D. M. Panton (1870 – 1955)
“Andou Enoque com Deus; e, depois que gerou a Metusalém, viveu trezentos anos; e teve filhos e filhas. Todos os dias de Enoque foram trezentos e sessenta e cinco anos. Andou Enoque com Deus e já não era, porque Deus o tomou para si” (Gn 5:22-24).
Enoque, a estrela da manhã do mundo, é um modelo de extraordinário valor para nós no dias de hoje. Pelo desígnio de Deus, ele foi um grande protótipo do arrebatamento. Enoque era um gentio, como nós; viveu na época que o mundo vislumbrou o nascimento da invenção científica (1); e o rápido crescimento da maldade, quando a terra estava cheia de violência. Apesar disso, seus pés permaneceram na rocha do julgamento que estava para varrer toda a terra; e ele foi, como Espírito Santo enfatiza, “o sétimo depois de Adão” (Judas 14). Ele representa, em tipo, todos aqueles que, depois de seis mil anos de pecado, deverão participar do Descanso Sabático [Milênio]. A sua libertação ocorreu por uma remoção repentina e sobrenatural, através da abertura de um portão para o céu que aconteceu apenas duas vezes desde então, apenas para santos notáveis. O arrebatamento dele foi o primeiro deste tipo na história do mundo, enquanto que o nosso será o último. No entanto, devemos atentar que o arrebatamento de Enoque é o único arrebatamento na Bíblia imposto pelo Espírito Santo como um modelo para nós.
Apenas a apresentação deste registro é resplandecente com luz espiritual. Por que nós não sabemos absolutamente nada dos fatos físicos de sua vida; não temos nenhum evento marcante registrado; de uma profunda obscuridade ele saltou para o céu. Quão profundamente sugestivo! “Ouvi, meus amados irmãos, não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos na fé” – Seus diamantes ocultos – “e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o amam?” (Tiago 2:5). A Igreja não sabe nada de suas estrelas mais brilhantes, porque elas se movem abaixo da faixa de suas órbitas celestes.
O ponto mais significativo é que o Apóstolo que escreve o prefácio dos julgamentos Apocalípticos – Judas – é aquele que mais enfatiza o testemunho de Enoque, e o revela como um testemunho do Segundo Advento. Enoque profetizou, dizendo – “Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades, para exercer juízo contra todos” (Judas 14) – sobre Judeus e Gentios, Igreja e mundo.
Aqui uma nova verdade surge ao nosso alcance, como uma nova estrela. O arrebatamento está particularmente conectado com o testemunho da volta do Senhor; este foi o testemunho exclusivo de Enoque. As palavras do Senhor para o Anjo da Igreja em Filadélfia diz o seguinte: “Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro” (Apocalipse 3:10).
De todos os santos de Hebreus 11, apenas Enoque foi transladado; e dele somente, dentre todos, é registrado um testemunho do Segundo Advento. O Espírito Santo diz que aquele testemunho era para homens da nossa dispensação, ainda que quatro mil anos atrás. Enoque disse: “quanto a estes foi que também profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão” (Judas 14). Vale observar como são fixados juntos o falar do Segundo Advento e a sua vida com o arrebatamento. Eis que o próprio Enoque se tornou a prova viva do seu próprio testemunho. “…já não era, porque Deus o tomou para si” (Gênesis 5:24). “Um será tomado, e deixado o outro. Portanto vigiai…” (Mateus 24:41).
O Espírito Santo nos revela o segundo fundamento da transladação de Enoque. “Pela FÉ, Enoque foi transladado para não ver a morte”(Hebreus 5:5). A fé que é tão enfatizada através de Hebreus 11, que assumimos se tratar de uma fé salvadora, não se limita a isso apenas, mas é uma fé muito mais vasta e mais potente. Abraão e Sara gerando Isaque em idade extremamente avançada, Moisés renunciando o palácio Egípcio, Jericó derrubada por sacerdotes em marcha, ressurreição dos mortos. reinos conquistados, promessas obtidas, bocas de leões fechadas, o poder do fogo extinguido; todas estas foram operações de algo maior do que uma fé salvadora.
