O Ministério Divino do Adiamento

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“O ministério Divino do Adiamento” é uma tradução do texto homônimo de John S. Holden, publicado na revista “A Witness and a Testimony” de Set-Out de 1969.

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John S. Holden

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“A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto, esperarei nele. Bom é o Senhor para os que esperam por ele, para a alma que o busca. Bom é aguardar a salvação do Senhor, e isso, em silêncio” (Lamentações 3:24).

Um dos grandes perigos da vida é não ver a grande ordenação de Deus nos pequenos detalhes arranjados pela Sua providência. Corremos o risco de perder todo valor contido em nossas experiências por considerarmos as circunstâncias de maneira isolada. Se tomarmos nossas tristezas, perdas, contratempos e depressões momentâneas apenas como meras experiências isoladas da providência Divina, sem relacioná-las ao grande e central controle do amor de Deus, podemos perder todo o seu valor. Com o objetivo de sermos salvos desse perigo, estamos meditando sobre um aspecto dos tratos de Deus conosco que pode parecer inacreditável, mas nunca será cruel.

Vamos tomar a palavra base da nossa meditação considerando o ministério Divino do adiamento, que é usado com frequência por Deus para provar o Seu povo. No livro de Lamentações de Jeremias, no capítulo 3, a partir do verso 24, o profeta disse: “A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto, esperarei nele. Bom é o Senhor para os que esperam por ele, para a alma que o busca. Bom é aguardar a salvação do Senhor, e isso, em silêncio”. Vamos meditar especialmente em suas últimas palavras: “Bom é aguardar a salvação do Senhor, e isso, em silêncio”.

O Silêncio Intrigante do Senhor

Vamos admitir, com franqueza, que uma das grandes dificuldades da nossa vida se relaciona ao fato de que Deus, algumas vezes, parece atrasar Suas respostas às nossas orações. Um dos problemas mais intrigantes na vida Cristã acontece quando Deus aparentemente não nos responde nem atenta para nosso clamor. Por Sua graça, nossa fé nEle não é completamente perturbada, e esse conflito é conduzido corajosamente no secreto. Fora dos domínios do nosso coração, talvez ninguém suspeite que esse combate esteja sendo travado, mas nós sabemos que ele existe, e algumas vezes, quando nos achegamos à presença de Deus, a única palavra que surge em nosso coração se assemelha às últimas palavras proferidas pelo Senhor: “Deus meu, por que…?”.

Vale lembrar, no entanto, que essa ainda não é a primeira pergunta formulada na vida Cristã. A primeira pergunta da fé normalmente é “Como?” Em um estágio de nossa experiência Cristã constantemente perguntamos “como?”: “Como pode um homem nascer, sendo velho?” [Jo 3:4], “Como pode ser?”, “Como pode este dar-nos a comer a sua própria carne?” [Jo 6:52], “Como ressuscitam os mortos? E em que corpo vêm?” [1Co 15:35]. Essas são algumas das perguntas iniciais da nossa vida Cristã.

Porém, à medida que seguimos em frente com Deus e nossa vida se aprofunda, nossas necessidades se tornam mais pesadas, nossas dores se tornam mais agudas e nossas percepções mais alertas. Então, a pergunta que surge no coração de muitos perturbados e aflitos é: “Meu Deus, por que?”.

Acredito que a busca de muitos de nós nesse momento não é por conforto, nem compaixão, nem mesmo o alívio da nossa carga, mas buscamos uma explicação, uma interpretação do Próprio Deus sobre o que Ele está fazendo em nossas vidas. Alguns de nós estão tão angustiados ao ponto de quase desertar de nossa submissão, e isso porque Ele parecer se demorar, às vezes até mesmo negando-nos as coisas que Lhe pedimos.

Ainda assim, vou lembrar que não existe nada que a Palavra de Deus mais encoraje mais o homem a fazer do que orar. Temos promessas atreladas à oração que não estão condicionadas à nada mais. Existem riquezas prometidas ao homem como resultado de oração e espera no Senhor que não poderão ser obtidas de nenhuma outra maneira. Então, simplesmente pelo fato das promessas relacionadas à oração serem tão grandiosas, elevadas e extensas, é que esses atrasos do Senhor nos deixam tão perplexos, nos levando a clamar: “Por que, Deus?”

