Amor, a melhor coisa no mundo – 2

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“Amor, a melhor coisa no mundo – 2” é a tradução do livreto homônimo de Henry Drummond. 

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Henry Drummond (1851-1897)

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“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor” (1 Coríntios 13:13).

No post anterior, discorremos sobre aquilo que o apóstolo Paulo afirma ser o dom mais elevado: o amor. Em sua exposição aos coríntios, no capítulo 13, vimos que o apóstolo inicia sua abordagem comparando o amor com outras coisas que eram consideradas também elevadas naquela ocasião. A seguir, ele inicia uma análise do amor, como veremos abaixo.

A análise

Depois de comparar o amor com essas coisas, Paulo nos apresenta, em três breves versículos, uma extraordinária análise desse dom supremo. 

Observem comigo. Ele nos diz que o amor é um elemento composto, como a luz. Um cientista pode fazer um raio de luz passar por um prisma de cristal e podemos ver as cores que o compõem do outro lado: vermelho, azul, amarelo, violeta e as demais cores do arco-íris. Da mesma forma, Paulo desdobra o Amor na ótica de seu intelecto inspirado, e então podemos ver seus elementos fragmentados. 

Nessas breves palavras, temos aquilo que podemos chamar de ESPECTRO DO AMOR, sua análise.

Vamos observar seus elementos? Eles possuem nomes comuns, são virtudes sobre as quais ouvimos falar todos os dias e podem ser praticadas por qualquer pessoa em qualquer lugar nessa vida. Mas como, através de tantas coisas pequenas e virtudes comuns, esse bem supremo, o summum bonum, é formado?

O ESPECTRO DO AMOR é composto por nove ingredientes:

Paciência – “O amor … tudo sofre

Bondade – “é benigno”

Generosidade – “o amor não é invejoso” (ACF)

Humildade – “não se ufana, não se ensoberbece”

Cortesia – “não se conduz inconvenientemente”

Altruísmo – “não procura os seus interesses”

Domínio próprio – “não se exaspera

Inocência – “não suspeita mal” (ACF)

Sinceridade – “não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade” 

Paciência, bondade, generosidade, humildade, cortesia, altruísmo, domínio próprio, inocência e sinceridade. Essa é a composição do dom supremo, a estatura do homem perfeito.

Observe que todos esses ingredientes se relacionam ao ser humano, à vida, ao cotidiano que conhecemos, e não à uma Eternidade desconhecida. Ouvimos falar muito em amar a Deus, Cristo falou muito de amor ao próximo. Investimos muito em fazer as pazes com o céu, Cristo investiu muito em paz na terra. A vida espiritual não se trata de algo estranho, adicional, mas é a inspiração para a vida secular, é o respirar de um espírito eterno nesse mundo temporal. O dom supremo, resumidamente, não é nada alem de dar um novo acabamento à multidão de palavras e atos que compõe um dia comum de nossa vida.

Paciência

Essa é a atitude normal do amor, um amor passivo, que espera para agir, não se apressa, é calmo, está preparado para agir quando convidado, mas ainda assim é revestido de um espírito calmo e submisso. O amor tudo sofre, tudo suporta, tudo crê, tudo espera. O amor compreende, assim espera.

Bondade

O amor é ativo. Você já notou o quanto da vida de Cristo foi devotada em fazer o bem, simplesmente nisso: fazer o bem? Investigue e descobrirá que uma grande proporção do tempo do Senhor foi devotado em simplesmente fazer as pessoas felizes, trazendo MUDANÇAS POSITIVAS para elas. Só existe uma coisa melhor do que a felicidade nesse mundo, e é a santidade, que está além de nosso poder. Mas o que Deus nos concedeu capacidade para fazer é proporcionar felicidade àqueles que nos cercam, e isso pode ser assegurado quando somos bondosos com eles.

“A melhor coisa”, alguém disse, “que um homem pode fazer para o seu Pai Celestial é ser bondoso para com Seus outros filhos”. Me pergunto por que não somos mais bondosos? Como o mundo carece disso! Como é fácil fazê-lo, é instantâneo, será infalivelmente lembrado! Traz um retorno superabundante, pois não existe um devedor tão honesto e honrado quando o Amor. 

