Vida Através da Morte

Print Friendly, PDF & Email

O artigo “Vida através da morte” é uma tradução do capítulo 1 do livro “Face to Face“, de Jessie Penn-Lewis.

***

Jessie Penn-Lewis (1861-1927)

“Esta lhe chamou Moisés e disse: Porque das águas o tirei” (Ex 2:10).

O nascimento de Moisés e as circunstâncias relacionadas a ele figuram o caminho de Deus para a salvação de cada alma tirada do reino das trevas para o reino do Filho do seu amor.

Então, ordenou Faraó a todo o seu povo, dizendo: A todos os filhos que nascerem aos hebreus lançareis no Nilo” (Ex 1:22). A sentença de morte foi dada sobre Moisés antes que ele nascesse, mas, pela fé, seus pais foram capazes de escondê-lo por três meses completos. Quando isso não era mais possível, a mãe colocou seu bebê indefeso em uma arca de galhos, e, entregando-o aos cuidados do Deus que ela confiava, o largou no carriçal à beira do rio. Ali a filha do Faraó o encontrou, e ele foi salvo para ser criado como o filho de um rei.

Ao lermos a história de como Joquebede lidou com seu bebê, não podemos deixar de ver como Deus trabalha todas as coisas de acordo com o conselho de Sua vontade. Foi Ele quem guiou a mãe para a ideia da arca e moveu seu coração para entregar seu tesouro ao rio. Sua fé foi então recompensada ao ser Moisés devolvido, como que dos mortos, para que ela pudesse ser sua ama. Foram palavras de Deus por meio dos lábios da filha do Faraó: “Leva este menino e cria-mo; pagar-te-ei o teu salário” (Ex 2:9).

Como isso nos lembra de Abraão que, com suas próprias mãos, colocou seu filho sobre o altar, “porque considerou que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo dentre os mortos, de onde também, figuradamente, o recobrou” (Hb 11:19). Assim fez Joquebede, com suas próprias mãos entregou seu bebê às águas, pensando que Deus era capaz de salvá-lo da morte, o que Ele realmente fez.

Essa não é a maravilhosa história da redenção, dada a nós em uma das muitas lições figuradas de Deus? A sentença de morte foi dada a todos nós. Mas Jesus, o Santo Filho de Deus, “provou a morte por todo homem” [Hb 2:9]. Ele se tornou a “Arca” na qual, na presciência de Deus, todo o crente é colocado. Somos plantados nEle, em Sua cruz, e em Cristo somos tirados, como Moisés, das águas da morte – tirados para uma nova vida, como aqueles “vivos dentre dos mortos”, tendo recebido o Espírito de adoção, pelo qual nos tornamos filhos e filhas do Senhor Deus Altíssimo.

Estêvão nos diz, em sua breve história a respeito do nascimento de Moisés, que ele “era formoso aos olhos de Deus” (At 7:20). O Redentor contempla a alma redimida da destruição e a torna uma nova criação Nele mesmo. Então Ele diz: “Eis que és formosa, ó querida minha” (Ct 1:15).

Sobre nosso conhecimento experimental do começo, nessa nova vida, depende toda a extensão da comunhão “face a face” com Deus que desejamos conhecer.

Realmente compreendemos “os princípios elementares de Cristo” na mensagem da Sua cruz?

Assim como o bebê Moisés foi colocado na arca e entregue ao rio, nós, como pecadores sob uma sentença de morte, fomos colocados em Jesus Cristo sobre Sua cruz. Daqui em diante, devemos olhar para nós mesmos como Deus nos vê: plantados em Cristo e crucificados com Ele; redimidos da destruição, e, na Arca Cristo Jesus, carregados da velha para a nova vida, para andarmos em novidade de vida.

Tudo é a mesma mensagem em todas as Escrituras, repetida de várias formas sucessivamente – Deus usando histórias e tipos para prenunciar o sentido do Calvário.

O dilúvio dos dias de Noé figura o julgamento da morte da velha criação sob a maldição de Deus, e nos leva como almas carregadas em uma arca, para um novo mundo e uma nova vida.

Israel cruzando o Jordão para fora da vida do deserto para a vida em Canaã, com a “arca” parada no meio do rio, até que “todo o povo passasse”, traz a mesma mensagem. Esses e muitos outros incidentes apontam para o Calvário, onde as águas da morte varreram o Filho de Deus, e nós, como amaldiçoados, morremos com Ele.

Quando a filha do Faraó viu o bebê, teve compaixão dele e o chamou de Moisés – que é, “tirado” ou “salvo das águas”, e tirado foi a característica de toda a sua vida depois disso. Ele foi tirado das águas da morte para ser treinado como o filho do rei. Quando cresceu, ele foi tirado por Deus da sua casa mundana e arredores para uma vida solitária no deserto com Ele, e depois foi tirado de sua reclusão para ser o instrumento de Deus para liderar Israel para fora do Egito. Ele, mais tarde, foi tirado de sua atividade no campo do Monte de Deus para uma comunhão mais próxima com Ele, e, finalmente, foi tirado do mundo para o seio do Eterno.

