Essas são nossas notas baseadas no livro “Power with God”, de T. Austin-Sparks, disponível para leitura no site www.austin-sparks.net. É importante salientar que não se trata de uma tradução do texto original, mas da nossa compreensão daquilo que o autor escreveu, podendo conter divergências em relação ao seu entendimento.
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“Veio ainda a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Filho do homem, quando uma terra pecar contra mim, cometendo graves transgressões, estenderei a mão contra ela, e tornarei instável o sustento do pão, e enviarei contra ela fome, e eliminarei dela homens e animais; ainda que estivessem no meio dela estes três homens, Noé, Daniel e Jó, eles, pela sua justiça, salvariam apenas a sua própria vida, diz o SENHOR Deus” (Ezequiel 14:12-14).
“Disse-me, porém, o SENHOR: Ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de mim, meu coração não se inclinaria para este povo” (Jeremias 15:1).
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Esses cinco homens: Noé, Daniel, Jó, Moisés e Samuel, foram mencionados nominalmente pelo Senhor como pessoas que fizeram diferença no momento em que viveram, quando ocorria um grande declínio espiritual dentre o povo de Deus.
Do ponto de vista do Senhor, esses cinco homens foram capazes de interceder e fazer diferença em sua geração.
É claro que nas ocasiões citadas acima nos textos de Ezequiel e Jeremias, nem mesmo esses homens seriam capazes de ajudar, pois a situação se tornara irreversível e irremediável, só restando o julgamento do povo de Deus.
Mas, o que tornou aqueles homens tão especiais diante de Deus, uma vez que todos eles eram humanos como nós, com suas falhas, dificuldades e problemas pessoais?
Devemos nos acautelar de julgar um homem ou mulher de Deus segundo a carne, pois o próprio Deus os defenderá.
Como aconteceu com Moisés, quando Miriã e Arão questionaram sua posição (Nm 12:1), ou como aconteceu com Jó, ao ser questionado por seus três amigos, devemos temer levantar a nossa voz para desprezar um homem de Deus.
Ainda que Noé tenha pecado (e isso está de fato registrado na Palavra de Deus), que Jó tenha passado por tantas provas que manifestaram suas fraquezas, nada disso os desabonou, pois o próprio Deus os vindicou, conforme vemos registrado na Sua Palavra (Nm 23:21; Gn 6:9; Hb 11:7; Jó 1:8; 2:3; Jó 42:7; 1Cr 16:22; 2Co 5:16).
Talvez um ponto digno de menção seja o fato de que esses homens tinham um coração absoluto para com o Senhor na geração em que viveram. Se tivermos olhos espirituais para ver, o Espírito nos revelará princípios ocultos em suas vidas, que os levaram a ser considerados por Deus como pessoas especiais, e que possibilitou que pudessem intervir em momentos de grande adversidade em favor de outros. Deus precisa desesperadamente disso nos nossos dias.
NOÉ
“Pela fé, Noé, divinamente instruído acerca de acontecimentos que ainda não se viam e sendo temente a Deus, aparelhou uma arca para a salvação de sua casa; pela qual condenou o mundo e se tornou herdeiro da justiça que vem da fé” (Hb 11:7).
A Justiça que Vem pela Fé
Noé viveu no final de uma dispensação e perseverou em fé por um longo período. Vemos nos capítulos 6 e 7 de Gênesis que toda a raça humana havia se corrompido, mas Noé encontrara graça aos olhos de Deus.
Ele foi um justo solitário em meio à um mar de iniquidade! Não é nada fácil permanecer fiel quando tudo ao nosso redor toma o curso contrário. Podemos dizer que Noé foi um homem desesperadamente solitário.
“Seremos testados nas situações que Deus nos colocar, principalmente quando chegarem ao ponto de ser tão difíceis e contrárias à nossa permanência nEle. Então, aprenderemos o segredo de prevalecer. Assim, poderemos afirmar: ‘Estive em situações muito difíceis, quanto tudo parecia impossível, mas aprendi que é possível prevalecer, triunfar, trazer Deus para dentro das circunstâncias. Vi situações impossíveis e sem esperança serem tocadas e trabalhadas pelo Senhor. Conheci o Senhor num contexto muito sombrio e aparentemente impossível de perseverar’. Deus precisa de homens e mulheres assim” (T. Austin-Sparks).