Fé e Confiança Absolutas

Existem momentos na nossa vida que nada além de uma absoluta fé na bondade de Deus pode nos salvar do desespero, e apenas uma pura e simples confiança no Seu amor pode nos livrar da desesperança, ainda que não tenhamos evidências objetivas desse amor. Uma fé ousada em Sua onipotente sabedoria nos livrará de afundarmos na apatia moral e na letargia espiritual. Assim, irei me empenhar na tentativa de cooperar com a regeneração da pura crença, da simples confiança e da fé ousada em Deus. Essa fé crê ainda que Sua face esteja velada, e mesmo quando não sente o toque de Sua mão. Bem cantou Faber:

“Triplamente bendito é aquele que recebe
O instinto sensível
Que vê Deus no campo,
Quando Ele está invisível.”

Esse é o instinto que Deus pode conceder a cada um de nós nesses dias.

As palavras citadas no início da nossa meditação foram ditas pelo profeta Jeremias, em um tempo em que o desejo da nação nunca esteve tão evidente. O povo tinha começado a ver o cumprimento das promessas de Deus e da operação de Sua providência. Seus inimigos estavam sendo afastados da terra, o início do cultivo estava sendo retomado, e os altares destruídos de Deus estavam sendo re-edificados. Mas tudo aquilo estava sendo feito tão lentamente, que eles não podiam reconciliar a morosidade de Deus com as garantias implícitas sobre as quais haviam apoiado a fé no Senhor. Eles estavam impacientes e inquietos pela Sua aparente inatividade. A fé vislumbrava pelos inícios de Deus com ansiedade, assim como os discípulos no futuro imaginaram “que o reino de Deus havia de manifestar-se imediatamente” [Lc 19:11].

Muito pode ser dito a respeito da fé de uma pequena criança que não consegue compreender a causa dos adiamentos. Mas o que não teremos dificuldade de compreender é que existe a fé de um homem maduro, que aprende que Deus tem uma escala para medir o tempo totalmente diferente da nossa. Este homem está perfeitamente tranquilo em descansar no fato de que mil anos para Deus são como um dia, e que um dia para Ele são como mil anos. Essa era a fé de Jeremias. Ele olhava para as profundezas do Deus Infinito e via que Ele não se apressava, e que Seus caminhos eram mais justos justamente por não serem os caminhos mais óbvios. Assim, Jeremias aguardou calmamente e buscou renovar a coragem, paciência e esperança do povo, apenas por essas coisas serem a expressão da sua própria alma. Ele disse: “É bom para o homem ser encontrado aguardando, e ele deve esperar em silêncio pela salvação que vem de Deus”.

Poderemos perceber que essas palavras também se aplicam aos nossos dias. Acredito que sejam apropriadas para cada um de nós, quando nos encontramos perplexos por esperarmos por alguma libertação do pecado em nossa própria vida e ela não acontece conforme esperamos. Ou quando a petição é oferecida em busca de alguma coisa que acreditamos ser uma grande necessidade, mas que não nos é concedida. Talvez aquele ente querido por quem temos orado não se converte imediatamente, apesar de continuarmos orando a seu favor. Aquele reavivamento que temos conscientemente buscado com todas as nossas forças não parece se aproximar. Desejamos saber o porquê desse adiamento, e qual é o benefício espiritual de termos que aguardar em silêncio e esperar por tanto tempo.

Oração, o Maior dos Mistérios

Tenho certeza de que mesmo que a última palavra relacionada à experiência humana com a oração seja proferida, ainda assim estaremos diante do maior dos mistérios. O homem que acredita saber muito a respeito de oração e que pensa que pode estruturar uma filosofia a esse respeito, de fato está confessando que sabe muito pouco sobre o assunto. Quem sabe como a oração libera as forças espirituais? Ou por que Deus ordenou que os homens unissem suas vontades à dEle, permanecendo esperando aos Seus pés, para então empregar o poder salvador da Sua graça na vida de outros? No que tange à esse tão grandioso assunto não há nada a ser dito além das palavras do apóstolo a respeito do conhecimento de Deus: “em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos” [1Co 13:9]. Mas, graças a Deus, sabemos! E o que de fato sabemos é fruto de uma certeza que ninguém pode abalar. Mas sempre devemos nos lembrar que esse conhecimento é parcial. Dessa forma, vou me aventurar a oferecer algumas respostas que foram alento, luz e encorajamento para meu próprio coração: que é bom para o homem aguardar e esperar na salvação que vem do Senhor.

