Falsas e fúteis tentativas de salvação

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Falsas e fúteis tentativas de salvação é um artigo baseado em meditações no capítulo 4 de Rute. Tomamos por referência os livros: “Estudos sobre o livro de Rute” de H. L. Heijkoop, “The pathway of heavenly vision” de T. Austin-Sparks e “Vida em um plano mais alto” de Ruth Paxson.

“Boaz subiu à porta da cidade e assentou-se ali. Eis que o resgatador de que Boaz havia falado ia passando; então, lhe disse: Ó fulano, chega-te para aqui e assenta-te; ele se virou e se assentou. Então, Boaz tomou dez homens dos anciãos da cidade e disse: Assentai-vos aqui. E assentaram-se. Disse ao resgatador: Aquela parte da terra que foi de Elimeleque, nosso irmão, Noemi, que tornou da terra dos moabitas, a tem para venda. Resolvi, pois, informar-te disso e dizer-te: compra-a na presença destes que estão sentados aqui e na de meu povo; se queres resgatá-la, resgata-a; se não, declara-mo para que eu o saiba, pois outro não há senão tu que a resgate, e eu, depois de ti. Respondeu ele: Eu a resgatarei. Disse, porém, Boaz: No dia em que tomares a terra da mão de Noemi, também a tomarás da mão de Rute, a moabita, já viúva, para suscitar o nome do esposo falecido, sobre a herança dele. Então, disse o resgatador: Para mim não a poderei resgatar, para que não prejudique a minha; redime tu o que me cumpria resgatar, porque eu não poderei fazê-lo” (Rute 4:1-6).

***

Vimos que Boaz subiu até a cidade, o que, para nós, nos indica os lugares elevados – o Senhor nos fez assentar nas regiões celestiais em Cristo. Também é importante lembrar que esse subir vem depois do “descer até a eira”. Em Efésios 4, Paulo afirma que Aquele que desceu até as regiões inferiores da terra é O MESMO que subiu aos mais altos céus. 

O Senhor desceu ao mais profundo da humilhação, tornando-Se obediente até a morte e morte de Cruz, então Deus o exaltou soberanamente (Fp 2:8,9). Sua exaltação veio depois de Sua humilhação. Assim também acontecerá conosco, o Senhor nos chama primeiro à eira, quando oferecemos nossos corpos como sacrifício vivo ao Senhor, para que Ele separe toda a manifestação e expressão do homem natural em nós, apesar de já sermos salvos. Na eira, encontraremos o Senhor, com amor e com a vara disciplinadora, fazendo um trabalho de separação, até que reste apenas a vida do trigo. Poderemos então, afirmar, como Paulo, “não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”. 

Falamos dos 10 anciãos que representam o testemunho, e que toda a conversa com o outro resgatador Fulano foi conduzida por Boaz. Ele conduziu todo aquele processo. Assim também foi estabelecido pelo Senhor em Sua Igreja – quando nos reunimos, toda a conversa e expressão deve ser dirigida pelo Senhor Jesus. Um tem salmo, outro tem cântico, mas tudo deve ser coordenado dentro da direção dEle.

A Terra de Elimeleque

No verso 3, Boaz começa a falar com o outro resgatador, o Fulano, e diz que a terra que foi de Elimeleque, Noemi, que tornou da terra dos Moabitas, a tem para a venda. 

Que terra era essa que estava à venda, e qual o seu significado para nós? 

Primeiramente nos é dito que essa terra foi originalmente de Elimeleque. Já vimos que o nome Elimeleque significa “meu Deus é rei”. Trazendo isso para nós, aquela terra, onde o Senhor é Rei, onde Deus reina e domina, está sendo negociada e vendida. Isso traz um alerta para nós. Podemos aprender muito da história da Igreja ao observar aquilo que foi descrito na progressão das sete igrejas de Apocalipse 2 e 3. 

Ali, o Senhor de alguma forma profetizou o que haveria de acontecer com a igreja. O que encontramos ali é como uma profecia acerca da história da Igreja. Cada uma delas se refere à uma fase dessa história, como se o Espírito Santo quisesse nos preparar, assim como Ele fez com o povo de Israel. 