Noé não teve precedentes. Ele viveu pela fé nas Palavras de Deus e creu que haveria o dilúvio. Vale enfatizar que não temos na Bíblia evidências de ter chovido algum dia anteriormente ao dilúvio (Gn 2:6). Nada justificava racionalmente a postura de Noé, e isso o levou a passar por um teste prolongado de fé: 120 anos! Para permanecer Noé precisou se apegar à Palavra, mesmo quando nada aparente acontecia (2Pe 2:5). Seu ministério foi focado no futuro!
“Nossa vida individual com Deus é assim. Dez mil, ou até um milhão de pessoas podem ter vivenciado as mesmas experiências que estamos passando, mas no momento da provação sentiremos que ninguém no universo jamais passou por algo semelhante! Sentimos que somos os únicos a trilhar esse caminho. As pessoas podem nos dizer: ‘Sei tudo sobre isso’. Mas nossa reação imediata será responder: ‘Sim, mas você não entende. Nunca esteve, realmente, na minha posição’. Essa é a solidão absoluta de uma caminhada pessoal com Deus. Noé não teve precedentes, ninguém para seguir. A fé verdadeira é testada exatamente assim. Noé “se moveu no temor de Deus” – e você sabe o que essa palavra significa nas Escrituras: temor do Senhor equivale a simplesmente crer em Deus e obedecê-Lo porque Ele é Deus; não por meio de provas ou evidências, mas porque Ele é Deus – pois isso Noé ‘preparou uma arca'”. (T.Austin-Sparks).
Nem sempre veremos o cumprimento daquele propósito pelo qual vivemos ao longo de nossa vida. Jeremias viveu muitas dores de parto pelo povo de Deus, mas não viu o cumprimento da sua profecia (2Cr 36:22).
Toda a vida de Noé apontava para Cristo (1Pe 3): em sua história vemos a figura do Batismo, do caminho para a vida e da forma de sair do julgamento!
Em Noé aprendemos que a justiça demanda uma fé provada, refinada.
Devemos lembrar que o grande teste da fé acontece nos nossos dias. Vamos nos lembrar que para desfrutar desse poder de Deus, aquilo que está no nosso coração deverá ser uma manifesto por meio da EXPRESSÃO de justiça na conduta exterior. Esse é um grande teste de fé para o povo do Senhor.
Podemos nos posicionar em dois terrenos: o Deus, que é de justiça pela Fé em Jesus Cristo, ou o terreno de satanás, que é injustiça por meio de dúvida e incredulidade.
DANIEL
“Resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; então, pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não contaminar-se… No fim dos dez dias, a sua aparência era melhor; estavam eles mais robustos do que todos os jovens que comiam das finas iguarias do rei” (Dn 1:8,15).
Uma Absoluta Separação
Muito tempo se passou entre Noé e Daniel. Nessas duas histórias vemos o início e o fim de um longo período. Daniel marca o fim do Antigo Testamento, por se tratar de um livro do período de restauração, que antecedeu a vinda do Messias. Daniel deliberou consigo mesmo não se contaminar com as iguarias do Rei da Babilônia, não adorou sua imagem, rejeitou sua imposição da proibição de orar, aceitando as consequências – Daniel foi fiel.
Tudo que ocorreu foi fruto da SUA VIDA SECRETA COM DEUS. “O céu domina” foi a verdade no tempo de Daniel. Independente do domínio dos reis gentios, era Deus quem soberanamente governava tudo.
Daniel desejava se manter puro a qualquer preço, mesmo que para isso precisasse ser lançado na cova dos leões. Ele nunca cedeu para o mundo! O povo de Deus deveria ser distinto, mas infelizmente isso não aconteceu com Israel. Eles se desviaram, se misturando com os povos gentios. Temos um espelho disso na história da Igreja, como vemos descrito nos Evangelhos, nas cartas de João e nas epístolas de Paulo.
