A natureza do nosso conflito espiritual

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T. Austin-Sparks (1888-1971)

“Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Efésios 6:11,12).

A obra do Senhor Jesus na Sua Cruz foi estabelecida sobre dois aspectos. Por um lado, vemos um aspecto completo e final, pois o Senhor de fato destruiu aquele que tinha o poder da morte e a própria morte. No que diz respeito ao Senhor Jesus, a obra está completa. Sua presença à destra do Pai declara que a morte, a sepultura e Satanás foram tornados inúteis, e não têm poder algum sobre Ele.

Por outro lado, existe aquilo que chamamos de obra potencial de Sua Cruz, a saber, que Cristo realizou algo de maneira total, mas que ainda deve ser tornado pleno e completo em seus santos. Aquela obra foi realizada a favor dos seus santos, mas ainda precisa ser tornada completa neles por meio da experiência. É algo potencial, no que diz respeito à Igreja, apesar de nEle, no Cabeça, tudo já estar plenamente cumprido.

Como um resultado da obra da Cruz do Senhor Jesus e da grandiosa questão envolvida em Sua ressurreição, a vida eterna pode ser recebida por aqueles que creem. Mas apesar dessa vida ser vitoriosa, incorruptível e indestrutível, o crente precisa, pela fé, experimentar essa verdade, viver por meio dessa vida, conhecer suas leis experimentalmente, conformando-se a ela.

Existe esse depósito no crente que, em essência, não demanda por nenhuma adição, no que tange sua qualidade. No que diz respeito à vitória, poder, glória e potencialidades, NADA pode ser acrescentado. Mas, no decorrer da experiência e no desenrolar da vida espiritual, haverá uma DESCOBERTA e APROPRIAÇÃO progressivas dessas realidades. Precisaremos viver por meio de tudo o que essa vida representa e significa.

Isso equivale a dizer que a trajetória da vida espiritual é uma descoberta dos valores dessa vida que está em nosso interior, que é sustentada pelo alto.

Muitas vezes tendemos a imaginar que a vida do Senhor (que foi implantada em nós pelo novo nascimento) precisa ser melhorada, ou que algo deva ser acrescentado a ela. De fato, o que devemos realmente descobrir é o que já temos em Cristo por meio da experiência e viver de acordo.

Essa nova vida não é independente do Senhor Jesus, e nunca poderemos imaginar que Sua vida precise de alguma melhoria, tudo é uma questão de unidade com Ele [é a vida do Senhor]. Como disse o Apóstolo, Cristo é a nossa vida, e nossa real necessidade é descobrir que Cristo vive em nós, e vier de acordo com essa realidade.

Em certo sentido é mais dessa vida tomando posse de nós, do que nós tomando posse dessa vida.

E esse processo de descoberta, dentro da ordenação Divina, deve ocorrer enquanto vivemos em um mundo governado pela morte, porque nesse mundo em que vivemos a aniquilação final da morte ainda não aconteceu. A morte, assim como o Diabo, ainda existe, apesar do Calvário permanecer em completa vitória.

Fomos deixados pelo Senho nesse mundo, e é exatamente aqui, nesse ambiente onde a morte impera, que pela soberana ordenação Divina nós deveremos experimentar os valores dessa nova vida depositada em nosso interior, descobrindo Suas potencialidades.

Tudo se trata de uma descoberta experimental, resumida em um combate entre aquilo que está nesse mundo e a vida que foi depositada no crente. É a batalha pela vida! Mas o combate não se relaciona à preservação da vida, como se a morte pudesse tirar a vida eterna de nós. Trata-se do combate pela expressão triunfante e pela plena manifestação do poder dessa vida.

Podemos ter a vida eterna, mas essa vida pode ser pressionada a tal ponto que não será expressa, permanecendo sem manifestação e sem o menor registro de triunfo a partir de nós. A vida pode estar dentro de nós limitada, sufocada.

O que é verdade em relação ao crente individual, também é uma verdade em relação ao corpo coletivo do Senhor, a Igreja.

A expressão da vida, Sua manifestação, está atrelado a questões tão cruciais quanto a ressurreição e o senhorio de Jesus Cristo.