O Senhor nunca deixou o Seu povo desavisado, mas sempre o advertiu a respeito daquilo que aconteceria (Dt 31:14-23; 29). Da mesma forma, o Senhor nos adverte nessas profecias acerca daquilo que iria acontecer com a Igreja ao longo da história. Assim, poderemos vigiar e orar, permanecendo atentos àquilo que haveria de acontecer, antes que a Igreja nominal seja levada por essas ondas de apostasia e engano. “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.”

A terra vendida em Tiatira

Da mesma forma como vemos na história de Rute que a terra de Elimeleque (meu Deus é Rei) estava sendo vendida, também a Igreja, no período de Tiatira (Ap 2:18-29), que se refere à época da Idade Média, estava negociando sua herança celestial de que o Senhor era o seu Rei.

Isso aconteceu porque a Igreja católica se tornou na Igreja Papal, conduzindo o Papa a uma posição de autoridade máxima sobre ela. Assim como nos é referido sobre Tiatira, as obras eram a marca registrada da Igreja Católica, mas seu grande problema foi seduzir os servos do Senhor a praticar a idolatria (chamada na Bíblia de prostituição). Cada vez mais o papa e essas práticas foram tomando lugar na igreja, e a terra “meu Deus é Rei” foi sendo negociada e vendida em troca de uma posição no mundo. A Igreja Católica trocou o princípio fundamental, a palavra verdadeira, a terra verdadeira – meu Deus é rei – pela busca de uma posição melhor no mundo. Assim aquela igreja se tornou influente e poderosa no mundo.

Outra marca da Igreja Católica era (e ainda é) o manter a ideia de que a Igreja é uma só. Isso, por princípio, está correto. Entretanto, a unidade da Igreja deve ser mantida e preservada pelo Espírito Santo operando nela, e não por uma organização eclesiástica que a impõe.

Em Atos, vemos que o povo de Deus era a Igreja do Senhor Jesus, não havia divisões, e as referências que se tem dela são apenas pelos nomes das cidades. Era a expressão da única Igreja em cada cidade. 

Assim, apesar de totalmente deturpada, pois não era algo vivo e orgânico, mas estabelecido por meio de um sistema organizacional e estratégias humanas, a Igreja Católica tentou manter (mesmo que por aparência) a verdade de que o Corpo de Cristo é indivisível.

A tentativa de Sardes

O que aconteceu depois de Tiatira? Temos Sardes –  Ap 3:1-6, que é definida pela expressão “tens nome de que vives e estás morto” (Ap 3:1). 

O paralelo histórico que temos logo depois de Tiatira é o período da reforma protestante. Houve um grande avivamento, um retorno para a Palavra de Deus naquele período, trazendo de volta a verdade de que a Salvação é pela Graça do Senhor Jesus, confrontando a venda de indulgências e lugares no céu. 

Porém, sabemos pela história da Igreja que esse período de grande dependência do Senhor durou pouco tempo. Não houve continuidade naquilo que o Senhor começou a fazer. A igreja protestante tomou a forma de Sardes: “tens nome de que vives e estás morto”.

Apesar de tudo, do sofrimento e perseguição sofridos e preço pago, no final, na cultura europeia, ser protestante se tornou algo de status, e a Igreja começou a associar-se com o Estado, tomando a forma do mundo.

Se a Igreja Católica queria impor, de forma humana e carnal, o princípio estabelecido por Deus da unidade da Igreja, a Igreja Protestante, ao querer ir contra todo esse sistema, focou demasiadamente no princípio da individualidade do relacionamento de cada crente com o Senhor.

Esse princípio, que também é verdade, nos fala de que a salvação, receber o Espírito Santo, tornar-se Filho de Deus, etc., é algo pessoal entre o crente e o Senhor, não sendo recebido pelo simples fato de pertencer a uma igreja estabelecida pelo homem.

