O caminho da noiva

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“O caminho da noiva” é um esboço baseado no livro de Cântico dos Cânticos. Nele consideramos alguns pontos relacionados à trajetória de amadurecimento da noiva. 

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Esposa Antes que refresque o dia, e fujam as sombras, irei ao monte da mirra e ao outeiro do incenso. Esposo Tu és toda formosa, querida minha, e em ti não há defeito. Vem comigo do Líbano, noiva minha, vem comigo do Líbano; olha do cimo do Amana, do cimo do Senir e do Hermom, dos covis dos leões, dos montes dos leopardos. Arrebataste-me o coração, minha irmã, noiva minha; arrebataste-me o coração com um só dos teus olhares, com uma só pérola do teu colar. Que belo é o teu amor, ó minha irmã, noiva minha! Quanto melhor é o teu amor do que o vinho, e o aroma dos teus ungüentos do que toda sorte de especiarias!” (Cântico dos cânticos 4:6-8).

“Manifestou os seus caminhos a Moisés e os seus feitos aos filhos de Israel” (Salmo 103:7).

“Quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim” (Mateus 10:38).

“Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte…” (Filipenses 3:7-10).

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Muitos estudiosos acreditam que podemos aprender lições valiosas sobre o nosso relacionamento com o Senhor no livro de Cântico dos Cânticos. Esse livro mostra como o amor da noiva foi se transformando, deixando de ser centrado na sua própria satisfação até o ponto em que ela se esquece de si mesma e vive para agradar seu noivo.

Lendo esse livro tendo esse processo de amadurecimento espiritual como pano de fundo, podemos perceber que houve um momento especial na experiência da noiva. Ele acontece logo depois que ela tem as primeiras experiências de comunhão com o noivo (Ct 1 até 2:9). Então ela ouve a sua voz, chamando-a para acompanhá-lo nas regiões elevadas pela primeira vez. O fato é que esse chamado do noivo envolve andar em por fendas de penhascos, rochas escarpadas (vs 14). A noiva responde de forma evasiva:

“Antes que refresque o dia e fujam as sombras, volta, amado meu; faze-te semelhante ao gamo ou ao filho das gazelas sobre os montes escabrosos” (Ct 2:17).

Essa recusa em responder ao chamado do seu noivo acaba por conduzi-la à uma experiência de privação da sensação de sua presença (3:1). Isso conduz a noiva a uma busca pelo noivo até encontrá-lo. Depois de desfrutar mais de sua presença e ser encorajada por seu amor, a noiva toma uma atitude, ela decide segui-lo onde ele for.

“Esposa Antes que refresque o dia, e fujam as sombras, irei ao monte da mirra e ao outeiro do incenso”(Ct 4:6).

A semelhança entre essa afirmação e sua recusa anterior evidencia que a noiva percebe como é imprescindível a ela tomar esse caminho.

O monte da mirra

“Esposa Antes que refresque o dia, e fujam as sombras, irei ao monte da mirra e ao outeiro do incenso” (Ct 4:6).

“Para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte” (Fp 3:10).

Esse monte de mirra nos reserva uma chave especial na trajetória da noiva, pois ele indica o que aquele passo representou para ela.

O que a mirra representa?

A mirra é uma substância extraída de uma árvore, a Commiphora Myrrha. Essa árvore cresce em algumas regiões áridas da África e do Oriente Médio. Ela se adaptou à condições áridas do deserto e tem uma aparência cheia de contornos, espinhos. Ela é utilizada para produção de incenso e na composição de óleos e perfumes. Sua resina é extraída quando são feitas incisões no tronco da árvore. A resina então é produzida pela árvore, sendo vertida em forma de pequenas lágrimas que endurecem. Essa substância era considerada de elevado valor, de valor medicinal e perfume agradável. 

a trajetória da noiva - mirra

Essa resina valiosa foi oferecida ao Senhor Jesus quando nasceu pelos sábios do oriente (Mt 2:11). Quando estava na cruz, ofereceram ao Senhor vinho com mirra, e Ele não aceitou (Jo 19:39). Quando o Senhor foi sepultado por José de Arimatéia e Nicodemos, eles o embalsamaram com cerca de 100 libras de um composto de mirra e alóes (Jo 19:39).

A mirra tem estreita relação com o sofrimento do Senhor Jesus quando exerceu sua função sacerdotal. A mirra era parte integrante do óleo da unção do sumo-sacerdote (Êx 30:22-24; 26-31).

Não é de se admirar que ao longo do processo de união entre a noiva e o noivo seja necessário que ela se disponha a tomar o mesmo caminho que Ele tomou! Observe que esse elemento é citado 7 vezes no livro de Cantares. São referências que acompanham a progressão da noiva em seu caminhar com o noivo (Ct 1:12,13; Ct 3:6; Ct 4:6; Ct 4:12-14; Ct 5:1; Ct 5:5; Ct 5:10-13).

