Adorando os caminhos de Deus

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Adorando os caminhos de Deus é um resumo do capítulo 8 do livro “Doze Cestos Cheios – Volume 2”, de Watchman Nee, publicado pela Editora Árvore da Vida.

Watchman Nee (1903-1972)

“Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos” (Isaías 55:8-9).

Se realmente temos a intenção de ser adoradores de Deus, então na história da nossa vida chegará o dia em que perceberemos que simplesmente conhecer a Deus como nosso Pai e a nós como Seus filhos é absolutamente inadequado. Precisamos conhecer a Deus como Deus, e a nós mesmos como seus servos.

Somente quando essa revelação nos for concedida, poderemos adorá-Lo verdadeiramente. Não poderemos prostrar-nos diante dEle, enquanto não o conheçamos como Deus. Só assim perceberemos que somos Seus subordinados. É essa percepção que gera adoração. Mas isso não termina aí. Essa visão de Deus não apenas nos leva a curvar-nos diante dEle, mas nos leva a reconhecer e aceitar os Seus caminhos.

A Bíblia nos mostra que apenas por revelação podemos conhecer a Deus. Também nos mostra que apenas quando nos sujeitamos a Ele, começamos a conhecer Seus caminhos.

Que são os caminhos de Deus? Seus caminhos são Seus métodos para fazer aquilo que decidiu fazer. E, em relação a nós, são Seus tratos para conosco, por intermédio dos quais Ele realiza Seu propósito relacionado a nós. Seus caminhos são mais elevados que os nossos, e não dão lugar à nossa escolha. Ele trata com uma pessoa de certa maneira, e com outra de forma diferente, agindo sempre como bem Lhe parecer. Seus caminhos são o modo pelo qual Ele próprio, para Seu bom prazer, cumpre aquilo que desejou fazer.

Questionando os Caminhos de Deus

Alguns se perguntam: “Por que Deus amou a Jacó e não a Esaú?”. Temos rancor contra Jacó, e tentamos defender Esaú. Esaú, ao nosso ver, era um bom homem, e Jacó era mau, um suplantador e enganador. Todavia Deus disse: “Ameia a Jacó, porém me aborreci de Esaú”. Nós nos perguntamos: “Por quê?” Questionar por que Deus amou a Jacó e não a Esaú, prova que não vimos a Deus. Aqueles que viram a Deus não questionam esse fato. Simplesmente dizem: “Deus é Deus. Ele faz o que faz porque é Quem Ele é. Ninguém precisa dizer a Ele como agir”. “Quem foi seu conselheiro?”

Os caminhos de Deus são a expressão de Sua escolha, e são a manifestação de Seu desejo. O que Ele determinou fazer, tem o foco de garantir Seu objetivo. Portanto, Seus tratos providenciais para com o homem variam de acordo com o propósito que Ele tem em vista para cada vida.

Quando um homem, por meio de revelação, vê que Deus é Deus, e que o homem é homem, não pode fazer outra coisa além de prostrar-se e adorar. Mas, por favor, tenha em mente que chegar até esse ponto ainda não é suficiente. Essa posição é muito abstrata. É necessário dar um passo além, Conduzidos a um ponto onde adoramos a Deus, devemos também adorar os Seus caminhos. Curvamo-nos diante dEle em adoração por aquilo que Ele é, e também aceitamos com adoração todos os caminhos que Ele escolheu para nos guiar, e todas as coisa que Ele deseja trazer à luz em nossa vida.

Devemos aprender a andar passo a passo. Se andarmos diante de Deus, aprenderemos a adorar Seus caminhos.

Vamos considerar alguns exemplos de santos no Velho Testamento que, como verdadeiros adoradores, aprenderam a adorá-Lo em Seus caminhos.

Adorando a Deus pelo caminho próspero

A primeira ilustração está em Gênesis 24, quando Abraão disse a Eliezer, seu servo, que deveria ir à casa de sua parentela para tomar uma esposa para Isaque. Aquela era uma questão muito difícil e delicada. Abraão vivia em Canaã, e para chegar à Mesopotâmia era preciso cruzar dois rios com um trecho de deserto entre eles. Era uma questão difícil e delicada ir a um lugar estranho, muito distante e persuadir uma jovem a aceitar um pedido de casamento. Mas Eliezer confiava em Deus. Ele foi.