Com isso, a Igreja Protestante começou a admitir que houvesse várias Igrejas, “ao gosto do freguês”, dentro daquilo que mais se enquadrasse ao ponto de vista de cada um. Se antes em Atos só tínhamos um único povo de Deus, a Igreja, hoje vemos várias igrejas divididas entre si.

À Sardes, o Senhor então alerta: “Consolida o resto que estava para morrer, porque não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus. Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, guarda-o e arrepende-te” (Ap 3:2,3).

Também Paulo, em 1Co 1:10-13, adverte:

“Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer. Pois a vosso respeito, meus irmãos, fui informado, pelos da casa de Cloe, de que há contendas entre vós. Refiro-me ao fato de cada um de vós dizer: Eu sou de Paulo, e eu, de Apolo, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo. Acaso, Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado em favor de vós ou fostes, porventura, batizados em nome de Paulo?”.

Essa referência pré-anunciava o que haveria de acontecer de maneira bem mais ampla. 

Fúteis e vãs tentativas

Por que trazer esse assunto à luz da história de Rute? Na história da Igreja, sempre houve a tentativa de alguns em fazer uma coisa, outros tentando outra coisa oposta, mas tendo em comum as vãs tentativas do homem de cumprir e conquistar a terra por meio de uma lei, seja ela mosaica ou estabelecida por nós mesmos no nosso interior. É o homem natural, casado com a lei – o outro resgatador, com suas técnicas e estratégias, negociando a terra de Elimeleque, onde Deus é o rei.

Da mesma forma aconteceu na história de Israel, quando Jesus disse que eles interpretavam a lei de forma bem mais pesada do que deveriam. Aquelas novas leis acabaram por tornar ainda mais difícil para os demais segui-las. Fazemos o mesmo, ao tomar um texto como “não deixemos de nos congregar”, e tentamos definir o “como” e “quando”. 

Sempre achamos que a nossa forma é a mais correta. Essa é a nossa tendência. Estamos sempre buscando a unidade, tentando levar a todos a pensar como nós. Entretanto, nossa identificação, nossa unidade com nossos irmãos é fruto da vida do Senhor habitando em cada um de nós. É obra do Espírito Santo operando na Igreja, não do local ou forma que nos reunimos. O corpo de Cristo é indivisível devido à identidade de Cristo, que habita em cada um de nós, independente dos nossos usos e costumes. O que une o povo do Senhor é a vida do Senhor Jesus. 

A disposição do Outro Regatador

“Resolvi, pois, informar-te disso e dizer-te: compra-a na presença destes que estão sentados aqui e na de meu povo; se queres resgatá-la, resgata-a; se não, declara-mo para que eu o saiba, pois outro não há senão tu que a resgate, e eu, depois de ti. Respondeu ele: Eu a resgatarei” (Rt 4:4).

O outro resgatador, por indicação da lei, mais próximo de Rute, diz que resgatará a terra (vs 4): “Eu a resgatarei”. 

É assim que o homem natural, casado com a lei, age conosco: “Pode deixar que faço de você um bom cristão, basta seguir as regras, o padrão que estabeleci – eu resgatarei a terra meu Deus é Rei”. 

Todos nós vivemos próximos de uma lei, criada por nós mesmos e pelo ambiente religioso que vivemos, e que habita dentro de nós. Essa lei estabelece uma espécie de padrão do que um cristão deveria ser. Por causa dessa lei, passamos a definir “o que é” e “o que não é”, “o que pode” e “o que não pode”, medindo a nós mesmos e os irmãos nessa base. 

Assim, passamos a viver fundamentados nesse “pode, não pode”, “faça isso, não faça aquilo”, nesses regulamentos estabelecidos dentro de mim, como se fosse possível ser “um bom cristão” simplesmente por cumprir essa lei. Esse é um retrato do homem natural tentando viver uma vida celestial. Esse é o outro resgatador dizendo: “Eu a resgatarei”.

É a Torre de Babel sendo construída novamente. O Senhor disse que edificaria Sua Igreja com Pedras vivas. A torre de Babel foi edificada com tijolos. E qual a diferença entre pedras e tijolos? As pedras são encontradas na natureza, obra criada por Deus. Já os tijolos são fabricados pelo homem, pela sua habilidade de fazer isso.