“O amor nunca falha” (vs 8, ACF).

O Amor é sucesso, o Amor é felicidade, o Amor é vida. Como afirmou Browning, “O amor é a energia da vida”:

“A vida, com toda a alegria e aflição,

esperança e temor, que nos concede,

É a chance de aprender do amor, como galardão,

Como ele deve ser, como já foi, e como é”.

Onde o Amor está, Deus está. Aquele que no Amor permanece, permanece em Deus. Deus é amor. Portanto, ame. Ame sem distinção, sem calcular, sem procrastinar, simplesmente ame. Esbanje amor com os pobres, onde isso é muito fácil, faça isso especialmente com os ricos, que frequentemente são os que mais dele carecem, e acima de tudo, ame os iguais a você, onde é mais difícil, portanto talvez seja onde menos o façamos. 

Existe uma enorme diferença entre tentar agradar e proporcionar alegria. Proporcione alegria. Não perca nenhuma chance de proporcionar prazer, pois esse é o triunfo anônimo e incessante de um espírito que ama de verdade. 

“Passarei por esse mundo apenas uma vez. Portanto devo fazer agora qualquer coisa boa que puder fazer, qualquer gentileza que puder demonstrar. Não posso protelar nem negligenciar isso, pois não passarei por esse caminho novamente”.

Generosidade

“O amor não é invejoso”. Aqui vemos o amor em uma situação de rivalidade. Sempre que você realizar um bom trabalho, encontrará outros fazendo o mesmo tipo de trabalho que você, provavelmente ainda melhor. Não os inveje. Inveja é um sentimento de má-vontade para com aqueles que estão ao nosso lado, é um espírito de cobiça e depreciação. A obra cristã nos protege muito pouco contra os sentimentos não-cristãos! Essa disposição negativa, talvez a mais desprezível de todas as outras disposições que assolam a alma do cristão, certamente nos espera na soleira da porta de cada empreendimento, se não estivermos fortalecidos com esta graça da magnanimidade. Só existe uma coisa que o Cristão deve de fato invejar – uma alma grande, rica e generosa que “não inveja”.

Humildade

Depois de ter aprendido tudo isso, precisaremos aprender mais uma coisa, a humildade, colocando um selo em nossos lábios, esquecendo daquilo que realizamos. Depois de ter sido benevolente, e quando o Amor avançou nesse mundo realizando sua bela obra, retorne às sombras e nada fale a respeito. O amor se esconde de si mesmo. O amor renuncia até mesmo a própria satisfação. O amor “não se ufana, não se ensoberbece”.

Cortesia

É um pouco estranho encontrar esse quinto ingrediente em nosso summum bonum: a Cortesia. Esse é o amor na sociedade, relacionado às boas maneiras. O amor “não se conduz inconvenientemente”. A cortesia é definida como o amor em bocados, nas pequenas coisas, e o segredo das boas maneiras é Amar. 

O amor não consegue ser inconveniente. Você pode colocar a pessoa mais inculta em meio à alta sociedade, se ela tiver um bom reservatório de Amor em seu coração, jamais será inconveniente. Isso será simplesmente impossível a ela. Carlyle, quando se referia à Robert Burns, mencionou que não havia outro homem mais cavalheiro do que aquele poeta camponês. Isso porque ele amava tudo: o camundongo, a margarida, todas as coisas, grandes e pequenas, criadas por Deus. Assim, possuidor desse passaporte, Robert podia se misturar em qualquer ambiente, em cortes e palácios, diretamente de sua cabana às margens do rio Ayr.

Vejamos o que a palavra “cavalheiro” significa: um homem gentil, que faz as coisas com gentileza, amor (em inglês a palavra gentleman é a composição de duas palavras gentle – gentil e man – homem). Essa é a arte e mistério da gentileza. O cavalheiro, por natureza, não pode agir sem gentileza. A alma grosseira, irrefletida, antipática não consegue agir diferente. O amor “não se conduz inconvenientemente”.