O testemunho do fato de que Jesus Cristo ressuscitou dentre os mortos e está à destra da Majestade nos céus em absoluto Senhorio, está diretamente relacionada à uma manifestação dessa vida ressurreta. Essa não é uma questão de pouco valor.

O último Adão tornou-se “espírito vivificante” – vivificante, ou seja, uma vida que se manifesta, é transmitida, que se expressa – e se isso não for manifestado no crente e na Igreja como um todo, algo será privado do testemunho do Senhor Jesus.

Como será provado, demonstrado e evidenciado, de forma final, que Jesus está vivo dentre os mortos, e que Ele é o Senhor? Isso não acontecerá por meio de uma afirmação doutrinária, mas pela triunfante manifestação da Sua vida nos Seus. Cristo nunca será atestado por meio de doutrinas. Se você tentar testemunhar usando argumentos, outro argumento pode ser constituído a partir do seu, derrubando-o, porque o que a lógica constrói, a lógica destrói.

Mas como iremos provar aquilo que cremos? Por meio da expressão e manifestação da vida ressurreta do Senhor Jesus, e isso é tudo. Mas não se engane, esse é um “tudo” muito poderoso. Isso significa que seremos a encarnação daquilo que declaramos, o que vai muito além de uma afirmação doutrinária. Como, então, provaremos que Jesus conquistou a morte? A prova será dada por meio de uma vida que vence a morte manifestada em mim.

Não estamos tentando colocar a vida no lugar de Cristo, mas dizendo que o testemunho de Cristo ocorre por meio da Sua vida. Quando digo isso, me refiro ao poder, à força de impacto espiritual que emana dEle no trono, isso provoca um registro no reino espiritual de grande poder. Esse é o testemunho do Senhor Jesus! Por outro lado, a principal arma do inimigo sempre será a morte, que também é um poder espiritual.

Por isso, essa é uma batalha entre dois poderes espirituais, o poder da vida e o poder da morte. Essa batalha continuará até que a Igreja se torne tão vivificada pelo poder Divino que, em um piscar de olhos, aqueles que estiverem nos túmulos e aqueles que estiverem vivos ascenderão, sendo tomados pelo Senhor nos ares, em glória. A batalha entre esses dois poderes espirituais continuará até esse momento chegar.

É nesse combate que nos encontramos, e ele vem se intensificando. Por isso, é importante para nós reconhecer do que ele se trata, de uma vez por todas.

Quando as coisas se tornam agudas e difíceis para nós, nos surpreendemos e ficamos admirados, e talvez achemos até estranho que seja assim. Mas devemos reconhecer e aceitar que essa batalha espiritual entre a vida e a morte se intensificará cada vez mais, na medida que nos aproximarmos do fim, e esse combate alcançará o seu ponto de tensão máximo quando a Igreja estiver prestes a ser transladada. Isso está muito claro na Palavra de Deus.

A Esfera do Conflito

Primeiramente, precisamos nos lembrar de que a vida do Senhor Ressurreto, contida no Espírito Santo, reside na parte mais profunda do nosso ser, em nosso espírito, que é o que o Novo Testamento denomina “homem interior”. Portanto, as pessoas mais espirituais logo descobrirão que a batalha pela vida se desenrolará na esfera do seu espírito.

Esse assalto pode ser desferido de forma direta no espírito, na tentativa de torná-lo fraco ou pressionado, como se algo nas profundezas do nosso ser estivesse sendo sufocado. Podemos ter dificuldade de compreender o que está acontecendo, mas teremos consciência de que existe uma trava, uma pressão, um cerco, algo sufocando o nosso espírito, em nosso interior. Teremos duas opções: (i) nosso espírito será pressionado pelo peso da morte espiritual ao ponto de ser oprimido; (ii) buscaremos o Senhor insistentemente, para sermos fortalecidos com poder pelo Seu Espírito, em nosso homem interior. Para tanto, será necessário exercitar a fé no terreno da oração, e devemos permanecer firmes em nosso espírito contra essa pressão.

O problema que acomete a muitos dentre o povo do Senhor é que eles não se posicionam fortemente no espírito, se levantando no Nome do Senhor para encarar e resistir aquilo que ameaça destruir a sua vida interior. Existe uma aceitação dessas coisas, um consentimento, uma passividade.