O desejo daqueles homens ao construir a Torre de Babel era chegar até o céu, utilizando para isso tijolos por eles fabricados. Muitas vezes desejamos chegar até o céu edificando uma torre com tijolos. Tentamos usar como matéria-prima aquilo que somos naturalmente, nossos talentos naturais, para assim assentarmos nas regiões celestiais. O Senhor não se agrada disso. Sua edificação é baseada naquilo que Ele mesmo criou – as pedras vivas que foram forjadas e lapidadas por Ele mesmo. 

É por causa dEle que estamos assentados nos lugares celestiais com Cristo Jesus e não pela nossa obra. Isso está longe de ser uma questão meramente doutrinária, em que eu posso aprender, como aprendo qualquer conceito teórico, ou por causa de seguir algumas regras. Preciso me ver ali assentado com Cristo. Isso acontece apenas por meio da fé. É fruto de experiências conduzidas pelo Senhor. O Senhor nos leva até lá. Não somos nós que “escalamos” até as regiões celestiais. É resultado de uma vida na fé do Filho de Deus. 

Não posso afirmar que sou nova criatura por causa de padrões, mas pela fé. Essa é uma vida impossível para mim, mas possível ao Senhor. A lei não pode cumprir essa demanda. Esse é o fulano mencionado em Rute. Essa lei pode até doutrinar a gente, nos informar, ensinar, até condiz com a Palavra, mas pela lei serei incapaz de viver a realidade de todas essas coisas. Isso demanda um relacionamento com o nosso Boaz. Só desfrutando desse relacionamento descubro que Ele é a resposta a todas essas demandas.

Não basta resgatar a herança, tem que também suscitar um herdeiro

“Disse, porém, Boaz: No dia em que tomares a terra da mão de Noemi, também a tomarás da mão de Rute, a moabita, já viúva, para suscitar o nome do esposo falecido, sobre a herança dele. Então, disse o resgatador: Para mim não a poderei resgatar, para que não prejudique a minha; redime tu o que me cumpria resgatar, porque eu não poderei fazê-lo” (Rt 4:5,6).

O homem natural com a lei acha que pode resgatar a terra “meu Deus é Rei”, mas ele sabe que não pode trazer a existência a vida – suscitar a descendência de alguém que está morto – “Para mim não poderei resgatar”. 

Rute era uma Moabita, e o Moabita para a lei não era bem-vindo. “Nenhum amonita ou moabita entrará na assembleia do SENHOR; nem ainda a sua décima geração entrará na assembleia do SENHOR, eternamente” (Dt 23:3).

Tomar Rute como esposa, sendo ela moabita, significava correr risco de perder a sua herança, pois ficaria mal diante da lei. A lei perderia a sua glória e pompa. 

Na história da Igreja, conforme predito nas cartas às igrejas da Ásia em Apocalipse 2 e 3, vemos o fim em Laodicéia, que diz: “Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” (Ap 3:17). Este é o estado final geral da Igreja confessa, caracterizada por “és morno e nem és quente nem frio” (Ap 3:16), e assim o Senhor diz: “estou a ponto de vomitar-te da minha boca” (Ap 3:16).

É o triste estado das coisas, como já presenciamos atualmente, quando o Senhor diz à toda a cristandade: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo” (Ap 3:20). Ele está do lado de fora, mas ainda assim, continua desejoso de cear, ter comunhão conosco. Aqueles que estão prontos a ouvi-Lo, ouvirão a Sua voz e abrirão a porta.

Toda essa decadência, porém, começa com a advertência à Igreja de Éfeso (a primeira na lista das sete): “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras” (Ap 2:4-5). 

A Igreja foi perdendo o primeiro amor. A terra que foi de Elimeleque começou a ser vendida para outras pessoas. A exortação é retornar às primeiras obras.

Nem a lei, nem Tiatira, nem Sardes poderiam ser capazes de trazer descendência, a vida para quem está morto. Só há uma Pessoa é capaz de fazer isso.

Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão” (Jo 5:25).

Aqui a referência não é a da ressurreição futura, pois nos é dito “vem a hora e JÁ CHEGOU”. Esses mortos somos nós, que ouvimos a voz do Senhor Jesus e passamos a viver.

Isso também se refere à vida abundante, que está preparada depois de recebermos nossa conversão. Não devemos viver uma vida como se estivéssemos mortos, mas viver a vida abundante com o Senhor Jesus até a Sua volta. Essa vida é eterna, ela permanece e vence a morte. 

Por isso o outro resgatador não pode resgatar – a lei nunca poderá fazer isso. Somente Boaz, o “Senhor de muitos bens”, tem condições de fazer isso. Para ele, não importa perder a glória da lei, pois mais vale a graça que é capaz de fazer de uma moabita uma filha, pertencente à comunidade de Israel. Não foi isso que o Senhor fez com a gente?

“Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado” (Romanos 8:1-3).

Aquela lei, que estabelecemos como parâmetro para viver a vida cristã, constantemente expõe nossa fraqueza, nosso pecado, mostra como somos incapazes de cumprir e chegar ao padrão do Senhor. Paulo afirmou que era impossível à lei. O outro resgatador jamais poderia resgatar. 

***

O teste da paciência

“E, sem enfraquecer na fé, embora levasse em conta o seu próprio corpo amortecido, sendo já de cem anos, e a idade avançada de Sara, não duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus; mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus, estando plenamente convicto de que ele era poderoso para cumprir o que prometera” (Romanos 4:19-21).

“Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes” (Tiago 1:4).

Abraão recebeu a promessa a respeito do nascimento de Isaque e creu. Ainda assim, ele foi severamente testado em relação à essa maravilhosa promessa. Em primeiro lugar, o teste foi de paciência, quando nada parecia acontecer, apesar de ele ter recebido uma palavra do Senhor. Aquele teste se relacionava ao Deus da ressurreição.

Sim, quando Deus Se propõe a estabelecer algo puramente celestial e espiritual nessa terra, Ele sofre dores de parto para minar tudo aquilo que é fruto da nossa natureza de dentro de nós. Em fazendo isso, passamos por diversas provações, de fato seremos testados. Deus nos mostrará que não existe a possibilidade de estabelecermos Seu propósito sobre um fundamento natural, e entraremos em severas complicações sempre que tentarmos recorrer a alternativas, substitutos, coisas aparentemente úteis nessa tentativa de realizar o propósito de Deus. O PRÓPRIO DEUS precisará realizá-lo, Ele deverá nos conduzir, tudo deve vir dEle. Ele obterá esse povo celestial, espiritual, não temos dúvidas em relação a isso. Não haverá nenhuma outra base para argumentar o contrário, nenhuma outra explicação, tudo será atribuído ao Senhor. Seja na nossa vida e sobrevivência, seja na obra do Senhor para a qual fomos chamados, assim será. Tudo será celestial, eterno, impossível, mas fruto do Senhor e a Ele dedicado.

A ênfase é que quando Deus ordena algo, de fato aquilo acontecerá e se tornará algo positivo. Cada nova incisão da adaga em nosso coração não visa destruição e perda, mas alargamento. Cada nova pressão da lei nos indicando que não somos capazes de cumpri-la, equivale ao céu dizendo: isso será celestial, obra do próprio Senhor. O foco é positivo: assim será, e esse é o ponto focal da fé.

T. Austin-Sparks (“The Pathway of the Heavenly Vision”, cap.6).

***

Falsas e fúteis tentativas de salvação

O pecado criou um abismo entre Deus e o homem. O homem pode ignorar ou fechar os olhos para o pecado, pode tratá-lo levianamente, pode até ser tão tolo para negar sua realidade, mas isso não modifica o fato inalterável de que o pecado existe e separa o homem de Deus. Deus não trata o pecado levianamente. Deus o odeia e o condena. 

“O pecado não expiado deve ser uma barreira insuperável entre o pecador e Deus”.

