais fracos como desculpa para tolerar suas fraquezas e pecados?’ A resposta foi dada pela própria Igreja.

Houve uma grande purificação, grande alegria, grande poder e libertação como resultado do pecado confessado e perdoado. Milhares foram arrebatados para a Igreja e consagrados a Deus para ganhar seus compatriotas para Cristo.

Agora deixe-me pronunciar uma palavra de cautela. Alguns de vocês podem interpretar esta experiência de John Hyde como sendo a experiência normal para o indivíduo ou para a Igreja. É necessário cuidado antes que tal conclusão seja aceita. Afirmo inequivocamente que não pode haver poder na oração ou na intercessão, no testemunho ou no trabalho, enquanto o pecado secreto for permitido em uma vida.

Deve ser confessado a Deus, ao irmão ou à irmã ofendida, ou à Igreja em geral, mas isso de acordo com a direção de Deus, do Espírito Santo. Não pode haver uma regra fixa. Entretanto não perca de vista a verdade vital de que o pecado deve ser confessado e abandonado antes que a oração seja eficaz (Is 59:1, 2).

A Igreja Infante da Índia precisava dessa lição. John Hyde foi escolhido para pagar o preço. Sua obediência o derrubou no vale da humilhação, mas Deus, por meio dela, o exaltou altamente, escolhendo-o como exemplo para intercessores, e o usou poderosamente na obra da salvação de almas.

Quando estava reunindo essas reminiscências sobre John Hyde e recordando essas circunstâncias de sua vida, estava lendo na mesma ocasião aquele comentário extraordinariamente sugestivo sobre o livro do profeta Amós do teólogo sueco Walter Luthi, e me deparei com este parágrafo que parecia tão aplicável à experiência de Hyde que anotei.

Ele estava chamando a atenção para a maneira pela qual Deus estava preparando Israel para a grande tarefa que estava diante deles, e como Deus teve que lidar drasticamente com o pecado de Israel.

Ele fala de como essa misteriosa ação de Deus, pela qual Ele escolhe homens para esta ou aquela tarefa, não se limitou a Israel. Ele escreve:

“Até os dias de hoje, Deus age buscando indivíduos bastante específicos, de forma autocrática, de acordo com Sua própria vontade, dando-lhes comissões específicas e equipando-os especialmente para essas tarefas.

Muitas vezes me perguntei por que Deus precisa ser tão brutalmente difícil com alguns homens que Ele pretende usar em alguma posição distinta e de alguma maneira especial no reino.

Ser Seu servo escolhido é algo tão extremamente precioso, que o homem não seria capaz de suportar isso se Deus não o rasgasse previamente em pedaços.

Quando Deus realmente nos usa, Ele só pode fazer isso se formos homens quebrados. Deus escolhe a maneira pela qual um pastor arranca apenas os dois joelhos e a ponta de uma orelha da ovelha da boca de um leão (Am 3:12).

O homem que Ele escolhe percebe que tem dois joelhos e a ponta de uma orelha e entende para que eles são necessários – os joelhos para se dobrarem e o ouvido para ouvir.”

Isso, a meu ver, representa exatamente a preparação de Deus para John Hyde e para sua vida subsequente como um intercessor e um grande ganhador de almas.

Desejo que você evite ser desviado pelo incidental, perdendo de vista o que é central.

O fato central e a explicação, tanto da confissão de pecado de Hyde quanto de sua subsequente poderosa vida cristã, estão no seu espírito de obediência implícita à mente e à vontade de Deus nas minúcias de sua caminhada diária. A obediência inquestionável é o lugar onde a cruz de Jesus Cristo é tomada pelo discípulo.

É onde nossa vontade está em conflito com a Sua vontade que conhecemos Sua cruz. É pela aceitação de Sua vontade que nasce a cruz.

Acho difícil ilustrar a obediência de Hyde ao Espírito sem lidar com trivialidades. Muitas pessoas farão a grande entrega de suas vidas a Cristo para discipulado e serviço, digamos no campo estrangeiro, e ainda falharão, sim, falharão miseravelmente em sua obediência a Ele nas coisas aparentemente triviais da vida.

A diferença entre um cristão verdadeiramente consagrado e um cristão comum é perceptível exatamente neste ponto. O cristão consagrado é aquele que em todos os detalhes da vida segue a vontade de Deus, mesmo em questões menores como comer, beber, dormir e encontrar amigos.