Podemos enumerar alguns dos princípios importantes encontrados nesses escritos: (i) temos o príncipe desse mundo, (ii) existe um espírito que opera nos filhos da desobediência e (iii) todo o mundo jaz no maligno. Na esfera espiritual constatamos que: (i) Cristo é o Senhor, não satanás; (ii) nascendo “do alto”, os crentes passam a não ser do mundo. E existe uma feroz batalha entre esses dois reinos e seus dois senhores, mas satanás precisa de terreno para agir. Para isso, ele pretende ganhar espaço na (iii) Igreja.
Por que Daniel não queria se contaminar com as iguarias do Rei? Por que continuar orando três vezes ao dia? Para não fazer essas concessões. Aquela era a fonte secreta do seu poder.
Lembremo-nos de Acã, que tomou da coisa condenada (Js 7:1). Essas concessões nos levam a perder terreno, porque o poder está relacionado à posição. Vemos a expressão “o fim” repetida algumas vezes em Daniel 11:27,35; 12:4,13. Uma característica do tempo do fim é a Igreja tentando restaurar o seu poder por meio de sua posição espiritual.
JÓ
A comunhão dos Seus Sofrimentos (Jó 1:6-11; 29,10; 42:7,8,10)
“No início do livro de Jó, ele é apresentado como homem em grande plenitude: com posses, riquezas, boas obras, justiça pessoal e bem aceito diante de Deus. Então se inicia um curso em sua experiência, cujo sentido e ocasião secretos estão completamente velados. Ele não sabe a causa, mas de repente se vê despojado de tudo. Sucessivamente, tudo lhe é arrancado – todas as suas posses, suas relações, seus amigos, sua justiça, o fruto das suas obras – e conjuntamente com tudo isso, vemos a investida furiosa e abrangente de forças hostis com sugestões de acusação, condenação e julgamento.
Percebemos um antagonismo espiritual e um espírito de morte, com Deus oculto, retirado por trás das nuvens. Nesse contexto, Jó é deixado despojado, aparentemente sozinho. Um homem aflito, oprimido em espírito, confuso na alma e sofrendo angústias no corpo. O círculo de todos os seus relacionamentos se estreita ao mais próximo – sua própria esposa – que lhe pede que renuncie a Deus e, ao fazê-lo, que entregue também sua própria vida. O homem desceu de uma grande altura e de uma grande plenitude para uma profundidade terrível de vazio, fraqueza e impotência.
No entanto, no decorrer dessa história, vemos uma transição. Mal conseguimos percebê-la, mas aconteceu. É a transição de uma justiça baseada nas obras para a justiça que é baseada na fé. Enquanto antes Jó defendia sua causa com base em sua própria justiça e suas próprias obras, o vemos sendo despojado de tudo isso e, finalmente dizendo: “Por isso, me abomino” (Jó 42:6). Ele ainda se apega a Deus, mas esta é uma justiça que não tem fundamento em sua própria bondade. É uma justiça baseada na fé na misericórdia de Deus.
Com essa transição, que muda de base, outra coisa aconteceu. Satanás foi gradualmente se afastado dos tribunais. No início, Satanás estava lá com todo o poder – ou com muita liberdade, fazendo aquilo que bem entendia. Depois, há um ponto quase imperceptível no qual Satanás sai de cena e Jó é deixado sozinho com Deus. Satanás teve todo o seu terreno retirado, precisou se retirar e desistir da luta completamente ferido.
Então vemos a ressurreição dos mortos, representando um lugar de novo poder espiritual, abrindo a porta para Deus entrar de uma nova maneira, investindo Jó com uma nova plenitude não mais baseada em suas próprias obras, mas na plenitude da graça Divina, não fruto do seu próprio trabalho, mas um dom de Deus; não algo que foi produzido por ele, mas concedido por Deus. Essa é a história espiritual de Jó em poucas palavras.
