Conhecendo o Deus vivo é um resumo do artigo The Living God (1961) de T.Austin-Sparks. É importante salientar que não se trata de uma tradução do texto original, mas da nossa compreensão daquilo que o autor escreveu, podendo conter divergências em relação ao seu entendimento.
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O Deus vivo é mais que uma referência ao Senhor, é uma revelação que todos nós precisamos ter para desfrutar de intimidade com Ele. Por isso, nosso conhecimento dEle também precisa ser vivo, e nossa vida espiritual deve tomar um rumo ascensional, com direção à plenitude. Conhecer o Deus vivo também nos traz consolo em momentos de severas provações, porque podemos apoiar nossa fé em um Deus presente e verdadeiro.
Tomando algumas referências do Antigo Testamento dessa expressão – Deus vivo – vamos vislumbrar cinco aspectos dessa magnificente revelação. Todos nós podemos ter os olhos do coração iluminados para VER esse Deus nas nossas experiências diárias.
1) O Deus que fala
“Porque quem há, de toda carne, que tenha ouvido a voz do DEUS VIVO falar do meio do fogo, como nós ouvimos, e permanecido vivo?” (Deuteronômio 5:26).
É impressionante perceber que a primeira referência da Palavra de Deus a esse termo – DEUS VIVO – esteja associada ao Seu Falar. Moisés teve o cuidado de citar essa característica do Senhor: o nosso Deus fala, se expressa, se faz conhecer.
“Esta é a característica mais notável da Bíblia, tanto no Antigo como no Novo Testamento. Em todos os seus livros – com poucas exceções – esse Deus da Bíblia é um Deus que fala. De fato, a Bíblia é amplamente um registro daquilo que Deus falou “… muitas vezes e de muitas maneiras” (Hb 1:1).
Esse Deus nos falou no Antigo Testamento por meio de homens que Ele designou, e depois nos falou de forma suprema, abrangente e final por meio de Seu próprio Filho. O Senhor Jesus também falou e ainda fala nos dias de hoje por intermédio do Seu Espírito.
O nosso Deus fala de forma tão pessoal e íntima quanto qualquer pessoa humana o faz. Ele fala viva e poderosamente, e incontáveis homens e mulheres podem testemunhar desse fato – Ele realmente fala com elas.” (T. Austin-Sparks).
Conhecer o Deus vivo implica em conhecer Sua voz e aprender a ouvi-Lo, e isso está a disposição de cada filho de Deus.
Aprendendo a ouvir
“Samuel ministrava perante o SENHOR, sendo ainda menino, vestido de uma estola sacerdotal de linho. O jovem Samuel servia ao SENHOR, perante Eli. Naqueles dias, a palavra do SENHOR era mui rara; as visões não eram freqüentes.”. (1 Samuel 2:18; 3:1)
Leitura: 1 Samuel 3:3-10
Se meditarmos no relato da história do jovem Samuel, podemos extrair três princípios importantes de sua vida que podem nos inspirar nesse relacionamento com Deus:
1) Samuel começou a ouvir a Deus quando ainda era menino, ou seja, esse relacionamento não se restringe à pessoas maduras, que tem uma longa caminhada com o Senhor.
2) O momento e o local onde Samuel viveu não eram nada favoráveis ao desenvolvimento de sua espiritualidade, muito pelo contrário. Ele viveu no meio de pessoas que eram desleais e não honravam a Deus. Mas isso não impediu esse relacionamento pessoal com o Senhor.
3) O Senhor chamou Samuel. Tudo partiu do Senhor. Ele chamou Samuel três vezes até que ele fosse capaz de reconhecer Sua voz. Isso conforta nossos corações. Saber que é Ele quem nos chama em primeiro lugar, que Ele deseja esse relacionamento e que se assegura de nos fazer entender claramente que é Ele que nos fala.
Por outro lado, podemos perceber três aspectos na vida de Samuel que podem ter dado ao Senhor a abertura para iniciar esse relacionamento mais íntimo com ele:
1) Ele permaneceu DIANTE DO SENHOR. Antes de ter ouvido o Senhor diretamente, o jovem se apoiou na Palavra de Deus e permaneceu onde o Senhor havia designado que estivesse.
2) Samuel não se deixou LEVAR pela conduta errada ao seu redor.
3) Quando chamado, ele permaneceu fiel a Ele em todas as palavras que o Senhor lhe entregou. Conhecer a Deus é um privilégio, mas nos precisamos ser encontrados FIÉIS. Não poderemos permanecer neutros quando o Senhor nos falar claramente a respeito de alguma coisa.
Tomando a ilustração do relacionamento de Samuel com o Senhor, entendemos que o Senhor nos chama, não precisamos de um lugar especial, de uma formação, de maturidade para iniciar esse relacionamento com Ele. Ouvir a Deus é um privilégio concedido a todos os filhos de Deus.
Basta permanecer na posição que Ele nos indicou com esperança, buscando ser fiéis à luz que recebemos e principalmente, ser fiéis a Ele quando Ele nos falar.
Deus fala de um modo, de dois modos
“Deus fala de um modo, sim, de dois modos, mas o homem não atenta para isso” (Jó 33:14).
É importante lembrar que Deus também fala sem usar palavras. Temos muitas referências na Palavra do falar de Deus usando a natureza (Sl 19), usando as pessoas ao nosso redor (Gn 45:8) e as circunstâncias da nossa vida.
