“Olhando para Jesus”

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Erich Sauer (1898-1959)

“Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus” (Hebreus 12:1,2).

“A maior alegria na vida é tornar Jesus Cristo conhecido”. Li isso em letras grandes na parede do Moody Hall em Chicago. Essas palavras do grande evangelista expressam a essência da sua vida e a alegria recebida por meio dela. Essas palavras também deveriam ser o lema do serviço e empenho de todos os verdadeiramente redimidos. Todos vivemos “por” Cristo. Todos lutamos “em direção a” Cristo. Todos desejamos estar “Nele” e existir “para Ele”. O valor da nossa vida depende de quanto de Cristo pode ser encontrado em nós. Qualquer coisa adicionada além de Jesus é sem valor. É verdade, as coisas terrenas e exteriores têm um valor que não pode ser subestimado na vida presente, se forem mantidas dentro de limites. Estamos longe de considerar as maravilhas da criação como de pouca importância, ou de nos entregarmos ao cinismo ou escapismo de desprezar tudo o que é natural. Mas precisamos insistir que apenas permanecerá na existência eterna aquilo em nós que está sendo conduzido em direção a Cristo. Apenas tem valor eterno aquilo que foi vivido para Ele e amado por Ele, que fizemos Nele, que sofremos por Ele e ganhamos com Ele. Jesus, e Jesus somente é a vida da nossa vida, a eternidade do nosso tempo, o valor que nunca poderá ser roubado, arruinado e desvalorizado. Por essa razão, tudo depende de uma atitude prática de fé viva para com Jesus Cristo.

Essa é a essência fundamental de toda a vida espiritual do Novo Testamento. Demonstrar e praticar a verdade e vida de Cristo é o conteúdo e mensagem de todo o Novo Testamento. Jesus Cristo, segundo todos os escritores do Novo Testamento, é a única resposta viva para toda a doença, fraqueza e aflição. Todos eles estão perfeitamente seguros disso: Jesus nunca desaponta, Jesus apenas surpreende maravilhosamente. Ele nunca faz menos do que prometeu. Ao contrário, Ele excede Sua própria palavra, de forma que qualquer um que verdadeiramente confia Nele pode se juntar à Rainha de Sabá em sua alegre exclamação: “Eis que não me contaram a metade” [1 Rs 10:7].

Essa não é uma frase retórica, mas minha mais séria convicção quando afirmo: Se alguém me oferecesse uma bola de ouro tão grande quanto o sol, essa é uma bola mais que um milhão e duzentas mil vezes maior que toda a terra – toda de puro ouro – dizendo, entretanto, ao mesmo tempo, “Você precisa trocar a sua fé no Senhor Jesus por isso”, não hesitaria por um momento sequer. Só poderia haver uma resposta: “Fora com sua bola de ouro para o espaço sideral. Eu a rejeito. Jesus tem um valor infinitamente superior para mim”. Sei que não seria o único a dar esta resposta. Cada discípulo real de Cristo o faria tão prontamente, sem nenhuma hesitação. Todas as luzes criadas deste mundo são eclipsadas para o homem a quem Jesus Cristo surge como o sol da justiça. “Um maior que todos está aqui!”

O todo do Novo Testamento fala desse “Maioral”, daquela Pessoa que é verdadeiramente maior que todos. Por essa razão, sua mensagem central é o chamamento: “Vamos olhar para Jesus!”   

Do total de 27 livros do Novo Testamento, três escritos formam uma constelação especial nesse sentido: o Evangelho de João, as cartas aos Colossenses e aos Hebreus.

No Evangelho de João, a glória de Cristo é irradiada como vista do alto. Ele é o Filho que desceu do céu para este mundo. Ele foi enviado pelo Pai. Assim, vemos Cristo sob o aspecto celestial. Essa é a base da salvação.

Na carta aos Colossenses, vislumbramos a glória de Jesus a partir de dentro, a partir Dele mesmo, como o vivo e ativo Salvador e Redentor, pela excedente grandeza da Sua pessoa (especialmente no Capítulo 1), e com toda a plena suficiência da Sua obra (especialmente no Capítulo 2). Assim, vemos Cristo a partir do aspecto de Sua própria pessoa e obra. Esse é o centro da salvação.

A carta aos Hebreus demonstra a glória de Cristo comparada com os tempos antigos, quando da preparação para a salvação no período da história do Antigo Testamento. Assim, Cristo é demonstrado como Aquele que não apenas cumpriu as maiores revelações de Deus, mas que infinitamente as excedeu (especialmente nos capítulos 1-10). Desta forma, vemos Cristo sob um aspecto de preparação e cumprimento. Esta é a história da salvação.

Assim, enquanto o chamado “Vamos olhar para Jesus!” é o lema geral do Novo Testamento, mais ainda é dessa radiante constelação de três mensagens Divinas concedidas pelo Espírito!

Essa mensagem, como verdadeiramente a mensagem de todo Novo Testamento, foca na vida e realidade. “Vamos olhar para Jesus!” precisa se justificar na prática. A mensagem não é relacionada com “entusiasmo por Cristo”, mas com o ser “cheio com o Espírito de Cristo”; não é uma mera admiração de Sua grandeza, mas a experiência prática de Sua ampla suficiência nas lutas e tribulações de nossa vida diária; não se refere a algo intelectual ou uma visão espiritual, mas ação espiritual; não apenas cânticos de triunfo, mas uma vitória real e prática; não apenas louvor, mas discipulado. Ambos os aspectos permanecem inseparavelmente juntos: o santuário e a vida diária, os céus e a terra, o Cristo exaltado e Sua vida poderosa santificadora prática a ser experimentada aqui na terra.

