Os Direitos do Espírito Santo na Casa de Deus

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G.H.Lang

CARTA 1

Amados Irmãos,

O Sr. N ——– me falou que gostaria que os assuntos por mim abordados no seu encontro anual, como a parábola do servo infiel mencionada pelo Senhor em Lucas 19 e Mateus 25, fossem omitidos em futuras ministrações.

Em vários dos meus escritos, tenho enfatizado o dever dos anciãos locais de conter em seu meio aquilo que não consideram bíblico ou edificante para o ministério, e que esta é a forma bíblica de lidar com esse ministério, e não o de utilizar o recurso de controle do púlpito. Portanto devo, naturalmente, estar pronto para respeitar seus desejos, se o Senhor novamente me enviar para encontros dos quais vocês são responsáveis, embora pessoalmente possa pensar que neste caso particular, vocês, com o desejo de fazer o que é certo, estão agindo de forma parcial e não visando o verdadeiro bem do povo de Deus ou zelando pelos reais interesses da verdade.

É mais fácil aceitar sua sugestão, considerando a forma graciosa e fraterna na qual isso me foi pedido. Não posso deixar de comparar esta situação com a maneira muito diferente de que fui tratado muitos anos atrás pelos irmãos então responsáveis na sua cidade, e alegro-me e agradeço a Deus que um espírito mais feliz e mais piedoso prevaleça hoje, porque isso redundará em Sua aprovação.

Não é necessário dizer mais, a não ser agradecer de coração pelas coisas amáveis ditas sobre outros elementos do meu ministério entre vós. Estou escrevendo para o Sr. N —— pessoalmente sobre alguns aspectos dessas matérias, e vocês serão bem-vindos a ler o que estou dizendo, se desejarem.

Recomendando-os para a graça do Senhor Jesus, no santo e responsável serviço em Sua casa,

Carinhosamente Nele,

G. H. LANG.

CARTA 2

Meu querido irmão,

Em anexo segue outra carta em resposta a sua, endereçada aos irmãos em supervisão, aos quais eu agradeço, pela nota fraternal. Nela expressei o meu sincero apreço pelo tom gracioso no qual os irmãos escreveram, e o mesmo é verdade em relação a sua própria nota.

Assinalei sobre a bendita diferença em relação à essa ação comparada com aquela tomada em 1918 ou 1919. Os amados irmãos que lideravam as assembleias nessas regiões, de forma especial e com urgência (por telegrama), me pediram para expor em uma reunião, englobando participantes de todo o país, certas características do meu ponto de vista profético. No final da reunião da noite, um dos irmãos mais velhos em sua cidade, agora com Cristo, assegurou-me que, enquanto alguns tinham consentido com o convite com toda a sinceridade de coração, outros tinham feito isso porque esperavam que nesse encontro meu ministério fosse impedido, ou até mesmo prejudicado. Eventos subsequentes justificaram a sua afirmação, como você deve se lembrar.

Menciono isto agora porque enfatiza a solene responsabilidade incorrida pelos líderes na casa de Deus, quando tratam de questões relativas ao ministério da Palavra. Aqueles irmãos praticamente privaram as ovelhas do Senhor sob seus cuidados, de qualquer ajuda adicional nos treze anos seguintes, que Ele poderia concebivelmente fazer através de mim. Em relação a isto, pode o Grande Pastor responsabilizá-los.

Deixe-me contar como voltei, sob minha própria conta, cinco anos atrás, a participar de suas conferências.

Aconteceu que eu estava na vizinhança pouco antes dos encontros e, junto com um estimado irmão, estávamos nos alegrando de que eles ainda seguiam o plano do Novo Testamento de se ter liberdade de ministério. Uma vez que isso é tão fortemente sentido, ele mencionou: Por que não dar suporte aos irmãos nesse sentido participando das reuniões? Depois de alguma hesitação (considerando as circunstâncias que acabei de expor), decidi por fazer isso, e fiquei muito contente quando descobri que um amigo se sentiu movido graciosamente a preparar o caminho, sem saber o que eu tinha em mente. As suas ternas palavras e dos irmãos em relação ao meu ministério em geral, justificam a esperança de que esse passo era dirigido pelo Senhor.

Em minha carta expressei a minha prontidão em fazer aquilo que os irmãos desejam, no que tange não tratar dos assuntos como o do servo infiel introduzidos pelo nosso Senhor em Lucas 19, mas também acrescentei, “se o Senhor me enviar novamente até vocês”. Deixe-me deixar claro que isso não é uma intimação velada de que não estaria desejoso de voltar aí novamente devido a essa ação. Meu coração não será afetado por isso. Devo buscar ser completo naquilo que o Senhor ordenar, tanto na sua cidade, como em qualquer outro lugar. Mas devo dizer isso, que em diferentes ocasiões, quando houveram ações para restringir o ministério, tenho visto o Próprio Senhor definitivamente cessar de dirigir meu caminho ali e abrir portas em outros lugares.

Devo lembrar que, no evento de uma restrição para que a Sua mente não se imponha, Seus direitos são invadidos, e Ele sabe como agir pelos Seus interesses e pela justificação de Seus servos. É muito comum que a oposição a um servo de Deus em um lugar ou distrito seja seguida pelo Seu Mestre desprover aquele lugar do seu serviço enviando-o para abençoar outros lugares: “não receberão o teu testemunho a meu respeito…. Vai, porque eu te enviarei para longe…” (At 22:18-21).

Quando da ação tomada no seu distrito anos atrás, um tratamento similar ocorreu por parte de uma certa revista, e isso trouxe dificuldades para mim em partes desse pais. De repente, sem nenhum planejamento de minha parte, portas se abriram em muitas outras terras, com grandes necessidades, em esferas maravilhosas. Por outro lado, alguns anos atrás, quando alguns irmãos líderes em um país distante, impuseram uma condição que não tinha garantia da Palavra, por quatro semanas me sentei em silêncio entre eles e o Senhor não me permitiu abrir a boca, apesar da assembleia como um todo estar faminta por alimento.

Essas coisas ensinam quão solene é o assunto de lidar com o ministério, para que não seja penalizado, e aqueles que lidam com isto devem ter um mandamento claro a partir da Palavra do Senhor, não agindo meramente em relação aos seus próprios julgamentos, preferências, ou sentimentos de outros a favor ou contra aquela linha de ensino ou ministração. É extremamente fácil tolerar o que muitos aprovam, ou limitar aqueles que os homens influentes não gostam, assim, impedindo o Espírito de prover aquilo que as almas precisam. O remédio nem sempre é agradável ao paladar. Se não estou enganado, isso está acontecendo amplamente hoje, e é um fator da redução nos ministérios efetivamente espirituais, e que resulta em consequências na condição moral do povo de Deus. Com exceção (talvez) da primeira geração de cristãos, será que alguma vez houve algum período na história da Igreja onde a visão da maioria representava a verdade? Eu ouvi o Dr. A. T. Pierson dizer: “Temos um dito popular, ‘Grande é a verdade, e ela prevalecerá’. Mas isso nunca é verdade nessa era. A verdade está sempre com a minoria; e estou tão convencido disso, que se me vejo concordando com a maioria em qualquer questão, logo me apresso para tomar o outro lado, porque sei que estou equivocado”.

