O segredo da vida frutífera de Jessie Penn-Lewis

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O artigo “O segredo da vida frutífera de Jessie Penn-Lewis” é uma compilação de extratos do capítulo 2 do livro “Molded by the Cross”, de John Christian Metcalfe.

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John Christian Metcalfe

“Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto. Quem ama a sua vida perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo preservá-la-á para a vida eterna. Se alguém me serve, siga-me, e, onde eu estou, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, o Pai o honrará” (João 12:24-26).

Deus é zeloso pelo Seu amor e não permitirá que confiemos em outros meios de comunhão que possam rivalizar com o relacionamento com Ele. Se ele nos permitisse confiar muito em fontes humanas, nunca poderia nos ensinar as lições que precisamos aprender. Talvez a nossa maior necessidade seja aprender a ir a Ele em primeiro lugar, em todas as circunstâncias.

Um momento crucial na vida espiritual da Sra Penn-Lewis aconteceu, no momento exato de sua necessidade, como sempre acontece com aqueles que O buscam. O livro “O Espírito de Cristo”, de Andrew Murray chegou à suas mãos e ela o devorou. “Me parece tão profundo, quase além de minha compreensão, mas anseio por aprender mais sobre isso – que Ele possa me ensinar!”, registrou ela em seu diário.

Apesar de seu anseio e de aos poucos estar recebendo nova luz do Senhor, ela ainda enfrentava uma batalha constante com sua fraqueza física e temperamento forte. A Sra Penn-Lewis passou por um período de enfermidade que a levou à tossir muito, perder peso, e ficar incapacitada de sair muito de casa. Durante essa ocasião, ela buscou no Senhor a capacitação para servi-Lo. Por meio de uma crescente incapacidade e fraqueza físicas ela aprendeu gradualmente o segredo de tomar a vida de Cristo como sua vida e força, como podemos ver nesse registro em seu diário: “Durante o dia todo clamei ao Senhor por força e sustento físico, e foi à minha classe bíblica… cheguei em casa cansada, mas feliz e cheia de gratidão”.

Apesar de suas dificuldades físicas e um prospecto de pouco tempo de vida diante de si devido à suas constantes enfermidades, a Sra. Penn-Lewis se engajava o máximo em todo tipo de serviço possível para o Senhor. Entretanto, podemos ver pelas suas próprias palavras que ela percebia que ainda carecia de algo:

“Depois de um tempo [em uma nova esfera de serviço para o Senhor], me tornei consciente de que os resultados espirituais que obtinha não eram equivalentes ao meu esforço. Comecei a questionar se, de fato, conhecia a plenitude do Espírito Santo. Sem dúvida O havia recebido, e “entrado no descanso” no se relacionava a minha própria vida e comunhão com Deus. Mas ao comparar os pequenos resultados de meu serviço e o fruto dos apóstolos no Pentecostes, não podia chegar a outra conclusão. 

Minha classe de estudo Bíblico semanal me atribulava, porque não tinha poder para me expressar. Organizar a obra era muito mais fácil, mas os encontros eram uma dura provação para mim. A consciência de mim mesma quase me paralisava, e nenhuma prática adotada tornava minha elocução mais fácil. Outros podem ter o dom da palavra, mas esse certamente não me fora concedido, pensava eu.

Então convidava todas as pessoas que sabia serem cheias do Espírito para nos visitar, para falar com as meninas… estava ansiosa que elas recebessem dessa bênção. Estabeleci em minha mente que não seria o canal, quem falaria a esse respeito a elas. Até que um dia o Senhor falou comigo o seguinte: Por que NÃO você? Essas pessoas tem muita coisa para fazer, além de vir fazer SEU trabalho! Porque você NÃO é o canal? Mas, disse eu: não consigo falar! Leva um dia inteiro para preparar uma aula, o que fazer? É impossível! 

Cheguei ao fim de minha própria energia e força. Como ensinava aquelas meninas em minha escola Bíblica! Como minha Bíblia era cheia de notas, e como preparava cuidadosamente um prato de alimento espiritual para elas! “Alimento” todo obtido de segunda mão, a partir de outros livros. Isso não mudava a vida delas. 

Pensava que a falha era delas, até que o Senhor falou comigo e disse: “O problema é você!”. “Mas Senhor, sou consagrada! O que pode estar errado em mim? Separo um tempo todas as manhãs para ler e orar; tudo está certo em minha vida, até onde tenho conhecimento”. Mas o Senhor dizia: “É VOCÊ”. E então Ele começou a me quebrar, e veio a mim a terrível revelação que cada detalhe de minha atividade, aquela energia, aquela perseverança indomável, o problema era eu, afinal de contas, apesar de tudo estar oculto debaixo da alcunha da “consagração”. 

