Deus falou!

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“Deus falou” é um artigo baseado em meditações no capítulo 1 da Epístola aos Hebreus. Tomamos por referência: “O Santo dos Santos: Uma Exposição da Epístola aos Hebreus”, de Andrew Murray (Editora Doze Cestos).

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“Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas” (Hebreus 1:1-3).

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O tema dessa tão importante epístola

O objetivo principal da Epístola aos Hebreus é conduzir-nos a Deus, revelando-nos quem Ele é e nos conduzindo a um contato pessoal com Ele.

Essa epístola se inicia com o falar do Senhor: “No princípio Deus…” (Gn 1:1, Tradução da versão King James).  Ele é o princípio e o fim. É notável que a mensagem dirigida para irmãos desanimados tenha as primeiras palavras referidas ao Seu majestoso Autor. O falar de Deus foi a fagulha da criação dos céus e da terra, e também é a fonte de restauração. Elias foi plenamente restaurado pelo “cicio tranquilo e suave” do Senhor (1Rs 19:12).  O falar de Deus é executivo. Quando Ele profere Sua vontade, ela é. Por isso é muito importante ter uma perspectiva real da grandiosidade da Palavra de Deus. 

“Nas Escrituras Inspiradas, Deus glorificou Seu nome e Sua natureza. Nelas, Ele revela Seus pensamentos, coração, vontade – todo o Seu caráter – e especialmente, Sua atitude graciosa para com os pecadores, e isso, de tal maneira e medida, a ponto de tornar as revelações anteriores de Sua Pessoa na criação do universo material e no controle da história humana comparativamente obscuras e confusas, assim como seria compararmos os primeiros raios de luz do amanhecer com as luzes mais fortes do pleno dia. Nunca foi encontrado um substituto para a Palavra escrita de Deus.

Em cada área da nossa vida, existe a necessidade de algum padrão exato e invariável, como nos pesos, nas medidas e no tempo. Isso nos impulsiona a recorrer às obras de Deus na busca de orientação, pois somente em Sua Palavra são encontradas formas perfeitas e modelos imutáveis.

Os melhores relógios e cronômetros precisam ser ajustados ao relógio da natureza – que é o relógio de Deus, que não variou um segundo sequer desde que Ele apontou o sol, lua e estrelas para indicar os tempos e estações. 

Assim, por mais confiáveis que nos pareçam os oráculos humanos, precisamos finalmente nos voltar para a Palavra Inspirada, onde, em vez de ambiguidade e afirmações duvidosas, encontramos ensinos claros e definidos, cheios de autoridade e infalíveis.” (extratos selecionados das páginas 4 e 5 do livro “Knowing the Scriptures – Rules and Methods of Bible Study” de Arthur T. Pierson). 

Mas temos uma afirmação ainda mais impressionante: inicialmente Deus falou de muitas maneiras por meio de profetas, mas NOS ÚLTIMOS DIAS nos falou pelo Seu próprio Filho. 

Inicialmente, Deus falava exteriormente, hoje Ele fala pelo Filho em nós. 

Por que Deus falou?

“Havendo Deus falado…”. Aquele que fala enseja por comunhão. Falar é o reflexo de uma busca por interação, relacionamento. 

A natureza fala de Deus e de Sua obra, todavia não pode falar a respeito do coração e dos pensamentos de amor de Deus para conosco, pecadores (Sl 19:1-6; Rm 1:20).

Por um determinado período de tempo, Deus falou de forma imperfeita e provisória por meio dos profetas, preparando caminho para uma revelação mais perfeita de Sua Pessoa. 

“Ouvi, ó céus, e dai ouvidos, ó terra, porque o Senhor é quem fala” (Is 1:2). 

Deus deseja se expressar e falar conosco. Por meio do Filho, Deus revela Seu coração para nós. Já estava previsto dentro do propósito de Deus que o Filho viria até nós como a própria palavra de Deus encarnada – a expressão exata dEle. 

A Palavra Encarnada

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus… E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1:1; 14).

No princípio era o Verbo. Essa palavra no grego é Logos, que significa que o Verbo mencionado ali é muito mais elevado do que o falar dos profetas. Trata-se de uma Pessoa Viva. Essa Pessoa precisa habitar dentro de nós e Se expressar.

