Monte Sião – Parte 1

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C. A. Coates

“Ora, não tendes chegado ao fogo palpável e ardente, e à escuridão, e às trevas, e à tempestade, e ao clangor da trombeta, e ao som de palavras tais, que quantos o ouviram suplicaram que não se lhes falasse mais, pois já não suportavam o que lhes era ordenado: Até um animal, se tocar o monte, será apedrejado. Na verdade, de tal modo era horrível o espetáculo, que Moisés disse: Sinto-me aterrado e trêmulo! Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembleia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel” (Hebreus 12:18-24).

Existe tal dimensão e majestade relacionadas a esse trecho do livro de Hebreus, que imediatamente captura nossa atenção. Por isso, é importante termos uma ideia dos notáveis itens que estão contrastados com o Sinai e à lei.

Não existe nada que Satanás tem buscado com mais diligência e que tem conseguido tanto sucesso do que levar os Cristãos de volta para a lei. Ele não nega que existe uma bênção a ser obtida, mas a anula completamente atrelando-a a algo existente em nós mesmos.

Isso está plenamente declarado em Atos 15 pelos homens que desceram da Judéia: “Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos” [vs 1]. “Vocês precisam ser circuncidados e guardar a lei”. A mesma coisa vem acontecendo desde então, de uma forma ou de outra.

Enquanto uma pessoa acredita que sua bênção depende dela mesma, de uma ou outra maneira, ou até a um certo grau, tal pessoa está sob a sombra do Sinai, e naturalmente, todos nós gravitamos nessa direção. Muitas pessoas verdadeiramente convertidas estão mais ocupadas consigo mesmas, e em tentar melhorar a sua própria condição, do que em buscar aprender DA GRAÇA DE DEUS. O resultado é que há uma obra de Deus superficial na alma nas pessoas, e elas se levantam em orgulho e presunção, e talvez se enganam a si mesmas, a ponto de pensarem não haver pecado nelas. Por outro lado, se tais almas forem retas e sinceras, entram em um terrível aperto e experimentam tudo aquilo que é relacionado ao Sinai — escuridão, trevas e tempestade, de sorte que até um homem santo como Moisés podia apenas dizer: “Sinto-me aterrado e trêmulo!” [Hebreus 12:21]. Graças a Deus! Não estamos nessa montanha, mas em outra — no Monte Sião.

É muito interessante ver a posição de Sião no Antigo Testamento. Posso dizer, em conexão com isso, que os dois mil anos, desde Abraão até Cristo, poderiam ser divididos em quatro períodos:

1. Do período quando as promessas foram dadas incondicionalmente a Abraão e a sua semente, até a lei ser entregue no Sinai.

2. Da entrega da lei até o estabelecimento de Sião como o centro Divino da terra.

3. Desde Sião até o cativeiro.

4. Desde o cativeiro até Cristo.

O que estava em proeminência no primeiro período não era a falha do povo, mas a graça paciente e o cuidado incansável de Deus é que são demonstradas de todas as formas possíveis.

Entretanto, no Sinai vemos um princípio diferente entrando em cena. O povo tomou para si o dever de cumprir a lei, e se colocou sob ela como uma condição para a bênção. Deus os advertiu, na grande e terrível majestade descrita aqui em Hebreus 12:18,19, de que as consequências para com eles – sendo quem eram – seriam terríveis. Ainda assim, eles orgulhosamente assumiram aquele encargo auto imposto, e dali em diante tudo foi derrota. O povo falhou em cada ponto onde era possível — o profeta falhou, o sacerdote falhou, os juízes falharam, o rei falhou – tornando-se manifesto que em Israel, desde a sola dos seus pés até sua cabeça, não havia solidez. Israel era nada mais do que apenas uma amostra escolhida da raça de Adão.

O que precisava ser feito? As sombras do Sinai podiam apenas cobrir a terra com escuridão e morte. Deus precisava ter outro centro de onde poderia agir, para que fosse possível haver qualquer demonstração de Sua graça, ou qualquer bênção para o homem. Ele escolheu o Monte Sião para ser tal centro. Ele escolheu “a tribo de Judá, o monte Sião, que ele amava” (Salmos 78:68). Entretanto, podemos notar que aquele lugar escolhido está relacionado com o homem escolhido — “Também escolheu a Davi, seu servo” (vs 70). Tal necessidade surge na história de Sião, que parece ter sido o próprio centro e chave do poder inimigo. Ela não foi tomada por Josué, nem pelos juízes, tampouco por Saul.

Pelos registros da provocação que os Jebuseus faziam a Davi, sabemos que Sião era uma fortaleza inexpugnável: “Não entrarás aqui, porque os cegos e os coxos te repelirão, como quem diz: Davi não entrará neste lugar. Porém Davi tomou a fortaleza de Sião; esta é a Cidade de Davi” (2 Samuel 5:6,7).

Será que não temos o aprender aqui? Será que isso não sugere que a condição do homem sob o poder do pecado é a força da fortaleza de Satanás, e também é o grande obstáculo em direção aos pensamentos de Deus a respeito da graça e da bênção? Entretanto, no tempo propício, Deus ajudou Aquele que era poderoso — O Único que era capaz remover “os cegos e os coxos” que estavam no caminho. Deus trouxe o Homem escolhido, e o poder do inimigo foi destruído pela mão vitoriosa do verdadeiro Davi. Na morte de Cristo, o cego e o coxo foram removidos, o pecado na carne foi condenado, e o fim de toda a carne chegou diante de Deus.

Todo o estado de imperfeição a que o homem estava atrelado, de forma tão terrível, para desonrar a Deus, foi removido de forma justa de diante Dele na morte de Cristo. E agora, a graça “reinará por meio da justiça” [Romanos 5:17]. Deus pode agir em pura graça. Ele pode colocar de lado a aliança do Sinai e fazer uma nova aliança com Seu povo, na qual Ele perdoará e esquecerá seus pecados e iniquidades, e colocará Suas leis nos seus corações e as inscreverá nas suas mentes (Hebreus 8:10-12; 10:16,17). Isto é, na Nova Aliança tudo será fruto da Graça, e será a evidência daquilo que Deus pode ser pelo Seu povo. Na “era porvir”, Israel derivará tudo de Deus por meio daqueles princípios de Graça, dos quais, no Antigo Testamento, Sião é o símbolo tão familiar e apropriado. Mas nós antecipamos aquele dia. Nossas bênçãos e relacionamentos com Deus são todos na base da Sua Graça. Nós chegamos “ao Monte Sião”.

Sião estava segura pela conquista do Ungido do Senhor. A GRAÇA nunca poderia ter seu caminho soberano abençoador, se não fosse pela obra vitoriosa do Calvário. Foi lá que os pecados foram colocados de lado e julgados, os principados e potestades despojados, os poderes do diabo anulados e Deus foi glorificado. Que vitória foi essa! Tudo que constituiu o poder do inimigo foi encarado e vencido no Calvário pelo verdadeiro Davi, e no terreno de Sua vitória, Deus entregou a Ele a administração da graça absoluta e soberana.

Continua no próximo post.

Tradução de texto homônimo, parte do livro “The True Grace of God” (A Verdadeira Graça de Deus), de C. A. Coates.

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