O Poder do Louvor

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“O poder do louvor” é um artigo composto de textos selecionados provavelmente por T. Austin-Sparks, e publicado em sua revista “Uma Testemunha e Um Testemunho” de Jul-Ago 1943.

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T. Austin-Sparks (1888-1971)

“E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais” (Efésios 5:18,19).

Muitas vezes ouvimos sermões a respeito do poder da oração e o que pode ser alcançado pela fé, e é bom que estes recebam nossa atenção. Mas à estas, oração e fé, deve ser acrescentado o louvor, pois esse também é poderoso.

Há muita oração – melhor, muito falar em oração – e muita profissão de fé, mas os resultados são desproporcionais, pois são comparativamente raros e, quando vistos, são muitas vezes motivo de surpresa, de admiração. Deveríamos, de fato, nos admirar quando as orações não são respondidas e a profissão de fé não for seguida por resultados definidos.

A Raiz de Muitas Falhas

Uma grande causa dessa falha em obter resultados é a falta de louvor. Quando nos achegamos a Deus em oração, estamos, via de regra, tão absorvidos na contemplação das nossas presentes necessidades, que ficamos desatentos às muitas necessidades já supridas, e nenhum louvor acompanha nossas orações. É muito comum existir reclamações devido à dureza das nossas circunstâncias, questionamentos sobre a causa de encararmos tais provações, impenitência, descontentamento e até melancolia.

Tudo isso demonstra uma falta de apreciação e gratidão pelas bênçãos já recebidas. Não é de se admirar que Deus não mais as conceda onde existe tanto egoísmo.

Louvor deveria mudar tudo isso. Louvor acrescentado à petição poderia tornar a oração fervorosa e efetiva – “oração da fé” (Tiago 5:14-16).

Nós verdadeiramente oramos sem louvor. Vindo à Deus com uma vívida lembrança das muitas bênção já recebidas, primeiramente deveríamos oferecer a Ele “sacrifício de louvor” (Hb 13:15), derramando aos Seus pés nosso amor, com nossos corações cheios de gratidão. Então seguiríamos apresentando as petições para suprimento das nossas necessidades. Assim, estaríamos em condições de exercitar a fé para isso. Então, novamente o louvor entraria em cena, porque, onde há uma fé real para que as petições sejam atendidas, sempre haverá um louvor antecipado. Devemos colocar assim: Verdadeira oração sempre é acompanhada por louvor pela bênção já recebida. Verdadeira fé é sempre acompanhada pelo louvor pela bênção a ser recebida.

D. L. Moody disse: “Um requisito da verdadeira oração são as ações de graças. Os resmungões não tem utilidade para o Senhor. Quando um homem se ajoelha e começa a resmungar, com um sentimento de descontentamento em seu coração, o Senhor não o ouve. Nossas petições devem ser cheias de louvor e agradecimento. Devemos nos alegrar na infinita bondade de Deus e sermos gratos por todas as suas misericórdias”.

Hannah More escreveu: “O louvor é a única atividade em que o ego não encontra lugar. No louvor, saímos de nós mesmos e pensamos Naquele a Quem o oferecemos. É o mais puramente desinteressado de todos os serviços. É gratidão sem solicitude, reconhecimento sem petição. A oração é a expressão transbordante dos nossos desejos, o louvor é a expressão das nossas afeições. A oração é a linguagem do indigente, o louvor é a linguagem do homem redimido. Se os espíritos angélicos oferecem o louvor isento da nossa enfermidade e mistura, ainda assim temos um motivo de gratidão desconhecido pelos anjos, em todas as situações; eles são seres não caídos e santos, e não podem dizer como nós podemos: ‘Digno é o Cordeiro, pois Ele foi morto por nós’. A oração é a filha da fé, o louvor é o filho do amor; a oração é prospectiva, o louvor leva em seu amplo alcance o gozo do presente, a lembrança do passado e a antecipação de futuras bênçãos; a oração é a forma que temos para entrar em contato com o céu, o louvor habita lá”.

Um escritor tem a dizer sobre o mesmo assunto: “Assim como a gratidão responde aos dons, o louvor deve sempre acompanhar a petição em nossa adoração. Pedir somente não é oração, assim como mendigar não é ganhar a vida. Casas de oração são, e deveriam ser, casas de caridade para cada coração partido e cansado, mas também deveriam ser templos de louvor. Onde a graça de Deus abundantemente ministra, também deveria ser ministrada livremente a gratidão do homem.

Porém, chegando eles ao arraial de Israel, os israelitas se levantaram e feriram aos moabitas, os quais fugiram diante deles” (2 Rs 4:24).