Os irmãos mais sóbrios não estão seriamente incomodados com o inegável aumento da séria e aberta declinação moral entre os Cristãos? Não deveríamos estar buscando profundamente, e diante de Deus, a causa de tudo isso? Certamente temos muitas causas, mas não seria uma das mais prováveis, que a grande maioria daqueles por quem sofremos, sustentam as visões proféticas mais populares? Não concordam esses em rejeitar a aplicação do servo infiel para os crentes, se opondo a ideia das penalidades que se seguiriam ao julgamento do tribunal de Cristo, e considerando como garantida uma posição no reino milenar para todo Cristão? E não deveriam os irmãos perguntar seriamente se alguma coisa, exceto a fraqueza moral, pode ser o resultado, quando as palavras profundas do Senhor, certamente endereçadas ostensivamente aos Seus próprios servos, sejam esmagadas de sua força e aplicação, quando são renegadas ao não regenerado, e Seu tribunal é roubados dos seus terrores para os que praticam o mal entre Seu povo?

Existem vários pontos de interpretação com os quais não concordo na escola de profecia de Newton. Eles são muito pronunciadamente Calvinistas. Eles também não trazem o peso correto das solenes advertências da Palavra aos crentes. Penso que eles estão errados no que diz respeito à parousia, como sendo um movimento contínuo, e que Darby estava certo em considera-la um período, apesar dele ter errado em a colocar no início – antes do Anticristo – ao invés de no final da Tribulação, como Newton o fez. Mas tenho chegado à conclusão que Newton e outros, um século atrás, tinham razão ao advertir que o esquema profético e a exposição dispensacionalista – que mais tarde foi introduzida por Darby – era, enquanto um esquema, calculada para gerar uma deterioração moral séria naqueles que a adotaram. Como esse esquema demandava que a maior parte dos discursos de Cristo não se aplicasse aos Cristãos, assim roubou deles essas verdades e advertências que levavam à uma análise de consciência.

Isso foi rapidamente e amplamente evidenciado. O próprio Darby logo mostrou que sua visão nesses assuntos não tinha poder moral de gerar nele mesmo temor das consequências da amargura, calúnia, e contenda mundial entre os santos, que arruinou o testemunho da unidade dos crentes participantes dos Irmãos logo no início. Os seus tenentes demonstraram plenamente as opiniões e o espírito do líder; e em geral – desconsiderando raras exceções – foram aqueles que mais tenazmente lutaram por seus pontos de vista nesses assuntos, evidenciando a mesma intolerância. Anos depois, houve um encontro de líderes dos Irmãos Abertos de diferentes opiniões, para considerar essas questões disputadas. Quando perguntei a um irmão daquele período, o porquê de nada de valor ter sido gerado daquele encontro, ele respondeu: “Porque esse ou aquele (dando nome a um enérgico mantenedor dessa visão popular) era como um galo de briga!. Isso é mais notável, uma vez que Darby e tantos outros eram, por outro lado, homens tão bons e úteis.

Talvez muitos não reconheçam quanta distância esse espírito tem percorrido e ainda percorre. O irmão líder de uma Reunião Aberta me disse que certamente não partiria o pão com ninguém que tivesse a visão de que a igreja iria passar pela Tribulação. Indaguei se ele realmente queria dizer que se [Geoge] Muller tivesse buscado comunhão, ele teria recusado. Ele permaneceu firme nessa afirmação.

Sem dúvida, a maioria de nós não iria tão longe, a ponto de condicionar a comunhão a uma concordância no entendimento da profecia, mas esse é um teste comum usado para aceitar um ministério. Eu li a carta de um antigo convocador para os maiores encontros anuais no norte, que disse que ele não encontrou dificuldade em receber James Wright de Bristol em sua plataforma, porque sentenciou pessoalmente que ele não iria discorrer sobre sua visão no ponto supramencionado, no qual ele concordava com seu sogro, George Muller. Portanto, a aceitação do ministério daquele homem de fé e mestre reconhecido, era tacitamente contingente à sua supressão de parte de suas convicções em relação à verdade de Deus, e a liberdade no ministério de um grande homem espiritual era restrita pelas opiniões de homens menores que ele, ao seu redor. Vamos nos perguntar claramente: era realmente a mente e exigência do Cabeça da igreja, que a graça e tolerância de James Wright fosse pressuposta por homens de menos graça e mais opinião que ele? Se afirmativo, precisaremos das Escrituras para justificar tal atitude.
Mas o dogmatismo pode ir ainda mais longe que isso. Em sua última conferência, um líder e estimado irmão me inquiriu se é a minha opinião que as almas estão inconscientes entre a morte e a ressurreição, porque isso lhe fora afirmado positivamente. Eu agradeci a ele por ter feito essa pergunta, e igualmente neguei a afirmação.

Mais uma vez, em uma revista amplamente lida, fui acusado de ensinar que os crentes podem ser castigados no lago de fogo. Nenhuma palavra minha, falada ou escrita, pode ser usada para suportar essa acusação; e é completamente falsa. Ainda assim, o texto foi mandado para impressão, para que fosse lido por milhares e milhares, e assim assumido por muitos como verdade, sem questionamento. Em parte, por ver uma rara oportunidade de corrigir publicamente essa noção errada, foi que, recentemente, expliquei entre vocês que considero que “trevas exteriores” NÃO é o mesmo que “o lago de fogo”. Isso porque a acusação em questão dependia totalmente da identificação errônea dessas duas figuras de linguagem.

Então, nenhum fim pode justificar a disseminação de culpas sem fundamento, exceto que seja pelo motivo de desacreditar o mestre, gerando preconceito ao seu ensino. Os detentores dessas visões populares se apoiam nisso. Uma simples queixa ao escritor da revista, com definitiva certeza que ele estava confundido, foi de encontro a uma recusa em crer que estava falando a verdade na minha negativa; e, mesmo com a minha justificativa antes de sua emissão, a revista foi impressa, em sua tentativa de colocar essa acusação sobre mim.

Existe algo mais angustiante do que ver Cristãos disseminando falsidades para suportar aquilo que eles acreditam ser verdade? Isso me lembra de um dizer do mundo, que um diplomata é um homem que profere mentiras para o bem do seu país. E é impressionante que esses que conhecem essas ações, se perguntem se essa visão mais maleável, que deixa a consciência tão livre de incômodo, pode ser verdadeira, ou se existe outra linha de ensino da Palavra, que seja preventiva dessa conduta, ou que ao menos condene e denuncie penalidades contra isso?

