Glória perdida, glória restaurada é um artigo baseado em meditações nos versículos iniciais do livro de Gênesis. Tomamos por referência os livros: “As Eras Mais Primitivas da Terra”, de G. H. Pember e “A Vida do Senhor Jesus”, de Stephen Kaung.
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“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (João 1:14).
“E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” (2Co 3:18).
“E foi transfigurado diante deles; o seu rosto resplandecia como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz” (Mateus 17:2).
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Adão e Eva foram destituídos de suas vestes de glória
“Se vos abrirão os olhos e, como Deus, series conhecedores do bem e do mal” (Gn 3:5)
De fato, a oferta da serpente era verdadeira, mas de modo muito diferente das expectativas iniciais de Eva. Na impetuosidade de seu orgulho, ela não demorou a perceber que o conhecimento Divino deveria, necessariamente, ser repleto de perigos destrutivos para aqueles que não possuíssem a sabedoria nem o poder de Deus.
Sim, seus olhos foram abertos, mas para enxergarem a si mesmos! Eles logo puderam contemplar a triste situação de nudez e vergonha na qual se encontravam. Então, passaram a ter consciência, de súbito, da malignidade da carne, que havia sido a intermediária na sua transgressão. Adão e Eva ficaram desnorteados com a sensação dolorosa da queda e da semelhança que agora tinham com os animais que os cercavam.
Esses sentimentos parecem ter sido intensificados em um grau razoavelmente grande pela mudança instantânea e visível da sua aparência exterior, pois, enquanto se mantiveram em obediência, o espírito de Deus soprara dentro deles e guardava total poder e vigor. Sua influência impregnável os defendia completamente – corpo, alma e espírito – das invasões da corrupção e morte ao passo que, ao mesmo tempo, seu esplendor, brilhando pela forma física, projetava uma auréola lustrosa ao redor de ambos a fim de que o elemento mais espesso do corpo fosse escondido dentro de um véu de glória radiante (veja Salmo 104:2 – Coberto de luz como um manto). Logo, como dominadores da criação, eles se distinguiram, de forma notável, de todas as demais criaturas que lhes foram colocadas em posição de inferioridade.
Todavia, o pecado só ocorreu por causa da aliança entre a alma e o corpo, o que destruiu o equilíbrio da existência do homem e da mulher. O espírito abatido foi reduzido à condição de prisioneiro, destituído de poder e quase calado. Por conseguinte, a luz espiritual foi se desvanecendo até que enfim, desapareceu. A influência espiritual chegou ao fim e não mais poderia preservar o corpo de ambos da decadência nem mais seria possível vesti-los com sua glória como de um manto. A ameaça de Deus foi um fato consumada; o reinado da morte começara. A glória fora perdida, seria essa glória restaurada?
Não é difícil provar que a restauração da glória visível será o resultado instantâneo da restauração do espírito, da alma e do corpo à perfeita ordem e harmonia, ou seja, esse se trata do sinal de que somos manifestos como filho de Deus. Contudo, esta glória resplandecerá com um fulgor muito mais intenso do que brilhou em Adão, pois, como vimos anteriormente, o corpo do homem não-caído não era um corpo espiritual. O espírito, na verdade, exercia uma influência poderosa e vigorosa, mas a alma era o poder dominador (como ainda continua sendo, uma vez que o primeiro homem se tornou alma vivente – 1Co 15:45). Entretanto, quando ocorrer a ressurreição, ou a mudança atrelada à volta de nosso Senhor, nosso corpo se tornará espiritual (vs 44), a consciência de Deus será suprema em nós, mantendo tanto a alma quanto o corpo em absoluto controle, e o poder completo de Sua glória será derramando sem demora ou obstáculos.
Portanto, falando a respeito desse tempo, disse Daniel: “Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento, e os que a muitos conduzirem à justiça, como as estrelas, sempre e eternamente” (12:3). O próprio Senhor também declarou: “Então, os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai” (Mt 13:43).
Mais uma vez, repito que João e Paulo nos dizem que, quando formos chamados à presença do Senhor Jesus, seremos semelhantes a Ele, isto é, Deus transformará o nosso corpo de humilhação para ser igual ao corpo da Sua glória (1 Jo 3:2; Fp 3:21). Não fomos deixados na ignorância quanto à natureza do corpo de Sua glória, pois, no monte da transfiguração, Ele permitiu que três escolhidos contemplassem o Filho do Homem na mesma forma em que Ele aparecerá quando vier o Seu reino. Por isso, o Seu Espírito, já restrito e escondido durante Sua residência provisória na terra, foi subitamente liberto, e, em um único instante, toda a Sua Pessoa resplandeceu com esplendor, para que a Sua face brilhasse como o sol, e suas vestes se tornassem brancas como a luz (Mt 17:2). Em Cristo vemos a glória perdida finalmente uma glória restaurada.
O homem e a sua mulher estavam envergonhados, e esse fato foi a única ponta de esperança que contemplavam adiante, pois, caso estivessem mortos para a vergonha da culpa, não se teriam diferenciado em nada dos espíritos malignos, e a salvação de ambos teria sido impossível. Porém, a existência deste sentimento mostrou que a consciência de Deus presente dentro deles, embora devastada, ainda não havia sido totalmente extinguida. A chama havia diminuído, mas a torcida ainda queimava e poderia até ser soprada pelo fogo do Espírito de Deus novamente (Mateus 12:20).