Altruísmo

O amor “não procura os seus interesses”. Observe: O amor não busca sequer seus próprios direitos. Na Grã-Bretanha, o cidadão inglês é muito devotado aos seus direitos individuais, o que é justo. Mas haverá ocasiões quando um homem poderá praticar O DIREITO MAIS ELEVADO de renunciar seus direitos. 

Paulo não nos exorta a renunciar nossos direitos. O amor é mais profundo. Nos convoca a não buscá-los, ignorá-los, eliminando totalmente o elemento pessoal de nossas estimativas. Não é tão difícil renunciar aos nossos direitos, que são frequentemente exteriores. É difícil desistirmos de nós mesmos. A coisa mais difícil é não buscar nossos próprios interesses. 

Depois de termos buscado, comprado, vencido e merecido nossos direitos, já recolhemos a melhor parte do bolo para nós mesmos. A renúncia neste ponto torna a cruz bem mais leve. Mas não buscar nossos direitos, não ter em vista o que é propriamente seu, mas o dos outros – isso é bem mais difícil. “E procuras tu grandezas?“, disse o profeta, “não as procures” [Jr 45:5]. Por quê? Porque não há grandeza em coisas. As coisas não podem ser grandiosas. A única grandiosidade está no amor altruísta. Até mesmo a renúncia em si mesma nada é, é quase um erro. Somente um propósito mais elevado ou um amor mais poderoso podem justificar o desperdício. 

Isso é mais difícil, como disse, nada buscar para si mesmo é mais difícil do que buscar e depois renunciar aos seus direitos. Mas preciso corrigir essa colocação, pois isso só e verdade quando tratamos de um coração parcialmente egoísta. 

Não existe privação para o Amor, nada é demasiadamente difícil. Acredito que o jugo de Cristo é suave. Seu jugo, na verdade, é Seu estilo de vida. Acredito que esse é um caminho mais fácil e alegre do que qualquer outro. A lição mais óbvia no ensino de Cristo é que não há alegria em ter e buscar as coisas, mas somente em dá-las. A metade do mundo está empreendendo essa busca pela felicidade tomando o caminho errado. Eles acreditam que ela consiste em ter, obter, em ser servido pelos demais, quando na verdade ela consiste em dar e servir o próximo. Como disse Cristo: “Mas o maior dentre vós será vosso servo” [Mt 23:11]. Aquele que deseja ser feliz, lembre-se que existe apenas um caminho: “Mais bem-aventurado é dar que receber” [At 20:35].

Continua nesse post.


Henry Drummond (1851 – 1897) nasceu em Stirling, Escócia. Segundo seu biógrafo, o prof. George Adam Smith, “ele mudou a atmosfera espiritual de sua geração”. Drummond foi um cientista, um explorador e um grande comunicador da fé cristã nos cinco continentes, especialmente a estudantes. Sua família era cristã e Henry tomou sua decisão por Cristo ainda criança, jamais se desviando de sua fé. Atuou como professor, sempre ministrando o evangelho especialmente aos jovens e desfavorecidos. Fazer a vontade de Deus era sua prioridade. Cooperou em várias campanhas evangelísticas no Reino Unido, e em um momento de descanso dos cooperadores de uma dessas campanhas, D. L. Moody (1837-1899) pediu que ele compartilhasse a mensagem. Essa mensagem sobre 1 Coríntios 13 se tornou depois um livreto, intitulado “The greatest thing in the world”. Moody referia-se a ele como o homem mais parecido com Cristo que já havia visto.

“Henry Drummond foi um dos homens mais amáveis que já conheci… De fato se podia reconhecer, assim como aconteceu com os primeiros apóstolos, “que ele havia estado com Jesus” [At 4:13]… Não conheci outro homem que, em minha opinião, tenha vivido mais próximo ao Mestre, ou que tenha procurado cumprir Sua vontade mais plenamente”. D. L. Moody (18837-1899).

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