Não faz muito tempo, numa reunião da tarde, ministrei a irmãos que não impuseram nenhuma exceção ou limite. O líder local disse que achou muito bom. Entretanto, no encontro da noite, um evangelista e um profissional trouxeram à tona tópicos controversos que não tinha sequer mencionado, como base para violentos ataques pessoais, e um deles estendeu seu ataque até mesmo a um estimado irmão que nem estava presente.

No que tange ao ensino do arrebatamento parcial – e portanto a visão de Newton, Muller, Tregelles e outros homens de Deus – que a igreja estaria na terra durante a tribulação, o editor de uma revista (que ferozmente apoia o ensino popular), escreveu em Outubro, 1937, as seguintes palavras: “Deixe o Diabo usar essas evasões” (itálicos meus). Similarmente, um evangelista bem conhecido, disse que o Diabo sabia bem o que estava fazendo quando conseguiu que o Sr. Lang sustentasse as opiniões que defende! O último já se foi, e o editor está no seu caminho para o tribunal onde, o Juiz vai solenemente anunciar: “pelas suas palavras será condenado ou justificado” [Mt.12:37].

Assim, a amargura e intolerância muitas vezes caracterizam as visões populares em todo o país, o que é um teste suficientemente longo para evidenciar sua importância moral. O que mais além de uma alma descuidada, pode causar o efeito de uma afirmação como essa, enfatizada por um triste homem profissional: “Não importa como você vive como um Cristão, você certamente será parte da noiva de Cristo e vai reinar com Ele”? Ou, algumas afirmações similares que ouvi em 1935 de um dos irmãos que ensinou essas visões por mais de sessenta anos:

“Todo cristão será ressuscitado quando Cristo vier, não importa quão mundano ele tenha sido”? Muitos mestres desses pontos de vista gerais iriam se recusar a colocar o assunto de forma tão clara, mas isso é o que eles querem dizer, é inerente a sua doutrina.

Por outro lado, as vítimas dos ataques de Darby diferiam dele nessas próprias questões proféticas. Tregelles registrou por escrito, há um tempo, que todo mundo sabia que se Newton apenas concordasse com Darby no quesito de profecia, a voz dele tão teria sido levantada contra o seu velho amigo, quando seu sério, mas temporário erro doutrinário foi descoberto. E quando esse último erro veio à luz, as consequências ruins de não considerar os Evangelhos para os Cristãos foi vista claramente; porque aquele que primeiramente notou o erro foi um velho colega de Newton, mas ele não seguiu os princípios para lidar com um irmão ofendido conforme dito pelo Senhor em Mateus 18; ele não chamou atenção particularmente de Newton sobre o assunto, ou tentou ganhar seu irmão e o trazer de volta para a verdade sobre o assunto em questão. Ao contrário, sem prévio aviso, ele escreveu e permitiu que Newton fosse publicamente atacado como um herege. A retratação que Newton rapidamente emitiu foi totalmente rejeitada, e seus oponentes usaram o seu erro ao máximo, como uma oportunidade de caçar para fora os mais conhecidos opositores de seus esquemas proféticos. Os gritos selvagens da caça enquanto a perseguiam, encontrou contrapartida na ferocidade com que Newton foi tratado naquele tempo, no nome sagrado da verdade.

Junto com Newton havia Muller, Craik, e outros, que sustentavam com ele que a igreja iria passar pela Tribulação; e houve santos como Groves e Chapman que acreditavam, como eu, que a primeira ressurreição não é garantida a todos os crentes, mas apenas às “primícias”, como recompensa. Entretanto, nenhum desses alvos da amargura de Darby manifestou amargura, respondendo aos seus ataques. Esse santo exemplo tenho tentado seguir através de vinte anos de deturpação. O contraste demonstrado no espírito desses homens, em relação ao demonstrado por Darby e seus colaboradores na batalha, era certamente um indicativo do profundo temor a Deus, gerado em parte por aceitar solenemente as passagens da Escritura como aplicadas a eles mesmos. Eles todos repudiaram a teoria, necessariamente envolvida no esquema de Darby, que os primeiros três Evangelhos eram preponderantemente “Judaicos”. Venho argumentando sobre essa ideia pormenorizadamente no meu livro “O Evangelho do Reino”.

A influência das crenças na prática é poderosa. Alguns anos atrás, o editor de uma revista em circulação me enviou um rascunho de um artigo que ele se propôs a publicar, atacando a mim e a minha visão sobre a remoção dos crentes vigilantes antes da tribulação. O artigo estava saturado com cruel e amarga crítica. Declinei de discutir o assunto, dizendo que se houvesse arremesso de lama, estava disposto a suportar, mas não iria participar. Evidenciei que as visões que ele sustentava (de Darby) evidentemente não tinham força moral para impedi-lo de tratar um irmão de forma cruel e desagradável, assim com elas não restringiram Darby. Creio eu que, pelo contrário, caso estivesse vivo, a amargura e contenda poderiam me levar a passar pela Tribulação para meu aperfeiçoamento, ao invés de escapar dela. Por isso eu não ousaria trata-lo como ele estava proposto a tratar-me.

Até onde eu sei, o artigo não foi publicado. Estou feliz hoje por ter um relacionamento amigável com o autor. Talvez ele tenha aproveitado a experiência ele mesmo, quando foi atacado e desaprovado por outra visão que sustenta.

A atitude moral de cada ensino é o teste principal de sua natureza. Enquanto escrevendo essa carta, um missionário veterano de mais de quarenta anos de serviço me escreveu conforme segue: “Estou estudando o assunto da Ressurreição Seletiva, e acho até agora que as exortações e advertências são muito importantes e estimulam uma caminhada mais cuidadosa e consistente com Cristo”. Igualmente um aguçado homem do interior, a quem um amigo explicou esse ponto de vista, percebeu sua qualidade moral saudável e disse: “Veja, amigo, se está errado está certo, e se para outros está certo está errado”.

Muitos anos atrás, uma senhora estava trabalhando com outros na proclamação do evangelho em outro país. Séria e capaz, ela se tornou um incômodo por lutar para colocar todo mundo logo para trabalhar. Enviei a ela uma cópia da obra de D. M. Panton, “O Tribunal de Cristo”. Esse livro contém diversas coisas que não concordo, mas reforça as profundas advertências que as Escrituras contêm em conexão com esse solene evento. A senhora escreveu que aprendeu das páginas desse livro que o Senhor vai lidar com todas as coisas erradas, e sentiu que não tinha mais necessidade de estar julgando e corrigindo todo mundo. Por vinte e cinco anos ela tem sido considerada uma colaboradora valiosa nessa esfera.