O selo de aprovação do noivo

“Tu és toda formosa, querida minha, e em ti não há defeito. Vem comigo do Líbano, noiva minha, vem comigo do Líbano; olha do cimo do Amana, do cimo do Senir e do Hermom, dos covis dos leões, dos montes dos leopardos. Arrebataste-me o coração, minha irmã, noiva minha; arrebataste-me o coração com um só dos teus olhares, com uma só pérola do teu colar” (Ct 4:7-9).

Logo que a noiva assume essa posição, o noivo a descreve, abrindo seu coração e elencando algumas características QUE ELE AMA NELA, aquilo que agrada profundamente seu coração. Além disso, pela primeira vez ela a chama de NOIVA. Na verdade, o noivo a chama de noiva 6 vezes no intervalo entre Ct 4:8 – 5:1. Nesse grupo de versículos encontramos algo de suma importância nesse processo de união.

Nossa busca pelo Senhor começa de forma egocêntrica, como aconteceu com a noiva. Não queremos que aquele primeiro amor passe, nem desejamos sofrer. Dificilmente pensamos: O QUE O SENHOR ACHA? O QUE ELE AMA? O QUE ATRAI SEU CORAÇÃO?

O monte de mirra pode ser uma indicação do desejo da noiva de tomar sua cruz, seguir o noivo. A partir desse momento temos uma transição importante, quando o noivo descreve como vê sua amada e a convida mais uma vez para caminhar com Ele:

“Vem comigo do Líbano, noiva minha, vem comigo do Líbano; olha do cimo do Amana, do cimo do Senir e do Hermom, dos covis dos leões, dos montes dos leopardos” (Ct 4:8).

Ele a convida para acompanhá-lo nas regiões celestiais. Essa vida nas regiões celestiais se desenvolve em um ambiente hostil, em meio aos covis dos leões, montes dos leopardos. Como vemos na Epístola aos Efésios que retrata as insondáveis riquezas de Cristo, precisaremos aprender a lidar com inimigos celestiais, não mais iremos combater contra a carne e o sangue (Ef 6:10).

A importância desse chamado está na ênfase do noivo, que faz um convite dúplice: vem comigo…. vem comigo. O Espírito Santo não desperdiça palavras, cada repetição é cheia de sentido. A resposta a esse chamado é importante para o noivo. Temos 8 duplos chamamentos (nominais) na Bíblia: 7 individuais e 1 coletivo. Abraão, Jacó, Moisés, Samuel, Marta, Simão e Saulo (individuais). Jerusalém (coletivo). Esse tipo de chamado tem 2 aspectos: deixar algo ou entrar em algo. “Se soubermos em que o Senhor quer que entremos, não nos queixaremos do preço de deixar algo” (Christian Chen, “O Duplo Chamamento”).

Temos duas classes de pessoas dentre o povo de Deus: os que conhecem Seus feitos e os que conhecem Seus caminhos.

“Seus feitos revelam Seu poder, mas Seus caminhos revelam Sua intimidade. Os feitos de Deus têm como objetivo nos levar a conhecer Seu poder e soberania, mas Seus caminhos são os meios que Ele utiliza para revelar Seus segredos e conduzir-nos ao Seu propósito mais elevado. Conhecer apenas Seus feitos, Suas obras, significa ficar na periferia do Seu chamamento, sem conhecer o propósito para o qual fomos chamados.(…) A indignação de Deus caiu sobre aqueles que “… sempre erram no coração… e não conheceram os Seus caminhos” (Hb 3:10). No deserto caíram milhares daqueles que insistiram em andar em seus próprios caminhos, em vez de se submeterem à direção de Deus rumo à edificação do Seu testemunho, e tudo isso serviu de exemplo para nós, que já temos chegado ao fim dos tempos (1Co 10).” (extratos selecionados do prefácio livro “O Duplo Chamamento“, Editora dos Clássicos).

Tendo isso em mente, vendo que o Senhor convida a noiva para acompanhá-lo nas regiões celestiais, devemos perceber como Ele a elogia e revela do SEU PRÓPRIO CORAÇÃO, o que ELE SENTE com o seu progresso.

Existe um caminho para AGRADAR O CORAÇÃO DO NOIVO.

Arrebatando o coração do noivo

“Arrebataste-me o coração, minha irmã, noiva minha; arrebataste-me o coração com um só dos teus olhares, com uma só pérola do teu colar. Que belo é o teu amor, ó minha irmã, noiva minha! Quanto melhor é o teu amor do que o vinho, e o aroma dos teus ungüentos do que toda sorte de especiarias! Os teus lábios, noiva minha, destilam mel. Mel e leite se acham debaixo da tua língua, e a fragrância dos teus vestidos é como a do Líbano. Jardim fechado és tu, minha irmã, noiva minha, manancial recluso, fonte selada”. (vs 9-12).

O noivo destaca alguns aspectos que agradam o seu coração:

O OLHAR DA NOIVA

A direção do olhar da noiva provoca forte impressão no noivo (Hb 12:1,2). É importante saber que quando olhamos para o Senhor, isso alegra profundamente o Seu coração. Tendemos a olhar as coisas da perspectiva de como elas nos afetam, e podemos até mesmo olhar para o Senhor com motivações egoístas. Mas é maravilhoso saber que o Senhor sabe, percebe, se agrada de nosso foco e atenção em Sua pessoa maravilhosa.