Uma Importante Distinção

É quase desnecessário dizer que não existe a menor intenção de sugerir que o homem precise orar insistentemente para que Deus lhe conceda os dons primários do perdão, paz e redençãoa salvação que é um dom gratuito de Deus em Jesus Cristo. Quando o pecador clama por perdão, o cansado e sobrecarregado busca por descanso no coração, ou o solitário procura por comunhão de amor, ele nunca será deixado esperando por uma resposta.

O filho pródigo foi bem-vindo antes mesmo de pronunciar a confissão que havia preparado. O homem que está afundando clama: “Senhor, salva-me”, e logo percebe o toque da Sua Mão de poder. O Evangelho de Cristo sustenta a inscrição: “eis, agora, o dia da salvação” [2Co 6:2]. Com esse respeito, de fato, nunca é Deus que deixa o homem esperando, mas exatamente o contrário, os homens deixam o Senhor aguardando.

Mas desejamos buscar compreender a causa da demora do Senhor no que diz respeito a Sua misericórdia em relação à tensão da nossa disciplina no presente, da ansiedade de um futuro incerto, do alívio de um desconforto imediato, ou do cansaço por cargas não removidas – momentos quando é muito natural que fiquemos impacientes.

Por exemplo, vemos um bom homem que lê: “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” [Rm 8:28], mas não vê nada em sua vida além de caos. Suas questões pessoais estão completamente arruinadas. Sua casa foi invadida por tristeza e desapontamento, até que seus nervos estarem no limite, e ninguém sabe ao certo quando será trazida à luz uma nova calamidade. Aquele homem se apoiou na Palavra Divina com implícita confiança em suas verdades, mas o atraso no seu cumprimento está quase a confundir sua fé. É compreensível que ele esteja se perguntando: “o que isso tudo representa?”.

Vemos um jovem que foi iluminado com a palavra: “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou” [Rm 8:37]. Ainda assim, ele tem sido derrotado desde que chegou à Keswick, e nessa manhã sua face está voltada para o chão, não para o Senhor. Ele se pergunta: “O que isso quer dizer? Me desfiz de todo o peso que estava sobre mim, cri na promessa do Senhor, e Ele demora em manifestar Seu poder. Não compreendo.”

Temos o obreiro muito ocupado que veio de uma terra distante do campo missionário, derramando ali sua vida por dez anos, buscando viver como um cidadão do Reino de Deus, confiando na palavra: “assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei” [Is 55:11]. Hoje ele confessa que viu poucas coisas serem realizadas. O que podemos entender disso tudo?

Temos uma grandiosa promessa para cada membro da Igreja de Cristo que agora, mais do que nunca, está edificando Seu templo de esperança: “Eis que venho sem demora” [Ap 22:7]. Nos parece que Cristo nunca foi tão necessário como nos nossos dias. Nos parece que as relações internacionais jamais serão restauradas, as unidades espalhadas da Igreja de Cristo nunca serão reunidas, a não ser por Sua vinda. E a Igreja clama: “Amém! Vem, Senhor Jesus!”. Mas não temos o menor sinal disso estar acontecendo. O que essa demora de Deus nos diz?