Passaram-se vinte e oito anos desde que encontrei, em uma viagem, uma moça talentosa vivendo para proclamar o evangelho. Eu expliquei as passagens que mostram que a participação no reino milenar de Cristo pode ser perdida, se um filho de Deus andar de acordo com o mundo ou a carne. Dezoito meses depois, a encontrei naquele país viajando de volta para o seu próprio país, para enfrentar cara a cara uma situação com um ministro de mentalidade mundana que era seu noivo. Ela decidiu terminar com ele, caso não estivesse disposto a se entregar de todo coração como um discípulo. Ele não estava interessado, e ela realizou o sacrifício necessário. Pela sua própria confissão, esse avivamento e resolução foram um resultado direto do que ela aprendeu em nossa conversa. Ela não desejava arriscar o melhor que Deus tinha para oferecer de comunhão com Cristo, e estava determinada a obter uma completa recompensa. Por vinte anos, até sua morte, ela seguiu em frente. Em 1923, minha caminhada me levou a um lugar remoto da Europa, onde uma dura dissensão na assembleia prevaleceu de forma que, por seis meses, eles sabiamente desistiram de observar a Santa ceia. Estava lá apenas por uma noite, e enfatizei o lado solene do julgamento do tribunal de Cristo, dizendo as exatas coisas que os amados irmãos em nossa terra tão fortemente se ressentem. O irmão líder, um homem forte e resoluto, disse consigo mesmo (o que fiquei sabendo em uma visita posterior): Se é assim que as coisas procedem, eu preciso acertar essa situação. Tive o prazer de ver isso realizado, a Mesa repartida mais uma vez, com participantes mais doces e reconciliados, e o Senhor no meio deles em verdade.

Tenho visto esses resultados, profundos e duradouros, e ainda estou esperando encontrar um cristão que testifique que andou de forma santa, até que esses pontos de vista fossem assimilados, e então como consequência, tenha se tornado para a piedade e pureza. Essas situações são apresentadas para que possas fazer a pergunta que os irmãos responsáveis terão que encarar: quantos motivos eles podem produzir, a partir da Escritura, para suprimir a exposição pública nas assembleias do ensino que é claramente saudável, como não se pode negar? Não tenho preocupação com “escolas” de pensamento e interpretação: não escreveria ou diria uma frase sequer para fundamentar nenhuma delas. A verdade da volta do Senhor é mencionada na Palavra, como um mandamento para reforçar a santidade prática: “E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro”; “Por essa razão, pois, amados, esperando estas coisas, empenhai-vos por serdes achados por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis” (1 Jo 3:3; 2 Pd 3:14). Qualquer ponto de vista que não demanda ou produz santidade, não é de acordo com isso; por outro lado, qualquer ensino que tende a promover isso, deve ser ao menos ouvido. Que o que está sendo estimulado agora seja observado com exatidão. Não está afirmado aqui que a visão profética popular era ou é a causa de que aqueles que as advogam são tão frequentemente cruéis em controvérsias. A causa está no estado do seu coração. Mas é estimulado que essas visões nunca tenham impedido que esse lamentável espírito tenha sido incomodado ao amor e a paciência, e que em sua própria natureza eles não tem intenção de fazer isso, porque eles esvaziam o Novo Testamento de seu ensino sobre a severidade de Deus em relação a Sua própria família e fazem de Sua bondade uma tentação para a negligência. Esse ponto de vista unilateral e esse tratamento antinomianista da verdade encobrem as advertências de que aqueles que chamam Deus de pai, devem se lembrar de que Ele também é Juiz, e um juiz que lida com todos, crentes e não crentes, de acordo com suas obras. Por isso, devemos passar o tempo de nossa peregrinação na terra com temor, nos esforçando para sermos santos, porque Ele é um Pai santo e Juiz a quem devemos considerar. Deve ser considerado que essa linha de ensino segue diretamente o chamado para colocar sua esperança na revelação de Jesus Cristo, e conclui com um chamado para um amor fervente e não fingido pelos irmãos (1 Pd. 1:13-22). Se Darby tivesse professado esse tipo de amor por seu irmão Newton, quem teria crido nele?

Que um detalhe seja tomado como um exemplo e um teste. A afirmação popular é que o Senhor pode voltar a qualquer momento. Muitos abençoados homens de Deus se seguram a isso tenazmente como forma de estímulo aos cristãos; mas se puderem e desejarem examinar o assunto de forma crítica, podem perceber que essa opinião é desnecessária para o estímulo à santidade. Pedro não sustentou isso, porque sabia de Cristo que ele teria que viver até ser velho e então morrer (Jo 21:18), e foi nessa expectativa que viveu (2 Pd 1:13,14). Paulo não se apegou a isso, e certamente não entre o tempo no qual o Senhor o disse definitivamente que ele deveria dar testemunho em Roma, o que ele fez (At 23:11).

A questão essencial é que o Senhor vai voltar, e cada um deve estar preparado para encarar Seu julgamento, e isso é poderoso em seu efeito moral: a suposição de que Ele vai voltar hoje, traz nada em seu efeito, pelo que pode ser claramente reconhecida falta de santidade dos homens que categoricamente rejeitam a ideia. Quando William Hake disse a Robert Chapman que, alguém que ele encontrou sustentava que o Senhor poderia voltar a qualquer momento, aquele santo escolhido respondeu, “Bem, irmão Hake, estou pronto, mas isso não está na Bíblia”.
O aspecto moral do assunto está muito além de nosso desafio, mas a questão deve ser reforçada: Porque, um violento perturbador da paz na casa de Deus como Darby, pode ser encorajado a afirmar com ousadia, em cada mesa e cada púlpito, que a vinda do Senhor está próxima, mas Chapman não pode declarar sua crença no contrário, sob a penalidade de ser acusado de aborrecer seus irmãos e causar uma contenda? Por que um pode afirmar dogmaticamente simplesmente que a igreja não vai e não pode passar pela Tribulação, enquanto George Muller, James Wright, David Baron, a A. T. Pierson não podem, com a mesma liberdade, explicar seu entendimento pelo contrário? Onde está nessa discriminação a imparcialidade, a justiça, a humildade, o amor à verdade, que devem praticar todos os filhos de Deus e mais especialmente os governantes da Sua casa?

Porque a reclamação mencionada tem se tornado um habito mental estabelecido há muito tempo, como a própria mensagem que você envia agora, por exemplo, dos seus amados irmãos. Eles dizem que colocar os diversos pontos de vista cria uma “situação estranha”, porque outros irmãos ensinam de forma diferente e é triste causar contendas. Mas não haveria nenhuma situação estranha, se não houvesse a intolerância por parte dos amados irmãos que sustentam as visões. Eles praticamente reivindicam que apenas as suas opiniões devam ser ouvidas nas assembleias. Essa reivindicação não pode, de maneira alguma, ser concedida. Isso não é garantido pelas Escrituras, nem pelos primeiros dias das assembleias que amamos.

Primeiro vamos às Escrituras. Nós firmemente concordamos que ensinos deprecatórios da Pessoa, Serviço e Obra do Senhor Jesus Cristo não são Cristãos, em absoluto e, portanto, não devem ter nenhuma consideração dada e nenhum lugar nos ajuntamentos Cristãos (2 Jo 10). Mas, no que tange a questões menores, mas importantes na sua medida, como era o tratamento dado nos tempos apostólicos? Uma situação de contenda e crítica está descrita em Atos 15:1. Lemos que “Certo homem veio da Judeia (para Antioquia) e ensinou os irmãos dizendo, Se vocês não forem circuncidados de acordo com o costume de Moisés não podem ser salvos”.