Disse, irei diretamente até Deus e pedirei para me provar se Ele tem para mim uma dotação para o serviço que libere uma capacidade de oratória como aconteceu com Pedro no Pentecostes. Vou colocar isso à prova na minha própria vida. Deixei de lado os livros, as visões e as teorias. Em desespero decidi: IREI DIRETAMENTE À DEUS.

A partir dessa decisão, não mais pensei em nenhuma outra questão, mas estabeleci o foco, com firme determinação, de provar por mim mesma se havia algo disso para mim. Então, lentamente, enquanto me apegava a Deus, crescia em mim propósito mais profundo de que, independente do preço, receberia essa capacitação para o serviço. Finalmente cheguei à um forte clamor por isso, como se fosse meu supremo desejo, e podia afirmar que Deus podia tirar todas as coisas de mim, se respondesse a essa petição. Isso ocorreu muito antes de receber a resposta, mas me conduziu à uma absoluta entrega de minha vontade à Deus, de sorte que nunca mais precisei lutar para entregar minha vontade a Ele depois dessa ocasião. Podia seguramente dizer que Ele podia fazer o que desejasse com minha vida, se Ele apenas me desse aquela liberação do Espírito Santo que Pedro conheceu no Pentecostes. 

Pedro era o padrão estabelecido diante do Senhor. Vi que Pedro não estava “nervoso” naquele dia, e sentia minha enorme necessidade de ser liberta desse nervosismo que se apoderava de mim, como um tipo de paralisia na minha elocução. 

Me apoiei com isso diante de Deus com tamanha intensidade, ao ponto das “pessoas” se esvairem do meu pensamento, com tudo aquilo que diziam a esse respeito. Então, recebi um profundo descanso, entendendo que Deus faria o que pedi, mas deveria esperar pelo Seu tempo e modo.

Dessa forma, aprendi o verdadeiro sentido de “esperar” pela “promessa do Pai”. Cheguei à uma atitude calma de dependência de Deus, de forma que Ele poderia responder meu clamor no Seu próprio tempo. Então, segui com minha obra usual, não em indiferença, mas com firmeza na fé de que algum dia aquilo iria de fato acontecer.

Minha experiência, então, passou a ser de um senso cada vez mais aprofundado de derrota. Tudo parecia piorar ainda mais, em vez de melhorar, diferente do que imaginava que iria acontecer depois de fazer esse tipo de acordo com Deus. Parecia estar perdendo tudo que já tinha alcançado. Comecei desenvolver ainda mais nervosismo e “horror” de falar na classe Bíblica, e tudo parecia ter se tornado numa grande “derrota”. 

Então, o Espírito de Deus começou a questionar a Sra. Penn-Lewis, e a trazer à luz “os intentos e propósitos” de seu coração:

“Então o Espírito de Deus me fez duas ou três perguntas. A primeira foi: “Se responder ao seu clamor, você está disposta a perder a popularidade?” SER IMPOPULAR! Ser rejeitada? Bem, sim, estou disposta. Nunca encarei isso antes, mas estou disposta.

Por que você deseja a plenitude do Espírito?” Para obter sucesso no serviço, para ser considerada uma obreira muito usada? Você ainda desejaria essa plenitude do Espírito, se ela representasse UMA APARENTE DERROTA, e se isso te tornasse na escória de tudo, aos olhos dos outros? Isso não havia me ocorrido antes, mas prontamente concordei com todas as condições que o Senhor me impôs.

Mais uma vez, veio outra pergunta: “Você está disposta a ter uma grandiosa experiência, mas viver e andar inteiramente pela fé na Palavra de Deus?” Respondi, “pensei que as pessoas que recebiam a capacitação de poder, sempre tinham uma experiência! Isso não aconteceu com Finney? Como saberei que recebi, se não tiver uma experiência? “Você está disposta a caminhar em fé pura na Minha Palavra, e nunca ter nenhuma experiência maravilhosa?” SIM, eu respondi! 

O Senhor me fez essas perguntas, e então o assunto ficou de lado por um tempo.

Então, chegou o clímax. Em uma manhã, acordei e vi diante de mim uma mão segurando sob uma luz terrível, um punhado de trapos imundos. A voz gentil disse: “Esse é o resultado de todo o seu serviço para Deus até aqui”. Respondi, “Mas, Senhor, me entreguei e me consagrei a Ti por todos esses anos, essa era uma obra consagrada!”. “Sim, Minha filha, mas todo o seu serviço era fruto do EGO CONSAGRADO; e resultado de SUA PRÓPRIA ENERGIA, seus PRÓPRIOS PLANOS para ganhar almas, sua PRÓPRIA DEVOÇÃO. Tudo para Mim, mas era você quem fazia. 