Por vezes, acabamos por adentrar um terrível círculo de questionamentos, dúvidas, argumentações e discussões com o Diabo, em uma interminável esfera de introspecção e análise. Nessas circunstâncias, os crentes deveriam se levantar em fé, em seus espíritos, no nome do Senhor, para resistir e recusar essa pressão, clamando pelo Nome do Senhor Jesus, por meio das energias do Espírito Santo. Nunca sairemos dessa situação enquanto não aprendermos a fazer isso.

Se o inimigo descobrir que pode nos aprisionar nessa condição por meio desses debates, argumentos, discussões, análises, questionamentos e dúvidas intermináveis, ele nos manterá nessa roda infinita, como um cavalo de circo girando, que nunca dá um passo além do ponto inicial. Continuaremos sempre retornando àquele ponto, sem fazer nem um centímetro de progresso espiritual em direção à vitória, e poderemos continuar assim por até cinquenta anos.

Um outro método favorito do inimigo é nos levar a tentar explicar as coisas por meio de linhas diferentes das relacionadas à sua verdadeira causa, no levando a considerar outros motivos para a nossa condição [que não seja a causa real]. Se aceitarmos isso, essa será a nossa ruína. Enquanto que, de fato, existem muitas condições naturais que o inimigo tira proveito, e ele certamente está usando cada de nossas fraquezas humanas da melhor maneira que pode (incluindo nossa condição e constituição física, nosso ambiente), a questão central não está em descobrir a origem do problema, mas ser forte no espírito. Se começarmos a analisar as coisas de fora para dentro, estaremos tomando o caminho contrário, e não chegaremos a lugar nenhum. Ficaremos nesse círculo até morrer. O inimigo não nos deixará chegar ao âmago da questão, se partirmos de fora para dentro.

A chave de nossa vitória está na nossa união em espírito com o Senhor ressurreto.

Existem outras esferas dessa batalha, e uma delas é a mente. Pode ocorrer um obscurecimento, entorpecimento, algo como uma paralisia, quando começamos a considerar as coisas do Senhor. Em outros momentos, podemos estar com a mente clara e livre, e teremos poucos problemas no trato das coisas corriqueiras do dia a dia, mas quando nos voltamos para as coisas espirituais, imediatamente descobriremos nossa mente obscurecida, não funcionando corretamente, com a morte rastejando sobre ela.

O inimigo assalta nossas mentes, e isso é indubitável. Ele ataca nossa alma, não apenas na esfera intelectual, mas em todos os seus aspectos. O inimigo assalta nossa emoção, congelando nossos sentimentos, e podemos nos sentir incapazes de reagir, exercitar qualquer tipo de sensação em relação ao Senhor. Isso também acontece na esfera da vontade. Existem momentos que parece que simplesmente não conseguimos tomar uma decisão, e não conseguimos escolher o caminho do Senhor. A nossa vontade é assaltada dessa maneira.   

A força da desse espírito de morte nos acomete em cada uma dessas esferas, e certamente essa experiência é comum a todos nós. É um verdadeiro combate. Da mesma forma que acontece com o nosso espírito, também ocorre com a nossa alma e o nosso corpo.

Não temos dúvida de que o inimigo assalta os corpos do povo de Deus. Não digo que toda a doença, fraqueza física e cansaço sejam uma obra direta do diabo. É claro que, historicamente, tudo é uma consequência de sua obra, mas não precisa ser uma obra direta dele. Esse é um assunto difícil de abordar… mas existem, sim, ataques diretos do inimigo por meio do espírito da morte no corpo de pessoas dentre o povo de Deus. O inimigo se estabelece onde há fraqueza, com o foco de nos deixar impotentes. Mas, apesar daquela fraqueza básica permanecer, certamente o seu foco não é nos incapacitar.

O desafio então é se o inimigo vai, de fato, conseguir nos destruir, ou se, apesar disso, iremos provar o poder da vida que triunfa sobre tudo isso, e que nos leva mais longe, a despeito desses impedimentos.

