O último saco de arroz

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“O último saco de arroz” é uma coletânea de extratos selecionados do capítulo 8 do livro “O Segredo Espiritual de Hudson Taylor”, de Howard Taylor (esgotado).

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Mas o SENHOR permanece no seu trono eternamente, trono que erigiu para julgar. Ele mesmo julga o mundo com justiça; administra os povos com retidão. O SENHOR é também alto refúgio para o oprimido, refúgio nas horas de tribulação. Em ti, pois, confiam os que conhecem o teu nome, porque tu, SENHOR, não desamparas os que te buscam” (Salmo 9:7-10).

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Um colega de Hudson Taylor, o Sr. Parker, havia recentemente concluído a construção de um novo hospital em Ningpo. Era muito bem situado, perto de uma das portas da cidade, e num lugar elevado perto do rio, atraindo a atenção de milhares de pessoas. Infelizmente no lar do médico uma situação muito triste acabara de ocorrer. Depois de enfrentar tantas dificuldades, ele havia perdido a esposa, ficando com quatro crianças pequenas como seu encargo, e uma delas estava gravemente enferma. Se fazia necessário levá-las de volta para a Escócia.

Mas o que aconteceria ao hospital? Apesar de procurar, nenhum outro médico estava livre para tomar seu lugar, e então ele procurou Hudson Taylor para continuar ao menos o trabalho do ambulatório.

“Depois de procurar direção, orando ao Senhor (o Sr. Taylor recordou), senti-me constrangido a aceitar não só o ambulatório, mas também o hospital, dependendo somente da fidelidade de um Deus que ouve as orações para sustento da obra. 

Às vezes havia até cinquenta pacientes internados, além de um grande número que se tratava no ambulatório. Trinta camas geralmente eram dadas aos casos de caridade e seus acompanhantes, e outro tanto, mais ou menos, aos fumantes de ópio que pagavam sua pensão enquanto se curavam do vício. Cuidava-se gratuitamente de tudo que fosse preciso para os doentes internados, e também dos remédios exigidos no ambulatório: uma elevada despesa diariamente. Era preciso pagar salário aos atendentes.

Os recursos até então tinham sido provenientes das consultas dos clientes estrangeiros do médico, e com a saída deste, cessou a renda. Mas Deus não disse que o que pedirmos em nome do Senhor Jesus Cristo será feito? E não aprendemos que é para buscar em primeiro lugar o reino de Deus – não os meios para alcançá-lo – e todas “essas coisas” nos serão acrescentadas? Ora, certamente essas promessas são suficientes”.

O segredo da fé que se dispõe a enfrentar emergências é a dependência calma, prática, diária de Deus, que O torna real para o coração que crê.

“Oito dias antes de enfrentar a responsabilidade do hospital de Ningpo (o Sr. Taylor escreveu), eu não tinha a menor ideia de um dia fazer isso; muito menos os amigos da Inglaterra podiam ter previsto essa necessidade”. 

Mas o Senhor o previu, como os acontecimentos mostraram. Quando os ajudantes deixados pelo Dr. Parker souberam da mudança de condições, que só havia dinheiro em mãos para as despesas do mês corrente, e que depois a oração seria o único recurso, resolveram, como era bastante natural, sair e deixar a vaga para outros trabalhadores. Ora, era uma modificação que o Dr. Parker desejava fazer há muito tempo, só que não sabia como obter auxiliares de outra maneira. 

Hudson Taylor sabia resolver esse problema e com o coração mais leve, voltou-se para o círculo de amigos que não lhe faltava. Para os cristãos da Rua Ponte, depender do Senhor materialmente era tão natural quando dEle receber bênçãos espirituais. Pois estas, maiores, não incluíam as menores? E Deus não era, como “o professor” sempre lhes dizia, um verdadeiro Pai que nunca esquece dos que os filhos precisam? 

Então esses irmãos foram para o hospital, contentes não só por estarem fortalecendo as mãos de seus amigos missionários, mas por provarem de novo para si mesmos e para todos os outros o quanto Deus é fiel.

Uns trabalhavam de um modo e outros de outro, alguns concediam o tempo que podiam dispor, outros ofereciam seu tempo integral sem promessa de salário, embora recebessem a pensão. Todos eles tomaram sobre si a responsabilidade, orando fervorosamente pelo hospital e seus interesses.

Não é de admirar que uma nova atmosfera começasse a invadir o ambulatório e as enfermarias. Os pacientes a princípio, ainda que desconhecendo a razão, observavam o ambiente alegre, familiar e o entusiasmo com que tudo era feito e gostavam. Os dias tornavam-se mais interessantes.