Chegando lá, ele orou pedindo ao Senhor que lhe indicasse a esposa por meio de um sinal bem claro (vs 12-14). Antes que ele terminasse a oração, Rebeca chega à fonte, e todos os detalhes que ele estabeleceu em sua oração foram cumpridos. Mas aquela jovem deveria pertencer à mesma família que Abraão, dessa forma, Eliezer pergunta a respeito de sua parentela. Ao constatar que ela era de fato, parente de Abraão, imediatamente seguro a esse respeito, o servo “se inclinou e adorou ao Senhor”.

Você percebe o que significa adorar a Deus? É render toda a glória a Ele. Quando se deparar com alguma dificuldade, ao ser ajudado por Ele, se regozija apenas na prosperidade dos seus caminhos? Não foi isso que aconteceu com o servo de Abraão. Ele imediatamente adorou a Deus.

Espero que percebam a relação entre glória e adoração. Dar glória a Deus equivale a adorá-Lo. Ao nos curvarmos diante dEle que verdadeiramente O adoramos. Os orgulhosos de coração não podem adorá-lo. Quando o seu caminho é próspero, atribuem isso à Sua própria habilidade, e não glorificam a Deus. Ser um verdadeiro adorador é oferecer louvores e ações de graças a Ele por tudo que encontramos.

Adorando a Deus pelo Seu cuidado incessante

Quando Deus enviou Moisés e Arão para dizerem aos filhos de Israel que Ele havia visto sua aflição, e que iria libertá-los da escravidão do Egito, “o povo creu; e, tendo ouvido que o Senhor havia visitado os filhos de Israel e lhe vira a aflição, inclinaram-se, e O adoraram”.

Percebe que esse povo adorou a Deus por Seus caminhos? Repetidamente, Deus faz certas coisas aconteceram em nossa história de modo que só poderemos adorá-Lo.

Essa situação é bem diferente da relatada anteriormente, do servo de Abraão. Nenhuma mudança ainda havia, de fato, ocorrido na condição do povo de Deus, quando inclinaram a cabeça em adoração. Adoraram quando lhes foi assegurado que Deus via sua aflição, e iria libertá-los. Foi-lhes dito por Moisés e Arão que Deus nunca se esquecera deles ao longo daqueles 430 anos, e que Ele via o seu sofrimento. Essa segurança causou a adoração.

Muitas vezes somos incapazes de adorar a Deus, porque em nossas provações pensamos que Ele se esqueceu de nós. Somos perturbados pelas nossas dificuldades prolongadas, mas o que dizer de dificuldades que perduraram 430 anos?

Enquanto esperamos um longo tempo por uma resposta, concluímos que Deus não tomou conhecimento de nossas provações, e nos abandonou por nossa própria conta. Como podemos adorá-Lo assim? Nossos lábios ficam silenciosos. Mas chega o dia em que vemos a Deus e entendemos Seus caminhos. Imediatamente percebemos que Ele nunca se esqueceu de nós. Os lábios outrora silenciosos são abertos, e podemos inclinar nossa cabeça e reconhecer que tudo o que nos aconteceu cooperou para o nosso bem. Vemos a graça de Deus em tudo, e adoramos os Seus caminhos.

Adorando a Deus por sua salvação

Em Êxodo 12:27, Deus instruiu Seu podo a responder a seus filhos dessa maneira, quando perguntassem o significado da Páscoa – “É o sacrifício da páscoa ao Senhor, que passou por cima das casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou nossas casas”. A páscoa era um sacrifício memorial, que deveria conduzir à adoração. Ao relembrarem a diferença que Deus fez entre o Seu povo e o mundo, e o destino diferente que eles tiveram, só restava adorá-Lo.

Relembrar disso gera louvor em nosso coração, pois maravilhamo-nos com a maneira como Ele nos separou do mundo para Si mesmo.

O modo de Deus trabalhar em relação à sua própria vida não o comove? Você não se impressiona com a maneira pela qual Deus se moveu escolhendo você em meio à multidão que o cercava, tornando-o Seu? Quando pensamos em Sua graça salvadora e ao nos lembrarmos dos maravilhosos caminhos pelos quais Sua graça nos alcançou, O louvamos. Isso faz com que nosso coração fique maravilhado, e nos inclinamos diante dEle com adoração e reconhecimento, pelo fato de que Ele é Deus.