Portanto, podemos observar que a fé para transladação, representa bem mais que apenas uma mera fé para salvação, mas é classificada pelo Espírito Santo entre as grandes conquistas do mundo.
“A Escritura mostra que a transladação foi uma prova do amor Divino para com Enoque, por conecta-lo imediatamente com sua vida piedosa e reta” (Calvin). Portanto, sozinho entre estes patriarcas, a experiência de Enoque no arrebatamento é capturada pelo Espírito Santo para enfatizar a recompensa: “pois, ANTES da sua trasladação, obteve testemunho de haver agradado a Deus… porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que… se torna GALARDOADOR”.
Podemos observar que Enoque foi transladado quando todos os patriarcas menos dois – Adão, porque estava morto, e Noé, que ainda não havia nascido – permaneceram na terra, e continuaram assim. A sua fé não era baseada no fato que ele seria transladado, porque não é mencionado em lugar nenhum que Deus tivesse o revelado que ele seria removido sem morte, ainda porque, o evento nunca tinha ocorrido antes, para que ele imaginasse isto. No entanto, a fé que o tornou aceitável a Deus por meio da qual ele foi transladado. Fé que agrada a Deus descansa, abrigada no coração de uma vida santificada, a raiz do pleno florescer que Deus colheu.
“A transladação de Enoque foi um testemunho para um mundo todo da aprovação de Deus de sua conduta” (John Angel James). Enoque considerou novecentos ou mil anos de vida na terra com corrupção ao seu fim, como nada comparado a um repentino céu. Ele parou no “meio-dia” de sua vida, para ser o mais novo dos patriarcas a abandonar sua vida, e Deus deu a ele cinco mil anos em um mundo melhor.
Então o Espírito Santo desenha uma lição geral de máxima importância prática e profética para nós: que o prazer dado a Deus no arrebatamento não vem do mero ato da conversão, mas de uma vida de devoção. O Velho Testamento diz – “Enoque andou com Deus” (Gênesis 5:24), em contínuo agradar, foi o seu andar que produziu sua remoção. Ele mudou seu lugar mas não sua companhia. Porque “sem fé é impossível agradar a Deus”; que é, qualquer que seja a frase que escolhermos – ele “agradou” a Deus, ou “andou” com Deus – ambas implica em fé, e fé contínua: “porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe, e que se torna galardoador [fornecedor da recompensa; Alford] daqueles que O buscam”. “Deus o removeu da terra de uma forma tão incomum para que todos possam saber quão amado ele era para o coração de Deus” (Calvin). Para uma vida de extraordinário mérito, Deus concedeu uma recompensa extraordinária; ele se tornou Enoque, o imortalizado porque ele foi o Enoque o santificado; o próprio nome “Enoque”, com o rico significado dos nomes Bíblicos, significa dedicado, consagrado, separado. “Uma razão porque essa honra foi conferida a ele foi para mostrar sua transcendente excelência” (Gilfillan).
Então nosso Deus diz – “vigiai, pois, a todo tempo, orando, para que possais escapar”(2) : “Eis que venho sem demora, e comigo está o GALARDÃO que tenho para retribuir a cada um segundo as SUAS OBRAS” (Apocalipse 22:12). Se Deus não tivesse a intenção de dar a Enoque esta honra especial, seria fácil livrá-lo da tribulação que viria através da morte comum, como Ele fez com Matusalém. Já foi dito que o máximo atingido por alguns Cristãos é serem criminosos perdoados: Enoque é um dos poucos homens na Bíblia contra o qual nenhum pecado é registrado. “Em todas as eras é universalmente reconhecido que nenhuma honra maior foi jamais publicamente outorgada a qualquer homem na terra, do que a outorgada a Enoque e Elias, uma honra evidentemente dada para ilustrar o inalterável princípio que Deus honra extraordinariamente aqueles que O honram excepcionalmente” (Cornwall) (3).