Uma Espera Forçada com vistas à Conhecê-Lo

Irei sugerir três coisas, e enfatizo que são meras sugestões, mas podem trazer alguma luz para vocês, assim como fizeram comigo. A primeira coisa que desejo mencionar como uma das causas para a demora de Deus é que somente por meio de uma espera forçada nEle é que iremos conhecê-Lo com um conhecimento que fundamenta o nosso caráter. Uso o termo ESPERA FORÇADA porque é somente quando somos forçados a esperar no Senhor é que alguns de nós de fato esperamos. Somos naturalmente impacientes, impulsivos, nos irritamos facilmente com a espera, e Deus, ao segurar Sua resposta naquilo que pedimos, nos mantém aos Seus pés para que possamos conhecê-Lo. Ele está muito mais preocupado em edificar nossas vidas do que em gratificar nossas almas e alguns dos desejos, que são manifestados por nós em uma oração precipitada.

De fato não conheceremos a Deus e a nós mesmos em apenas uma hora. Os atrasos de Deus não indicam algum capricho da Sua parte, mas a Sua preocupação e cuidado conosco. Essa demora é dirigida para evitar que saiamos precipitadamente da Sua presença, antes que as lições de Sua graça tenham sido aprendidas mais profundamente, não apenas mentalmente. Deus está nos preparando, ao nos manter esperando aos Seus pés, para sermos capazes de interpretar e usar os dons que Ele ainda irá nos conceder na resposta da oração, e isso para o cumprimento da Sua palavra.

Constantemente vejo turistas em Londres correndo de um lado para o outro, dos parques ao Palácio, vendo as atrações turísticas. Depois de uma caminhada febril eles retornam para suas casas plenamente convictos que conheceram Londres. Mas será que de fato a conhecem? Um dos alunos de Ruskin uma vez lhe disse, ao retornar de uma primeira visita à Itália: “Senhor, imediatamente quando entrei na Galeria de Florença, compreendi aquilo que você sempre nos disse sobre a supremacia de Botticelli”. Ruskin lhe respondeu de forma incisiva: “Você descobriu em um momento? Bem, levei vinte e dois anos para descobrir isso!”.

Existem muitas pessoas que pensam que conhecem a Deus por meio de uma única experiência! Eles são levados a esperar nEle até que possam se tornar realmente aqueles que conhecem o seu Deus, quando de de fato receberão poder para se tornarem fortes e realizar proezas [Dn 11:32].

Deus está nos edificando, não vamos ficar impacientes nesse processo, para não sermos arrebatados das mãos do Mestre Artífice. Ele está eliminando as falhas e refazendo os vasos estragados [Jr 18:4]. Duas qualidades extremamente necessárias a cada um de nós são perseverança e luz – e elas não são concedidas ao homem em apenas uma hora. Por essa razão Deus nos mantém esperando em Sua presença, contemplando Sua glória, para que possamos ser transformados segundo a Sua imagem [2Co 3:18].

Orações Refinadas em Sua Sabedoria

O segundo ponto é que muitas das nossas orações devem passar pelo meio refinador da sabedoria de Deus, qual seja, o amor de Deus. Muitas delas precisam ser editadas por Ele antes mesmo de serem respondidas. Isso porque uma oração bem-intencionada não é a mesma coisa que uma oração bem-informada.

O Senhor por vezes nos responde como o Salvador fez à demanda dos Seus discípulos: “Não sabeis o que pedis” [Mt 20:22]. Se algumas das nossas orações fossem respondidas de imediato a consequência seria um desastre moral e espiritual. Nossas orações precisam passar pelo meio refinador da sabedoria de Deus e isso algumas vezes tem relação com nossa motivação. “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres” [Tg 4:3]. Por exemplo, vemos irmãos que oram por poder, quando seu objetivo real é preeminência. O que eles realmente objetivam ao clamar por poder é aquilo que os tornará proeminentes no serviço. Quando nossas motivações são totalmente indignas das palavras que proferimos, devemos esperar até que Deus dirija a luz do Seu amor para nós, e então poderemos aprender a respeito da indignidade dos nossos impulsos, entregando a nós mesmos ao gracioso Espírito que intercede por nós de acordo com a vontade de Deus.