Afinal, quem pode prevalecer com Deus? Para se ter poder com Deus é demandado nos posicionarmos por Seus direitos e servi-Lo de maneira intensamente espiritual. Temos todo tipo de coisa aqui na terra, maneiras variadas de servir ao Senhor, mas há um serviço mais profundo que as nossas atividades. O maior serviço que podemos prestar a Deus é a sua própria vindicação, e isso só pode acontecer se Ele mesmo redimir, transformar e glorificar a nossa humanidade. É isso que Ele está fazendo conosco e Ele o faz por meio dos sofrimentos.”
A Humilhação e Exaltação de Cristo
Alguém maior que Jó também foi tirado dos Seus direitos e prerrogativas universais. Tudo por uma terrível controvérsia. Jesus foi completamente esvaziado, e Deus ocultou Sua face dEle (Mt 27:46). Mas Jesus se ergueu do túmulo para um lugar de renovado poder e, em princípio, vemos a mesma experiência de Jó, apesar de ampliada, pois Cristo é Aquele para Quem Jó apontava de forma perfeita (Cl 2:15).
O Esvaziamento e Enchimento de Paulo
Esse princípio se repete de diversas maneiras. Filipenses é uma epístola onde Paulo descreve sua justiça própria e boas obras, mas também afirma que ele as considerou como perda. Ele foi despojado de tudo aquilo, e até mesmo de sua habilidade natural para fazer as coisas. Vemos terríveis assaltos contra esse homem, e ele vivendo pelo poder da ressurreição.
Do Sofrimento para a Glória
Jó sofreu pelos direitos de Deus (veja o conflito nos capítulos 1 e 2), mesmo que ele não o soubesse. Deus mudou a base da justiça de Jó nesse processo, por meio dessa longa adversidade. Antes era a justiça própria, depois a justiça pela fé.
Vemos que a base que glorifica a Deus e O justifica e vindica é a base da justiça pela fé, e esse foi o ponto para onde satanás, sem perceber, empurrou Jó. A mão soberana de Deus estava agindo por meio de tudo que lhe aconteceu. Vemos uma transição do objetivo para o subjetivo, do exterior para o interior, do ouvir para o ver – da justiça pelas obras para a justiça pela fé. Isso tudo concedeu a Deus o Seu terreno.
O serviço a Deus está nessa esfera: O MEU SERVO JÓ. Seu serviço foi cumprido na esfera espiritual. Deus será vindicado na criação ao ter a humanidade glorificada. Deus opera nesse sentido. No último estado de Jó, vemos uma figura de um homem levantado da morte e exaltado ao ponto mais elevado, cheio da plenitude de tudo pela graça, pelo agir da misericórdia de Deus.
Deus tem feito isso na esfera do invisível, por meio do sofrimento do seu povo. Precisamos entender o que, de fato, é servir a Deus. Vendo o livro de Jó, percebemos que não se trata de correr de um lado para o outro a fim de fazer coisas, mas é sermos despidos de tudo por meio de experiências onde Deus possa fazer algo em nós, encontrando Sua glória na nossa humanidade.
Poderemos então nos posicionar a favor de Deus e de outros, pois muitos em situações desesperadoras não conseguirão chegar do outro lado sozinhos.
MOISÉS
Deus busca um Homem que Tenha Plena Unidade com Ele (Êx 32:31,32; 11-14; Nm 14:11-20)
Ao observarmos a vida de Moisés, pode ser que às vezes sejamos tentados a imaginar que ele era tão manso, paciente, que chegou ao ponto de convencer Deus a perdoar Israel. É como se Deus fosse o vilão e Moisés O fizesse mudar de ideia. De jeito nenhum!
Deus assumiu aquela posição para trazer aquele homem para Seu lado! Ele nunca teve a intenção de riscar o Seu povo, mas desejava trazer Moisés à uma profunda unidade de coração com Ele e com o Seu propósito. Ele precisava de um homem envolvido no Seu processo de redenção.
Moisés funcionou como um mediador. Ele se identificou totalmente com o propósito de Deus e também amou profundamente o objeto desse propósito, ao ponto de agregar os dois em sua pessoa.
Podemos dizer que isso se assemelha ao que aconteceu com Elias e Eliseu, em 2 Reis 2, quando Elias aparentemente tenta dissuadir Eliseu de segui-lo, apesar de ter algo notável em vista. Elias já tinha lançado seu manto sobre Eliseu (1Rs 19:19), e isso tinha muitas implicações, mas para receber o benefício disso, Eliseu passaria por severas provas.
