Conduzidos à plena união com Cristo

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Conduzidos à plena união com Cristo é um artigo baseado em meditações no capítulo 3 de Rute. Tomamos por referência os livros: “Estudos sobre o livro de Rute” de H. L. Heijkoop e “União com Cristo: Um vislumbre do livro de Rute” de Christian Chen.

“Ficou-se, pois, deitada a seus pés até pela manhã e levantou-se antes que pudessem conhecer um ao outro; porque ele disse: Não se saiba que veio mulher à eira. Disse mais: Dá-me o manto que tens sobre ti e segura-o. Ela o segurou, ele o encheu com seis medidas de cevada e lho pôs às costas; então, entrou ela na cidade. Em chegando à casa de sua sogra, esta lhe disse: Como se te passaram as coisas, filha minha? Ela lhe contou tudo quanto aquele homem lhe fizera. E disse ainda: Estas seis medidas de cevada, ele mas deu e me disse: Não voltes para a tua sogra sem nada. Então, lhe disse Noemi: Espera, minha filha, até que saibas em que darão as coisas, porque aquele homem não descansará, enquanto não se resolver este caso ainda hoje” (Rute 3:14-18).

Temos diante de nós a cena de Rute deitada aos pés de Boaz até o amanhecer. Podemos nos recordar de outras instâncias, na Palavra de Deus, que mencionam os pés do Senhor, em especial o episódio de Maria e Marta, quando o Senhor disse: 

“Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada” (Lc 10:41,42). 

Jesus afirmou que a melhor parte era estar aos Seus pés, recebendo dEle. Essa posição indica submissão, mas ela não deve ser algo esporádico, só nos cultos de domingo, mas deve ser uma prática constante da nossa vida, pois é aos pés do Senhor que recebemos orientação, direção e instrução. 

“Quando ele repousar, notarás o lugar em que se deita; então, chegarás, e lhe descobrirás os pés, e te deitarás; ele te dirá o que deves fazer (Rt 3:4).

No entanto, enquanto ainda não experimentarmos uma total libertação do nosso homem natural, que é casado com a lei, não desfrutaremos da união total com nosso Boaz. Assim como Rute, ainda precisamos nos levantar dessa posição aos pés do Senhor, apesar de ali termos desfrutado da Sua misericórdia e graça.

“Porventura, ignorais, irmãos (pois falo aos que conhecem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem toda a sua vida? Ora, a mulher casada está ligada pela lei ao marido, enquanto ele vive; mas, se o mesmo morrer, desobrigada ficará da lei conjugal. De sorte que será considerada adúltera se, vivendo ainda o marido, unir-se com outro homem; porém, se morrer o marido, estará livre da lei e não será adúltera se contrair novas núpcias. Assim, meus irmãos, também vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que frutifiquemos para Deus” (Romanos 7:1-4).

Conduzidos à plena união com Cristo

Apesar da limitação que o homem natural impõe ao nosso relacionamento com Deus – pois ele é casado com a lei, conforme nos diz Romanos 7, não estando livre para se unir com Outro, que é Cristo – Deus não deseja que somente nos deitemos aos Seus pés por um período limitado de tempo, por uma noite, mas que tenhamos com Ele uma UNIÃO PLENA, um RELACIONAMENTO ÍNTIMO. 

Rute levantou-se antes que pudessem conhecer um ao outro, e a palavra grega usada na versão LXX é muito importante, que é epiginosko. O radical dessa palavra, ginosko, tem a ver com intimidade, como encontramos por exemplo na referência do relacionamento de José e Maria antes do nascimento de Jesus: “Contudo, não a conheceu [ginosko], enquanto ela não deu à luz um filho” (Mt 1:25). Aqui nos é dito que Rute se levantou antes de ter esse relacionamento íntimo com Boaz.

Trazendo para a nossa realidade, encontramos no Novo Testamento uma outra palavra, epignosis, que também vem dessa mesma raiz ginosko: 

“para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento [epignosis] dEle” (Ef 1:17). 

“Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento [epignosis] da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual; a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento [epignosis] de Deus” (Cl 1:9,10). 

Paulo ora para que os irmãos em Éfeso e Colossenses sejam cheios desse conhecimento íntimo, relacional com o Senhor Jesus Cristo.