Veja os passos [descritos no texto 2 Rs 3:4-24]:

  1. O reconhecimento da necessidade.
  2. O apelo ao lugar certo pelo suprimento.
  3. O espírito de louvor – um tangedor, sem pranteadores serem chamados.
  4. A obediência da fé – as valas foram cavadas.
  5. O descanso da fé – Eles afastaram-se e descansaram até a manhã. Espera ansiosa teria impedido, ao invés de ajudar.

Perceba os resultados:

  1. A água veio calma e abundantemente.
  2. Eles beberam e foram fortalecidos.
  3. O sol, brilhando na água, enganou seus inimigos, os deixando descuidados.
  4. Eles venceram seus inimigos.

Tudo isso aconteceu porque um homem foi sábio o suficiente para compreender que o Espírito de Deus prefere “a Doxologia” à “Marcha da Morte”.

O Poder do Louvor que Abre as Portas da Prisão

Paulo havia expulsado um espírito maligno de uma jovem. Por isso, ele e seu companheiro Silas foram açoitados, lançados na prisão, com seus pés presos ao troco (Atos 16). Em total escuridão, respirando uma atmosfera que cheirava doença, com suas costas dilaceradas e sangrando, seus quadris apertados por estarem compelidos a sentar numa única posição, certamente eles poderiam lamentar sua difícil porção, bombardeando os céus com uma oração por libertação. Mas o registro bíblico nos relata algo diferente. “Por volta de meia-noite” – e isso foi em mais de um sentido – “Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam”.

Conhecendo esses homens, podemos imaginar o que ocorreu. Primeiro vem de Paulo uma oração fortíssima de gratidão a Deus por tê-los considerado dignos de sofrer pelo amor de Cristo e do evangelho. Quando ele se aquece, sua voz é levantada até que não seja apenas ouvida no céu, mas também nas outras celas daquele inferno feito pelo homem. Silas, sendo muito pródigo em seus améns e aleluias, também ora, e Paulo o acompanha com seu fervente “Glória a Deus” e “Graças a Deus” do fundo de seu coração. Segue canção após canção; hino após hino, salmo após salmo, até os ecos chegarem aos outros prisioneiros, maravilhados com tais sons incomuns, tão diferentes dos gemidos, dos soluços, das maldições, das execrações, dos pedidos de misericórdia e da oração pela morte que eles estão tão acostumados a ouvir ali, e então escutam isso tudo com admiração.

Sim, esses dois homens têm uma audiência muito interessada – pobres homens sofredores, em cujos corações não há canção, e cujos lábios não há palavras de alegria.

Mas, por mais interessados que essa audiência estivesse, existiam ainda outros mais interessados. Ouvintes Divinos e angélicos, assim como humanos e demoníacos estavam na audiência. Mas esses não eram todos. Havia mais alguém interessado, que talvez ninguém além de Deus percebesse naquele momento, mas que demonstrou seu interesse e prazer logo a seguir. À medida que os louvores cresciam mais e mais triunfantes em uma crescente maré, essa ouvinte se tornava mais e mais animada, e finalmente ela, a velha Mãe Terra, fez o que Paulo e Silas não podiam fazer, por terem seus pés presos em grilhões – ela dançou com grande alegria.

E que comoção essa dança causou! “De repente, sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu os alicerces da prisão; abriram-se todas as portas, e soltaram-se as cadeias de todos. O carcereiro despertou do sono e, vendo abertas as portas do cárcere, puxando da espada, ia suicidar-se, supondo que os presos tivessem fugido” [vs 26,27]. O que se seguiu – a conversão do carcereiro, o lavar dos açoites de Paulo e Silas, o alimentar de seus estômagos vazios e a libertação deles – todos bem conhecemos.

É dito pelo Salmista: “Os rios batam palmas, e juntos cantem de júbilo os montes, na presença do Senhor, porque Ele vem julgar a terra” (Sl 98:8). À medida que lemos a respeito dos terremotos que virão, vemos como a Mãe Terra responderá. Aqui ela estava apenas antecipando aquele tempo glorioso, quando, pela alegria da perspectiva da libertação da escravidão de satanás, ela dançará tão vigorosamente, a ponto de abalar cidades inteiras, destruindo, em um só momento, o que os insignificantes homens levaram séculos para erguer.

Os cânticos de louvor dos anjos, que estarão naquele momento prontos para seguir o Rei dos reis em Sua descida à terra em Sua missão de conquista, juntamente com as alegres ações de graças dos santos que O esperam, tornarão a Mãe Terra mais enérgica, e ela dançará e baterá palmas com um vigor nunca visto. A dança que ela executou com a música cantada por Paulo e Silas foi apenas um antegozo do que se seguirá, provocado pela mesma razão – orações de ações de graças e cânticos de louvor.