O Espinho na Carne de Paulo

O Apóstolo Paulo sempre nos ajuda nessas questões difíceis. Paulo registrou em sua segunda Epístola aos Coríntios que, devido à grandeza das revelações que recebeu do Senhor, para que não se exaltasse além da medida, foi lhe dado um espinho na carne, um mensageiro de Satanás para esbofeteá-lo. Ele pediu ao Senhor que o afastasse dele por três vezes, mas o Senhor lhe disse: “A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Co 12:9).

Tenho fortes razões para acreditar que essa fraqueza era física, e que a sua causa fosse a malária. As jornadas de Paulo eram muitas vezes realizadas em locais infestados com esse tipo de elementos, e naquela época, eles não tinham os medicamentos que temos nos nossos dias para enfrentar essa enfermidade.

Quando nos lembramos da sua questão com os olhos [Gl 4:13,15], podemos nos lembrar que a malária aflige os olhos com o passar do tempo, interferindo na visão. Não estou dizendo que seu espinho na carne era de fato essa enfermidade, mas é uma possibilidade.

No entanto, o que quer que fosse esse espinho ao qual Paulo se referia, era algo que o levava ao desespero, e ele parecia não saber o que fazer quando aquilo o acometeria. Era algo enviado da parte do inimigo, uma obra de morte. Paulo fala de uma morte operando em seu corpo mortal [2Co 4:12]. Em todas as direções morte, morte, morte! Ele encarou a morte o tempo todo. Mas o ponto crucial é: enquanto que o diabo claramente investia contra Paulo, e o Senhor de fato o permitiu, também sabemos que as coisas não acabaram em morte. O curso da vida desse homem foi exatamente no sentido oposto, refletido numa trajetória de contínuo triunfo sobre a morte e sobre Satanás.

É um fato que a morte nos assalta, e o Senhor nem sempre impede o Diabo de nos atacar. Mas isso não indica que o Senhor deseje nossa morte! Podemos acreditar que, se o Senhor enviou um mensageiro de Satanás, e se o seu efeito sobre nós é a morte, então talvez o Senhor deseje de fato nos matar.

Isso não tem sentido, é justamente o contrário! O Senhor tinha um propósito bem salutar em tudo que se relacionava ao Apóstolo, e a operação da morte foi usada para manter aquele homem espiritualmente vivo. Se Paulo não tivesse aquele espinho em sua carne, sua vida espiritual poderia ter mirrado e sucumbido.

Ouça suas palavras: “a fim de que não me exalte” (2Co 12:7). Veja um homem exaltado além da medida, e se deparará com pobreza espiritual [Ap 3:17].

Encontre um homem mantido em humildade, e ainda assim triunfante, mesmo que isso não seja passível de explicação pelos meios naturais, e encontrará um gigante espiritual.

Sim, o inimigo ataca o nosso corpo. Ele aproveita nossa constituição e ainda intensifica nossas fraquezas, tentando mutilar os santos. Mas, se considerarmos a vida do Apóstolo Paulo, veremos uma grandiosa declaração de que, mesmo em meio à uma grande limitação, uma fraqueza física, ou algo trazido pelo próprio diabo (com a permissão de Deus) – havia uma vida dentro dele que pôde conduzi-lo até o cumprimento do grande propósito Divino, e essa vida não precisou ser limitada às suas condições naturais. Se agarre a isso. Não desmorone diante de sua condição, pensando que o propósito Divino é elevado demais e impossível para você! Isso é desespero, não fé! Veja a declaração do apóstolo: “e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2:20). Essa é a vida pela fé no Filho de Deus. No caso do apóstolo isso resultou em uma vida triunfante sobre a morte, enquanto ele vivia.

Mas, ainda assim, era um verdadeiro combate. Leia a segunda Epístola aos Coríntios e perceberá os traços dessa batalha. Paulo tinha recentemente emergido de uma situação tão difícil, que chegou até o ponto de se desesperar da própria vida. Ele passou tanto tempo naquela situação, que sequer esperava por uma restauração. Mas, Paulo emergiu. Ele possuía as marcas do combate com a morte, e seguiu sua carreira por muito tempo depois dessa carta.

Muitas das expressões mais gloriosas do Apóstolo Paulo foram ditas depois desse evento. Vamos acreditar nas possibilidades da vida do Senhor dentro de nós, recusando aceitar os argumentos a respeito de nosso próprio estado, as sugestões do inimigo relacionadas aos nossos sentimentos ou a aparência exterior das coisas.