Ele nos salvou porque era Seu prazer fazê-lo. Ele assim desejou, e porque quis Ele nos escolheu, e nos conduziu a Si mesmo. Assim, não há nada a dizer, a fazer, somente nos resta adorá-Lo.

No partir do pão, ao contemplar Sua graça salvadora, concedendo-nos justiça, apesar de sermos injustos, dispensando-nos Sua vida para tornarmo-nos Seus filhos, nosso coração se eleva em agradecimento a Ele. Mas, ao pensar no caminho que Ele tomou para realizar isso, ao pensar nas dores que Ele suportou para tirar-nos da cova imunda, ao pensar em como Ele nos trouxe a circunstâncias adequadas para preparar nosso coração para abrir-se para Ele, contemplamos Seus caminhos, e O adoramos.

Percebam que a adoração do povo de Israel foi espontânea, e não um mandamento de Moisés, foi uma reação ao sentido da páscoa. Adoração não é fruto de um exercício mental, mas é gerada por um reconhecimento dos caminhos de Deus.

Adorando a Deus ante a proclamação de Seus caminhos

Em Êxodo 32 a 34 lemos sobre uma grave dificuldade que Moisés encontrou. Os dez mandamentos, escritos em tábuas de pedra, foram dados a ele enquanto estava a sós com Deus no monte. Enquanto isso, problemas conheciam lá embaixo. O povo fez um bezerro de ouro e adorava. Isso causou um enorme desprazer ao Senhor, que disse a Moisés: “Vai, desce; porque o teu povo, que fizeste sair do Egito, se corrompeu, depressa se desviou do caminho que lhes havia eu ordenado…”.

Ao perceber que a ira de Deus havia se acendido contra Seu provo, Moisés rogou a Ele a seu favor, e desceu do monte para tratar com a situação. Depois, ele subiu novamente ao monte em obediência ao mandado de Deus, lavrou outras duas tábuas de pedras semelhantes às quebradas, e subiu ao monte Sinai.

Ali, Deus lhe fez uma proclamação solene: “Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente, longânimo, e grande em misericórdia e fidelidade, que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado”. Se nesse ponto, Moisés tivesse se curvado e adorado a Deus, não seria nada surpreendente. Mas foi após a segunda parte da proclamação que ele o fez, e ela era totalmente diferente da primeira. A primeira parte da declaração fala da compaixão de Deus, da graça, da misericórdia e do perdão. A última parte foi a seguinte: “ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos, e nos filhos dos filhos até a terceira e quarta geração”. Foi quando Deus proclamou a grandiosidade de Sua majestade que “imediatamente, curvando-se Moisés para a terra, O adorou”. Por favor, lembrem-se que não é somente a graça que nos conduz à adoração. Se desejarmos ser verdadeiramente adoradores, precisaremos conhecer Sua santidade.

Gosto dos versos 8 e 9 de Êxodo. No último verso Moisés orou, mas no primeiro ele adorou. Primeiro reconheceu a justiça nos caminhos de Deus, então buscou Sua graça. Moisés não suplicou a Deus baseado em Sua compaixão e graça, grande misericórdia e prontidão para perdoar, tentando mudar Sua decisão. Nossa oração deve ser assim. Estamos sempre tentando persuadir a Deus a não fazer aquilo que disse que faria conosco. Moisés era diferente de nós. Ele permaneceu em Sua posição diante de Deus, curvando-se diante de Seus caminhos.

Quão frequentemente nossas orações são focadas em requerer que Deus mude Seus caminhos! Sem considerar Seus caminhos, nós apenas abrimos nossos lábios e pedimos a Ele para remover a pressão aqui e ali. Orar assim é buscar graça e ignorar os caminhos de Deus. Estamos nos fazendo grandes demais, não estamos em posição diante de Deus para fazer isso.

Moisés não era assim. Reconheceu que aquele era o modo de Deus operar e ajustou-se a isso. Ele orou por graça, mas somente após aceitar os caminhos de Deus, sem reservas. Adoração é a aceitação da vontade de Deus.