O próprio Filho deveria vir até nós como a Palavra de Deus, o portador da vida e amor do Pai. O próprio Filho deveria vir para nos conduzir a um relacionamento vivo com o Ser divino, para habitar em nosso coração assim como Ele habita no coração de Deus, para ser em nós a Palavra de Deus.

“A fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste… Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles esteja” (Jo 17:21,26).

As palavras de Deus são atos criativos, executam aquilo que é por Ele pronunciado. 

“Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir” (Sl 33:9).

“Disse Deus: Haja luz; e houve luz” (Gn 1:3).

Quando Deus fala, algo passa a existir. Sua palavra é viva!

Quando Deus fala em Seu Filho, Ele nos dá de Si mesmo, não somente para nós e conosco, mas em nós. 

Medimos nossa vida cristã pela medida de Cristo. Tudo que nos acontece deve ser medido no quanto de Cristo nos foi acrescentado. Para isso eu preciso sair de cena, para que Cristo tenha mais lugar. 

Palavras dos homens x Palavra do Deus vivo

As palavras dos homens apelam à mente ou à vontade, aos sentimentos ou às paixões. Deus fala para aquilo que é mais profundo do que tudo isso: Ele fala ao coração, aquela área profunda e central dentro de nós, onde se encontram as fontes da vida – o falar de Deus nos traz vida.

Deus é Espírito. Como tal, Ele não tem nenhuma outra maneira de comunicar-nos Sua vida ou Seu amor senão entrando em nosso espírito e habitando e obrando ali. 

Ele faz com que Cristo habite em nosso espírito e, ali mesmo, Ele nos fala em Cristo essas palavras de amor, palavras redentoras e de poder, que nos trazem vida. 

A condição básica para ouvir

”Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus… Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito.” (Jo 3:3, 5, 6).

“O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida” (Jo 6:63).

Por isso precisamos nascer de novo. Sem o nascer do espírito, não é possível ouvir o falar de Deus (1Co 15:21,22).

Qual o idioma falado por Deus? Seu idioma, Sua língua é Seu próprio Filho. Esse falar é dinâmico, é uma Pessoa se expressando dentro de nós. Jesus disse que só fazia o que o Pai fazia, por isso Ele expressava tudo que o Pai falava (Jo 5:19; 30). Hoje Ele faz exatamente isso dentro de nós.

Nosso Mestre

Quem pode nos ensinar esse idioma? Somente o Espírito Santo. Apenas Ele pode fazer isso em nosso espírito.  

Quando Jesus esteve aqui na terra, disse: “aprendei de mim” (Mt 11:29). Ele Se relacionava com os discípulos, tinha comunhão com eles, mas tudo a partir de fora, como uma pessoa externa. O Verbo habitava ENTRE nós (Jo 1:14). Mas agora Ele nos fala pelo Espírito Santo, o Consolador, e isso dentro de nós. Agora não mais aprendemos DE Cristo, mas “aprendestes a Cristo” (Ef 4:20 e veja também Jo 16:13 e 1Jo 2:27). 

A verdade celestial não é proferida senão por meio da voz de Cristo, nem ouvida senão por meio do poder de Cristo, do Cristo vivo no interior daquele que ouve. “Quem é de Deus ouve as palavras de Deus” (Jo 8:47).

O Antigo Testamento foi preparatório. Aquilo que ele fornecia não estava destinado a satisfazer, mas apenas DESPERTAR A ESPERANÇA POR ALGO MELHOR QUE ESTAVA POR VIR.

A revelação progressiva

Por que Deus não se revelou desde o princípio no Filho? Porque o homem precisava apropriar-se do amor e da redenção de Deus de forma inteligente e voluntária. Para isso, ele deveria ser preparado. Ele necessitava primeiramente conhecer sua total impotência e a condição miserável e sem esperança em que se encontrava. Dessa forma, seu coração seria despertado com o verdadeiro desejo e a esperança de receber e valorizar aquilo que Deus tinha para dar. 

Vemos no registro de Eclesiastes 3, no verso 11 que Deus “pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim”. Paulo, no entanto, afirma: “mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória… Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus” (1Co 2:7-10). 