É esse tipo de relacionamento que o Senhor quer ter conosco. Um relacionamento de UNIÃO PLENA, de INTIMIDADE com Ele.

O outro resgatador

“Ora, é muito verdade que eu sou resgatador; mas ainda outro resgatador há mais chegado do que eu” (Rt 3:12).

Na história de Rute, descobrimos que para ela havia um outro resgatador “mais chegado” do que Boaz. Esse, por ser mais próximo, tem prioridade em resgatar. Mas será que ele será capaz disso?

Da mesma forma, nós também temos um “resgatador”, o velho homem, casado com a lei, que se relaciona conosco há muito mais tempo do que o novo homem em Cristo.

Esse velho homem está sempre insistindo que ele é capaz de nos resgatar e nos fazer “bons cristãos”, basta que sigamos a lei estabelecida por ele – aquele conjunto de regras que criamos e que elegemos como sendo “o padrão do bom cristão”.

Entretanto, sabemos que essa base está abalada. Não há sustentação para nós se plantarmos os nossos pés sobre esse fundamento. Somente Cristo, o nosso Boaz, é capaz de verdadeiramente nos resgatar.

Enquanto estivermos vivendo na base do velho homem, do homem natural, estamos “casados” com a lei e a ela ligados. Mesmo se estivermos aos pés do Senhor por algum momento, ainda precisaremos “retornar para casa”, onde encontraremos a esposa – a lei – pronta a nos acusar e revelar a nossa total incapacidade e pecaminosidade. 

Entretanto, vemos que Boaz toma para si a situação de Rute e diz que vai resolver essa questão com o outro resgatador, para liberar o caminho para que os dois possam ter uma união completa. 

O Senhor deseja uma união constante conosco, não somente em uma noite.

No nosso batismo testemunhamos duas coisas: que deixamos o velho homem para trás e que nos tornamos novas criaturas. Não vivo mais pela natureza Adâmica, mas vivo pela natureza de Cristo.

O problema é que, com o passar do tempo, nos esquecemos dessas coisas e voltamos a viver pelo velho homem, vivendo por meio daquilo que ele determina, que é totalmente fora do padrão que Deus quer. Deus deseja que O sigamos, mas o que dificulta esse processo é que o velho homem ainda tenta viver e definir o ritmo do caminho.

Isso nós já entendemos, porque temos base bíblica para entender essas coisas. Mas não basta entender, precisamos experimentar essas coisas: não andar mais pelo velho homem, mas andar em novidade de vida. A experiência prática do epiginosko. O Senhor quer nos levar a esse conhecimento relacional com Ele.

Ainda que somos infiéis, Ele permanece fiel

“Disse mais: Dá-me o manto que tens sobre ti e segura-o. Ela o segurou, ele o encheu com seis medidas de cevada e lho pôs às costas; então, entrou ela na cidade.” (Rt 3:15).

“Se somos infiéis, Ele permanece fiel” (2 Tm 2:13). Mesmo que ainda estejamos presos ao velho homem, e por isso sejamos levados da nossa posição aos pés do Senhor, o nosso Boaz ainda nos abençoa. 

Rute se levantou antes de conhecer Boaz, ele ainda não era seu esposo, mas ele não a deixou sair de mãos vazias. 

O peso da cevada dada por Boaz a Rute não está especificada. Sabemos apenas que eram seis medidas. Deve ter sido muito, porque ele colocou nas costas dela, por ela talvez não ter tido força para levantar o peso sozinha. O importante é que o número 6 aponta para a obra do homem. Ela recebeu essa medida, mas ainda faltava uma medida para encontrar o 7, que é a indicação da perfeição. Enquanto estivermos no número 6 – na obra que o homem é capaz de realizar – ainda estaremos tentando cumprir a lei para agradar ao Senhor. 

Quando encontramos o descanso, descobriremos que esse descanso é o próprio Senhor Jesus. 

Alguém que está em Romanos 7 não pode desfrutar das bênçãos maravilhosas de Efésios. Precisarei passar dessa fase de Romanos 7, passando para Romanos 8, para então passar ao desfrute da revelação de Efésios. 