Menciono isso porque, quando Hyde e Paterson passavam as noites em oração e abstinham-se de comida, eles não estavam seguindo um programa, mas obedecendo alegremente à direção de Deus.

“Tenho uma comida para comer que vós não conheceis” [Jo 4:24], foi a resposta de nosso Senhor ao desejo dos discípulos de que Ele comesse. Frequentemente, quando alguém instava Hyde a comer durante os dias da convenção, quando ele estava tendo entrevistas pessoais ou em momentos especiais de oração, alguma resposta natural transmitia exatamente a mesma ideia, que naquele momento ele era especialmente apoiado por Deus.

Mas a obediência de Hyde, como toda obediência, muitas vezes lhe custou muito, pois conduzia a caminhos contrários às convenções comuns.

Deixe-me dar uma ou duas ilustrações do que estou dizendo.

Na convenção em Sialkot, um ano depois de sua experiência acima mencionada, ele foi designado para compartilhar algumas mensagens sobre o Espírito Santo. Suas mensagens eram tão ricas em conteúdo que todos desejavam ouvi-las.

No primeiro dia, ele trouxe uma mensagem penetrante sobre a necessidade de obediência aos mandamentos de “ficar… até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc 24:49) e “ser cheios do Espírito” (Ef 5:18).

Embora totalmente preparado para seguir com as outras mensagens, foi colocado em seu coração que elas não deveriam ser entregues até que o desafio da primeira mensagem fosse aceito e o Espírito Santo recebesse Seu lugar de direito na vida daqueles que ouviram.

Por dois dias ele compareceu antes da convenção, afirmando que não tinha permissão para entregar mais mensagens e chamando todos à oração; permanecendo em silêncio. A princípio, ele sofreu críticas violentas, mas seus críticos foram quebrados pelo poder do Espírito, e a obediência de Hyde naqueles dias representou muitos obreiros cheios do Espírito para a Igreja de Punjab. Me pergunto se a igreja atual passasse por um desafio semelhante teria o mesmo resultado!

Uma segunda ilustração tem a ver com seu método missionário. Ele ficou insatisfeito com o método comum de evangelismo, que consistia em viajar de aldeia em aldeia, pregar uma ou duas vezes, vender evangelhos, e depois seguir para outras aldeias sem nenhum convertido. Percebendo a ineficácia disso, ele adotou outro método.

Uma cena na vida de nosso Senhor, no início de Seu ministério, ilustra o que Hyde aceitou como um método melhor. A cena é onde João Batista apontou dois de seus discípulos para “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). Eles seguiram Jesus e passaram uma tarde com Ele, durante a qual encontraram “aquele de quem Moisés na lei e os profetas escreveram”, e saíram para conduzir outros a Cristo.

O Sr. Hyde decidiu que, em vez de se mudar de um lugar para outro e deixar as aldeias sem um convertido, ele permaneceria nos centros por tempo suficiente para que as pessoas viessem a ele e aprendessem sobre Cristo e, por confissão de fé, fossem batizadas, formando assim o núcleo de uma igreja que se tornaria um corpo de testemunho.

Seu método foi criticado, mas um de seus críticos mais severos me disse, após a morte do Sr. Hyde, que dentre todas as igrejas na missão, a igreja de Moga contava com mais de mil membros, e era mais forte tanto no sentido espiritual quanto no poder para testemunhar, trazendo real substância para o evangelismo.

A vida de oração de Hyde foi marcada pela continuidade. A oração tornou-se mais ou menos a única arma de seu combate. Noite e dia, ocasionalmente, ele se entregava à intercessão, em companhia de McCheyne, Paterson e alguns dos cristãos indianos.

Alguém pode perguntar: “Por que eles oraram durante essas horas?” A mesma pergunta pode ser feita a nosso Senhor, de quem foi dito: “Ele saiu para uma montanha para orar, e passou a noite em oração a Deus… e desceu com eles (seus discípulos) e um grande multidão de pessoas . . . vieram ouvi-lo” (Lc 6:12, 17). O resultado da oração é uma mensagem que todo o mundo deseja ouvir. E é sobre essa mensagem que eles oravam.