Como precisamos aprender com Moisés! Deus mostrou-lhe Seus caminhos, Ele viu Sua santidade e majestade, inclinou-se e adorou. Ele não arrazoou com Deus sobre as consequências para si ou para o povo, caso Deus visitasse a iniquidade deles na terceira e quarta geração. Como precisamos reconhecer a amar os caminhos de Deus, mesmo que eles nos afetem!

Adorando a Deus como o Senhor dos Exércitos

O livro de Josué começa com o comissionamento de Deus para que ele guiasse Seu povo até a terra de Canaã. Que responsabilidade! O que ele deve ter sentido? Se Moisés, com tantos anos de experiência, fora incapaz de introduzir o povo na terra, que esperança haveria para alguém tão jovem quanto ele? Como poderia lugar contra as sete tribos que habitavam na terra? Frente a tal desafio, seria admirável que Josué se sentisse afligido? Nesse momento ele teve uma visão. Um Homem com uma espada desembainhada apareceu diante dele. Não reconhecendo o Homem, Josué perguntou: “És tu um dos nossos, ou dos nossos adversários?” (Js 5:13). O Homem respondeu claramente, “não”, não sou de um lado, nem de outro. Ele tinha um propósito. “Sou capitão do exército do Senhor e acabo de chegar”.

Louvado seja o Senhor, esse é o Seu propósito! Esse é o propósito do Senhor Jesus! Ele não veio para nos ajudar com os nossos inimigos, para para assumir o Seu lugar como Capitão do exército do Senhor. Se você pertence ao exército do Senhor, Ele é o seu capitão. A questão aqui não é receber ajuda, mas aceitar a liderança. O Senhor não veio nos oferecer assistência, mas demandar nossa submissão.

Como Josué reagiu ao ouvi isso? “Josué se prostrou sobre o seu rosto em terra, e o adorou”.

Percebe os caminhos de Deus aqui? Nada do que o Senhor faz tem como objetivo ajudar-nos ou ajudar quem está contra nós. Deus não se coloca no meio do conflito dando uma ajuda aqui ou ali. Ele está no comando das forças e demanda por nossa submissão.

O problema de muitos filhos de Deus é que muitos de nós deseja que tudo gire ao nosso redor, e sirva aos nossos interesses. Deus não consentirá nisso. Quando nos rendermos a Ele, todas as outras questões desaparecerão. Se você pensa que Deus pode ocupar uma posição de subordinado na batalha, não conhece a Deus. A posição dEle é de liderança, e a nossa é a de submissão.

Quando estivermos em nossa posição correta, debaixo do Seu comando, conheceremos o sentido da adoração, saberemos o que é ter uma espada desembainhada a nosso favor.

Adorando a Deus por abrir o caminho

No livro dos Juízes, vemos uma seção relacionada a Gideão. No capítulo 7, vemos que ele passa por um grande dilema, e estava incerto do resultado. Nesse momento de incerteza, se aventurou no acampamento dos midianitas. Lá, ele ouviu um midianita dizendo ao outro: “Tive um sonho. Eis que um pão de cevada rodava contra o arraial dos midianitas e deu de encontro à tenda do comandante, de maneira que esta caiu, e se virou de cima para baixo, e ficou assim estendida. Respondeu-lhe o companheiro e disse: Não é isto outra coisa, senão a espada de Gideão, filho de Joás, homem israelita. Nas mãos dele entregou Deus os midianitas e todo este arraial. Tendo ouvido Gideão contar este sonho e o seu significado, adorou” (Jz 7:13-15).

Gideão não apenas adorou a Deus pelo que Ele era ou pela libertação que Ele estava prestes a realizar a favor do Seu povo; mas O adorou pelo método por meio do qual realizaria Seu propósito. O impressionante aqui são os meios que Deus se agradou em usar na destruição dos midianita. Foi a maneira surpreendente que Deus operou para alcançar Seu objetivo, nessa situação, que nos induz à adoração. Embora pareça absurdo esperar que trezentos homens destruam o imenso acampamento midianita, contudo essa foi a maneira escolhida por Deus para libertar Seu povo e obter glória para Si. Por favor, lembrem-se que Deus anela a adoração de Seus filhos.

