Uma escolha voluntária

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“Uma Escolha Voluntária” é um artigo baseado em meditações nos versículos 6 a 22  do capítulo 1 do livro de Rute. Tomamos por referência os livros: “Estudos sobre o livro de Rute”deH. L. Heijkoop e “União com Cristo: Um vislumbre do livro de Rute” de Christian Chen.

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“Então, se dispôs ela com as suas noras e voltou da terra de Moabe, porquanto, nesta, ouviu que o Senhor se lembrara do seu povo, dando-lhe pão. Saiu, pois, ela com suas duas noras do lugar onde estivera; e, indo elas caminhando, de volta para a terra de Judá, disse-lhes Noemi: Ide, voltai cada uma à casa de sua mãe; e o Senhor use convosco de benevolência, como vós usastes com os que morreram e comigo… Então, de novo, choraram em voz alta; Orfa, com um beijo, se despediu de sua sogra, porém Rute se apegou a ela. Disse Noemi: Eis que tua cunhada voltou ao seu povo e aos seus deuses; também tu, volta após a tua cunhada. Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me obrigue a não seguir-te; porque, aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que morreres, morrerei eu e aí serei sepultada; faça-me o SENHOR o que bem lhe aprouver, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti. Vendo, pois, Noemi que de todo estava resolvida a acompanhá-la, deixou de insistir com ela… Assim, voltou Noemi da terra de Moabe, com Rute, sua nora, a moabita; e chegaram a Belém no princípio da sega da cevada” (Rute 1:6-22).

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Uma escolha

Por que Noemi insistiu tanto para as noras voltassem para a terra de Moabe? No costume daquela época, a mulher, ao se casar, passava a ser algo como uma propriedade do esposo e de sua família. 

Se ficasse viúva, o filho seria aquele que proveria para a mãe as condições de sustento, porque a herança do pai ficava com o filho e não com a mãe. 

Mas, caso a mulher ficasse viúva e não tivesse filhos, como o caso de Orfa e Rute, o irmão do marido (cunhado da mulher) deveria suscitar um herdeiro ao irmão falecido [lei do levirato], para que o nome dele não fosse apagado da herança de Israel.

Não havendo irmão para suscitar herdeiro ao falecido, o parente mais próximo deveria fazer isso, mas tudo dentro da família do falecido, porque, como vimos, a mulher era como uma propriedade da família do esposo.

Assim, o fato de Orfa e Rute terem saído de Moabe para seguir Noemi, em princípio, era a atitude óbvia, porque elas literalmente pertenciam a família de Noemi.

O fato que chama a atenção é que Noemi deu a elas a oportunidade de voltar. Ou seja, naquele momento, Noemi, levando em consideração os motivos registrados nos versículos 11 a 13 do capítulo 1, as estava liberando do compromisso que elas tinham com a sua família. 

Elas agora estavam livres para escolher o próprio futuro. No versículo 15, vemos que Orfa escolheu voltar para seu povo e seus deuses. Rute, no entanto, escolheu continuar seguindo Noemi em direção à Belém, apesar de isso representar que ela deveria deixar tudo o que conhecia para trás e encarar um futuro bastante sombrio, já que era moabita, não sendo, portanto, bem-vinda no meio do povo judeu.

Sabemos que Moabe representa a carne. Então, deixar Moabe é realmente difícil para cada um de nós. Representa a perda do controle do próprio “eu”, e o retorno ao governo do Espírito. 

Mas o Senhor precisa da nossa escolha. A quem seguiremos? Voltaremos para o governo da carne e os a quem  ela se rende, ou seguiremos em frente em direção ao governo do Espírito Santo, à casa do Pão vivo que desceu do céu?

As palavras de Rute

“Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me obrigue a não seguir-te; porque, aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que morreres, morrerei eu e aí serei sepultada; faça-me o SENHOR o que bem lhe aprouver, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti” (Rute 1:16 e 17).