Se o homem natural é conduzido para o favor e comunhão com Deus, é evidente que alguma coisa deve ser feita com o pecado. 

“Que devo fazer para que seja salvo?”, essa foi a pergunta do carcereiro em At 16:30.

O que devo EU fazer? Não há esperança para o eu. Esse homem é sem esperança. Sempre. Sozinho não pode se salvar.

Não se trata aqui de uma reforma, mas da salvação. Não tem jeito. Como um homem escravizado como eu pode ser salvo?

O homem não tem um fundamento sobre o qual ele possa se aproximar de Deus. Só quando ele se confessa perdido, desesperado, pecador, Deus pode o receber e agir. 

Deus proveu uma salvação efetiva, que trata com o pecado e todas as suas consequências, e é completa, destronando Satanás. 

Mas alguns se recusam a aceitar o veredicto de Deus a respeito do homem natural, e negam a necessidade de qualquer mudança neles, de maneira radical e revolucionária. Eles se deleitam em exaltar a carne e negam o fato evidente de que a natureza humana está em ruína total, embora sejam compelidos a admitir que ela necessita de restauração. 

“Quando os olhos de Adão e Eva foram abertos para o mal e eles compreenderam o seu pecado e vergonha, em vez de buscarem a Deus, confessarem o seu pecado e conhecerem a sua condição de perdidos, fizeram aventais de folhas de figueira para cobrir sua nudez (Gn 3:7). Daquele dia até hoje, o homem natural tem estado na mesma tarefa tola, fútil de tentar cobrir seu pecado e culpa com alguma roupa de sua própria confecção, a qual ele crê ser aceitável a Deus. Mas nenhuma vestimenta que o homem natural possa providenciar será agradável a Deus. Não importa de que maneira ela é feita ou quão bonita, ajustada e durável possa parecer para o mundo, ela murchará, da mesma forma que os aventais de folhas de figueira de Adão e Eva, diante da justiça e santidade de Deus (Gn 3:21). Através desse ato, Deus reconheceu que a vergonha de Adão e Eva não era infundada e que eles precisariam de uma cobertura; mas Ele também mostrou a total imperfeição daquela que eles tinham feito para si mesmos, a falta de compreensão da enormidade e crueldade de seu pecado contra Ele, e a natureza da salvação requerida para restaurá-los à Sua comunhão. Deus disse: “No dia em que dela comeres, certamente morrerás”. Eles comeram. “O salário do pecado é a morte”. Se eles não morreram, alguém aceitável a Deus deveria morrer no lugar deles. Este é o significado de salvação”. (Pg 147, 148).

Nós também temos alguns aventais de folhas, pelos quais o homem natural tenta se fazer agradável a Deus:

1. Salvação por meio do Carátero auto-aperfeiçoamento. O homem se compara com outros, e fica mais do que satisfeito. Até mesmo elogia suas virtudes diante de Deus. Mas será que ele já se comparou com a vida impecável do Filho do Homem? (Is 64:6 / Rm 10:3). Aquele que viu o Senhor – Is 6:5, Jó 42:5,6, 1Tm 1:15 – “Ninguém cujos olhos tenha visto o Rei, o Senhor dos exércitos, e tenha constatado isso com sua própria pecaminosidade terá um fragmento de esperança da aceitação de Deus através de seu próprio caráter”.

2. Salvação pela Educação – alguns pensam que o conhecimento pode ser uma cura para o pecado. Saber é nada se não for transformado em caráter e conduta (Tg 4:7). A educação algumas vezes até mesmo conduz para uma deteriorização do caráter e conduta. Ela pode tornar os homens mais egoístas, orgulhosos, avarentos, assim como pode os colocar em posições onde esse egoísmo, ambição e cobiça pode ser investida contra outros menos favorecidos. Mesmo a educação religiosa, mas sem o Espírito Santo, sendo usada pelo homem natural, o conhecimento dos ensinamentos de Deus de Gênesis a Apocalipse, não tem poder para salvar ou santificar ninguém. Pela Bíblia, vemos que não existe vislumbre de esperança de salvação através da educação. Veja 1Co – a sabedoria do homem. Ela pode ser usada por Deus para criar o desejo por salvação – mas nunca a torna possível.