A Vida é Mais Profunda que nossa Consciência

Precisamos acreditar nesse fato: essa vida Divina, com todas as Suas tremendas potencialidades, é ainda mais profunda que as circunstâncias ao nosso redor, nossa própria condição física e vida da alma. Se não nos agarrarmos a isso com toda a firmeza possível, não estaremos no terreno da vitória.

Quando sentirmos a operação da morte com toda a sua força atuando sobre nossos corpos, nossas almas e tudo que envolve nossos sentimentos, corremos o risco de entregar toda a nossa posição ao inimigo. Acredito que aquilo que é de Deus, é ainda mais profundo do que nosso corpo mortal.

Acredito ser possível a um filho de Deus ser nascido de novo, possuir a vida eterna e ainda assim perder a razão, precisar de ajuda profissional, e isso tudo sem a menor mudança no fato profundo da realidade da sua relação com o Senhor. Digo isso para reforçar o que quero dizer, que se nossa vida for representada pela nossa vida racional, temos uma perspectiva muito triste diante de nós.

Se nossa sanidade ou equilíbrio mental for a base para sermos considerados filhos de Deus, então alguns de nós, de tempos em tempos, teriam razões verdadeiras para duvidar desse fato de serem novas criaturas. Se isso for verdade no sentido mental, então também é verdadeiro na esfera física. Essa vida do Senhor é muito mais profunda que a vida mortal!

Posso dizer algo que pode soar muito assustador e terrível. Pode deixar alguns perplexos, mas vou arriscar. Acredito que é possível que filhos de Deus, vivendo em plena comunhão com o Senhor, na luz com o Senhor dentro do seu entendimento, possam passar por uma experiência de sentir que o inimigo está dentro delas.

Digo que elas perdem o sentido de contato com o Senhor, e do Senhor em contato com elas, e existe uma luta e combate com as forças do mal que parece estar sendo travado em seu interior. Elas se sentem tão agitadas interiormente, tão movidas, que chegam a acreditar que milhares de demônios estão no seu interior.

Será que isso parece algo terrível de se dizer a respeito de um filho de Deus? Não estou dizendo absolutamente que essas pessoas estejam de fato possuídas pelo demônio, mas digo que é possível passar por experiências, de tempos em tempos, que podem parecer com isso, mesmo quando o mal de fato está residindo do lado de fora, e não dentro.

Em todos esses momentos, toda a graciosa tolerância do Senhor parece te abandonar, a quietude, aquele sustento calmo parece ter te deixado, todo o espírito da vida parece desvanecer, e você se encontra no cerne de um terrível conflito, que se parece com o próprio inferno. Parece que aquilo está se passando dentro de você!

Me perdoe se discordar de mim, mas acredito que essa é uma experiência passível de ocorrer a um genuíno filho de Deus.

Acredito, de todo o meu coração, que a explicação para isso é que Deus tem um propósito especial para essa vida, e o Diabo se levanta com todas as forças do inferno em um antagonismo maligno para esmagá-la.

Precisamos nos lembrar que estamos tratando de forças espirituais, e que para elas não existem barreiras físicas. Temos uma alma, e um sistema nervoso.

Você acha que Elias não era mais um profeta do Altíssimo, quando se lançou debaixo de um zimbro e pediu ao Senhor para tirar sua vida? Ele ainda era um servo do Senhor, tão verdadeiro para com Ele quando sempre foi. Não estamos tentando escusá-lo de suas fraquezas, mas chegar ao âmago da questão.

É possível que verdadeiros santos passem, por razões especiais, por uma esfera que lhes pareça um verdadeiro inferno, e isso em seu interior, não apenas ao seu redor, porque o combate está sendo travado no seu sistema nervoso, na sua alma.

Nesse momento, eles podem até acreditar que em vez do Senhor, quem dentro deles é o inimigo. Mas isso não indica que o Senhor os esqueceu, que Ele não está mais ali, muito menos que esses servos não são mais filhos ou servos do Senhor. Isso indica que o inimigo marcou essas pessoas, isso devido a algo específico, e ele está tentando destruir exatamente isso em suas vidas.

Se você passar por isso, não aceite as sugestões do inimigo, nem tente interpretar as coisas à luz das circunstâncias.