Vivemos em um tempo notável! É grandioso ter o Filho dentro de nós. Quantos pensam que seria melhor viver nos tempos de Jesus, mas ali eles só tinham o Senhor fora – Ele estava entre eles, mas hoje desfrutamos de algo muito maior – Ele habita em nós.

“Algumas pessoas podem afirmar com pesar: “Que pena! Nasci com dois mil anos de atraso! Se eu tivesse nascido vinte séculos antes, teria ido a Jerusalém ver o Senhor Jesus com meus próprios olhos. Eu teria crido nele, apesar de os judeus não o reconhecerem como o Filho de Deus”. Devemos dar a seguinte resposta: “mesmo se você tivesse convivido diariamente com Ele, caminhando junto com Ele e trabalhado ao Seu lado, mesmo assim talvez você não O reconhecesse. Certamente você conheceria o homem Jesus, mas não teria reconhecido quem Ele era de fato”. Quando o Senhor estava aqui na terra, os homens tinham muitas ideias a Seu respeito. Todos reconheciam que Ele era diferente das outras pessoas, embora não O compreendessem…. No entanto, como alguém pode conhecê-Lo? Em primeiro lugar (e o mais importante), Deus precisa nos iluminar, a fim de que possamos ver que Jesus de Nazaré é o Cristo, o Filho de Deus. Sem a revelação de Deus, nem mesmo ser discípulo de Jesus serve para alguma coisa. Os homens O seguiram até Cesaréia, mas continuavam sem conhecê-Lo de fato… Revelação, e não familiaridade, é a maneira de conhecermos a Jesus Cristo. Precisamos da revelação de Deus, precisamos que Ele fale conosco, que nos ajude a enxergar, antes de podermos reconhecer o Homem Jesus como o Cristo, o Filho de Deus….

Quando realmente desejamos conhecer ao Senhor, devemos conhecê-Lo muito mais profundamente do que poderíamos conhecer andando e conversando com Ele. Somente quando Ele abre os nossos olhos, nós podemos reconhecê-Lo. Talvez você lamente por não estar presente quando o Senhor andou aqui na Terra. Temos de entender, porém, que mesmo se estivéssemos presentes, talvez não conseguíssemos conhecê-Lo melhor. Hoje, o menor e mais fraco dentre os santos pode conhecer Jesus Cristo, tanto quanto Pedro O conheceu quando caminhou junto com Ele. Lembre-se: o Senhor Jesus, que os apóstolos conheceram no espírito, é o mesmo que você conhece hoje em seu espírito.

A questão fundamental é: como podemos realmente conhecer o Senhor Jesus? Ele não pode ser reconhecido externamente. É preciso que a revelação de Deus abra nossos olhos, a fim de que possamos vê-Lo e realmente conhecê-Lo…. Um indivíduo pode dedicar tempo examinando as Escrituras, memorizando suas palavras e elaborando doutrinas, de tal forma que seja capaz de responder a qualquer pergunta; no entanto, tal pessoa pode não ter a mínima ideia sobre quem é o Filho de Deus… Queremos enfatizar o seguinte: é Deus quem abre os nossos olhos para vermos o Seu Filho na Bíblia e na pessoa de Jesus de Nazaré…” (Watchman Nee – “O ministério da palavra de Deus”) .

As palavras externas de Cristo, assim como as palavras dos profetas, serviram para nos preparar e nos apontar para aquele falar interior do Espírito Santo no coração, o único falar que gera vida e poder. Esse é o verdadeiro falar de Deus em Seu Filho.

O caminho da revelação de Deus

Essas duas formas de falar indicam essencialmente o caminho de Deus para cada cristão. Após a conversão de um homem, há um tempo de preparação e teste que se destina a verificar se ele voluntariamente e de todo coração sacrifica tudo em prol da bênção plena. Se nesse estágio ele persevera em um esforço e empenho sinceros, ele será levado a aprender as duas lições que o Antigo Testamento deveria nos ensinar:

1. Ele se tornará mais profundamente consciente de sua própria impotência.

2. Será despertado nele o forte desejo de ser encontrado na revelação plena de Cristo, como Aquele capaz de salvar completamente – ter esperança apenas em Deus.