Deus agiu com Moisés no mesmo princípio. Se Moisés aceitasse a sugestão de Deus de acabar com o povo, que tipo de mediador ele seria? Deus perdoou o povo de acordo com a intercessão de Moisés (Êx 33:17). O fato de Moisés ter feito aquelas declarações concedeu a Deus margem para agir.
Moisés era integralmente comprometido com o Propósito de Deus. Havia uma unidade de coração com Deus. Esse homem se devotou integralmente a isso. Muitos se comprometem com a obra e seus apelos, mas Moisés chegou a dizer que não suportava o peso da obra (Dt 1:9). Ele não se interessava pela obra, mas pelo propósito.
Entretanto, Moisés também amou o povo, mesmo se tratando de Israel, um povo extremamente difícil.
Vamos nos lembrar que o Filho, nosso supremo Modelo, deu tudo, foi rejeitado pelos Seus e disse: “Pai, perdoa-os” (Lc 23:34).
Qual o nosso compromisso? Vimos Seu propósito com a Igreja? Estamos engajados nisso?
O Senhor concedeu dois títulos à Moisés: HOMEM de Deus e SERVO de Deus.
Sua responsabilidade nasceu do amor (Ef 5:25). Moisés ESCOLHEU não ser chamado filho da filha do faraó. Ele recusou a honra e status que isso lhe conferiam, porque via o invisível.
“Pela fé, Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, preferindo [escolhendo] ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado; porquanto considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão. Pela fé, ele abandonou o Egito, não ficando amedrontado com a cólera do rei; antes, permaneceu firme como quem vê aquele que é invisível” (Hb 11:24-27).
Moisés RECUSOU, ESCOLHEU, CONSIDEROU, ABANDONOU e PERMANECEU.
Esse é o coração que dá a Deus Seu terreno de direito, e que Deus pode usar para fazer diferença na sua geração.
SAMUEL
Um Conhecimento Pessoal do Senhor
Moisés entra em cena no início da vida do povo de Israel. A partir de uma matéria bruta, o vaso do Senhor é formado. Samuel entra em cena quando o vaso está nas mãos do oleiro, em condições ainda mais difíceis, porque algo havia dado muito errado.
O tempo de Samuel se parece muito com o nosso.
A obra de Deus não estava na base essencial dEle, mas estava seguindo um curso fora de Seu propósito. Deus estava limitado.
Como em nossos dias, Deus de certa forma aceita, usa e abençoa tanto quando pode, apesar do estado geral das coisas, mas o Senhor não pode se comprometer totalmente. É fácil perceber Suas limitações!
Samuel se posicionou em favor do primário, não do secundário. Ele rejeitou a ideia do rei (1Sm 8:7), pois sabia que ia dar errado.
Um Novo Começo em Samuel
A reação de Deus para a situação no tempo de Samuel foi de um novo começo! Foi preciso um milagre genuíno para o nascimento do profeta. Não havia um caminho aberto para o seu nascimento. Ele nasceu de um lugar de morte – prefigurado pela situação de sua mãe.
A esterilidade de Ana foi fruto da soberania de Deus em relação ao Seu propósito. O nascimento de Samuel precisava ser um ato de Deus.
Pense, por exemplo, na tradição. Deus nos coloca em situações e experiências em que a tradição e a religião dos nossos pais não nos ajudará – o conhecimento de Deus de outrora não irá nos ajudar! Precisaremos conhecer Deus por nós mesmos, caso contrário não prevaleceremos. Essa é a diferença crucial entre o conhecimento de primeira mão e o de segunda mão. Considere Paulo! (Gl 1:15,16), tudo foi um novo começo para ele.
O vaso de Deus não pode ser constituído de algo de segunda mão.
Uma Vida Pessoal com Deus
Deus não usou Eli para ensinar Samuel. Deus o chamou diretamente. A única coisa que Eli pôde fazer, pelo fruto da sua longa experiência, foi dizer: “Vá até o Senhor quando Ele te chamar”. E o chamado do Senhor foi duplo: “Samuel, Samuel!”