Adorando a Deus pela dádiva de um filho

Em 1 Samuel, no capítulo 1, encontramos verdadeiramente o espírito de adoração. Vamos nos lembrar da história: Penina tinha filhos, mas Ana era estéril, e “sua rival a provocava excessivamente para a irritar”. Ana, em sua tristeza, suplicava ao Senhor por um filho, e seu pedido foi atendido. Assim que a criança foi desmamada, ela a trouxe ao templo em Silo, e lá o apresentou com essas palavras: “Por este menino orava eu; e o Senhor me concedeu a petição, que eu lhe fizera. Pelo que também o trago como devolvido ao Senhor, por todos os dias que viver”. Vocês notam as duas frases juntas aqui? Muitíssimo preciosas para mim. Veja: “E o Senhor me concedeu… o trago como devolvido ao Senhor”. O Senhor deu a ela o filho, e ela o deu de volta ao Senhor. Que resposta a uma oração pode superar esta?

Podemos dizer que Ana, de fato, adorou ao Senhor. Não é a pessoa que deseja a graça de Deus, mas a pessoa que deseja o próprio Deus é quem pode adorá-Lo dignamente. Ana nos mostra que a maneira de Deus dar-lhe o Samuel foi ainda mais precioso do que o próprio bebê, a resposta à oração. Deus deu a ela Samuel, e enquanto Samuel ia de suas mãos para Deus, a adoração fluiu de seu coração para o coração de Deus. Somente quando o nosso Samuel passar de nossas mãos para as mãos de Deus é que começaremos a conhecer o sentido da adoração.

Não posso me esquecer de Abraão. Sempre me impressiona o seu comentário feito aos seus servos, quando estava a caminho para oferecer Isaque. “Eu e o rapaz iremos até lá e, havendo adorado, voltaremos para junto de vós” (Gn 22:5). Para Abraão, o oferecimento de seu filho não era uma questão de sacrifício, mas de adoração. Adorar a Deus para ele era equivalente a dar-lhe seu filho. Abraão reconheceu ser essa a maneira de Deus receber adoração.

Não creio que alguém que não tenha consagrado tudo no altar de Deus possa realmente adorá-Lo. Podemos tentar até fazê-lo, mas não haverá realidade no nosso ato. Mas quando o dia chegar para mim, como chegou para Ana, em que meu Samuel, no qual se concentram todas as minhas esperanças, passar das minhas mãos para as mãos de Deus, então a adoração fluirá para Deus juntamente com a ida de meu filho. A verdadeira adoração só pode ser encontrada no altar.

Quando nossas mãos são esvaziadas de tudo que prezamos, a atenção se volta do ego para Deus, e isso é adoração. A adoração está sempre atrelada à atividade da Cruz, pois ali Deus é tudo em todos. É necessário, portanto, que Samuel saia das nossas mãos.

Adorando a Deus por Ele vindicar a Si mesmo

Os caminhos de Deus nem sempre incluem Sua resposta às nossas orações. O oposto muitas vezes é válido também. Os caminhos nem sempre implicam na prosperidade; não é raro que tragam adversidade. Qual deve ser nossa atitude?

Em 2 Samuel 12 temos o registro do pecado de Davi em contato com Bate-Seba. Deus lhe enviou o profeta Natã com a mensagem que a criança que foi gerada daquele pecado certamente morreria. Davi havia pecado, mas amava seu filho, embora a criança fosse fruto do seu pecado. Ele tinha o coração de um pai, e pleiteou junto a Deus por sua vida. Mas Deus havia dito: “posto que com isto deste motivo a que blasfemassem os inimigos do Senhor, também o filho que te nasceu morrerá”.

Ainda assim, quando a criança adoeceu, Davi buscou o Senhor em oração. Ele sabia como orar, vemos isso no livro dos Salmos. Davi não somente orou, mas jejuou, e por toda a noite esteve prostrado no chão diante de Deus. Mas a criança morreu! Qualquer pessoa que não estivesse, verdadeiramente, em submissão a Deus, após tê-Lo buscado tão intensamente, tê-Lo-ia acusado de crueldade, por seu pedido não ter sido atendido. Muitos cristãos contendem com Deus quando Seus caminhos conflitam com o deles. Mas Davi não era assim. Outros até poderiam se rebelar, mas não ele. Quando seu filho morreu, seus servos temiam dar-lhe as notícias. Eles consideravam entre si que, se Davi quase fora esmagado pela ansiedade na doença de seu filho, a dor seria insuportável quando soubesse da morte da criança. Mas o que aconteceu?