Louvor, o Precursor da Vitória

Louvor traz vitória sobre os inimigos. Vimos que isso foi verdade no caso da vitória dos reis de Israel, Judá e Edom sobre os Moabitas. Contudo, nesse caso, sua vitória era o pensamento secundário, sendo o principal deles o suprimento da água tão necessário para o exército [2Rs 3:4].

No próximo caso que iremos relatar [2Cr 20], a vitória é o resultado direto do louvor, e nela encontramos o devoto e fiel Josafá também figurando proeminentemente, como aconteceu no outro caso. Os Moabitas, Amonitas e outros povos tinham se unido para guerrear contra Judá, e Josafá colocou a situação diante do Senhor. O Senhor, por meio de um profeta, deu-lhe a certeza da vitória e instruções sobre os passos a tomar para garantir a derrota do inimigo. Assim, o rei reuniu suas forças, colocou-os em ornamentos de guerra e fez algo memorável. Ao invés de enviar uma linha de batedores, como era o costume, ele enviou cantores. “Aconselhou-se com o povo e ordenou cantores para o SENHOR, que, vestidos de ornamentos sagrados e marchando à frente do exército, louvassem a Deus, dizendo: Rendei graças ao SENHOR, porque a sua misericórdia dura para sempre” [2 Cr 20:21].

Seu plano foi bem sucedido? Deixe que a Palavra responda: “Tendo eles começado a cantar e a dar louvores, pôs o SENHOR emboscadas contra” seus inimigos, e eles foram destruídos” (2Cr 20:20-30).

Os cantores tiveram mais valor para Israel naquele dia do que os soldados, e os cânticos de louvor foram mais efetivos em trazer a vitória, do que as chuvas de flechas.

É dessa maneira que devemos encarar nossos inimigos espirituais, se quisermos obter vitória sobre eles.

É claro que há aqueles que dirão que não existe bom senso nesse tipo de coisa. Bem, deixe que eles falem de bom senso e sofram derrotas, enquanto você age com fé – que é um senso incomum, comparativamente tão raro – dê louvores, cante cânticos e obtenha a vitória.

Esse foi o bom conselho que Paulo deu aos Efésios: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais” (Ef 5:18,19). Por meio da experiência, ele aprendeu que nenhum inimigo pode resistir quando essa arma é usada, como ele sempre a usou, sendo invariavelmente vencedor.


T. Austin Sparks (1888-1971) nasceu em Londres e estudou na Inglaterra e na Escócia. Aos 25 anos, iniciou seu ministério pastoral, que perdurou por alguns anos, até que, depois de uma crise espiritual, o Senhor o direcionou a abandonar aquela forma de ministério, passando a segui-Lo integralmente naquilo que parecia ser “o melhor que Deus tinha para ele”. Sparks foi um homem peculiar, que priorizava os interesses do Senhor em vez do sucesso do seu próprio ministério. Sua preocupação não era atrair grandes multidões, mas ansiava desesperadamente por Cristo como a realidade de sua pregação. Por isso, suas mensagens eram frutos de sua visão e intensas experiências pessoais. Ele falava daquilo que vivenciava, e sofria dores de parto para que aquela visão se concretizasse primeiramente em sua própria vida. Pelo menos quatro linhas gerais podem ser percebidas em suas mensagens: (a) o grandioso Cristo celestial; (b) O propósito de Deus focado em ganhar uma expressão corporativa para Seu Filho; (c) a Igreja celestial – a base da operação de Deus na terra e (d) a Cruz – o único meio usado pelo Espírito para tornar as riquezas de Cristo parte da nossa experiência. Sparks também acreditava que os princípios espirituais precisavam ser estabelecidos por meio da experiência e do conflito, quando finalmente seriam interiorizados no crente, tornando-se parte de sua vida. Sparks desejava que aquilo que recebeu gratuitamente fosse também assim repartido, e não vendido com fins lucrativos, contanto que suas mensagens fossem reproduzidas palavra por palavra. Seu anseio era que aquilo que o Senhor havia lhe concedido pudesse servir de alimento e edificação para os seus irmãos. Suas mensagens são publicadas ainda hoje no site www.austin-sparks.net e seus livros são distribuídos gratuitamente pela Emmanuel Church. 

“Nenhum homem é infalível e ninguém ainda ”obteve a perfeição”. Muitos homens piedosos precisaram se ajustar, seguindo um senso de necessidade, após Deus lhes haver concedido mais luz.” (De uma Carta do Editor publicada pela primeira vez na revista “A Witness and A Testimony“, julho-agosto de 1946).

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