Os atendentes – Wang, o cortador de grama, Wang, o pintor, Ni, Neng-kuei e outros – pareciam possuir o segredo da felicidade perpétua, e tinham tanto para dar. Eles não eram só bondosos e atenciosos no trabalho das enfermarias, mas todo seu tempo livre era usado para falar dAquele que lhes tinha transformado a vida e que estava pronto, conforme diziam, a receber todos que O procurassem em busca de descanso. Havia também os livros, as figuras, os cânticos. 

Na China era muito difícil guardar segredos, e a base financeira sobre a qual o hospital agora operava não era um deles. Logo os doentes estavam a par de tudo, e aguardavam ansiosamente pelo desfecho da situação.

Isso também era motivo para se pensar e comentar, e quando o dinheiro do Sr. Parker acabou, considerando o pouco que Hudson Taylor possuía, muitas foram as suposições sobre os futuros acontecimentos. É desnecessário dizer que Hudson Taylor, tanto a sós como quando unido ao pequeno grupo de auxiliares, orava muito nessa época.  Era um teste mais público, talvez, e portanto mais crucial nesse sentido do que qualquer outro que lhe tinha aparecido, ele reconhecia que a fé e a continuação da obra hospitalar estavam em jogo. Os dias se passavam sem que a resposta esperada aparecesse.

Finalmente, um dia, Kuei-hua, o cozinheiro, veio com uma notícia muito triste para o patrão. O último saco de arroz havia sido aberto, e estava desaparecendo rapidamente. 

– “Então“, respondeu Hudson Taylor, “o dia do Senhor ajudar-nos deve estar próximo“. 

E assim foi. Antes que se acabasse aquele saco de arroz, o jovem missionário recebeu uma carta que foi das mais admiráveis já recebidas. 

Vinha do Sr. Berger, e continha um cheque de cinquenta libras. Em sua carta ele dizia que havia sentido um peso sobre si, uma necessidade de usar sua riqueza para Deus. O pai do Sr. Berger havia falecido há pouco tempo, deixando-lhe uma boa herança. O filho não desejava aumentar seus gastos pessoais Já possuía o suficiente e agora estava orando para ser guiado quanto aos propósitos do Senhor naquilo que lhe acontecera. Poderiam seus amigos na China ajudá-lo? A ordem de pagamento anexa era para as necessidade imediatas, e poderiam escrever detalhadamente, depois de orar sobre o assunto, expondo a possibilidade de usar com proveito ainda mais dinheiro.

Cinquenta libras! Ali estavam sobrem a mesa, e aquele amigo longínquo, sem NADA SABER SOBRE aquele último saco de arroz ou sobre as muitas necessidades do hospital, teve coragem de perguntar se poderia mandar mais. 

Hudson Taylor foi tomado de emoção, cheio de gratidão e temor para com o Senhor. E se ele tivesse relutado em aceitar a direção do hospital por causa da falta de recursos, ou melhor, por falta de fé? Falta de fé! Ainda diante de promessas como essas e um Deus como esse!

Leia mais textos do autor aqui.


James Hudson Taylor (1832-1905) foi um médico inglês grandemente usado pelo Senhor para disseminar o Evangelho no interior da China. Seu grande segredo era cultivar o hábito simples de buscar constantemente o Senhor para o suprimento de todas as suas necessidades temporais e espirituais. 

Seu filho Howard Taylor escreve em sua biografia que, apesar de sua pequena estatura e limitações físicas que o deixavam com pouca energia, Hudson Taylor era um médico muito eficiente e um homem muito ativo em suas tarefas cotidianas – sabia cuidar de um bebê, preparar refeições, cuidar das finanças e consolar doentes e aflitos – tudo isso com a mesma segurança que se lançava em grandes empreendimentos. Ele foi um pai de família, com grandes responsabilidades e era um homem muito prático, vivendo uma vida que sofria constantes mudanças.

Acima de tudo, Taylor soube pôr as promessas de Deus à prova, atestando que era possível viver uma vida espiritual íntegra, em um nível muito elevado. Dezenas de milhares de almas foram ganhas para Cristo em muitas províncias chinesas que, até então, nunca tinham sequer conhecido um missionário. Cerca de mil e duzentos homens e mulheres trabalhavam em sua Missão para o Interior da China, dependendo somente de Deus para suprir todas as suas necessidades, pois viviam sem compromisso fixo de salário. Ele andava com Deus numa progressão contínua.

“Nunca fiz um sacrifício”, disse Hudson Taylor, recordando sua vida. De fato, se conhecermos seu testemunho, descobriremos que esse foi um elemento marcante em toda a sua trajetória. No entanto, Taylor entedia que as compensações de cada renúncia eram reais e duradouras, e que quando tratamos com Deus “de coração para coração”, negar-se a si mesmo sempre significa RECEBER.

Seu livro “Cântico dos Cânticos – União e comunhão pessoal com Cristo” retrata muito o seu coração, e foi um maravilhoso legado deixado pelo Senhor para a Igreja.

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