SEU COLAR

O noivo percebe aquela pérola no colar da noiva. Ainda que seja uma. A pérola se desenvolve quando ocorre uma pequena agressão naquela concha. A resina produzida forma essa preciosidade. A forma como reagimos ao sofrimento faz muita diferença para o Senhor, Ele observa, valoriza, se agrada profundamente. Essa será a marca da maravilhosa cidade celestial, portões de pérolas. O sofrimento é um caminho, é a porta para algo muito mais precioso.

SEU AMOR

“Tu me amas?”, foi a pergunta tríplice do Senhor para Pedro (Jo 21). Nunca poderemos compreender por que o Senhor valoriza nosso amor, mas aqui Ele afirma que tem profunda alegria com o amor da noiva.

SEUS LÁBIOS

Os lábios da noiva destilam alimento sólido (mel e leite). Esse é o alimento de Canaã, não do deserto. Isso agrada o noivo, Ele aprecia essa característica.

ELA É UM JARDIM EXCLUSIVO

Essa referência é de grande importância. A primeira menção de um jardim na Bíblia está em Gênesis 2:8, o jardim do Éden (temos 12 referências nos três primeiros capítulos de Gênesis). Infelizmente Adão e Eva foram banidos dali. A próxima referência a um jardim é em Gênesis 13:10, quando Ló decide escolher a campina do Jordão para se instalar, quando se separou de Abraão. Aqui vemos como o homem perdeu a perspectiva, é enganado pelas aparências. Essa escolha foi a ruína de Ló. A seguir temos uma referência do próprio Senhor a Canaã em Deuteronômio 12:10-12. Ele afirma que Canaã é diferente do Egito, O SENHOR CUIDA DESSA TERRA, não é necessário regar, semear como uma horta (gan – jardim). Em um jardim o Senhor batalhou por nós, em um jardim Ele foi sepultado garantindo o nosso acesso àquele paraíso perdido (Mt 26:36, Jo 19:41). Sim, quando o noivo diz que a noiva é um jardim, isso representa uma comunhão especial com Ele. Nesse jardim temos uma fonte, um poço, uma torrente (vs 15). Um dos frutos desse jardim é a mirra (vs 14).

Podemos perceber que a decisão da noiva foi fundamental para esse processo. Depende de nós responder ao chamado do Senhor. Só assim agradaremos plenamente Seu coração.

O caminho desse relacionamento

A partir do chamado do noivo, percebemos uma progressão:

1- Temos o convite dúplice do noivo: “VEM COMIGO”.

2- A noiva se torna um JARDIM, dá ao Senhor muitos frutos. 

3- A NOIVA convida o vento a soprar (Espírito Santo – Atos 2:2; Jo 3), para que o aroma se espalhe. O vento nem sempre traz consigo uma experiência agradável. Foi o vento que abriu o Mar Vermelho em Êxodo 10, o vento também trouxe o julgamento das cordornizes (Nm 11). O vento trouxe a tempestade que afligiu o profeta Jonas (Jn 1:4). Os ímpios não suportam o vento (Sl 1:4), mas quando o Senhor está envolvido, ainda que o vento seja contrário, como aconteceu com os discípulos (Mt 14:24), tudo resultará numa maior revelação de Sua pessoa. “Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem. Para com estes, cheiro de morte para morte; para com aqueles, aroma de vida para vida” (2Co 2:5,16). 

4- A NOIVA convida o noivo a comer dos frutos do Seu Jardim e Ele come. Então convida outros a se beneficiarem desses frutos (Mt 21:18,19; Lc 13:6 – esperança).

Finalmente a noiva pode conceder ao Senhor os frutos que Ele tanto aprecia! Frutos para saciar aqueles que Ele chamar (Lc 12:42).

A noiva ainda passou por outras experiências com o seu noivo, e Ele pacientemente a conduziu. Quando chegamos ao fim do livro de Cântico dos Cânticos vemos que ela espera o retorno do noivo ali, no jardim – naquele local precioso de comunhão e fruto.

“Ó tu que habitas nos jardins, os companheiros estão atentos para ouvir a tua voz; faze-me, pois, também ouvi-la. Esposa Vem depressa, amado meu, faze-te semelhante ao gamo ou ao filho da gazela, que saltam sobre os montes aromáticos” (Ct 8:13,14 – conf 2Tm 4:8).

Que pela Sua maravilhosa graça possamos ser esse jardim, agradar profundamente Seu coração.

“A vida de união com Cristo é alcançada em um processo sucessivo. A alma prossegue nessa jornada, sua visão é ampliada e seu clamor se aprofunda: “que eu possa conhecê-Lo”. Não haverá um fim e não encontraremos uma experiência definitiva para nos apoiarmos antes daquela hora, quando veremos o Senhor glorificado face a face, e seremos como ele é”. (Jessie Penn-Lewis, The Pathway to life in God).

“Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus” (1Co 1:18).

“Então, perguntou Jesus aos doze: Porventura, quereis também vós outros retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus” (Jo 6:67-69).


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