O testemunho de Deus na Sua palavra

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“O testemunho de Deus na Sua palavra” é uma coletânea de princípios que nos orientam no estudo da Palavra de Deus. Tomamos por base o capítulo 30 do livro Knowing the Scriptures: Rules and Methods of Bible Study, de A. T. Pierson.

Arthur T. Pierson (1837-1911)

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“Admiráveis são os teus testemunhos; por isso, a minha alma os observa” (Sl 119:129).

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“A estrutura complexa e caráter composto da Palavra de Deus são um sinal e prova de que sua autoria parte de uma única mente, e que a verdade é descortinada de acordo com um plano claramente definido. Encontramos unidade em toda a sua diversidade e variedade, além de um progresso da doutrina por meio de um ensino consecutivo. Tudo isso em medida superior à que seria possível esperar de um só escritor, registrando tudo em um mesmo período. Tudo isso é absolutamente impossível para nossa condição humana. Esse é um dos fatos mais notáveis que o estudo das escrituras traz à luz”.

Pense: se quarenta escritores fossem contribuir juntos para a redação de um livro sem a menor condição de consultar um ao outro, seria possível a eles realizar um desenvolvimento sistemático da verdade? É um verdadeiro milagre que exista um livro com essa unidade sistemática, e com características tão maravilhosas como a Palavra de Deus!

Podemos perceber isso observando alguns de seus principais aspectos, a saber:

  1. A primeira menção. Sempre que qualquer pessoa, lugar, palavra importante ou assunto for referido pela primeira vez nas Escrituras, acaba por ser um prognóstico ou dica de todas as ocorrências subsequentes. É como se fosse um relance que indica sua relação com todo o testemunho ou ensino das Escrituras. O Espírito de Deus supre com essa primeira menção a chave para tudo que se seque no mesmo assunto. 
  2. Ilustração. Temos na Palavra exemplos de cada dever, perigo, princípio e prática certa ou errada. Teremos ao menos uma exemplificação e exibição de cada forma de virtude ou de deficiência, de beleza ou de deformidade tanto no caráter como na conduta. A Palavra nos provê sempre uma instância representativa, com um correspondente exemplo do método de Deus tratar com cada uma dessas instâncias, em julgamento ou aprovação. 
  3. Tratamento exaustivo. Podemos encontrar na Palavra pistas espalhadas para cada assunto, que estão intercaladas ao longo das Escrituras. Mas para ajudar os mais simples a entender e para deixar o leitor mais superficial sem desculpas, em algum lugar, de Gênesis a Apocalipse, a mente de Deus será plenamente revelada em todos os principais assuntos, e os raios difusos de luz serão unidos e focados em um só ponto.
  4. Ensino progressivo. Se tomarmos desde a primeira até a última referência a um assunto, as menções intermediárias frequentemente (se não sempre), refletirão um avanço do que é rudimentar e fundamental na direção do elevado e mais completo. Mas isso só pode ser compreendido quando os primeiros princípios forem aprendidos. Dessa forma, quando a última menção for alcançada, será como colocar uma pedra de remate sobre uma edificação. 

Vamos tomar algumas instâncias representativas de cada uma dessas leis, a título de exemplo:

Primeira menção

As primeiras palavras das Escrituras “No princípio, … Deus”, são uma lição muito valiosa. Deus é o início universal de toda a verdade. Tudo que é bom encontra a sua fonte nEle, o Autor da Criação e da Nova Criação.

A primeira referência ao Espírito Santo está em Gênesis 1:2: “o Espírito de Deus pairava por sobre as águas”. Assim o primeiro vislumbre do Espírito nos mostra um pássaro pairando sobre um abismo de caos e por meio de um processo de incubação Divina, trazendo ordem à uma condição de confusão e caos. Luz das trevas e vida da morte. Que belo relance da obra do Espírito na esfera do caos moral, ambiente a partir do qual Ele opera para trazer luz, vida e amor.

A primeira menção de luz está em Gênesis 1:3: “Disse Deus: Haja luz; e houve luz”. É impressionante perceber que a luz não foi criada, mas “convocada” a brilhar. Deus simplesmente disse: “Haja luz”. Veremos ao longo do registro das Escrituras veremos a luz sendo associada diretamente à Deus, que não foi criado, mas que é a fonte de toda a criação.

Assim o Espírito de Deus descortina desde o início o que irá mais adiante detalhar melhor. Cada fragmento da Escritura indica algo da plena verdade.

Como disse Benjamin Wills Newton, “… as primeiras palavras sobre algum assunto são a pedra fundamental a partir da qual o Espírito Santo vai trabalhar mais adiante”.

Ilustração

Caim e Abel são as primeiras ilustrações de incredulidade e fé, desobediência e submissão, ódio e amor, assassinato e martírio. Além disso, temos a bênção e maldição correspondentes da parte de Jeová.

Se examinarmos as Escrituras cuidadosamente, encontraremos ao menos um exemplo ilustrativo de cada tipo daquilo que é bom ou mau.