3. Salvação por Obras – Um homem busca a salvação pelo caráter ou pelo que ele é,  o outro confia no que sabe, e o terceiro confia no que faz. “O que devo fazer para executar as obras de Deus?” (a resposta – Jr 13:23). Pode o etíope mudar sua pele? Esse foi o erro de Caim e o seu pecado. Abel percebeu que era um pecador, Caim levou uma oferta que não revelava o senso do pecado, mas da completa auto-suficiência. Ele ofereceu seu melhor, o trabalho de suas mãos, o fruto de seu trabalho. Caim não foi até Deus “pela fé” (Hb 11:4), mas “pelas obras”.  Rm 4:4, 5 / 2Tm 1:9.

4. Salvação pela Religião – O homem natural não pode satisfazer nem agradar a Deus (Rm 8:7). O maligno está ocupado tentando alcançar homens e mulheres, cegando suas mentes (2Co 4:4). Ele tenta ridicularizar a Bíblia e deter seu progresso – e de uma forma sutil, ele se torna o pregador, forjando a partir da própria Bíblia o seu próprio evangelho. “Quanto Satanás descobriu que atacar a Palavra escrita fora dela falhou, então começou a atacar dentro dela. Como Cristo usa homens para pregar Seu evangelho, então Satanás encontraria homens que consentiriam em se tornar “seus ministros” (2Co 11:13-15). Qual seria o evangelho de Satanás e onde ele começaria? O Evangelho de Deus é um evangelho de graça e começa em Gênesis, capítulos um a três. Mas como Satanás poderia aceitar esses três capítulos como provenientes do coração e da mão de Deus?” Ele não poderia cortar esses três capítulos da Bíblia. Então ele prega um evangelho que reserva o direito de interpretar a Palavra de acordo com os ditames da razão. É sempre difícil para a razão aceitar qualquer coisa além de seu próprio alcance. Deus pensa e trabalha no plano da vida não criada, ilimitada, sobrenatural. O homem pensa e trabalha no plano da vida criada, humana, limitada e natural. Assim, o sistema religioso é planejado para servi-lo. Um evangelho fabricado, “outro evangelho” (Gl 1:6), uma imitação inteligente e maligna. Satanás não pode anular totalmente a Cristo, pois até mesmo o mais simples veria que qualquer sistema religioso, que pretende ser baseado na Bíblia, precisa dar um espaço a Cristo. Então, pregue Jesus como o maior mestre do mundo, o ser mais puro de exemplo, seu líder mais ético e mais poderoso reformador. A principal doutrina do Evangelho é o infinito mérito do Seu Filho e o eficaz valor de Sua obra consumada de Redenção. O evangelho de Deus declara o desamparo do homem natural e sua incapacidade para estar na presença de Deus, se não for vestido com as vestes de justiça do Seu Filho, que Ele concede a todo aquele que O recebe pela fé.

A resposta ao “o que eu devo fazer para ser salvo?” – A salvação não é obra do homem para Deus, mas é a obra de Deus para o homem. A salvação nos chama para depositar nossa fé não no que o homem é ou faz, mas no que Cristo é e fez. O primeiro assunto importante da salvação não é que tipo de vida o homem vive, mas qual é o seu relacionamento com Deus. 

Ruth Paxson (“Vida em um Plano mais Alto – Vol. I”, cap.6).

***

Jesus é a única ponte. Hoje, hoje e sempre. Isso vale para a tão grande salvação, e essa verdade será provada ao longo de toda a nossa vida. Não podemos começar no espírito e daí continuar na carne. Esse foi o erro dos Gálatas. A base é e sempre será a mesma – o Glorioso Filho de Deus. 

Referências:

Estudos sobre o livro de Rute – H. L. Heijkoop
“The pathway of heavenly vision” –  T. Austin-Sparks
Vida em um plano mais alto” – Ruth Paxson.

 

Gostou? Leia mais sobre o livro de Rute aqui.

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