“Então, Davi se levantou da terra; lavou-se, ungiu-se, mudou de vestes, entrou na Casa do SENHOR e adorou; depois, veio para sua casa e pediu pão; puseram-no diante dele, e ele comeu” (2Sm 12:20).

Que é adorar? É curvar-se aos caminhos de Deus. Não é um tipo insensato de submissão, nem afundar-se na desesperança ou passividade. É um reconhecimento positivo que os caminhos de Deus estão corretos.

Frequentemente, é necessário que Deus vindique a Si mesmo em relação a nós. Você entende o sentido disso? Quando nós pecamos, Ele precisa se justificar, tornando claro aos anjos, ao diabo, ao mundo e a todos os seus filhos que Ele não tem parte com nosso pecado. O Senhor não pode Se envolver na nossa iniquidade. Quando, diante dEle, somos considerados culpados, Ele não será indulgente conosco. Sua mão governamental virá sobre nós, e seremos provados nas chamas da aflição. Nesse momento, como reagiremos? Aqueles que conhecem e amam a Deus, dirão a Ele: “Se minha aflição pode vindicar a Tua santidade, então digo ‘amém’. Se fizeres conhecida Tua justiça por meio do meu sofrimento, então reconheço que fazes bem todas as coisas. Se desta maneira a Tua natureza pode ser vindicada, alegremente aceito os Teus tratamentos para comigo”.

Notem, por favor, que Davi era um ser humano normal. A Palavra de Deus descreve constantemente os sentimentos interiores das pessoas, e mostra-nos como Davi era humano. Ele não era desprovido de afeição natural. Ele amava seu filho e orou por ele. Mas quando viu o que aconteceu, curvou-se diante da mão de Deus em adoração.

Que Deus nos livre de controvérsias com Ele! Quando nos depararmos com desapontamentos e frustração, nós seremos capazes de adorá-Lo se virmos os Seus caminhos. Não haverá uma só alma que adore a Deus verdadeiramente, se não puder se curvar aos Seus caminhos.

Considero que a maior bênção de minha vida foi ter conhecido a Srta. Barber. Várias vezes, talvez centenas delas, a ouvi dizer: “Senhor, louvo-Te por Teus caminhos”. Não se ouvia dela orações superficiais. As suas orações vinham das profundezas de seu ser, e frequentemente, eram ditas quando ela sofria intensamente. Os caminhos de Deus nem sempre significam a prosperidade de nossos caminhos, e nem sempre trazem resposta às nossas petições aflitas, nem mesmo quando suplicamos com jejuns. Mas se o filho que amamos nos for tirado, ainda assim vamos adorar os caminhos de Deus.

Adorando a Deus ao ser privado de tudo

Finalmente, veremos outra ilustração dos caminhos de Deus, não como foi no caso de Davi, quando a santidade de Deus demandou por Sua vindicação devido ao seu pecado não tratado. No caso de Jó, Deus, por meio de Seus caminhos misteriosos, permitiu que ele fosse privado de tudo que possuía, embora o próprio Deus houvesse testemunhado que “ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto” (Jó 1:8).

Jó era um homem rico. Tinha ovelhas, camelos e gado. Também tinha muitos filhos. Em um dia, repentinamente, surgiu um mensageiro com a notícia de que todo o seu gato havia sido levado, e antes que terminasse de falar, uma segunda pessoa trouxe-lhe a notícia que fogo do céu tinha consumido todas as suas ovelhas. Enquanto o segundo mensageiro lhe relatava esse infortúnio, o terceiro lhe traria a mensagem a respeito de uma outra calamidade. Os caldeus haviam levado todos os camelos de Jó. Mas antes do término desse triste relato, o quatro mensageiro trouxe a trágica notícia que de todos os seus filhos haviam morrido. Um grande vento do deserto fez com que a casa caísse enquanto eles festejavam juntos, e todos foram soterrados sob os destroços. Esses quatro mensageiros distintos chegando, quase que simultaneamente, trouxeram a Jó o terrível fato de que por meio de repetidos desastres, durante um curto período de um dia, ele havia sido despojado de tudo quanto possuía.