  1. “Onde quer que tu fores irei” – Rute renunciou suas próprias escolhas, para escolher a vontade de Deus. (Mt 8:19; Mt 9:9-13).
  2. “Onde quer que pousares, ali pousares eu” – A vontade de Deus determinaria a sua jornada, como peregrina. A partir dali, Rute andaria e pousaria de acordo com direção do alto (Nm 13:21,22).
  3. “O teu povo é o meu povo” – Rute entendeu que escolher ir para Belém a incluiria dentro da esfera do povo de Deus, para receber as bênçãos e as mesmas perseguições (Mt 10:27,28).
  4. “O teu Deus é o meu Deus” – Ela reconheceu o Deus da aliança como seu (Jo 20:17).
  5. “Onde quer que morreres, morrerei eu” – Rute declara sua disposição de participar da mesma vida e também da mesma morte que Noemi (Rm 6:8; Gl 2:19,20).
  6. “Ali serei sepultada” – A vida dela seria um testemunho vivo por meio da vida ressurreta, que vem da nossa morte com Cristo e ressurreição com Ele (Rm 6:4; Cl 2:12).
  7. “Faça-me o SENHOR o que bem lhe aprouver, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti” – Rute desejava o total cumprimento da vontade de Deus, mesmo que, como Pedro, ainda tivesse o entendimento pleno do que sua escolha envolveria. Mas o Deus de Israel era capaz de levá-la até o fim, como fez, porque encontrou um desejo genuíno no seu coração. (Mc 14:31; Lc 22:31, 32; 2Tm 2:13; Jo 10:28).

O justo viverá pela fé

Desde nossa conversão, quando fazemos nossas escolhas pelo Senhor Jesus, não temos ainda total noção do que aquilo vai representar. De uma forma sobrenatural, somos atraídos ao Senhor e nos lançamos nos Seus caminhos, sem mesmo entender plenamente o que nos espera pela frente. 

Isso sempre acontecerá em nossa vida cristã. Sempre teremos o desconhecido diante de nós, se desejarmos viver no Espírito. À nossa frente teremos uma terra que segundo o Senhor mana leite e mel, mas que também está cheia de inimigos que precisam ser eliminados. Mesmo sabendo disso, não temos a exata noção do que e como teremos que conquistar esse desconhecido. Podemos até já ter provado muita coisa do Senhor, já O conhecemos, sabemos que Ele não vai nos colocar em situações difíceis sem um propósito proveitoso em vista, mas nunca teremos a visão clara de tudo que estará diante de nós. Nossa caminhada sempre será uma caminhada de fé. O justo viverá pela fé.

Vemos Rute passando por esse processo. Algo a atraiu para seguir adiante para Belém. Talvez tenha sido algo que ela viu em Noemi, não importa, o fato é que ela, de alguma forma, foi atraída pelo Senhor, e decidiu seguir em frente pela fé.

Sardes, Filadélfia e Laodicéia

Em Noemi encontramos uma posição diferente da de Rute. Ela é como aquele velho cristão, que experimentou das coisas de Deus por um tempo, mas que, de alguma forma, em seu interior, deixou o lugar de comunhão e louvor (Judá), onde comia o Pão vivo que desceu do céu (Belém), e decidiu ir para Moabe, onde tudo é governado pela carne, inclusive a vida religiosa. 

Agora, talvez já decepcionado com aquilo que viveu em Moabe, decide retornar, mas está cheio de medo, preconceito, sem saber o que irá acontecer com a sua vida. Sente que não é mais Noemi (amada, prazer do Senhor), mas sim Mara (amargurada).

É como a transição de Sardes para Filadélfia, em Apocalipse 3. Primeiro vemos Sardes, cheia de obras, cheia de aparência exterior de vida, mas que na verdade estava morta.

 “Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto” (Ap 3:1).

Entretanto, diante desse cenário, o Senhor abre uma porta, não para retornar ao início de Sardes, mas para seguir em direção à Filadélfia.

“Tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar — que tens pouca força, entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome” (Ap 3:8).

Apesar de Filadélfia ser pequena, ter pouca força, vemos que a porta que o Senhor abriu foi por ela. E qual porta foi essa?

“Eis farei que alguns dos que são da sinagoga de Satanás, desses que a si mesmos se declaram judeus e não são, mas mentem, eis que os farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que eu te amei” (Ap 3:9).

O Senhor escolheu as coisas pequenas, as Filadélfias, que não têm força em si mesmas, mas que guardam a palavra do Senhor e nela se apegam e confiam.

“Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus” (1Co 1:26-29).

Cremos que hoje estamos vivendo o último estágio da Igreja, representado por Laodicéia, que se sente rica e abastada, bem diferente da pequena Filadélfia. Para Laodicéia, o Senhor diz: “Pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu. Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te. Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo” (Ap 3:17,19,20).