Isso era fundamental na questão da salvação e, portanto, de uma maior importância que qualquer questão de interpretação profética. Entretanto, não temos a menor pista de que os irmãos mais maduros de Antioquia disseram a esses homens que não deveriam expor seus pontos de vista, porque não eram geralmente aceitos, causando “uma situação estranha” por provocar uma discussão. Ao contrário, é mostrado claramente que “contenda e não pequena discussão” [vs.2] se seguiu, até que o último assunto foi referido em Jerusalém. Uma pequena reflexão vai mostrar que, muito longe dessa discussão ser estranha e injuriosa, foi eminentemente calculada para elucidar o assunto, iluminar as mentes, e para aprofundar o conhecimento e estabelecer a verdade. Anos atrás em Bristol, um mestre ensinou seu ponto de vista popular. Nenhuma objeção foi feita a isso, apesar da maioria dos líderes da cidade ter sempre diferido dele. Eles poderiam ter suplicado que parasse, se fossem do mesmo espírito que seus oponentes. Depois, James Wright e G.F.Bergin ministraram palavras para mostrar quão diferentes eram seus pontos de vista em relação aos referidos ensinos das Escrituras. Feito com graça, isso não causou nenhum mal, mas tendeu para um saudável exercício da mente.

Seria exatamente assim se abordássemos os diversos pontos de vista sobre o batismo. Não posso imaginar nada mais próprio para convencer a maioria de que o batismo doméstico não é bíblico, do que usar um de seus maiores defensores para dizer tudo que deve ser dito a seu favor. Possivelmente poucos poderiam ser persuadidos, como alguns o são agora por instrução particular; mas a maioria seria dissuadida por ver quão pequeno é o “todo” que o impele.
Por um processo nativo da mente humana, a supressão de um ensino levanta a suspeita de que pode haver algo importante nele, caso contrário seus oponentes não se apavorariam tanto. Isso provoca certa simpatia com aqueles que o advogam e com seu ponto de vista suprimido. Até predispõe que ele seja considerado favoravelmente. A liberdade de expressão minimiza esse risco, e a explicação graciosa da verdade oposta, tem um efeito maior e mais abençoado para o ouvinte, que acaba julgando com inteligência o que está sendo discutido.
Voltando para Atos 15. Quando o assunto foi debatido em Jerusalém, a mesma liberdade de expressão foi vista. “Insurgiram-se, entretanto, alguns da seita dos fariseus que haviam crido” e declararam a sua opinião legalista (vs.5). Ainda, os apóstolos não encerraram o assunto de falsas opiniões, mas a completa discussão do assunto conduziu a uma unidade de julgamento (vs.25). Assim o propósito de Deus foi entendido, e os irmãos que previamente estavam enganados foram livrados do erro.

Quando se insiste que uma questão particular não foi totalmente resolvida e a discussão for necessária para chegar a uma conclusão justa, a resposta é que essa é exatamente a posição da investigação profética; uma vez que “em parte conhecemos, e em parte profetizamos”. O editor de Cartas e Documentos da Viscondessa Powerscourt, em cuja casa os estudos proféticos dos primeiros Irmãos unidos começou, explica em 1838, porque incluiu suas visões no assunto de profecia:

“Certamente não vou fazer o que algumas pessoas a quem estimo tem feito, que é publicar os sentimentos de outro, embora ao mesmo tempo, considere-os errôneos sobre os princípios fundamentais do Evangelho; mas eu publicaria os sentimentos de outro nos futuros prospectos da Igreja, ainda que pensasse que o escritor estava errado em seu ponto de vista; porque considero o primeiro assunto vital, sendo um erro essencialmente perigoso; enquanto não penso que isso se aplica ao outro. Considero que toda a Igreja de Cristo está na escuridão em relação à profecia, e mais ou menos em erro no que diz respeito a esse assunto, e a melhor forma de corrigir esse erro, de obter mais luz, é o de encorajar discussões abertas sobre o assunto. Tendo em vista alcançar o objetivo final, é essencial não errar o caminho. Não é tão essencial, entretanto, o formar antecipações do que deve ser encontrado no fim. Aqueles que estão no caminho devem chegar ao objetivo final, e então todo os seus erros serão corrigidos”.

Nos primeiros dias desse movimento, a liberdade de discussão e exposição continuou entre os Irmãos, e aconteceu um grande progresso no conhecimento. Eles se tonaram grandes pioneiros e líderes no estudo Bíblico. Mas, então, chegou o período mencionado quando, deixando de serem investigativos, eles se tornaram dogmáticos, cada um contendendo por seu próprio esquema de interpretação: e o processo cessou. É muito triste que, verdadeiramente, por cerca de setenta anos ou mais, os Irmãos não acrescentaram nada de novo para o entendimento da escritura profética. Alguém que considere cuidadosamente “Pensamentos no Apocalipse” de B.W. Newton (ed.1,1843; ed.2,1853) que segue a linha de pensamento de que a igreja passa pela Tribulação, e “Exposição de Apocalipse” de William Kelly (Bible Treasury 1853, 1859; ed. 1,1861) sustentando o ponto de vista oposto, vai ganhar muito pouco de qualquer outra coisa que surgiu depois, em qualquer um dos lados, até onde eu sei.

A escola futurista de profecia foi praticamente dividida entre esses dois esquemas, e a discussão chegou a um impasse, isso há muito tempo. Depois de cem anos de controvérsia, nenhuma abordagem foi feita no sentido de buscar que erros nas exposições causaram essa divergência. Harmonizar as visões encorajaria esperança de que a Escritura estivesse sendo compreendida, mas isso continua tão distante quanto no inicio. Isso é lamentável, mas continuará até que a tolerância de ambos os lados ceda a uma nova e humilde busca de mais luz, com a prontidão para abrir mão de opiniões acalentadas, a fim de receber novas ideias, se comprovadas pelas Escrituras. Essas são palavras muito profundas faladas por um mestre singular, Dr.F.J.A.Hort:

“Tornar-se incapacitado para desaprender é o mesmo que se tornar incapacitado de aprender; e quando deixamos de aprender, deixamos ir de nós mesmos qualquer conhecimento vivo e vívido que já possuímos até o momento… crenças que valem a pena ser chamadas de crenças, devem ser compradas com o suor da testa. As conclusões fáceis que são aceitas em bases emprestadas de outros, como uma fuga do labor e responsabilidade de pensar, podem ou não ser coincidentes com a verdade, mas em ambos os casos tem pouca ou nenhuma participação em seu poder”. (O Caminho, a Verdade, a Vida, Intro).