Precisamos crescer constantemente em nosso relacionamento com o Senhor, não vivendo do passado, nem mesmo das nossas experiências de outrora. Pode até ser doloroso viver assim, mas saberemos que Deus está operando em nossas vidas. Por um lado, Ele está desfazendo, tirando nossa força e suficiência, mas está também Se tornando conhecido.
Em nosso relacionamento com Deus, as coisas mudam. Ele pode até permitir certas coisas nos tempos de ignorância, mas depois não mais. Precisamos desenvolver um relacionamento vivo com Ele.
Comunhão com Sua Insatisfação
Samuel se relacionava com o descontentamento Divino (ele tinha sensibilidade para os sentimentos de Deus).
Um Ministério Fruto de um Encargo de Coração
É errado julgar a partir de um pedestal. Existe uma participação das dores de parto do coração de Deus, quando algo O desagrada. Esse ministério nasce nesse ponto: Um coração com um encargo pelo que está no coração de Deus, não só mensagens, por mais corretas que estejam.
O livro de 1 Samuel é um livro de transição, da transferência do reino de Saul para Davi. O ministério de Samuel foi uma ponte que fez a ligação daquela transição entre esses dois reinos. O Senhor precisou dessa ponte, que foi fruto desse relacionamento e comunhão de coração.
Precisamos dessa comunhão de coração com o Senhor, fruto de um relacionamento de primeira mão com Ele, para fazermos diferença na nossa geração.
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Essas são nossas notas baseadas no livro “Power with God”, de T. Austin-Sparks, disponível para leitura no site www.austin-sparks.net. É importante salientar que não se trata de uma tradução do texto original, mas da nossa compreensão daquilo que o autor escreveu, podendo conter divergências em relação ao seu entendimento.
T. Austin Sparks (1888-1971) nasceu em Londres e estudou na Inglaterra e na Escócia. Aos 25 anos, iniciou seu ministério pastoral, que perdurou por alguns anos, até que, depois de uma crise espiritual, o Senhor o direcionou a abandonar aquela forma de ministério, passando a segui-Lo integralmente naquilo que parecia ser “o melhor que Deus tinha para ele”. Sparks foi um homem peculiar, que priorizava os interesses do Senhor em vez do sucesso do seu próprio ministério. Sua preocupação não era atrair grandes multidões, mas ansiava desesperadamente por Cristo como a realidade de sua pregação. Por isso, suas mensagens eram frutos de sua visão e intensas experiências pessoais. Ele falava daquilo que vivenciava, e sofria dores de parto para que aquela visão se concretizasse primeiramente em sua própria vida. Pelo menos quatro linhas gerais podem ser percebidas em suas mensagens: (a) o grandioso Cristo celestial; (b) O propósito de Deus focado em ganhar uma expressão corporativa para Seu Filho; (c) a Igreja celestial – a base da operação de Deus na terra e (d) a Cruz – o único meio usado pelo Espírito para tornar as riquezas de Cristo parte da nossa experiência. Sparks também acreditava que os princípios espirituais precisavam ser estabelecidos por meio da experiência e do conflito, quando finalmente seriam interiorizados no crente, tornando-se parte de sua vida. Sparks desejava que aquilo que recebeu gratuitamente fosse também assim repartido, e não vendido com fins lucrativos, contanto que suas mensagens fossem reproduzidas palavra por palavra. Seu anseio era que aquilo que o Senhor havia lhe concedido pudesse servir de alimento e edificação para os seus irmãos. Suas mensagens são publicadas ainda hoje no site www.austin-sparks.net e seus livros são distribuídos gratuitamente pela Emmanuel Church.
“Nenhum homem é infalível e ninguém ainda ”obteve a perfeição”. Muitos homens piedosos precisaram se ajustar, seguindo um senso de necessidade, após Deus lhes haver concedido mais luz.” (De uma Carta do Editor publicada pela primeira vez na revista “A Witness and A Testimony“, julho-agosto de 1946).