Esse descortinar foi um horror para mim, e me conduziu ao Sangue de Cristo, em profunda humilhação, para purificação. Então a voz doce e suave disse mais uma vez uma pequena palavra: “CRUCIFICADA!”.  

Crucificada, o que isso significava? Não tinha pedido para ser crucificada, mas para ser cheia. Então Romanos 6:6-11 se tornou um poder para mim, e conheci o sentido de ter o “velho homem crucificado com Ele”. Também compreendi o que Paulo queria dizer com as palavras: “crucificado com Cristo” (Gl 2:20). 

Como uma pequena criança, descansei na palavra recebida, e então aprove a Deus “revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse” – conheci o Senhor Ressurreto. 

De repente o rio da vida surgiu, não em um momento em que ela estivesse esperando, nem em uma reunião, mas na sua mesa de café. A glória do Senhor foi revelada a ela no espírito, em um poder tão reluzente, que ela correu para seu quarto para se ajoelhar em adoração. 

“Então, por três meses, vivi a alegria do céu, e o próprio nome de Jesus era tão doce, que seu som me quebrantava, me enchendo de alegria. Gradualmente essa experiência celestial foi cessando, e surgiu o momento de perigo. Comecei a temer a perda de minha experiência, e me lancei na busca daquilo que parecia estar sendo perdido. Nesse ponto me foi mostrado, pela misericórdia de Deus, o caminho da cruz, e a sabedoria de Deus em tirar os Seus próprios dons, para que minha alma se apoiasse inteiramente nEle, e não na alegria e no êxtase da comunhão. Essas coisas me deixavam espiritualmente absorvida comigo mesma, e até compadecida de outros que não estavam no mesmo plano espiritual. Desejava ser deixada sozinha para estar em comunhão com o Amado. Mas então vi que a perda do deleite espiritual e êxtase representariam frutos, por meio da morte e da vida no Próprio Deus, acima de Seus dons, e escolhi alegremente o caminho da noite da fé, para chegar ao alvo – onde Deus seria TUDO em TUDO. 

Através de um aprofundamento da comunhão com Cristo em Sua morte, o Senhor me conduziu pelos anos que se sucederam, até que minha visão clareasse, para ver que a Cruz do Calvário era o pivô de tudo, e era o grande suprimento da necessidade dos filhos de Deus, em cada aspecto de Sua vida espiritual. Vi que, afinal de contas, aquilo que pensava ser o alvo da vida Cristã era somente o início, que era um caminho planejado por Deus para me conduzir à uma comunhão com a cruz, e uma união com o Senhor Jesus, Ascenso no seio do Pai. 

O segredo de uma vida frutífera está, resumidamente, em se derramar para outros, não desejando nada para Si – e se entregar completamente nas mãos de Deus, sem se preocupar com o que lhe acontecerá”.


Jessie Penn-Lewis (1851-1927) nasceu no País de Gales, em uma família metodista calvinista. Sempre teve uma constituição física frágil, estando constantemente muito doente. Penn-Lewis foi muito impactada pelo ministério de Evan H. Hopkins, quando lhe foi apresentado o caminho da vitória por meio da Cruz de Cristo. Ela tinha um forte encargo com a mensagem da identificação do crente com o Senhor na Cruz, para manifestar o poder de Sua morte e ressurreição. Sua contribuição foi grande no sentido de reavivar entre os crentes a verdade da vida interior e da mensagem da Cruz. Assim como Madame Guyon, Fénelon e outros místicos cristãos, ela enfatiza fortemente em seus escritos a necessidade de uma vida interior de oração e contemplação do Senhor Jesus, e uma experiência subjetiva da Cruz. 

Jessie Penn-Lewis se casou com William Penn-Lewis, mas não teve filhos. Apesar de enfrentar diversos períodos de severas enfermidades, ela ministrou sua mensagem em vários países como Índia, Canadá, Rússia e Egito, pregou na Convenção de Keswick, iniciou a publicação da revista The Overcomer (O Vencedor), e publicou livros e artigos sobre diversos assuntos. 

Penn-Lewis foi contemporânea de G. Campbell Morgan, F. B. Meyer, A.B. Simpson e T. Austin-Sparks. Em 1934, Watchman Nee afirmou que “durante os últimos anos, quase todas as mensagens comentadas entre os crentes espirituais têm sido ensinamentos de Jessie Penn-Lewis”.  

Para conhecer mais a respeito do encargo e mensagem de Jessie Penn-Lewis, é possível ler ainda hoje edições da Revista O Vencedor. Os livros “Guerra contra os Santos” e “A Cruz, o caminho para o reino” foram publicados no Brasil pela Editora dos Clássicos.

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