Será que essa última frase indica o que até o momento é amplamente o caso em relação à profecia, que noções prontas e longamente assumidas são aceitas facilmente, sem um exame paciente e individual da natureza e seus resultados, ou da sua garantia na Palavra de Deus (o que é realmente vital)? A forma mais simples de romper com esse hábito fácil e danoso seria ter livres intercâmbios de pensamento com aqueles que seriamente estudam esses assuntos, para a apresentação de ideias novas, mesmo que as mesmas não sejam aceitas depois de um exame detalhado. Isso sempre estimula a investigação e conduz a uma atividade da mente, no lugar de estagnação.
Isso é particularmente importante no momento, devido à disseminação da educação, com viagens facilitadas, o que introduziu no mundo uma troca de ideias em geral, e o espírito de investigação de coisas que outrora foram formalmente aceitas de forma passiva ou que permaneceram sem considerações. No mundo do pensamento e em outras esferas, autoridade conta menos que antes: todo mundo questiona praticamente tudo. Os mestres Cristãos não podem fechar seus olhos para esse ponto. Não devem assumir que as gerações mais jovens estão aceitando tais afirmações, independente da frequência e força com que são asseveradas. Não é assim. Alguém que é complacente e não dogmático, encontra em todo lugar um espírito de investigação, no que tange as profecias e outros assuntos. Sente-se que, embora uma declaração tenha sido feita cem mil vezes ao longo de cem anos, não é nem mais nem menos verdadeira do que era a primeira vez que foi feita, e é exigido que sua verdade seja demonstrada a partir das Escrituras. Mestres devem produzir essas provas ou então serão desacreditados (se silenciosamente) nos pensamentos daqueles que pensam.

A revolta do mundo seguindo a guerra acelerou grandemente esse espírito de investigação quanto ao futuro, e com suas correspondentes dúvidas, no que tange ao esquema de interpretação popular. Para crentes que se encontraram mergulhados em um turbilhão selvagem de assuntos mundiais de extensão universal, e, portanto, nunca exigiram provas reais nem admitiam dúvidas de que a igreja de Deus é tão peculiarmente o objeto de graça, e que seria totalmente inconsistente e impossível que ela fosse sujeitada à grande Tribulação; ou seja, assumiam que a igreja simplesmente iria, com todos os seus membros, ser removida para os céus antes dessa era. Ainda assim, aos olhos de centenas de milhares de crentes que, só na Rússia, estão sendo amargamente perseguidos, mesmo até a morte, e em outras terras mais próximas de nós que a Rússia, o espírito de perseguição já está aumentando. O fato que essa não é “a Tribulação, a grande” está claro, mas o fato de que essas coisas terríveis podem acontecer de novo com os santos, e em uma escala tão vasta, força as mentes sérias a terem sérias dúvidas quanto à certeza do princípio mencionado. Se a Igreja de Cristo tem sofrido ultimamente, por que seria inconsistente membros dela sofram com o Anticristo?

É assim que as mentes estão funcionando, e os amados irmãos realmente devem concordar de coração, que a simples afirmação e reafirmação de suas opiniões não as tornam convincentes; e que se eles ponderam tacitamente em abafar uma maior investigação no assunto, apenas por uma demonstração de autoridade ou por denúncia, isso pode simplesmente estimular mais investigação, fomentar a insatisfação, e pode facilmente conduzir à perda para as assembleias daqueles homens mais jovens e mais capazes. Essa será a classe que, pela seriedade e independência de pensamento, vai ser indispensável para as assembleias quando nós, os mais velhos, tivermos depositado nossas armaduras.

Considero essa uma das mais sérias ponderações. Posso falar do meu próprio coração, sei quão facilmente o laço com a nossa vida na assembleia pode ser quebrado. Sob o tratamento que recebi, teria sido muito natural ter me afastado, se os princípios divinos relacionados à casa de Deus não estivessem presos ao meu coração, e a minha lealdade ao Cabeça da casa me sustentasse onde esses princípios são melhor mantidos do que em qualquer outro lugar. Entretanto, muitos homens mais jovens ainda não percebem o dever de aderir aos princípios da igreja, ou que estes princípios são ainda mais importantes para a causa de Cristo, do que desfrutar o que pode parecer uma mais fácil e mais ampla esfera de ministério. É imprudente, sim, errado, colocar sobre sua adesão uma tensão mais severa do que a Palavra de Deus exige, sufocando a investigação e suprimindo a enunciação sobre questões não vitais para a fé. Acontece com muito mais frequência do que muitos concebem, que cristão mais jovens, irmãos e irmãs, temem revelar suas dúvidas e questionamentos sobre assuntos proféticos e outros, por um temor infundado de serem considerados suspeitos como possíveis hereges. Quando estes chegam a conclusões diferentes da opinião comum, escondem essas opiniões para evitar problemas ou vão facilmente para um lugar onde encontram mais tolerância, e em ambos os casos, tanto eles como as assembleias sofrem perdas. Casos têm sido conhecidos sobre essas questões, como a das mulheres orarem publicamente, e se “dons” sobrenaturais hoje são possíveis. Não havendo liberdade entre nós, outras esferas têm lucrado com nossa perda.

Por outro lado, é fácil acreditar que essa falta de liberdade impede que alguns se aproximem de nós, o que seria um ativo real no ministério da Palavra e na vida da Igreja.

Estou bem consciente e muito grato, que de modo algum todos aqueles que defendem vigorosamente as visões proféticas comuns são amargos contra as outras opiniões e contra aqueles que as sustentam. De muitos desses irmãos recebo muito amor, e por eles sou profundamente apreciado, mas esta exibição de afeto cristão é apesar de suas crenças proféticas, e não um resultado delas. Esse afeto continuaria o mesmo, ainda que esses pontos de vista mudassem.

E estes amados irmãos que não são amargos, ainda assim devem examinar bem seus corações se não são intolerantes, no sentido de não suportar que outros pontos de vista sejam ensinados, caso eles possam impedir. Suas razões podem parecer excelentes e imperativas. Eles honestamente temem que a arca da verdade possa tropeçar, se não for suportada pelo seu zelo. Nessa discussão, busco tanto minar suas razões como seus medos, mostrando que, se as primeiras são sem base, os últimos são desnecessários, e que as Escritura, a razão, e a real edificação demandam a liberdade de exposição por mestres sérios e espirituais, coisa que eles se recusam a tolerar.

Irmãos persuadidos do arrebatamento pós-tribulação ouvem em silêncio as opiniões populares. Por longos anos, outros como nós também tem ouvido em silêncio as brutas e dogmáticas asseverações que pensamos ser lamentáveis, e cremos que poderíamos facilmente mostrar o contrário na Palavra. Isso nós tentaríamos fazer para que todos pudessem ser edificados, mas tememos provocar hostilidade carnal e suscitar a contenda experimentada até aqui, que não é para edificação geral. O que está faltando no julgamento e no espírito de tantos de nossos amados irmãos defensores das visões populares, que faz com que eles não possam demonstrar a mesma graça e tolerância? Devemos claramente afirmar que suas escolas de interpretação têm mantido essa posição dominante por aproximadamente um século, não por peso na argumentação ou boa exposição, mas principalmente por certa espécie de terrorismo, tomando vantagem do medo dos fracos e também da graça dos fortes, que apesar de pensar de forma diferente deles, não desejam provocar dissensões carnais, que poderia ser esperadas caso se manifestassem. Isso é um fato, mesmo que aconteça inconscientemente.