Em 1 Jo 2:13,14 temos aquela referência aos pais, aos jovens e aos filhinhos. Não devemos nos contentar apenas com o fato dos nossos pecados terem sido perdoados, mas devemos conhecer “Aquele que existe desde o princípio”. 

Rute voltou para a cidade do povo de Deus, abençoada com as 6 medidas de cevada. Mas ainda não era o bastante. Faltava ainda a sétima medida de comunhão e união com Boaz. 

Nós também podemos estar na cidade do Senhor, no meio do povo de Deus, onde há o testemunho do Senhor, e ainda na esfera da lei.

Ele não descansará, enquanto não resolver essa situação

“Em chegando à casa de sua sogra, esta lhe disse: Como se te passaram as coisas, filha minha? Ela lhe contou tudo quanto aquele homem lhe fizera. E disse ainda: Estas seis medidas de cevada, ele mas deu e me disse: Não voltes para a tua sogra sem nada. Então, lhe disse Noemi: Espera, minha filha, até que saibas em que darão as coisas, porque aquele homem não descansará, enquanto não se resolver este caso ainda hoje” (Rt 3:16-18).

Ao sair daquela posição de descanso e relacionamento íntimo com o Senhor e voltar para o Velho Homem, o melhor conselho que podemos receber é: espera! O Senhor trabalha nessa questão ainda hoje! Ele não descansará enquanto não tiver aquela igreja descrita em Efésios, madura, preparada, adornada. É isso que o Senhor tem feito hoje pela Sua Igreja. O conselho é: espera no Senhor. Não devemos nos preocupar, pois Ele não descansará enquanto não resolver essa causa.

“Edificarei a minha igreja” (Mt 16:18). Isso deve levar o nosso coração ao descanso. Esse não é mais um problema nosso, não precisamos resolver a questão com o primeiro resgatador, pois o verdadeiro resgatador tratará disso. Ele edifica a Sua igreja. Não somos nós que temos que fazer isso. A obra é do Senhor e não é fruto da nossa força natural.

Quem vai resolver a situação do nosso velho homem? O Senhor Jesus. Basta que nos posicionemos aos Seus pés na eira, afirmando que desejamos que Ele assuma o controle da situação, pois o outro resgatador não será capaz de resgatar-nos. O Senhor resolverá o problema, e nós devemos descansar nEle. 

O dia que se chama Hoje, o dia da fé

“Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo; pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado. Porque nos temos tornado participantes [companheiros] de Cristo, se, de fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos. Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração, como foi na provocação. Ora, quais os que, tendo ouvido, se rebelaram? Não foram, de fato, todos os que saíram do Egito por intermédio de Moisés? E contra quem se indignou por quarenta anos? Não foi contra os que pecaram, cujos cadáveres caíram no deserto? E contra quem jurou que não entrariam no seu descanso, senão contra os que foram desobedientes? Vemos, pois, que não puderam entrar por causa da incredulidade” (Hebreus 3:12-19).

Somos chamados a crer, confiar e descansar HOJE. Como vemos na analogia usada pelo Espírito Santo aos cristãos hebreus, nossa fé deve se apoiar em Cristo do início ao fim, pois só assim desfrutaremos do verdadeiro DESCANSO. O povo de Israel saiu do Egito, mas não permaneceu firme, até o fim, naquela confiança inicial. 

Mas houve dois homens que foram uma exceção:

“Certamente, os varões que subiram do Egito, de vinte anos para cima, não verão a terra que prometi com juramento a Abraão, a Isaque e a Jacó, porquanto não perseveraram em seguir-me, exceto Calebe, filho de Jefoné, o quenezeu, e Josué, filho de Num, porque perseveraram em seguir ao SENHOR” (Nm 32:11,12). 

A perseverança foi a marca daqueles dois homens que entraram e desfrutaram das melhores porções da terra de Canaã: Hebrom e Timnate-Sera. Se nós desejarmos desfrutar do melhor das riquezas insondáveis de Cristo, devemos igualmente perseverar em SEGUI-LO, sabendo que HOJE Ele está cuidando de Seus interesses, ainda que nesse processo seja necessário que, como filhos, passemos por disciplina, treinamento, tudo para sermos participantes de Sua santidade, e para que possamos trazer glória ao nosso Pai (Hb 12:5-11):

“Nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo” (Efésios 1:11,12). 

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