O Senhor tem nos disciplinado porque nos ama. Ele quer nos levar a não mais confiarmos na nossa carne (Moabe), mesmo que exteriormente pareçamos ricos e abastados, não precisando de coisa alguma. A carne sempre vai nos levar a sentir assim.

Não se engane pensando que a carne só nos leva para aqueles pecados grotescos. Não! Ela também nos leva para essa vida religiosa de Laodicéia, de beleza e riqueza exterior, onde a força e as habilidades humanas tentam produzir a Noiva. Mas a Noiva só pode ser gerada do Senhor, assim como Eva foi gerada de Adão.

Assim como foi tirado algo do lado de Adão para gerar Eva, ao morrer na cruz, do lado do Senhor saiu sangue e água (Jo 19:34). Sangue para nos redimir (Jo 1:29; Hb 9:22) e nos comprar (At 20:28), e água para nos encher de vida (Sl 36:9; Ap 21:6; 1Co 10:4).

Somente por esse caminho que a Igreja pode ser gerada e edificada: pelo precioso sangue do Senhor Jesus e pela Sua Vida abundante. 

A carne jamais poderá produzir a Igreja, a Esposa que o Senhor deseja ter para Si. Tentar fazer isso, produzirá muitas Maras (amarguradas). Apesar da beleza e riqueza aparente, no interior se esconde a pobreza e cegueira. Mas o Senhor nos ama e não nos deixa enganados. Ele nos atrai de Moabe para Belém, abre uma porta de Sardes para Filadélfia. O tempo todo Ele está nos chamando “se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo”.

O Senhor está nos levando para as regiões celestiais em Cristo Jesus. Mas sabemos que nem todos vão ouvir e abrir a porta. Serão poucos aqueles que se sentirão chamados e movidos em seu interior pelo Espírito para viver uma vida de fé. Que nós sejamos aqueles que têm ouvidos para ouvir e pés para seguir o Senhor por onde quer que Ele for.

O chamado do Senhor Jesus

“Então, convocando a multidão e juntamente os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho salvá-la-á” (Mc 8:34,35).

Essa foi uma palavra do Senhor dirigida para a multidão, mas tinha um fator condicional. “Se” alguém ouvir a minha voz. Dependia de uma escolha por parte do ouvinte.

Veja também Mateus 16:24-27. Esse texto em específico foi dirigido aos discípulos. Ou seja, essa palavra não é dirigida apenas às multidões, mas aos discípulos também.

Podemos ter o Senhor, sermos convertidos, estarmos salvos e termos a vida eterna, e, mesmo assim, viver a vida cristã em Moabe, na carne. Esse é o chamado crente carnal. 

Mas, onde isso vai nos levar? Certamente perderemos parte do nosso galardão que pode ser uma possibilidade de maior desfrute do Senhor na eternidade. “Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á”. A palavra traduzia aqui como “vida” é “psuche”, que quer dizer vida da alma (mente, vontade e emoção). Não perderemos a vida eterna, mas perderemos o desfrute da alma em Cristo, se agora escolhermos por preservar o desfrute da alma na carne.

Em Provérbios 5:3-13 temos uma descrição da mulher adúltera. Somos informados que seus pés conduzem ao sheol (na nossa Bíblia em português nos é dito “inferno”, mas a palavra hebraica original é “sheol”, que é a mesma palavra grega “hades”, que se refere ao lugar dos mortos. Não se trata, portanto, do lago de fogo). 

Será que devo desfrutar da vida carnal, pensando em aproveitar tudo que essa vida pode me oferecer? Será que isso não me causará um problema depois? Devemos nos lembrar que nosso Boaz está sempre pronto a nos resgatar. O Senhor quer nos levar de volta para Belém.

As duas condições – como viver essa vida do Espírito

Vimos duas condições estabelecidas pelo Senhor, que estão registradas em Sua Palavra. A primeira se refere ao lado objetivo do processo de deixar Moabe em direção à Belém:

Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8:34).

Somos então informados que se não atendermos a esse “se”, teremos como consequência a perda da vida da alma quando encontrarmos com o Senhor.

“Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho salvá-la-á”.

Mas como tomar a cruz? Como negar a si mesmo? Como perder a vida? A resposta está no outro “se” que foi endereçado à Igreja de Laodicéia, em Apocalipse 3:

Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo” (Ap 3:20).

A resposta está no caminhar com o Senhor, no cear com Ele, no relacionar Ele, pois somente Ele pode nos conduzir até a Casa de Pão. Nosso papel é, como Rute, exercitar a escolha da entrega pela fé e nos deixarmos ser conduzidos por Ele. Ouvir e obedecer.