Mas isso não se restringe apenas a questão da motivação, mas também ao conteúdo das nossas orações. Cristo deve repetir: “Podeis vós beber o cálice que eu bebo ou receber o batismo com que eu sou batizado?” [Mc 10:38]. Frequentemente não sabemos o que pedimos, por isso Deus adia a nossa resposta. Já vi crianças que foram completamente mimadas pela natureza fraca e boa de seus pais, que lhes concediam, imediatamente, tudo o que desejavam. O amor humano pode carecer totalmente de sabedoria, mas o amor de Deus e Sua sabedoria andam de mãos dadas. Ele nos deixa aguardando em Suas misericórdias, para que possamos aprender sobre o valor daquilo que é primário e espiritual.

Precisamos aprender que o “não” de Deus é uma resposta, da mesma forma que o “sim”.

Precisamos aprender que o “ainda não” e o “imediatamente” são expressões do amor Divino. Chegará o dia quando cada um de nós saberá que o silêncio de Deus era, na realidade, Seu maior discurso. Perceberemos que, mesmo parecendo inativo, Deus estava o tempo todo agindo em nós, nos trazendo à uma correspondência moral com Sua vontade, que é a única coisa que capacita o homem para receber os Seus dons.

As coisas das quais desejamos ficar livres por meio da oração são frequentemente as que menos poderíamos nos dar ao luxo de perder.

Algumas dessas chamadas “cargas” que tentamos deixar no Santuário são exatamente as coisas que Deus colocou sobre nós para estabilizar nossa vida, dirigindo nossas energias para canais que certamente negligenciaríamos se as coisas fossem diferentes.

Paulo aprendeu que havia algo infinitamente melhor do que a remoção do espinho em sua carne – muito melhor! Três vezes ele pediu ao Senhor para removê-lo, e não somos informados a respeito do intervalo entre essas três orações. Mas certamente Paulo, como todos nós, estava perplexo com o adiamento de Deus. Então, ele finalmente descobriu que Deus estava preparando algo muito melhor para ele do que a extração daquilo que lhe causava aquela dor tão latejante: “A minha graça te basta” [2Co 12:9]. Se ele não tivesse aquele espinho, nunca teria aprendido a canção: “De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo”. Aprendemos que a corda que desejávamos que Deus cortasse, Ele desembaraça, preservando-a para os propósitos do Seu serviço. E nós somos mantidos aos Seus pés para compreender isso. Os caminhos de Deus são sempre justificados em Seus filhos, se eles pacientemente Lhe concederem essa oportunidade.

Antes de passar para o terceiro ponto, devo tomar como exemplo o encargo de oração que está crescendo sobre nós por nossa nação. Muitos entre nós estão perplexos pelo fato de Deus ainda não estar intervindo para acabar com esse terrível conflito. Olhamos a partir do nosso ponto de vista tranquilo, e vemos os filhos de Deus sendo devastados nos campos de batalha na França e Bélgica, e clamamos a Deus pela vitória da causa que consideramos correta. Ainda assim, Ele não age. Depois de um ano completo e apesar do sacrifício de milhares de preciosas vidas, a linha de batalha é traçada tão substancialmente quanto ocorria no início. Por que Deus não estende Seu poder por meio de nossas forças e espalha as nações que se deleitam na guerra, trazendo esse combate indizível ao fim? Por que não temos resposta dos Céus quando levantamos nosso clamor? Por que Ele atrasa Sua vinda quando por apenas uma palavra Sua esse conflito poderia ser trazido ao fim?

Ah! Não é que Deus não possa fazer isso, nem que Ele não o fará, mas uma vitória imediata da nossa nação pode representar um reavivamento parcial, de forma ainda mais egoísta, dos nossos pecados nacionais. Como nação, estamos muito longe de estar moralmente prontos para a vitória, porque vemos poucos sinais na nossa vida cotidiana de que aprendemos e tomamos nos nossos corações as lições contidas nessa disciplina.

É por isso que Deus está nos deixando esperando enquanto nação. Precisamos ser conduzidos mais para baixo e devemos aprender o que representa a lei de Deus. Necessitamos aprender que o pecado traz consigo a dor e o derramamento de sangue do homem, assim como trouxe dor e derramamento de sangue para Deus.