Caso não compreenda o que estou dizendo, não se esforce para encontrar uma explicação, nem tente construir argumentos sobre isso. Alguns sabem o que é ter esse tipo de assalto sobre si, sobre seu sistema nervoso e seu corpo, fazendo-os sentir que estão de fato perdidos.

Não acredito que estejam perdidos, mas essas pessoas podem afundar na escuridão, se aceitarem as sugestões do Tentador.

Meu desejo é que essas pessoas que se sentem dessa maneira possam compreender o que estou tentando dizer: que devem, no espírito, pela fé, se erguer e recusar o argumento das aparências.

As aparências podem ser terrivelmente reais. Pessoas podem até nos dizer: ‘só parece ser verdade, não é verdade!’ Mas respondemos: ‘Você não sabe do que está falando, isso é mais real do que qualquer coisa que já experimentei!’

O Senhor nos ensinará, à medida que perseverarmos em nossa caminhada, a não aceitar essas coisas como veredicto final. Existe algo ainda mais profundo do que isso. O Senhor é mais profundo que nossos sentimentos, que nossa alma. Se permanecermos firmes, prevaleceremos. Isso passará, e haverá outra manifestação de Sua vida, e iremos aprender por meio dessa batalha pela vida que a vitória está lá, disponível para nós em Cristo, por meio de Sua Cruz.

Extraído do Capítulo 5 do livro “The Battle for Life”, de T. Austin-Sparks, publicado no site www.austin-sparks.net.


T. Austin Sparks (1888-1971) nasceu em Londres e estudou na Inglaterra e na Escócia. Aos 25 anos, iniciou seu ministério pastoral, que perdurou por alguns anos, até que, depois de uma crise espiritual, o Senhor o direcionou a abandonar aquela forma de ministério, passando a segui-Lo integralmente naquilo que parecia ser “o melhor que Deus tinha para ele”. Sparks foi um homem peculiar, que priorizava os interesses do Senhor em vez do sucesso do seu próprio ministério. Sua preocupação não era atrair grandes multidões, mas ansiava desesperadamente por Cristo como a realidade de sua pregação. Por isso, suas mensagens eram frutos de sua visão e intensas experiências pessoais. Ele falava daquilo que vivenciava, e sofria dores de parto para que aquela visão se concretizasse primeiramente em sua própria vida. Pelo menos quatro linhas gerais podem ser percebidas em suas mensagens: (a) o grandioso Cristo celestial; (b) O propósito de Deus focado em ganhar uma expressão corporativa para Seu Filho; (c) a Igreja celestial – a base da operação de Deus na terra e (d) a Cruz – o único meio usado pelo Espírito para tornar as riquezas de Cristo parte da nossa experiência. Sparks também acreditava que os princípios espirituais precisavam ser estabelecidos por meio da experiência e do conflito, quando finalmente seriam interiorizados no crente, tornando-se parte de sua vida. Sparks desejava que aquilo que recebeu gratuitamente fosse também assim repartido, e não vendido com fins lucrativos, contanto que suas mensagens fossem reproduzidas palavra por palavra. Seu anseio era que aquilo que o Senhor havia lhe concedido pudesse servir de alimento e edificação para os seus irmãos. Suas mensagens são publicadas ainda hoje no site www.austin-sparks.net e seus livros são distribuídos gratuitamente pela Emmanuel Church.

“Nenhum homem é infalível e ninguém ainda ”obteve a perfeição”. Muitos homens piedosos precisaram se ajustar, seguindo um senso de necessidade, após Deus lhes haver concedido mais luz.” (De uma Carta do Editor publicada pela primeira vez na revista “A Witness and A Testimony“, julho-agosto de 1946).

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2 Comentários. Deixe novo

  • Claudio Henrique
    17 de maio de 2020 16:35

    Como será provado, demonstrado e evidenciado, de forma final, que Jesus está vivo dentre os mortos, e que Ele é o Senhor?
    Isso acontecerá por meio da triunfante manifestação de Sua vida nos Seus, não acontecerá por meio de uma afirmação doutrinária.

    Responder
  • Claudio Henrique
    17 de maio de 2020 16:36

    Amém!!!!

    Responder

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