O chamado para “perder a vida” sempre vai parecer elevado demais para nós. Sentimos que não temos forças o suficiente para isso. Entretanto, isso não depende da nossa força, mas da nossa consciência de fraqueza – Filadélfia era fraca. Devemos “sempre estar prontos e nunca prontos”. Estamos prontos porque queremos encontrar com Jesus e nada nos alegrará mais. No entanto, sabemos que não estamos prontos quando olhamos para nós mesmos. Aqueles que vencem não são os fortes “na carne”, pelo contrário.

“Nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne” (Fp 3:3). 

A colheita da cevada

“Eu gostaria de destacar agora algumas peculiaridades. Primeiro, com exceção do versículo 4, o modo de determinar o tempo neste livro [de Rute] está relacionado à colheita. O versículo 4 fala da estada em Moabe, e ali utiliza o sistema mundano para determinar o tempo. Mas, assim que lemos sobre a vida em Belém, lemos sobre os tempos da colheita. Isto nos faz lembrar de Deuteronômio 16, onde Deus dividiu o ano de acordo com as colheitas. A divisão é baseada no sacrifício da Páscoa, e, depois de toda a sega estar colhida e pronta para uso, o ano termina com a Festa dos Tabernáculos. Assim também o livro de Rute termina com o casamento ao findar a eira” (HEIJKOOP, HL – Estudos sobre o livro de RUTE – Capítulo 1, p.50).

No texto de Levítico 23:4-14, temos o detalhamento das festas fixas, que eram relacionadas à colheita como afirmado acima. Pela lei, o ano se iniciava na Páscoa, quando o cordeiro era imolado. Então, quando os primeiros frutos eram colhidos e deveriam ser movidos perante o Senhor, como oferta das Primícias. O fato de Noemi e Rute terem chegado em Belém “no princípio da sega da cevada” (Rt 1:22),indica que a Páscoa já havia ocorrido. 

Trazendo isso para nossa realidade hoje, a colheita da cevada representa tudo aquilo que vamos receber como fruto da morte do cordeiro, que foi imolado na Páscoa. 

Isso não é mérito nosso! Tudo é fruto da vida dEle. Do mesma forma que a obra dEle na cruz garantiu a minha salvação (Cordeiro imolado), essa mesma obra me conduzirá na vida de ressurreição (colheita da cevada). É o mesmo princípio. 

“E vós possuís unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento… Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou” (1Jo 2:20; 27).

O que a unção já me ensinou? Que devo permanecer no Senhor. O fato de não necessitar que ninguém nos ensine não é que não precisamos dos irmãos, que não podemos aprender com os outros, mas refere-se a não depender de alguém para me levar a aprender a caminhar com o Senhor. 

Mesmo que não conheça a Palavra, e talvez nem consiga explicar o que o Senhor está me falando, ainda assim, se tenho a unção, o Espírito Santo vai sempre falar comigo e me conduzir, se eu, como Rute, estiver disposto a deixar Moabe e seguir em direção à Belém. 

“À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele. Então, perguntou Jesus aos doze: Porventura, quereis também vós outros retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus” (Jo 6:66-68).

Apesar de fazer essa declaração, certamente Pedro ainda não tinha total entendimento do que o esperava pela frente. Mas vemos ali a fala de alguém que viu alguma coisa e se entregou por fé para ser conduzido pelo Senhor.

Condições do tempo do fim

O livro de Rute está dentro do contexto de Juízes, e alguns eruditos do judaísmo estabelecem esse livro como parte do livro de Juízes. Dentro do livro de Juízes temos dois eventos muito importantes que ocorreram no mesmo lugar, que é o Vale do Megido [em grego Armagedom]

Ali ocorreram o combate de Débora e Baraque contra Jabim, Rei de Canaã (Jz 4,5), e também a batalha de Gideão, contra os Midianitas (Jz 6-8). 

No contexto histórico, logo após essas guerras, temos o livro de Rute, quando ela vai conhecendo cada vez mais Boaz, até o seu casamento com ele. Vemos o seu resgatador e a festa que virá dessa união dos dois.

Agora, veja que em Apocalipse 14:17-20; 19:11-21 lemos sobre a última grande batalha, que, de acordo com Apocalipse 16:16, acontecerá também no Vale do Armagedom. É ali que ocorrerá a batalha final, quando o Senhor Jesus virá pelejar a favor de Israel. 