Abraão é um tipo de um homem de fé, Moisés, do líder, Aarão, do sumo-sacerdote. Vemos em Acabe o governante idólatra, em Elias, o reformador, em Davi, temos salmista e Rei, Daniel figura o padrão do santo em exílio e cativeiro. Nabucodonosor é o exemplo da auto-glorificação, Pedro, do verdadeiro confessor, em Paulo temos o convertido ideal, em Judas, o traidor.

Temos cada forma de crime que Deus abomina e seu correspondente julgamento, como vimos no caso da rebelião de Corá, da hipocrisia de Ananias e Safira.

Tratamento exaustivo

Tiago 1:18-25 discorre sobre o valor prático e a virtude da Palavra de Deus. Ali ela é chamada de “Palavra da Verdade”.

“Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas. Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus. Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma.Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar.”

Essa é a última dentre 6 instâncias dessa referência – Palavra da Verdade. Essa palavra implantada em nós (1Pe 1:23) tem a capacidade viva de transmitir poder. Ela é a base para governar nossa vida, deve ser recebida com mansidão. Não podemos ser meros ouvintes dela, mas “praticantes”, ela é a medida e modelo de caráter e conduta. Finalmente, ela é a “Perfeita Lei da Liberdade”, um espelho para conhecermos a nós mesmos e regularmos nossa conduta. Obedecê-la é ser livre, não escravo.

Quem resumo maravilhoso! A Palavra de Deus é para aquele que a pratica a luz, vida e liberdade, o agente revelador de Deus e de nós mesmos, é a verdade e nossa responsabilidade, forja e molda nosso caráter. Nossa atitude em relação a ela deve ser receptiva, contemplativa, devemos retê-la até que seja uma prática em nossa vida.

Ensino Progressivo

Vejamos, por exemplo “o cordeiro“. Sua primeira referência está nas “primícias do rebanho”, em Gênesis 4:4. A última menção está em Apocalipse 22:3, e ali vemos a conexão com o Cordeiro de Deus entronizado e glorificado. Entre essas duas referências, podemos traçar um ensino progressivo do cordeiro e seu sacrifício:

  • Gênesis 22 – Deus provê um Cordeiro para Abraão.
  • Êxodo 12 – Vemos o Cordeiro pascal, e seu sangue aspergido nos umbrais das portas do povo de Israel
  • Levítico 16 – Temos uma oferta dupla, para expiação e remoção dos pecados do povo.
  • Isaías 53 – Vemos uma descrição do Messias, o verdadeiro Cordeiro Pascal 
  • João 1 – Jesus de Nazaré é identificado como o CORDEIRO DE DEUS.
  • 1 Pedro 1 – Vemos o Cordeiro ressurreto e glorificado
  • Apocalipse 5 – O Cordeiro é identificado com o Leão e o Livro

Podemos perceber que em cada referência algo novo é acrescentado, que não era conhecido anteriormente. Quando chegamos ao fim do livro, teremos aprendido que a primícia do rebanho oferecida por Abel foi o primeiro relance e tipo do sacrifício PROVIDO por Deus para Seu Altar, cujo sangue seria o refúgio seguro para os pecadores, concedendo-lhes expiação e definitiva remoção da culpa, e que aquele Salvador está agora ressurreto, glorificado, entronizado!

É surpreendente observar que ainda que os livros da Bíblia não estão ordenados cronologicamente, eles descortinam de forma impressionante e lógica esses fatos espirituais. É como se o Autor das Escrituras não estivesse indiferente ao futuro arranjo de cada um dos livros que o compõem.

Esse progresso geral no ensino das Escrituras se desenvolve de forma que no livro de Apocalipse todos os pensamentos, profecias, promessas e advertências, metáforas, símbolos e figuras de linguagem previamente abordados sejam mencionados novamente. É como se Apocalipse fosse um compêndio de toda a Palavra de Deus. Esse é o livro de encerramento, a pedra de remate, e em seus últimos capítulos temos exatamente as mesmas coisas encontradas no início – o paraíso, o rio, a árvore da vida, a comunhão restaurada entre Deus e o homem – mas agora sem maldição.

A criação inicial é substituída por uma nova, sem morte, sem pecado e sem Satanás. A Bíblia descortina um pensamento progressivo, e desde sua pedra fundamental até a pedra de remate, temos uma sucessiva jornada ascendente, um avanço e desenvolvimento à perfeição e plenitude.

Quer estudar mais sobre a primeira menção? Veja:


 

A. T. Pierson (1837-1911) foi pastor, editor, escritor e mestre fiel da Palavra. Durante seu ministério, foi um líder entusiástico de missões, dedicando-se a atividades evangelísticas e ensino da Palavra de Deus. Foi amigo de C. I. Scofield, D. L. Moody, George Muller, A. J. Gordon e C. H. Spurgeon. Ele foi um dos autores de uma das mais conhecidas biografias de George Muller – “George Muller of Bristol”. Também sucedeu C. H. Spurgeon no púlpito do Metropolitan Tabernacle no período de 1891 a 1893. Apesar de sua extensa obra literária, temos poucos títulos traduzidos para a língua portuguesa, um deles é o livro “Chaves para o Estudo da Palavra”, publicado pela Edições Tesouro Aberto.

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