O Senhor é Maior que Todos

Print Friendly, PDF & Email

T. Austin-Sparks (1888-1971)

“O Senhor é maior que todos…” (Salmos 135:5).

Esse é o lema que adotamos para dirigir o ano de 1954. Ao considerar em primeiro lugar essa declaração abrangente, iremos discorrer sobre três outros aspectos de Sua tão excelsa grandeza.

Vejamos a declaração todo-inclusiva que está em Êxodo 18:11: “agora, sei que o Senhor é maior que todos…”.  Tudo ali se relacionava à emancipação da nação eleita de Israel deste mundo. Todas as forças de Satanás e dos homens foram amplificadas naquele conflito. A batalha pareceu oscilar, por nove vezes, entre derrotas e vitórias, trazendo à luz, diariamente, ocasiões que davam lugar tanto ao triunfo quanto ao desespero. Mas Deus estava drenando o poder do inimigo ao máximo, para demonstrar a superior grandeza de Seu poder.

A exclamação final, diante do fato consumado, foi: “o Senhor é maior que todos”. Não é necessário um conhecimento profundo da Bíblia para perceber que a mensagem descrita na carta aos Efésios corresponde ao Êxodo, de uma maneira espiritual e ainda mais elevada. Tendo em vista um propósito celestial semelhante, vemos a transcendente grandeza do Senhor operando.

O primeiro aspecto que desejamos abordar seria: “Deus é maior do que o homem” (Jó 33:12). Essa cena está registrada na história de Jó. Durante um longo período e em meio à muita discussão, os três ‘amigos’ de Jó se esgotaram tentando provar que o sofrimento dele era devido ao seu pecado. Jó, por outro lado, desgastou seus amigos e a si mesmo tentando provar que eles estavam errados. Então todos chegaram a um impasse e nenhum dos lados conseguia se decidir. Nesse momento, um quarto homem, que até então era um silencioso ouvinte, começou a falar. Ele não assumiu nenhum lado, mas tomou a posição com Deus. “Deus é maior do que o homem“, disse ele, em relação aos três, pois Deus sabia o que eles não sabiam sobre a realidade dos fatos. Eles conversaram e discutiram em absoluta ignorância. Deus compreendia tudo.

É ignorância e loucura atribuir que todo sofrimento é fruto do pecado do sofredor. Há um mistério por trás do sofrimento, e isso pode estar atrelado à própria vindicação de Deus, como aconteceu no caso de Jó. Isso ocorreu principalmente no caso do próprio Filho de Deus. Existe algo denominado por “comunhão de seus sofrimentos“. Isso vai muito além da sabedoria humana.

Jó, porém, achava que estava justificado e se posicionou firmemente com base em sua justiça própria. No entanto, o padrão de Deus, tanto de sabedoria quanto de santidade, é superior ao do homem mais perfeito. O homem, no seu melhor, não pode se assemelhar a Deus. Ao fim do conflito, vemos Deus sozinho em Sua sabedoria, poder e graça transcendentes, e o homem, aos Seus pés, adorando-O.

O próximo aspecto está na Primeira Epístola de João, capítulo 4, versículo 4: “Maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo“.

Pelo contexto, “aquele que está no mundo” abrange: “o maligno”, “falsos espíritos”, “falsos profetas”(Anticristo), falsos irmãos, e “o mundo”.

Isso constitui uma situação descomunal para os filhos de Deus. Mas “maior é aquele que está em vós”. “Em vós”; não fora, mas dentro. O equilíbrio do poder, ou melhor, esse poder prevalecente está dentro, quando Ele está dentro. “Cristo em vós, a esperança da glória”.

Finalmente, lemos que “Deus é maior do que o nosso coração” (1 João 3:20).

Essa passagem é reconhecidamente difícil. “Coração” aqui deve ser considerado como sinônimo de ‘consciência’.

O coração, ou consciência, age nos acusando ou nos escusando. Mas, nos dois casos, nossa consciência não  é infalível, sendo ainda algemada pela tradição e outras coisas do passado.

Se nosso coração nos condena, existe em Deus uma maneira de tratar e remover a condenação (veja o contexto de toda a Carta de 1 João). Se nos justificarmos a nós mesmos para nossa própria satisfação, ainda assim deveremos trazer tudo à presença de Deus, pois Ele pode ver aquilo que ainda não vemos, e poderemos descobrir que existem coisas ocultas aos nossos olhos que minariam toda a nossa justiça própria.

Deus é maior que o nosso coração” é um golpe na nossa introspecção. Nosso coração, afinal, não é o critério final. Também é um golpe no nosso orgulho espiritual. Finalmente, é um forte golpe no desespero causado pela nossa própria pecaminosidade.

Portanto, esse “tudo” é muito grande e multifacetado. Talvez nossa necessidade seja ver que o Senhor é muito maior do que pensamos.

Que todos nós tenhamos nossos corações ampliados para maiores dimensões dAquele que é nosso Deus.

Com as mais calorosas saudações,

Nele,

Seu por Sua glória,

T. AUSTIN-SPARKS.

***

Tradução da “Carta do Editor” da Revista “A Witness and a Testimony” de Mar-Abr de 1954, Vol. 32, No. 2.


T. Austin Sparks (1888-1971) nasceu em Londres e estudou na Inglaterra e na Escócia. Aos 25 anos, iniciou seu ministério pastoral, que perdurou por alguns anos, até que, depois de uma crise espiritual, o Senhor o direcionou a abandonar aquela forma de ministério, passando a segui-Lo integralmente naquilo que parecia ser “o melhor que Deus tinha para ele”. Sparks foi um homem peculiar, que priorizava os interesses do Senhor em vez do sucesso do seu próprio ministério. Sua preocupação não era atrair grandes multidões, mas ansiava desesperadamente por Cristo como a realidade de sua pregação. Por isso, suas mensagens eram frutos de sua visão e intensas experiências pessoais. Ele falava daquilo que vivenciava, e sofria dores de parto para que aquela visão se concretizasse primeiramente em sua própria vida. Pelo menos quatro linhas gerais podem ser percebidas em suas mensagens: (a) o grandioso Cristo celestial; (b) O propósito de Deus focado em ganhar uma expressão corporativa para Seu Filho; (c) a Igreja celestial – a base da operação de Deus na terra e (d) a Cruz – o único meio usado pelo Espírito para tornar as riquezas de Cristo parte da nossa experiência. Sparks também acreditava que os princípios espirituais precisavam ser estabelecidos por meio da experiência e do conflito, quando finalmente seriam interiorizados no crente, tornando-se parte de sua vida. Sparks desejava que aquilo que recebeu gratuitamente fosse também assim repartido, e não vendido com fins lucrativos, contanto que suas mensagens fossem reproduzidas palavra por palavra. Seu anseio era que aquilo que o Senhor havia lhe concedido pudesse servir de alimento e edificação para os seus irmãos. Suas mensagens são publicadas ainda hoje no site www.austin-sparks.net e seus livros são distribuídos gratuitamente pela Emmanuel Church.

“Nenhum homem é infalível e ninguém ainda ”obteve a perfeição”. Muitos homens piedosos precisaram se ajustar, seguindo um senso de necessidade, após Deus lhes haver concedido mais luz.” (De uma Carta do Editor publicada pela primeira vez na revista “A Witness and A Testimony“, julho-agosto de 1946).

Post anterior
O Valor dos Lugares Difíceis
Próximo post
Extratos da Vida de Enoque

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.