“Pelo que eles oraram?” A pergunta não indica o alcance limitado de nossa visão do que significa oração? O que a Índia precisava era de Jesus Cristo. E você me diz que não podemos passar horas, dias e noites em meditação sobre as maravilhas de Sua vida, o mistério de Sua redenção e a glória de Sua missão no que diz respeito às necessidades do mundo pagão e da humanidade? ?

Essa foi uma das coisas que foram realizadas durante aquelas noites de oração. A vida purificada estava agora aberta às revelações de Deus. Somente os puros de coração O veem. Não é de admirar que, naquelas horas tranquilas de comunhão, quando nos reuníamos, alguns de nós costumávamos nos deliciar em sentar e ouvir quando John Hyde abria avenidas de pensamento a respeito de nosso Senhor que levaram às coisas mais profundas do Espírito e às profundezas do amor divino.

Não era necessária apenas a visão de Cristo, mas também a necessidade de ver o mundo e a humanidade como Deus o vê. Foi naquelas horas tranquilas que passamos juntos que a profundidade da necessidade do mundo pagão e maometano ficou clara.

Foi assim que aquelas noites foram passadas, para que pudéssemos sair pelo mundo com uma visão clara da mensagem e missão de Jesus Cristo, para torná-lo conhecido às almas necessitadas, para que pudessem ser trazidos à comunhão com Ele.

Outra coisa que impressionava na vida de oração de John Hyde era sua determinação. Em tudo ele buscava a mente de Deus, inclusive nas petições que ele oferecia. Quando um curso de ação lhe era aberto por Deus, ele era claro a respeito do assunto e orava definitivamente, nunca relaxando até que a oração fosse atendida.

Por exemplo, em 1905 foi colocado em seu coração que devia orar por uma alma convertida por dia no reino de Deus durante aquele ano. Ele batizou quatrocentos convertidos antes do final do ano. No ano seguinte, confessando a pequenez da sua fé e petições, foi levado a clamar por duas almas por dia. Antes do final do ano, pouco mais de oitocentos convertidos se juntaram à igreja. Durante o último ano de sua vida, sua fé ainda era honrada quando ele orava por quatro almas por dia. Ele reivindicou as promessas de Deus para aqueles por quem orou, e Deus não o decepcionou.

Tampouco havia nada de superficial na vida desses convertidos. Quase todos eles se tornaram cristãos ativos.

Nenhuma descrição daqueles dias, quando a oração sacrificial foi oferecida, poderia dar uma concepção precisa do transbordamento para a Igreja de bênçãos espirituais e de vidas transformadas.

O fardo da Índia parecia pesar mais sobre o coração de Hyde.

Como Jeremias, “seus olhos se derramavam em lágrimas” pelo povo, especialmente por qualquer cristão que tivesse caído em pecado. A angústia pelos pecados dos outros parecia partir seu coração.

De uma maneira muito real, John Hyde entrou na “comunhão dos seus sofrimentos” (Fp 3:10) e preencheu “o que resta das aflições de Cristo… por amor do seu corpo, que é a igreja” (Cl. 1:24) . Hyde deu a vida por seu povo.

Recentemente, em St. John, um amigo me disse que Lady Tweedsmuir disse que o falecido Governador Geral do Canadá, Lord Tweedsmuir, fez o seguinte comentário sobre Lawrence da Arábia: “Ele viu a humanidade com os olhos de Deus, e nenhum homem pode fazer isso e continuar a viver. Essa visão parte o coração.”

Imediatamente pensei em John Hyde.

Em meu discurso desta manhã, tentei dar os destaques da vida do missionário John Hyde, para que possamos aprender a partir deles algumas lições.

Tudo pode ser resumido no pensamento – uma entrega perfeita à vontade de Deus.

Estamos dispostos a aceitar o desafio que esses fatos nos apresentam?

Uma rendição que significa abnegação, para que Cristo seja exaltado;
uma rendição à vontade de Deus, para que Ele tenha o controle perfeito de nossas vidas; sublime devoção a Cristo, para que Ele seja tudo em todos;
uma santificação do espírito, para que possamos vê-Lo, e ver o mundo como Ele o vê;
um amor sacrificial em oração e serviço, para que o mundo seja salvo?

De John Hyde, pode-se dizer,

Ele escalou a subida íngreme do céu
por caminhos aplainamos por intermédio de Cristo;
Ó Deus, que a graça seja dada
a todos nós para segui-lo.
Reginald Heber (1812) – The Son of God goes forth to war

— Cortesia de Moody Monthly

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