Outro resultado danoso dessa situação está sendo hoje reconhecido, a saber, que esse tão importante tópico da nossa abençoada esperança está sendo deixado de lado no ministério das assembleias. Essa é uma perda incalculável, mas é algo inevitável, a não ser que toda essa posição seja mudada. Os dogmatistas são mais ou menos conscientes de que não podem agora responder à quase obsequiosa aceitação que outrora era prestada à uma mera afirmação. Além disso, alguns mestres não estão tão certos como estavam antes a respeito de alguns pontos e, estando indecisos na mente, sabiamente falam pouco. Aqueles que têm crenças definidas, que julgamos dignas de declaração, as refreiam, seja por solicitação ou pelo medo mencionado de precipitar a contenda. Não parece existir um caminho aberto para a restauração do grande tema ao seu devido lugar, se não for dada liberdade a cada mestre acreditado espiritualmente, para expressar aquilo que ele crê ter encontrado na Palavra, e o restante julgar o que ele diz.

Um resultado similar, mas ainda pior, é que grandes porções das Escrituras são negligenciadas. A maior parte das instruções dadas pelo próprio Senhor; as advertências de Paulo sobre perder a herança dadas às três igrejas (1 Co 6; Gl 5; Ef 5); as longas e fortes advertências em Hebreus; as solenes palavras para as sete igrejas (Ap 2 e 3), são exemplos dessas passagens tão negligenciadas. Considerando os esquemas de interpretação populares, esses textos não têm mensagens diretas aos filhos de Deus, e por isso seu valor é perdido. Aqueles para quem elas se aplicam SÃO ADVERTIDOS A NÃO OBSERVÁ-LAS. Isso vai compelir uma desconfortável revisão de opiniões tão amadas; vai aferroar a consciência, vai provocar contenda! Essa é uma solene pergunta: quanto tempo mais seremos justificados diante de Deus, por retermos grande parte de Seu conselho, tendo em vista o interesse em uma trégua enganosa? Ignorar amplas partes da Palavra de Deus, me parece ser quase que o mesmo que lidar com elas de forma enganosa, pois o ensino proeminente nessas porções mencionadas acaba permeando o todo. Com que direito os mestres, de qualquer ponto de vista, podem colocar essa tensão sobre a fidelidade de outros mestres de alguma outra visão?

Sob a mesma obstrução, grandes temas, nos quais Deus se agradaria em conceder mais luz, são ocultados dos santos, pois também iriam demandar algumas revisões em noções plenamente aceitas. O vasto e iluminador assunto do julgamento temporal de Deus, incluindo a atual administração judicial do céu e da terra por anjos governantes, o que é a chave para muitas passagens desconcertantes; o serviço geral dos anjos; o ESTADO E LUGAR DAS ALMAS ENTRE A MORTE E A RESSURREIÇÃO; o tempo e as condições do tribunal de Cristo e suas questões – são alguns temas de interesse fascinante e de profunda importância prática, que ficam aguardando uma investigação mais completa. As profecias de Daniel e Apocalipse precisam de harmonização mais exata para produzir ainda mais instrução. Na verdade, uma vez que a Palavra de Deus é inesgotável, não devemos trata-la como se estivéssemos exaustos, mas devemos ir adiante com investigações, independente de qual revisão de opiniões possa estar envolvida. Mas para a maioria das pessoas, essa pesquisa, ou pelo menos a exposição de seus resultados, é excluída nas assembleias por meio das influências antes mencionadas. Apenas o reino do Diabo é favorecido pelo fato de grandes partes e temas da Palavra estarem sendo deixados de lado pelos Cristãos.

Se os irmãos mais maduros exercitassem sua autoridade, reprimindo pessoas entediantes, falantes de banalidades e outros desperdiçadores de tempo, não estariam servindo a verdade aos santos mais eficazmente, do que restringindo o ministério sóbrio e minucioso simplesmente porque não os agrada porque as opiniões os desafiam ou incomodam suas consciências? Não deveriam eles, enquanto querem posição de autoridade, ter igual consideração ao julgamento daqueles que sinceramente dariam boas vindas a mais luz sobre as porções negligenciadas das Escrituras em questão, ou que até já estão convencidos de que os pontos de vista opostos são importantes? O número desses cresce, e será que é justo ou amoroso que suas necessidades, desejos e juízos sejam ignorados, e que toda a preferência seja concedida a uma escola de pensamento? As convicções destes últimos são, sem dúvida, fortes e sinceras, mas também são as nossas. É realmente uma questão de ter graça suficiente para permitir que sua submissão seja conhecida. Convidá-los a desistir da fé essencial do evangelho seria imperdoável; sugerir que eles entreguem livremente uma posição ou privilégio, que nunca deveriam ter ocupado, é razoável. A supressão de minorias não é nem amável, nem justa, nem sábia. No mundo isso sempre produz um desastre final; e é ainda mais fora de lugar na igreja.

O que se faz necessário é que os irmãos responsáveis em cada assembleia considerem todo o assunto perante o Senhor, e então declarem que em sua esfera local haverá liberdade genuína para toda a exposição sóbria das Sagradas Escrituras, dentro da bússola da verdade vital, e com liberdade igual para que outros homens graciosos possam expressar sua dissidência baseada na Palavra. Que essa restrição seja exercida imparcialmente sobre qualquer homem, de qualquer escola de pensamento, que ministre sem injúrias pelo assunto ou espírito.
O direito dos anciãos de restringir o ministério é severamente limitado. De acordo com 1 Tm 1: 3-5, eles devem tratar aqueles que não dispensam aos santos aquilo que proporciona o aumento da fé, mas que preferem dar atenção aos mitos e às genealogias sem fim, tópicos que simplesmente levantam a questões insolúveis e sem proveito. Mas, pelo contrário, nenhum direito é conferido para recusar aquilo que promove amor, uma boa consciência e fé, pois este é o fim preciso do ministério. De acordo com Tito 1: 10-16, as bocas daqueles que não se curvam ao governo e o encorajam devem ser fechadas, pois são indisciplinados; derrubando casas inteiras; e eles fazem isso por uma questão de ganho financeiro. Estes devem ser reprovados seriamente, mas não apenas para silenciá-los, mas na esperança de que, aceitando a repreensão, possam tornar-se sólidos na fé, e então sejam úteis para a igreja.