Então Adão e Eva, desnorteados em virtude da condição modificada, imediatamente tentaram suprir a cobertura perdida devido ao pecado de forma artificial usando a folhagem da figueira, coisa que seus descendentes continuaram fazendo desde então. Toda criatura vivente, seja da terra, água ou ar, possui sua forma corporal apropriada, e apenas o homem é destituído e compelido a recorrer à ajuda artificial, porque, por causa do pecado, perdeu seu poder natural de receber o derramar do seu mais glorioso traje de luz. Por conseguinte, podemos ver que o Senhor preferiu as vestes do humilde lírio a toda a magnificência de Salomão (Mt 6:29), pois as esplêndidas vestimentas do rei israelita não eram propriamente suas, enquanto a beleza do lírio foi desenvolvida a partir da vida em seu interior, como o simples resultado do seu crescimento espiritual.
O monte da transfiguração em nós
A visão do monte da transfiguração teve um enorme efeito na vida de Tiago, Pedro e João. A palavra transfiguração e a palavra transformação tem origem na mesma palavra grega – metamorphosis. Entretanto, há uma diferença entre a transformação do nosso Senhor e a nossa. Precisamos ser transformados. Não é suficiente ser apenas salvos, mas precisamos ser transformados. Quando somos salvos, alguma coisa acontece em nosso espírito. Nosso espírito, que estava morto em delitos e pecados (Ef 2:1,2), não tinha contato com Deus. Quanto cremos no Senhor Jesus, o Espírito Santo opera algo em nós e nos gera, reaviva nosso espírito. Isso é regeneração. Temos um novo espírito, mas uma velha alma – ainda somos nós. Precisamos ser transformados, e isso é um processo contínuo na nossa alma desde a regeneração.
O Espírito Santo transforma nossa alma e a purifica do domínio e da tirania do eu para o domínio e governo de Cristo – a fim que Ele possa ser expresso por meio dos nossos pensamentos, por meio das nossas emoções e por meio da nossa vontade, em vez de nós mesmos. Isso é transformação. Na vinda do Senhor, este nosso corpo será transfigurado e será um corpo espiritual. A glória perdida pode ser agora glória restaurada.
Portanto, a transformação é algo que acontece diariamente na nossa vida. Regeneração acontece de uma vez por todas, mas a transformação acontece diariamente, durante toda a nossa vida. Estamos no processo de sermos transformados de glória em glória na Sua própria imagem pelo Senhor, o Espírito.
A transfiguração do Filho do Homem exibiu Sua plena glória moral. Essa glória estava como que coberta por um véu, e ele foi tirado naquele momento. Ele simplesmente se manifestou. Desde que ele nasceu, a graça e a verdade subsistiram em Cristo Jesus. A lei veio por Moisés, mas a graça e a verdade subsistiram por meio de Cristo Jesus.
Temos a vida em nós, mas à medida que negamos a nós mesmos e deixamos a vida de Cristo tomar conta das nossas vidas, então há uma glória moral que brota de nós e isto é a nossa transformação. Quando olhamos para a glória do Senhor Jesus, com o rosto desvendado como por espelho, somos transformados de glória em glória. O monte da transfiguração é um processo contínuo para nós. Não é apenas ir ao monte e descer e a glória se vai. Não é como Moisés, que subiu ao monte por quarenta dias e quarenta noites na presença do Senhor e, quando desceu, não sabia que a sua face resplandecia. Aquela glória não vinha de dentro.
Conosco, hoje, a glória que o Senhor está colocando em nós é diferente. Não é algo externo, colocado por fora; é uma transformação. E algo saindo de dentro, assim como a glória do nosso senhor Jesus.
Quando Deus criou todas as coisas viventes, Ele as vestiu. Não importa se é um gato, um cachorro, um pássaro, todos são revestidos, têm pele, penas, pelos; mas, estranhamente, o homem foi criado nu. Será que o homem foi criado nu? Não, creio que Deus criou todas as coisas e a todas vestiu. Pode, por acaso, ser que Deus quando criou o homem, não colocou nenhuma vestimenta sobre ele? Adão e Eva descobriram que estavam nus até que comeram da árvore do conhecimento do bem e do mal. Então, evidentemente quando Deus criou o homem, Ele o vestiu com a Sua glória. A glória é a vestimenta do homem, mas quando o homem pecou, aquela glória desvaneceu e ele se tornou nu. Bem, Deus vai nos revestir com glória, e isso não é simplesmente vestir fisicamente, mas moralmente. O homem, sendo a obra-prima de Deus, tem que ter algum tipo de glória e isso é transformação.
Transformação não é algo que podemos tomar e deixar. Algumas pessoas pensam que serem salvas é tudo. Não, isso é só o começo. O desejo de Deus é que sejamos homens e mulheres que pensam da mesma forma que Deus, que também sejamos vestidos com glória, e que sejamos conformados à imagem de Seu amado Filho. O Filho unigênito é para ser o Primogênito entre muitos irmãos. Ele é para levar muitos filhos à glória. Sim, no Senhor Jesus a glória outrora perdida pode ser uma glória restaurada.
Contemplemos a glória do Senhor com o rosto desvendado. Em outras palavras, não vamos deixar que haja um véu entre nós e o Senhor. O sangue nos lavou e o véu foi rasgado. Não deixemos que haja separação, nenhuma distância entre nós e o Senhor.
Referências:
“As Eras Mais Primitivas da Terra”, capítulo 6 (págs 151-154) – George Hawkins Pember.
“A Vida do Senhor Jesus”, capítulo 10 – Stephen Kaung.