O Combate da Carne contra o Espírito

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“O combate da carne contra o Espírito” é um resumo do capítulo 17 do livro “Estudos sobre o livro de Êxodo”, de Charles Henry Mackintosh. Livro publicado pelo Depósito de Literatura Cristã.

Charles Henry Mackintosh (1820-1896)

“Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer” (Gálatas 5:16, 17).

A Rocha ferida

No capítulo 16 de Êxodos temos uma figura de Cristo descendo do céu para dar vida ao mundo. O capítulo 17 mostra-nos uma figura do Espírito Santo “derramado” em virtude da obra consumada de Cristo.

“Todos eles comeram de um só manjar espiritual e beberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo” (1 Co 10:3-4).

Mas quem poderia beber antes da pedra ser ferida? Israel poderia ter contemplado essa rocha e ainda morrer de sede, porque antes que fosse ferida pela vara de Deus, não podia dar refrigério.

O Senhor Jesus Cristo era o centro e a base de todos os designíos de amor e misericórdia de Deus. Por Seu intermédio deveria correr toda a bênção para o homem. As correntes da graça deviam emanar do “Cordeiro de Deus”; porém era necessário que o Cordeiro fosse morto – que a obra da cruz fosse um fato consumado. Foi quando a Rocha dos séculos foi ferida pela mão de Jeová, que as comportas do amor eterno foram abertas de par em par e os pecadores perdidos convidados pelo Espírito Santo a beber abundante e livremente: “O dom do Espírito Santo” é o resultado da obra consumada pelo Filho de Deus sobre a cruz. “A promessa do Pai…” (Lc 24:49) não podia ser cumprida antes que Cristo se assentasse à destra da Majestade nos céus, depois de haver cumprido toda a justiça, respondido a todas as exigências da santidade, engrandecido a lei tornando-a justa, suportando a ira de Deus contra o pecado, destruído o poder da morte e tirado à sepultura a sua vitória.

Graças a Deus, tudo está consumado. Cristo terminou a obra. A Rocha foi feriada e as águas refrescantes brotaram, de forma que as almas sedentas podem beber. “A água que eu lhe der”, diz Cristo, “será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” (Jo 4:14).

“No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito até aquele momento não fora dado, porque Jesus não havia sido ainda glorificado” (Jo 7:37-39).

Assim como temos no maná uma figura de Cristo, de igual modo temos uma figura do Espírito Santo na água brotando da rocha.

Tal é, portanto, o ensino ministrado à mente espiritual com a rocha ferida; todavia, o lugar no qual esta figura foi apresentada é um memorial perpétuo da incredulidade do homem.

“E chamou o nome daquele lugar Massá [tentação] e Meribá [murmuração], por causa da contenda dos filhos de Israel e porque tentaram ao SENHOR, dizendo: Está o SENHOR no meio de nós ou não?” (Ex 17:7).

Levantar uma tal interrogação, depois de tantas e repetidas garantias evidentes da presença de jeová, prova a incredulidade profundamente arraigada no coração humano. Era, de fato, tentar o Senhor.

Foi assim também que os Judeus, tendo a presença de Cristo com eles, pediram um sinal do céu, tentando-O.

A fé nunca age assim, mas crê na presença divina e goza dela, não por meio de um sinal, mas pelo conhecimento que tem do próprio Deus.

A luta contra Amaleque

“Então, veio Amaleque e pelejou contra Israel em Refidim. Com isso, ordenou Moisés a Josué: Escolhe-nos homens, e sai, e peleja contra Amaleque; amanhã, estarei eu no cimo do outeiro, e o bordão de Deus estará na minha mão” (Ex 17:8-9).

O dom do Espírito Santo conduz à luta. A luz reprime e luta com as trevas. É isso que acontece nesse capítulo 17 de Êxodos. Logo após a rocha ter sido fendida e as águas terem jorrado dela, “então, veio Amaleque e pelejou contra Israel”.

Até este momento, o Senhor havia pelejado por Israel – “O SENHOR pelejará por vós, e vós vos calareis” (Ex 14:14).

Esse combate é tipificado no Velho Testamento nas figuras de Faraó e do Egito. Faraó representa o impedimento à libertação de Israel do Egito. Ele serviu-se das coisas do Egito para impedir Israel de servir ao Senhor. Ele, então, prefigura Satanás, que se serve deste “mundo perverso” (Gl 1:4) contra o povo de Deus. Mas Deus “nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Cl 1:13). Não somos mais deste mundo, fomos libertos dele. “Está consumado!”.

“Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar, tendo sido todos batizados, assim na nuvem como no mar, com respeito a Moisés. Todos eles comeram de um só manjar espiritual e beberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo” (1 Co 10:1-4).

Porém, agora é dito “Escolhe-nos homens” (Ex 17:9). Deus agora tem que lutar em Israel, assim como havia lutado por eles.

É nisto que está a diferença quanto ao símbolo: existe uma grande diferença entre os combates de Cristo por nós e a luta do Espírito Santo em nós.

O combate de Cristo por nós acabou, louvado seja Deus por isso. A vitória foi ganha, e uma paz gloriosa e eterna foi alcançada. “Está consumado!” (Jo 19:30).

Por outro lado, Amaleque nos é apresentado como o protótipo da carne, pois era neto de Esaú, o qual preferiu um prato de lentilhas ao direito de primogenitura (Gn 36:12).

[Esse direito de primogenitura estava ligado à promessa feita a Abraão, de que nele seriam “benditas todas as nações da terra” (Gn 18:18; 22:18).

“Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo” (Gl 3:16).

Como pode Esaú achar que isso não tinha importância? Por ter aberto mão desse direito de primogenitura por um prato de lentilhas, Esaú foi considerado impuro e profano (Hb 12:16). Daí ser a descendência de Esaú (Amaleque) considerada como um símbolo da carne, que milita contra o Espírito.

“Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer” (Gl 5:17)].

Amaleque representa a tentativa de impedir a caminhada do povo de Deus no deserto, pois foi o primeiro que se opôs ao avanço de Israel depois do seu batismo “na nuvem como no mar”.

O combate entre Israel e Amaleque evidencia o conflito entre o crente e sua natureza pecaminosa, o velho homem, a carne (Rm 6:6; 8:7; Gl 5:17).

Saul foi deposto do trono do reino de Israel em consequência de ter falhado em destruir Amaleque (1 Sm 15). Também Hamã é o último dos amalequitas de quem se fala nas Escrituras. Foi enforcado, em consequência do seu pecaminoso atentado contra a semente de Israel (Et 3:1). Nenhum amalequita podia entrar na congregação do Senhor. E, finalmente, neste capítulo 17 de Êxodo, o Senhor declara guerra perpétua contra Amaleque.

A carne existe no crente e estará nele até ao fim da sua carreira. Portanto, essa luta entre a carne e Espírito existirá até o fim, “Porquanto o SENHOR jurou, haverá guerra do SENHOR contra Amaleque de geração em geração” (Ex 17:16).

A nossa consolação é sabermos que somos feitos vencedores mesmo antes de entrarmos no campo de batalha. O crente entra na peleja cantando “Graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 15:57). “Somos mais do que vencedores por Aquele que nos amou” (Rm 8:37).

A estratégia para o combate

“Com isso, ordenou Moisés a Josué: Escolhe-nos homens, e sai, e peleja contra Amaleque; amanhã, estarei eu no cimo do outeiro, e o bordão de Deus estará na minha mão. Fez Josué como Moisés lhe dissera e pelejou contra Amaleque; Moisés, porém, Arão e Hur subiram ao cimo do outeiro. Quando Moisés levantava a mão, Israel prevalecia; quando, porém, ele abaixava a mão, prevalecia Amaleque. Ora, as mãos de Moisés eram pesadas; por isso, tomaram uma pedra e a puseram por baixo dele, e ele nela se assentou; Arão e Hur sustentavam-lhe as mãos, um, de um lado, e o outro, do outro; assim lhe ficaram as mãos firmes até ao pôr-do-sol. E Josué desbaratou a Amaleque e a seu povo a fio de espada” (Ex 17:9-13).

Aqui temos duas coisas distintas, que andam juntas: o combate e a intercessão.

  • • Moisés no monte, com as mãos levantadas pelo povo, tipificando Jesus no céu, intercedendo por nós;
  • • Josué em meio ao povo no campo de batalha contra Amaleque, assim como O Espírito Santo em nós luta contra a carne.

A vitória de Josué se dá enquanto Moisés está com suas mãos levantadas no monte. A vitória do Espírito contra a carne se dá porque o Senhor Jesus intercede por nós nas regiões celestiais.

É edificante notar o contraste entre Moisés no cume do outeiro e Cristo no trono. As mãos do nosso grande Intercessor nunca ficam pesadas, nem precisam de alguém para sustentá-las. A Sua interseção nunca vacila. Ele vive sempre para interceder por nós (Hb 7:25).

A perfeição da Sua advocacia está baseada sobre o Seu perfeito sacrifício – “Temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 Jo 2:1). Ele nos apresenta perante Deus, vestidos das Suas próprias perfeições, de forma que, embora tenhamos que cobrir sempre o nosso rosto com o pó, com o sentimento daquilo que somos, o Espírito só pode testemunhar perante nós daquilo que o Senhor é perante Deus e daquilo que nós somos nEle. Não estamos na carne, mas no Espírito (Rm 8:9).

A carne está em nós, mas nós estamos mortos para ela. Nós não estamos na carne, porque estamos vivos com Cristo.

Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça” (Rm 6:12-14).

O pecado habita no crente, porém ele reina sobre o descrente. Embora habite em nós – O pecado que habita em mim” (Rm 7:17,20) -, temos, graças a Deus, um princípio de poder sobre ele. “Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça”. A mesma graça que, mediante o sangue da cruz, tirou o pecado, garante-nos a vitória e dá-nos poder sobre o seu princípio de ação em nós.

É no poder do fato de que Jesus morreu e ressuscitou, que o crente goza de uma consciência purificada e subjuga o pecado em si. A morte de Cristo, havendo satisfeito todas as exigências de Deus quanto ao nosso pecado, a Sua ressurreição torna-se a origem de poder em todos os pormenores da luta. O Senhor morreu por nós e agora vive em nós. A Sua morte dá-nos paz e a Sua ressurreição dá-nos poder.

Notemos também que Moisés tinha a vara de Deus com ele no monte – a vara com que havia ferido a rocha. Esta vara era a expressão ou símbolo do poder de Deus, o qual é visto igualmente na expiação e na intercessão. Quando a obra de expiação foi cumprida, Cristo tomou o Seu lugar no céu e enviou o Espírito Santo para fazer a Sua morada na Igreja; de forma que existe uma ligação inseparável entre a obra de Cristo e a obra do Espírito. Em cada uma delas é feita a aplicação do poder de Deus.

 

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