Quando a nação estiver moralmente preparada e renovada, acredito que a vitória não se adiará por nem mais uma hora. Mas essa vitória não acontecerá nem um minuto antes do tempo. Assim, vemos a necessidade de esperar silenciosamente pela salvação que vem do Senhor. Devemos nos lembrar, em última análise, que não é Ele que atrasa Sua resposta à nossa oração por vitória, mas somos nós que atrasamos Sua ação [essa palavra foi ministrada durante a Primeira Guerra Mundial, em 1915].

Fé Treinada pelas Provações

Acredito que o terceiro ponto seria: a fé só pode ser treinada por meio de provas. Assim como os músculos de um homem só podem ser fortalecidos por meio de exercícios, a fé só se torna forte e invencível se for sujeitada à disciplina da tensão. Até que a vontade de Deus seja aceita – não como algo compulsório, por não haver outra alternativa – mas de livre vontade e acompanhada de alegre entrega, nossa fé ainda carecerá de sua qualidade essencial. Mas quando permanecemos firmes nesses momentos de espera, calmamente conscientes de que a glória de Deus está intimamente atrelada às nossas vidas e orações, e quando estamos satisfeitos sabendo que se o Senhor pode esperar, nós também poderemos, então uma das principais lições é aprendida. Dessa maneira a fé alcança o seu triunfo somente quando o seu exercício deixa de ser uma atitude deliberada, tornando-se em algo instintivo.

Algumas vezes aprendemos essa lição por meio de nossos próprios esforços impetuosos na tentativa de apressar a Deus. Temos dois exemplos notáveis disso. Será que podemos nos lembrar de Moisés e seu esforço indisciplinado de libertar o povo? Que resultado desastroso! Deus precisou tomá-lo, conduzindo-o a Sua escola do deserto, mantendo-o lá até que ele aprendeu. Ele envergonhou a Deus por sua impetuosidade e isso acontece com muitos de nós. E o que dizer de Abraão? Quando ele tentou acelerar a promessa de Deus, ainda que tivesse recebido tão maravilhosa promessa de Seu suporte naquela visão tão grandiosa que o atordoou? Conhecemos bem a triste história de Agar e Ismael, e a que isso levou depois.

Algumas vezes Deus atrasa as promessas de Sua fidelidade para que nós também possamos aprender a respeito da total futilidade de todos os nossos esforços à parte dEle. Devemos nos lembrar que a fé de Deus precisa ser vindicada em nós, antes de ser comprovada através de nós. Isso deve ocorrer antes mesmo que sejamos Seus mensageiros efetivos ao mundo.

Esperar Calmamente é diferente de Negligência

Mas devemos atentar para um ponto: a calma espera em Deus não tem nada a ver com indolência. Existe um grande erro em esperar por manifestações subjetivas do Senhor quando negligenciamos as oportunidades objetivas que estão diante de nós. A verdadeira espera em Deus se expressa quando empreendemos todas as energias de nossa alma nas direções claras que estão patentes e não demandam por interpretação. Deus não coopera com sonhadores. Não podemos viver em comunhão com Deus e permitir que o mal continue se propagando livremente, negligenciando portas abertas para o mundo que demanda tanto de nossa fé e fidelidade.

Não posso me esquecer que Deus outrora disse ao seu povo: “aquietai-vos e vede o livramento do Senhor” [Êx 14:13]. Essa palavra foi dada à um povo que estava caminhando em obediência implícita à liderança do Senhor, e que, naquele caminho se posicionou diante do impossível. Existem momentos na nossa vida que Deus repete essas palavras para cada um de nós, mas isso só ocorre quando, como Israel, estamos caminhando à luz da Sua vontade.

Enquanto esperamos em Deus em implícita obediência, Ele mesmo vindicará Seu atraso. Ele fará com que permaneçamos firmes, esperando nEle, fazendo Sua vontade, sabendo que quando Se manifestar, Ele aperfeiçoará aquilo que nos diz respeito. Ele trará reforços que serão o fator decisivo na vitória, enquanto aguardamos no invisível, repetindo para nossa alma: “ainda não vemos todas as coisas a ele sujeitas, não vemos os nossos desejos cumpridos, mas vemos Jesus coroado de glória e honra. Bendito seja o Seu nome para sempre!”.

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