Então tudo concentra no andar com Deus – “Enoque andou com Deus” (Gênesis 5:24). Esta expressão ocorre apenas duas vezes na Bíblia: no caso de Enoque, tipo da libertação celestial, e no de Noé, tipo da fuga Judaica. Está registrada uma vez em relação à Noé (Gênesis 6:9), mas duas vezes no caso de Enoque (Gênesis 5:22,24); porque o chamamento celestial envolve uma intimidade dobrada com Deus. “Ele foi um homem que caminhou com Deus, e o curso de sua conversação era santo e reto; o que foi a razão da sua transladação, uma alta honra que foi outorgada a ele” (Dr.Gill). Ninguém vai escapar dos julgamentos que virão a não ser aqueles que andam com Deus.
Há uma requintada beleza na frase que é discernida apenas por uma sensível visão espiritual: “Andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo?” (Amos 3:3) – isto implica em intimidade e comunhão constante, uma concordância de mente e de propósito, uma união de coração e alma, uma solidariedade de sentimento e afeição. Isto representa uma vida solitária. Enoque andou com Deus quando todos os homens estavam andando contrários a Ele. Nada no mundo é mais valioso do que a habilidade de andar sozinho, porque este é o pré-requisito de andar com Deus. O homem que anda com Deus se torna extremamente sensível a críticas a Cristo, e muito sensível ao inevitável julgamento (Judas 15), exatamente como fez Elias (Rm.11:3). É excepcional que os únicos dois homens que foram arrebatados antes de Cristo foram ambos distinguidos por extrema solidão, e por um testemunho corajoso em uma era de maldade dominante. Ou seja, o homem que permanece sozinho pelo correto é o homem que Deus se deleita em honrar. É um conforto extraordinário o fato de que Enoque sozinho registrou distinção pela sua bondade; uma estrela da manhã inundada com a luz do Sol que ainda não havia nascido. A lei no reino natural – que o semelhante atrai seu semelhante – é regra também no espiritual: celestial atrai o mais celestial, até que, no prévio desígnio de Deus, um poderoso imã celestial repentinamente age (Marcos 4:29), e os Enoques desaparecerão.
Eu peço a Deus que me deixe morrer quando a luz do Advento morra em meu coração e vida. A terra está voando abaixo de nós como se estivéssemos viajando em um trem expresso; nada agora interessa, mas as coisas que se dirigem a santificação e para Deus. “E Enoque andou com Deus!” Seja este o nosso alvo. “E JÁ NÃO ERA, PORQUE DEUS O TOMOU PARA SI” (Gênesis 5:24).
(1) Jabal como o fundador do comércio, Tubalcaim da Indústria, e Jubal da Arte (Gn.4:20-22), foram o alvorecer do apogeu do poder, um espelho de nossa própria grandiosa era. A retirada de Enoque muitas décadas antes do Diluvio nos assegura (por tipo) do escape dos Enoques dos últimos dias antes da aproximação dos julgamentos, por um arrebatamento secreto como este.
(2) Na versão em Inglês é usado o termo “accounted worthy” que quer dizer, ser “considerado digno”. Na versão Almeida Corrigida e Revisada – o termo utilizado é “para que sejais havidos por dignos de…”.
(3) “Não será sem a fé de Enoque, podemos estar certos, que seremos considerados dignos de uma transladação como a dele. Sem o caminhar de Enoque seremos encontrados entre as sábias e prontas virgens. Sem o testemunho de Enoque, de acordo com a vinda do Rei e Juiz, a preciosa promessa a Igreja de Filadélfia (Apocalipse 3:10) será tornada nossa.” (W. Maude). Uma tradução de um erudito de Lucas 21:36 é grandemente sugestiva: “Tomem cuidado com vocês mesmos no caso de seus corações serem dominados por devassidão e bebedice, e ansiedade mundana, e que esse dia tome vocês repentinamente como uma armadilha: de hora em hora permaneçam acordados, orando que possam ter sucesso em escapar desses perigos que virão, e possam estar de pé diante do Filho do Homem.”
Extratos selecionados do livro “Rapture” (Arrebatamento) – D.M.Panton.