O décimo segundo capítulo da carta aos Hebreus é aquela porção do Novo Testamento na qual o relacionamento entre a visão de Cristo e a vitória na batalha é enfatizada de maneira especial. Iremos considerar esse capítulo a partir dos seguintes pontos de vista principais:

“Vamos olhar para Jesus!

Porque Ele é nosso exemplo no conflito. Versos 1-3.

Vamos olhar para Jesus!

Porque assim poderemos alcançar uma vitória prática. Versos 1-3.

Vamos olhar para Jesus!

Porque assim permaneceremos firmes no sofrimento. Versos 4-11.

Vamos olhar para Jesus!

Porque assim não nos tornaremos cansados na corrida. Versos 12-15.

Vamos olhar para Jesus!

Porque assim poderemos viver de acordo com os privilégios dos nossos direitos de nascimento. Versos 16-17.

Vamos olhar para Jesus!

Porque assim obteremos a coroa e a Cidade celestial. Versos 18-19″.

Esse olhar para Jesus é ao mesmo tempo um não olhar para todas as outras coisas. Por essa razão, uma palavra é usada para “olhar” em Hebreus 12, que inclui ambos esses significados. [A palavra grega é aphorao, do radical grego apo = “de, longe de” e horao = “olhar”]. Isso significa um olhar com propósito para longe desses objetos que automaticamente capturam nossos olhares, em direção àqueles outros objetos que devem receber nossa concentração. Dessa maneira toda a falta de concentração será vencida. Nossos olhos irão ser dirigidos para um objeto, Cristo, e o coração irá assim ser capturado por Sua glória. Todas as experiências do homem interior, na crescente medida das profundezas e riquezas das Escrituras, são desta forma: “A ninguém viram, senão Jesus” [Mt 17:8].

Todas as bênçãos de Deus são planejadas para que possam crescer. Isso equivale a dizer que cada cumprimento é ao mesmo tempo uma promessa de algo ainda superior. Deus nunca alcançará um fim em Suas possibilidades (João 1:16; Efésios 2:7). Assim, o melhor e mais glorioso está sempre diante de nós e porvir. Tudo é glória, em glória, e de acordo com Seu próprio plano, “de glória em glória” (veja 2 Coríntios 3:18).

Com o mundo e o pecado é ao contrário. Tudo começa com alegria falsa e termina com desapontamento. No início temos um brilho enganoso e, no final, temos noite.

Muitos anos atrás visitei uma exibição da Imprensa em Colônia. Em uma de suas grandes salas, o relacionamento entre a Imprensa e os serviços postais foi demonstrado com diversos documentos e tabelas. Nunca me esquecerei da decoração de uma das principais paredes, que apresentava uma enorme águia. A exibição se relacionava com as realizações do serviço postal alemão até 1928. O efeito dessa enorme águia era muito imponente. Mas quando alguém se aproximava e olhava mais de perto, descobria que ela consistia somente de selos postais do período inflacionário – centenas de milhares de pequenos selos do período de inflação. Imediatamente eu disse ao meu acompanhante: “Não seria esta uma figura dos valores deste mundo, se estimarmos as coisas sob o ponto de vista terreno? A partir de uma certa distância, à primeira vista, elas parecem grandiosas e imponentes. Mas quanto mais perto nos achegamos a elas, mais descobrimos que elas têm valores inflacionados – enormes números, mas valores ínfimos. Não apenas a inflação do dinheiro, mas a inflação das palavras, de termos, ideais e espírito. Por trás dessa poderosa façanha, vemos pouca substância real. Quanto mais somos levados a conhece-los, menos os valorizamos. A partir da distância, uma águia, mas na realidade, apenas inflação!”

Quão diferente é Jesus Cristo! Quanto mais O conhecemos, mais o Seu valor cresce para nós. Ele Se prova verdadeiro, mesmo nos mais severos testes da vida prática diária. Ele nunca falha. Por essa razão, todo o nosso pensamento e empenho devem ser direcionados à Ele. Ele nos conduz “de fé em fé” (Romanos 1:17), “de força em força” (Salmo 84:7), “de glória em glória” (2 Coríntios 3:18). Nele temos uma fonte inesgotável de salvação aberta para nós (Isaías 12:3; Zacarias 13:1).

Ainda assim, somente experimentaremos esse crescimento nas bênçãos celestiais se nossas almas se empenharem para frente. Apenas aqueles que estão famintos se satisfarão; apenas os sedentos serão dessedentados (Mateus 5:6); apenas aqueles que tomarem seu discipulado como uma “corrida” obterão o “prêmio” de seu chamamento (Filipenses 3:14; 2 Pedro 1:10).

Portanto, “vamos olhar para Jesus!”. Somente desta maneira poderemos ser vencedores e alcançar o alvo da glória eterna na arena da fé (Hebreus 12:1-3).

Tradução do Capítulo 2 do livro “In The Arena of Faith” (Na Arena da Fé) de Erich Sauer.

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