Assim como acontece de termos as batalhas do livro de Juízes ocorrendo no Vale do Megido (ou Armagedom), e logo depois vislumbrarmos o livro de Rute, vemos que no que tange a igreja, logo após essa guerra no vale do Megido, registrada em Apocalipse, o nosso Senhor Jesus virá para tomar-nos para nossa união eterna [Ap 19]. Veremos a expressão máxima dessa união. 

Em Zacarias 14:3-5,9 temos uma descrição profética dessa batalha e do estabelecimento de Cristo como Rei de toda a terra.

Um resumo do capítulo 1 de Rute

“Vamos agora fazer um breve resumo ao finalizar este primeiro capítulo [de Rute]. Primeiro, falamos sobre o estado da igreja como representado em Éfeso (Ap 2:1-7). Externamente, tudo estava em ordem. Vimos Elimeleque — “Meu Deus é Rei” — e Noemi — a “Minha Amada” ou o “Meu Deleite”. Mas o Senhor vê o abandono do primeiro amor (indicado pelos nomes que Elimeleque e Noemi deram aos seus filhos). No versículo 3 temos Pérgamo (que habita onde está o trono de Satanás). Elimeleque — “Meu Deus é Rei” — morreu. O verdadeiro testemunho dos direitos do Senhor foram extintos. Talvez, no versículo 4, possamos ver o retrato de Tiatira:  a igreja completamente identificada com a idólatra Moabe. No versículo 5, temos Sardes: “Tens nome de que vives, e estás morto”. Depois, no versículo 6 em diante, vemos Filadélfia, a Igreja voltando àquilo que era no começo. Ela não retorna à gloria passada, mas volta em grande debilidade, consciente de que fora culpada desse desvio egoísta, como se vê representado por Noemi. Vimos também prefigurado por Rute o primeiro amor e o instinto de fé naquilo que se relaciona aos pensamentos do Senhor. Belém era a “Casa do Pão”, e aquela era a época da colheita da cevada — o conhecimento da obra obtida na cruz e também da ressurreição – o caráter ressurreto da Igreja.Nos capítulos que se seguem, observaremos o caráter completo de Filadélfia, conforme Rute se une completamente a Boaz.” (HEIJKOOP, HL – Estudos sobre o livro de RUTE – Capítulo 1, p.52)

Uma abordagem para o estudo de Rute: Restauração e Crescimento

Temos dois aspectos para visualizar no livro de Rute, conforme comentário do livro “União com Cristo”, de Christian Chen. 

Podemos tomar o livro de Rute sob a perspectiva da Restauração do Cristão, observando os movimentos da vida de Noemi, que tinha uma herança, a abandonou para ir à Moabe, e depois seguiu no caminho de volta para a plena restauração. 

Se quisermos observar a perspectiva do crescimento cristão, podemos tomar como base Rute, que escolhe deixar tudo para trás para seguir o Deus Vivo, investe tempo rebuscando nos campos de Boaz, até seu casamento com ele

Vale ler o livro de Rute observando essas duas protagonistas e tentando perceber esses aspectos.

Outra sugestão muito proveitosa é ler Rute com o livro de Efésios, que fala de verdades que são figuradas no livro de Rute. Temos 4 frases chaves em Efésios que descrevem em palavras nossa união com Cristo, enquanto em Rute, isso está descrito em figuras. Vejamos a seguir: 

1) Ef 1:6 – “a glória da Sua graça”- todos éramos gentios, fomos salvos pela graça, e como Rute, buscamos refúgio em Belém, no Deus Vivo.

2) Ef 3:8 – “Insondáveis riquezas de Cristo”– vemos o segundo estágio, que é dar um passo além no desfrute das riquezas de nossa salvação, descrito em Rute quando ela está nos campos de Boaz.

3) Ef 4:24 – “vos revistais no novo homem” – pode ser visto em Rute quando ela precisa se vestir e se preparar para encontrar Boaz na eira.

4) Ef 5:32 – “grande é esse mistério”, “o homem se unirá”, que no hebraico equivale a se apegar, ser colado junto. Pode ser visto na união entre Rute e Boaz.

Referências:

Estudos sobre o livro de Rute – H. L. Heijkoop (Depósito de Literatura Cristã)
União com Cristo: Um vislumbre do livro de Rute – Christian Chen (Edições Tesouro Aberto)

 

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