A chave somos nós, não as circunstâncias

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A chave somos nós, não as circunstâncias é a tradução do artigo “But Ye…” de T. Austin-Sparks, publicado na revista “A Witness and a Testimony” de Mar-Abr de 1951.

T. Austin-Sparks (1888-1971)

“E disse-lhes: Não vos compete conhecer os tempos ou as épocas, que o Pai colocou em sua própria autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra” (Atos 1:7,8).

“Ao verem a intrepidez de Pedro e João, sabendo que eram homens iletrados e incultos, admiraram-se; e reconheceram que haviam eles estado com Jesus” (Atos 4:13).

“Não… os tempos ou as épocas… Mas… sereis…” Com essa frase o Senhor transformou toda a questão da nova dispensação em uma questão de pessoas. A antiga dispensação começou com um homem. Esse homem foi a chave de Deus na criação. Aqui, no livro de Atos, temos o início da nova dispensação e da nova criação; e tudo novamente está focalizado em um Homem – o Filho do homem – e nos homens. A chave para tudo está aqui: “Mas… sereis…”

Os discípulos estavam interessados em algo objetivo, focado neles mesmos, um reino onde eles teriam uma posição – o reino de Israel. Isso significava que eles estavam interessados na interpretação e no cumprimento da profecia – um dentre os variados temas e assuntos –  eles estavam interessados em ensinos. Mas o Senhor disse: ‘Não, não são ensinos, nem verdades; não é um movimento, um empreendimento, um reino.’ Tudo isso deveria acontecer depois da obtenção de homens, quando esses homens tivessem sido trazidos interiormente à posição necessária para tudo mais acontecer.

Bem, essa é uma palavra muito simples, mas realmente toca o cerne das coisas.

O que estamos esperando? Qual é a nossa expectativa? Esperamos por uma mudança em nossa posição, circunstância, condições, localização, associações? Esperamos ingressar em algum movimento, que a Igreja aja no que nos diz respeito, e que outros assumam a responsabilidade por nós?

O que buscamos? Perceba isto: o Senhor disse: “Mas… sereis…” Não se tratam de coisas exteriores, em primeiro lugar, mas de nós em um relacionamento correto com o Senhor, debaixo do pleno governo do Espírito Santo, cheios de amor por Cristo e pelos outros. O homem e a mulher cujos olhos viram o Rei. Essa é a chave para tudo.

Isso pode mudar as circunstâncias, pode mudar tudo; enquanto que mudar todo o resto sem esse quesito principal não nos levaria a lugar nenhum.

É como se o Senhor dissesse: ‘É você, tudo depende de você’. O problema não é isso e aquilo, não se trata de uma coisa que você possa esquematizar. Você pode estar esperando definida ou vagamente por um dia quando estará em outra posição, então acredita que tudo mudará e você estará engajado “na obra”. Você continuará assim até o fim de sua vida; poderá passar por diversas mudanças, sem alcançar o real objetivo. Não é isto e aquilo, mas, sereis… O Senhor nos leva onde Ele nos quer e como Ele nos quer.

Está bem claro e visível que é assim que funciona. Vemos homens e mulheres cheios do Espírito devido à sua entrega absoluta, e as coisas estão acontecendo. Aquilo que tanto ansiamos está acontecendo com eles, a obra está sendo realizada, vemos movimento.

Portanto, não vamos esperar por “coisas”.

Vamos reconhecer imediatamente a condição em que estamos. Podemos não ser movidos para outro lugar. Devemos nos manter exatamente onde estamos agora, sem esperar por nenhuma mudança de tempo, lugar, situação ou circunstâncias. Não são as coisas ao nosso redor quem contam: nós somos a chave.

O que é necessário é que tanto o Senhor quanto as outras pessoas sejam capazes de olhar para nós e dizer: ‘Essas pessoas contam, elas expressam o Senhor’. Afinal, não adianta nada sermos colocados em uma posição e lugar onde as coisas estejam acontecendo. Qual é o valor disso, por melhor que pareça, se não formos a expressão de Cristo? Que possamos pedir ao Senhor que nos mostre claramente o que deve ser descartado no nosso caso – como aconteceu com os discípulos quando Ele disse: ‘Não, isso não, mas sereis…’

Estamos propensos a pensar que “se” e “quando” as circunstâncias e condições de nossas vidas forem mudadas e estivermos numa posição diferente da que ocupamos agora, então algo acontecerá, o propósito de Deus começará a ser cumprido. O Senhor nos diria: ‘Não; não são as circunstâncias, nem as condições; é você.’