Seria impossível encaixar sob tais escrituras mestres sóbrios, úteis e qualificados por Deus, simplesmente porque suas opiniões sobre profecia, recompensas, castigos, para não mencionar temas menores, não coincidem com esta ou aquela escola de interpretação que passa a ser popular. Portanto, qualquer restrição desse gênero está além dos poderes conferidos pelo Senhor aos governantes de Sua casa.
Isso traz à tona a séria questão de que tal restrição não autorizada é dirigida finalmente contra o PRÓPRIO ESPÍRITO DE DEUS, atuando pelo Senhor. Se isso for considerado de forma restrita, veremos que, durante um longo período, toda a liberdade do Espírito no suprimento e controle do ministério, algo que tem sido o principal tema e característica de nosso ensinamento, na prática, foi amplamente restrita e negada por restrições injustificadas, sendo impostas a Seus servos.

Ultimamente, essa redução foi amplamente estendida, pelo fechamento geral de plataformas para todos, exceto oradores convidados. Nas reuniões deixadas abertas, os anciãos falharam no que é seu dever, de conter os discursos vãos, enquanto que estão prontos para restringir homens piedosos, com quem o Senhor não lhes deu autoridade para lidar. Em consequência, estes últimos são muitas vezes silenciados e os primeiros são ousados para exibir seu vazio, ambas as coisas tendem para a pobreza do ministério e o empobrecimento dos santos.
Isso levou muitos ao plano não bíblico do mundo, à organização do ministério, envolvendo a frustração do próprio testemunho de que as reuniões cristãs foram projetadas para mostrar ao mundo que “Deus está entre nós de verdade”, realmente ordenando e capacitando tudo em Sua própria casa. O resultado inevitável desta restrição ao Espírito de Deus é que as igrejas se tornam espiritualmente mais pobres, apesar de muitas vezes felicitarem-se por serem ricas, apenas porque tem prazer em ficar satisfeitas com o ministério que recebem, uma vez que é de sua própria escolha. É verdade que Deus se retira de Seu templo relutantemente, lentamente, por etapas (Ezequiel 9: 3; 11: 22, 23), e que enquanto Ele se demora, uma medida de Sua glória é vista, uma medida de bênção é experimentada; mas, se a glória está diminuindo, podemos ter certeza de que haverá noite; se o Espírito é persistentemente afligido, Ele será enfim extinguido; e finalmente o Senhor será encontrado FORA (Ap 3:20), atrás de uma porta fechada por aqueles que, no entanto, clamarão: Somos o povo do Senhor.

Regozijamo-nos com a justiça que muito ainda é encontrada nas assembleias que são Dele mesmo, as quais revelam Sua presença e graça; contudo, como um todo, não somos distintamente o que já fomos em santidade e energia espiritual. Fatores desta declinação, relacionados ao tópico discutido, são aqui sugeridos. Será que eles serão considerados calma e imparcialmente? Alguém será convencido? E estes serão então achados fiéis o suficiente a Cristo e a igreja PARA AGIR EM SUAS CONVICÇÕES? Que o bom Senhor o conceda, por causa de Seu nome e glória, pois a questão é urgente.

E qual é a urgência? Se eu fosse um rapaz que escrevesse este apelo pela liberdade do Novo Testamento, certamente alguns iriam sugerir que estava meramente ansioso para transmitir minhas opiniões de estimação, ou talvez tivesse em vista oportunidades para pregar e para gerar renda. Mas para mim, a cada ano, diminui a importância desta liberdade de ministério. Com quarenta e cinco anos de serviço público para trás, os próximos anos devem ser muito menores. Já não posso fazer o que fazia, e muito mais portas estão abertas do que eu posso entrar. A urgência surge da condição geral e perspectivas do povo de Deus, pelos motivos aqui indicados.

Embora os dias do fim, como estão descritos nas Escrituras, ainda não tenham chegado, eles estão mais próximos do que outrora estavam. Seja como for, o tempo presente é suficientemente perigoso para a vida espiritual e moral, demandando um estímulo muito mais poderoso à devoção, e uma advertência contra a deserção que tem sido oferecida pela visão de futuro, que tem sido por tanto tempo dominante. No período tranquilo, alguns se lembram de como era fácil falar sem rodeios sobre “tempos perigosos”, “dias finais” e “grande tribulação”, e para que os mestres assegurassem para si mesmos e para os seus ouvintes, que não havia motivo mínimo de preocupação pessoal, porque a igreja inteira estava certa de ser removida para o céu, antes que aqueles dias terríveis pudessem acontecer. Mas esta perspectiva complacente não incendeia a alma, nem acorrenta os nossos nervos à fidelidade e ao sofrimento nesse período de agitação do mundo.

Em um momento quando as nações estão cheias de pressentimentos e de consequentes suspeitas umas contra as outras, com o serviço militar severamente obrigatório na maioria das terras, com governos cada vez mais reguladores e suprimindo o cristianismo puro, se faz necessário um tônico mais poderoso, e de ação mais profunda. O que a Igreja de Deus agora necessita imperativamente é de homens capazes de demonstrar, destemidamente, o que a Palavra de Deus ensina quanto ao futuro, para que isso sirva de guia para as nossas vidas através de dificuldades e perigos, e que estes homens também possam orientar a igreja em como ganhar força para ser fiel e santa, e qual será a recompensa celestial. Além disso, precisam ser capazes de mostrar também quais serão as penas dolorosas que o cristão deve enfrentar se for infiel a Cristo e a palavra de Sua paciência. Mas isso exige um exame minucioso da Palavra da verdade, livre dos vieses e dos grilhões de esquemas de interpretação preconcebidos. Isso demanda por zelo e coragem, e a divulgação dos resultados exige liberdade de expressão, para que os outros possam tirar proveito disso. É por esta liberdade concedida por Deus que este apelo é feito.

Os leitores da história da igreja bem sabem que os muitos movimentos forjados por Deus foram, mais cedo ou mais tarde, paralisados ​​por este mesmo meio. A luz e a verdade frescas obtidas a partir da Escritura no princípio, a caminhada em que trouxe liberdade e vida, foi sistematizada em um credo ou um esquema de ensino. Os zelosos adeptos desse esquema não permitem desvios dele; e seus dogmas se tornam o teste da ortodoxia. A liberdade é esmagada, o progresso é interrompido, o movimento cessa, a paralisia e a morte se seguem. Será que vamos encontrar outro exemplar das assembleias dos Irmãos Abertos? Sim, mas somente se a mudança que é proclamada aqui aconteça, porque o processo há muito tempo já se instalou. A manutenção de uma ortodoxia popular pode evidenciar a morte da espiritualidade. Liberdade de movimentos é essencial para a saúde. Só a morte é imóvel. Meu desejo mais sincero é que possamos ser preservados desse estado de coração, e por isso sou ousado para expor as considerações precedentes diante de vós e de vossos irmãos, assegurado da sua sincera e simpática atenção. A graça do Senhor Jesus Cristo seja com todos vós.

No Seu amor,

G.H. Lang

Traduzido de texto com o mesmo nome no site The Millennial Kingdom.

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