Quando essas duas lições forem aprendidas, a alma estará preparada e desejará render-se em fé à condução do Espírito Santo para verdadeiramente entrar na vida além do véu do Novo Testamento, no próprio Santo dos Santos, assim como nos é mostrado na Epístola aos Hebreus (compare os 2 chamados de Pedro – em Jo 1:35-42 e em Lc 5:1-9).

O objetivo da Epístola aos Hebreus é colocar diante de nós o sacerdócio celestial de Cristo e a vida celestial à qual Ele nos dá acesso por meio de Seu poder divino. Essa epístola nos ensina sobre como sair do estágio elementar, primário, da vida cristã para aquele estágio em que temos pleno e perfeito acesso a Deus.

No primeiro estágio, a ação do homem é mais proeminente: Deus fala nos profetas. São palavras humanas que ocupam e influenciam e nos ajudam a buscar a Deus. Há uma multiplicidade de pensamentos e verdades, de ordenanças e esforços.

No segundo estágio, a presença e o poder divinos são revelados mais plenamente: Deus fala no Filho, o que possui e traz a própria vida de Deus e nos conduz a um contato vivo com o próprio Deus. A palavra divina, que habita em nosso interior, revela Seu poder dentro de nós. Há a simplicidade e unidade do Filho de Deus e da fé Nele somente.

Cristo habita nos céus para levar a termo a obra do Seu sacerdócio celestial em nós, pelo Espírito Santo que Ele nos concede do céu. É fundamental, portanto, conhecer a Palavra viva, pela Qual Deus fala em nosso interior, em vida e poder.

Nesses últimos dias, Deus tem uma única palavra. Ele deseja que tudo o que essa palavra é e significa entre e viva em nós. Abramos nosso coração e Deus falará “Este é o Meu Filho”, de tal forma que Ele será nosso completamente.

“Falava ele ainda, quando uma nuvem luminosa os envolveu; e eis, vindo da nuvem, uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi… Então, eles, levantando os olhos, a ninguém viram, senão Jesus” (Mt 17:5,8).

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Na Escola de Cristo, o Espírito Santo é o grande Mestre, e Cristo a grandiosa lição. Nessa escola não aprendemos coisas, objetivamente, mas recebemos um ensino subjetivo por meio da experiência, quando Cristo passa a ser parte de nossa vida interior. Esta é a natureza desta Escola.

Entrando nesta escola, a primeira coisa que o Espírito Santo faz por nós, como grande Mestre e Intérprete se, verdadeiramente, nos entregarmos em Suas mãos, é nos mostrar de forma abrangente o que devemos aprender. Ele faz isso apresentando-nos o grande Objeto de nossa educação.

Considerando essa afirmação como verdade, o Espírito Santo começará a trabalhar para tornar algumas coisas reais para nós, e a primeira delas é a da completa ‘singularidade’ de Cristo. Quão diferentes nós somos do Senhor… Até aprender essa lição, você não chegará em absolutamente lugar nenhum…

Então, em segundo lugar, o Espírito Santo nos faz encarar a total impossibilidade de alcançarmos isso por meio da nossa própria capacidade. Deus estabeleceu um padrão, apresentou o Seu modelo, o Objeto para a nossa conformidade, e então nos deparamos com a impossibilidade de nos tornarmos naquilo. Sim, é impossível. Você não aprendeu esta lição do desespero ainda? Será necessário o Espírito Santo te levar ao desespero mais uma vez?…

(…) nunca encontraremos descanso para as nossas almas até que tenhamos primeiramente aprendido a total diferença entre nós e Cristo, e então, a total impossibilidade de sermos como Ele é tomando por base alguma coisa encontrada em nós mesmos, algo que possamos produzir ou fazer. 

(Extratos selecionados dos capítulos 1 e 7 do livro “A Escola de Cristo”, de T. Austin-Sparks). Faça o download gratuito do livro aqui.

Leia mais da Epístola de Hebreus aqui.

Referências:

Andrew Murray
“O Santo dos Santos: Uma Exposição da Epístola aos Hebreus”
Editora Doze Cestos

Arthur Tappan Pierson
Knowing the Scriptures – Rules and Methods of Bible Study
Extratos selecionados das páginas 4 e 5.

Watchman Nee
“O Ministério da Palavra de Deus”,
Cap 8

T. Austin-Sparks
A Escola de Cristo
Extratos selecionados dos capítulos 1 e 7.

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