Alguns pensam que é uma questão de graduação, ordenação e ofício, e que quando assumirem uma posição oficial e tiverem reconhecimento, começarão a cumprir o propósito de suas vidas. Eles esperam até serem ordenados ou nomeados para seu trabalho. O Senhor diz: ‘Não, não é um ofício, não é uma ordenação, nem uma colocação; é você; você é a chave’.

E além disso, muitos olham para a organização, a sociedade, a missão, a congregação com a qual estão associados, e estão esperando um novo dia para algo ter início ali, e acreditam que quando a instituição, seja ela qual for, entrar em ação, então o trabalho de sua vida começará. E o Senhor diz: ‘Não é a igreja, a missão, a organização, a sociedade, a instituição; é você.’

Os homens em Atos 1 esperavam que um fato externo ocorresse. Eles chamaram isso de restauração do reino, o surgimento de um movimento nacional – talvez internacional: uma nova ordem onde eles provavelmente seriam alocados, nomeados ou ordenados em uma posição. E o Senhor simplesmente varreu essa ideia dizendo: ‘Não, não é isso, são vocês.’ Foi assim que as coisas se desenrolaram.

Nós, individualmente, podemos ser a chave para tudo no propósito de Deus.

Leia mais artigos de T. Austin-Sparks aqui.

T. Austin Sparks (1888-1971) nasceu em Londres e estudou na Inglaterra e na Escócia. Aos 25 anos, iniciou seu ministério pastoral, que perdurou por alguns anos, até que, depois de uma crise espiritual, o Senhor o direcionou a abandonar aquela forma de ministério, passando a segui-Lo integralmente naquilo que parecia ser “o melhor que Deus tinha para ele”. Sparks foi um homem peculiar, que priorizava os interesses do Senhor em vez do sucesso do seu próprio ministério. Sua preocupação não era atrair grandes multidões, mas ansiava desesperadamente por Cristo como a realidade de sua pregação. Por isso, suas mensagens eram frutos de sua visão e intensas experiências pessoais. Ele falava daquilo que vivenciava, e sofria dores de parto para que aquela visão se concretizasse primeiramente em sua própria vida. Pelo menos quatro linhas gerais podem ser percebidas em suas mensagens: (a) o grandioso Cristo celestial; (b) O propósito de Deus focado em ganhar uma expressão corporativa para Seu Filho; (c) a Igreja celestial – a base da operação de Deus na terra e (d) a Cruz – o único meio usado pelo Espírito para tornar as riquezas de Cristo parte da nossa experiência. Sparks também acreditava que os princípios espirituais precisavam ser estabelecidos por meio da experiência e do conflito, quando finalmente seriam interiorizados no crente, tornando-se parte de sua vida. Sparks desejava que aquilo que recebeu gratuitamente fosse também assim repartido, e não vendido com fins lucrativos, contanto que suas mensagens fossem reproduzidas palavra por palavra. Seu anseio era que aquilo que o Senhor havia lhe concedido pudesse servir de alimento e edificação para os seus irmãos. Suas mensagens são publicadas ainda hoje no site www.austin-sparks.net e seus livros são distribuídos gratuitamente pela Emmanuel Church.

“Nenhum homem é infalível e ninguém ainda ”obteve a perfeição”. Muitos homens piedosos precisaram se ajustar, seguindo um senso de necessidade, após Deus lhes haver concedido mais luz.” (De uma Carta do Editor publicada pela primeira vez na revista “A Witness and A Testimony“, julho-agosto de 1946).

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1 Comentário. Deixe novo

  • Jorge dos Santos Silva
    5 de dezembro de 2023 21:27

    Muito impactante e ao mesmo tempo sério saber que não é uma questão de tempos, épocas, circunstâncias, mas de ” séries” ser uma pessoa com a qual Deus possa contar em seu propósito eterno. Que o Senhor em sus graça nos ajude.

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