Precisamos de um coração sensível para discernir a voz do Senhor ao nosso redor, inclusive nos Seus silêncios.
O fato é que Deus nunca fica sem um testemunho (Rm 1:20; Sl 29), e Ele mesmo nos dá ouvidos para ouvi-Lo (Mt 11:15; Mt 13:11-17; Dt 29:4; Is 6:10; Dn 9:22).
2) O Deus presente
“Disse mais Josué: Nisto conhecereis que o Deus vivo está no meio de vós… Eis que a arca da Aliança do Senhor de toda a terra passa o Jordão diante de vós.” (Josué 3:10,11)
Um outro aspecto importante atrelado à expressão o DEUS VIVO é o fato de que Ele é um Deus presente, que tem prazer em manifestar evidências disso.
Neste trecho da história do povo de Israel, vemos que Deus manifestou claramente a Sua presença como um Deus Vivo entre eles ao criar uma passagem seca através do Jordão, quando ele estava tão cheio ao ponto de transbordar nas suas margens. Nessa ocasião, uma grande multidão marchou silenciosamente pelo leito profundo daquele rio com os pés secos.
A seguir, cinco nações fortes e terríveis foram irresistivelmente subjugadas e destruídas. Isso não aconteceu pela superioridade ou treinamento do povo de Israel, mas pela presença e poder do Deus Vivo com eles, capacitando-os a cada passo.
Pense na história da Igreja, quantas situações impossíveis foram subjugadas pelo poder de Deus na vida de Seu povo, simplesmente porque eles confiaram no Deus vivo! Isso também será verdade conosco. Só teremos poder para prevalecer se pudermos contar com essa presença, e entender que Ele está conosco nos dá ousaria para enfrentar as adversidades e provações.
3) O Deus soberano
“Mas o SENHOR é verdadeiramente Deus; ele é o Deus vivo e o Rei eterno; do seu furor treme a terra, e as nações não podem suportar a sua indignação”. (Jeremias 10:10)
O DEUS VIVO controla as forças do universo! Ele tem tudo em Suas mãos.
O profeta Jeremias se refere à convulsões cósmicas e terrestres atribuídas ao Deus Vivo. Deus também fala por meio desses fenômenos naturais.
Ele pode ser conhecido pelas tempestades e pela sua repressão desses fenômenos. Ele tem absoluto poder sobre as forças da natureza, sobre as nações, e sobre todos os assuntos e experiências humanas individuais.
Quantas histórias podemos recordar de missionários em lugares selvagens e perigosos, e de como da mão de Deus se levantou em ‘ventos tempestuosos’, reprimindo convulsões e tumultos de acordo com os interesses de Seu Nome e testemunho!
4) O Deus libertador
“Chegando-se ele à cova, chamou por Daniel com voz triste; disse o rei a Daniel: Daniel, servo do Deus vivo! Dar-se-ia o caso que o teu Deus, a quem tu continuamente serves, tenha podido livrar-te dos leões?”. (Daniel 6:20).
O DEUS VIVO é quem liberta os seus servos de grilhões e cadeias de acordo com Sua vontade.
Tomando as palavras do rei Dario: “Faço um decreto pelo qual, em todo o domínio do meu reino, os homens tremam e temam perante o Deus de Daniel, porque ele é o Deus vivo e que permanece para sempre; o seu reino não será destruído, e o seu domínio não terá fim.” (Dn 6:26)
Quando Deus fechou a boca dos leões e libertou Daniel deles em sua própria cova, todos ali puderam atestar: aquele Deus de Daniel é UM DEUS VIVO.
É Ele que tem poder para libertar, quando isso está de acordo com Sua vontade, e isso pode acontecer de forma miraculosa como aconteceu com Daniel. No registro da história da Igreja, não foram poucas as covas de leões, mas também não faltaram milagres de libertação. Temos centenas de livros escritos sobre essas libertações e os fatos são inquestionáveis. “Ele é o Deus vivo, e que permanece para sempre”, apesar dessas palavras terem saído da boca de um rei muito inconstante.
5) O Deus da recompensa
“Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo” (Hebreus 3:12).
“Muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!” (Hebreus 9:14).
“Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hebreus 10:31).
“Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembléia” (Hebreus 12:22).
Concluímos com uma nota severa. O Deus Vivo vindicará Seu povo e levará a julgamento seus inimigos e perseguidores. A história revela um registro longo e vívido disso. Muitas pessoas puderam afirmar isso: “é uma coisa terrível cair nas mãos do Deus Vivo”.
Mas também somos advertidos a encarar isso com seriedade. Nós também prestaremos contas a Ele um dia e a retribuição acontecerá.
A nossa recompensa pode vir a longo prazo pela necessidade de aperfeiçoamento de fé e a paciência, mas a retribuição também tarda, pois Deus é muito longânimo e não deseja que ninguém pereça.
Nunca devemos nos esquecer que nos relacionamos com esse DEUS VIVO que fala conosco, está presente e vai adiante de nós. Esse Deus soberano governa todos os nossos caminhos, e é Ele quem nos liberta no momento propício para Sua glória. O Senhor finalmente retribuirá a cada um de acordo com sua postura diante de SUA PESSOA.