Como ele reagiu? “Então, Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a cabeça e lançou-se em terra e adorou; e disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!” (Jó 1:20,21).

O primeiro ato de Jó foi adorar a Deus. Que isso fique bem claro: neste caso não era uma questão de Deus vindicar-se devido a pecado na vida de Jó. Era simplesmente uma questão de Deus agir como julgava ser o melhor. Aqui estava um homem tão absolutamente sujeito a Deus, que podia curvar-se a todos os caminhos de Deus em hesitação.

Deus tem trabalhado em muitos de nós, despojando-nos de muito do que é precioso a nós, por meio da adversidade. Qual é a nossa reação a esses tratamentos? Ficamos nos comparando com os outros, perguntando por que eles são prósperos enquanto experimentamos provação sobre provação? Que possamos acabar com todos esses arrazoamentos e submetermo-nos ao Senhor. Que possamos nos render à pressão de Sua mão! A partir daí iremos descobri-Lo em nossos negócios, em nossos relacionamentos, em todas as nossas circunstâncias, prosperidade e adversidade. Quando nos curvarmos aos Seus caminhos, saberemos o que significa adorá-Lo.

Onde há adoração verdadeira, não há reclamação. No primeiro capítulo de Jó, vemos adoração em fato e verdade. Quaisquer que sejam os tratamentos de Deus sobre você, quer pareçam lógicos ou ilógicos, são invariavelmente bons. No caso de Davi, eles eram lógicos, pois ele havia pecado. Mas por algumas vezes, como no caso de Jó, parecem ilógicos. Não podem ser atribuídos ao pecado na vida nem à falta de espiritualidade. Mas quando Seus tratamentos para conosco são inexplicáveis, que nos prostremos diante dEle e reconheçamos que Ele faz bem todas as coisas: até mesmo o que Ele tem de melhor não retém de nós.

Que Ele nos conceda a graça de doravante oferecer-Lhe não somente a adoração que é gerada pela revelação, mas a adoração que é expressa na aceitação, sem reservas, dos Seus caminhos.

Que possamos aprender esses dois aspectos da adoração, e ser aqueles que O adoram por Ele se tornar conhecido mediante revelação, e que também O adoram por meio de nossa alegre submissão aos Seus caminhos.

Paremos de questionar os tratamentos de Deus para conosco e para com nossos irmãos e irmãs. E paremos de pedir explicações sobre Seus tratos conosco, por mais desconcertantes que possam nos parecer. Com simplicidade de coração, aceitemos como fato estabelecido que todos os Seus caminhos são mais elevados que os nossos, e Seus caminhos são perfeitos.

“Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia. Escuta-me, pois, havias dito, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42:2-6).


Watchman Nee (1903-1972) nasceu em Swatow, na China. Quando entregou completamente sua vida ao Senhor, foi inundado por um amor pela Palavra de Deus, que o levou a estudá-la incessantemente, de maneira que rapidamente a leu por diversas vezes. Logo se tornou uma testemunha de Cristo, determinado a seguir a Palavra de Deus e nada mais. Seu ministério exerceu uma enorme influência na China, dada a sua ampla visão a respeito da Igreja do Senhor e do eterno propósito de Deus. Quando os comunistas assumiram o controle da China, Nee compreendeu que deveria permanecer ali, apesar de saber que isso provavelmente lhe custaria sua liberdade. De fato, ele foi sentenciado à prisão pelo regime, permanecendo preso por 20 anos, até a sua morte.

Pela soberania do Senhor, as mensagens compartilhadas por esse irmão foram disseminadas por todo o mundo enquanto ele estava aprisionado, e até os nossos dias são fonte de vida e edificação para muitos de nós. Vários títulos de sua autoria são  publicados na língua portuguesa, ainda que grande parte de sua obra ainda não foi traduzida. As seguintes editoras publicam ou comercializam alguns de seus livros:

Editora dos Clássicos
Editora Restauração
Edições Tesouro Aberto
Editora Vida

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