Nós vimos que, por pouco tempo, o bebê Moisés foi devolvido ao seu antigo lar e seus antigos cuidadores. É assim que acontece conosco. Passamos da morte para a vida e nos tornamos filhos de Deus, mas, por um tempo, somos deixamos nos velhos arredores, porque somos bebês, e porque o tempo ainda não chegou para que conheçamos o nosso mais elevado chamado e a disciplina necessária para sermos herdeiros de Deus. O Pai espera por Seus bebês até que eles desmamem e estejam prontos a suportar o desligamento das coisas que inicialmente eram necessárias. “Todavia, eu ensinei a andar a Efraim; tomei-os nos meus braços” (Os 11:3), disse Deus sobre Israel. No tempo de Deus, e por Seu próprio trato amoroso, a alma será desmamada e ensinada a andar sozinha, ainda que isso represente muitas lágrimas. Finalmente, como uma criança chorosa, ela vai se afundar no descanso da vontade de Deus e dizer: “Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma; como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma para comigo” (Sl 131:2).

Sendo o menino já grande, ela o trouxe à filha de Faraó, da qual passou ele a ser filho” (Ex 2:10). Moisés foi tirado das mãos de sua mãe e foi colocado aos cuidados de uma estranha, que o criou como seu próprio filho; e então ele foi deixado na corte de Faraó por aproximadamente quarenta anos. Durante esse tempo, nos é dito que ele “foi educado em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em palavras e obras” (At 7:22).

Digo, pois, que, durante o tempo em que o herdeiro é menor, em nada difere de escravo, posto que é ele senhor de tudo. Mas está sob tutores e curadores até ao tempo predeterminado pelo pai” (Gl 4:1,2).

Muitos dos filhos de Deus se desgastam pelos longos anos de treinamento, não sabendo qual a sua causa. Eles estão cansados da “instrução” em toda a “sabedoria dos Egípcios” e anseiam por se lançar no serviço a Deus. Mas o Filho modelo esperou trinta anos na vila de Nazaré antes de seguir para três curtos anos de serviço.

As almas que ainda estão “sob tutores e curadores” precisam intensamente aprender como esperar por Deus e descansar em Sua vontade. Vamos nos lembrar que as circunstâncias são planejadas por Deus, para nos preparar para o chamado que Ele tem em vista para nós, na economia da Sua graça. Vamos esperar até que saibamos Seu desejo para nossa vida, para que nossa impaciência não venha a nos levar a jogar de lado as coisas permitidas por Ele, que nos prepararão para esse serviço especial em Sua vinha.

Esse artigo é parte de uma série. Continue a leitura aqui.

Jessie Penn-Lewis (1851-1927) nasceu no País de Gales, em uma família metodista calvinista. Sempre teve uma constituição física frágil, estando constantemente muito doente. Penn-Lewis foi muito impactada pelo ministério de Evan H. Hopkins, quando lhe foi apresentado o caminho da vitória por meio da Cruz de Cristo. Ela tinha um forte encargo com a mensagem da identificação do crente com o Senhor na Cruz, para manifestar o poder de Sua morte e ressurreição. Sua contribuição foi grande no sentido de reavivar entre os crentes a verdade da vida interior e da mensagem da Cruz. Assim como Madame Guyon, Fénelon e outros místicos cristãos, ela enfatiza fortemente em seus escritos a necessidade de uma vida interior de oração e contemplação do Senhor Jesus, e uma experiência subjetiva da Cruz. 

Jessie Penn-Lewis era casada, mas não teve filhos. Apesar de enfrentar diversos períodos de severas enfermidades, ela ministrou sua mensagem em vários países como Índia, Canadá, Rússia e Egito, pregou na Convenção de Keswick, iniciou a publicação da revista The Overcomer (O Vencedor), e publicou livros e artigos sobre diversos assuntos. 

Penn-Lewis foi contemporânea de G. Campbell Morgan, F. B. Meyer, A.B. Simpson e T. Austin-Sparks. Em 1934, Watchman Nee afirmou que “durante os últimos anos, quase todas as mensagens comentadas entre os crentes espirituais têm sido ensinamentos de Jessie Penn-Lewis”.  

Para conhecer mais a respeito do encargo e mensagem de Jessie Penn-Lewis, é possível ler ainda hoje edições da Revista O Vencedor. Os livros “Guerra contra os Santos” e “A Cruz, o caminho para o reino” foram publicados no Brasil pela Editora dos Clássicos.

Post anterior
As Sutilezas da Vida do Ego (Parte 3)
Próximo post
A crise e a cruz

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.