O propósito Divino no conflito espiritual

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O propósito Divino no conflito espiritual são nossas notas baseadas no capítulo 9 do livro “Strong in The Day of Battle”, de T. Austin-Sparks, publicado e distribuído por Emmanuel Church. É importante salientar que não se trata de uma tradução do texto original, mas da nossa compreensão daquilo que o autor escreveu, podendo conter divergências em relação ao seu entendimento. 

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“Depois da morte de Josué, os filhos de Israel consultaram o SENHOR, dizendo: Quem dentre nós, primeiro, subirá aos cananeus para pelejar contra eles? Respondeu o SENHOR: Judá subirá; eis que nas suas mãos entreguei a terra. Disse, pois, Judá a Simeão, seu irmão: Sobe comigo à herança que me caiu por sorte, e pelejemos contra os cananeus, e também eu subirei contigo à tua, que te caiu por sorte. E Simeão partiu com ele” (Juízes 1:1-3).

“E, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” (Colossenses 2:15).

“Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Efésios 6:12).

“Não os lançarei de diante de ti num só ano, para que a terra se não torne em desolação, e as feras do campo se não multipliquem contra ti. Pouco a pouco, os lançarei de diante de ti, até que te multipliques e possuas a terra por herança” (Êxodo 23:29,20).

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Leitura: Juízes 1:1-26

Podemos observar um ponto de grande importância nessa passagem da Epístola de Paulo aos Colossenses (2:15). Considerando a obra do nosso Senhor Jesus, já temos a vitória para o nosso combate. Essa vitória já foi absolutamente assegurada, completa e finalizada por Ele. O Senhor já despojou publicamente os principados e potestades, tornando-os num espetáculo, triunfando sobre eles na Cruz.

Voltando ao Antigo Testamento, podemos nos lembrar que o Senhor disse a Israel que expulsaria os seus inimigos de Canaã. Pelo mesmo princípio, o Senhor já possuía toda a vitória, mas eles precisaram tomar posse dela, progressivamente. Analisaremos, então, esse aspecto progressivo do nosso conflito e da nossa grande necessidade desse processo.

O Fato

O fato desse conflito ter um caráter progressivo é visto com muita clareza, tanto no tipo do Antigo Testamento, como no Novo Testamento. Como descrito em Êxodo 23, o inimigo deveria ser lançado fora de Canaã paulatinamente.

Hoje, apesar do Senhor Jesus já ter vencido e despojado os principados, nós ainda permanecemos aqui experimentando um constante conflito com eles. Existe um aspecto progressivo dessa batalha pela vida espiritual e pela ascendência sobre essas forças e poderes de morte espiritual.

A Razão Divina

Sabendo que a vitória está plenamente assegurada no Senhor Jesus por meio da Cruz, por que o Senhor não nos concede essa vitória de maneira simples e completa, permitindo que prossigamos felizes com as nossas vidas, sem termos que viver debaixo dessa sombra do conflito espiritual?

Por mais tola que essa pergunta possa nos parecer, precisamos pensar no motivo pelo qual Deus, em Sua soberania, permite esse processo da nossa assimilação gradual da vitória do Senhor Jesus.

Iremos combater até o fim das nossas vidas? A passagem de Êxodo nos concede a chave para compreender essa questão. Seria necessário que o povo se multiplicasse. Eles deveriam se desenvolver para possuir toda a terra que o inimigo havia usurpado. Nossa plena possessão da vitória tarda devido a nossa falta de habilidade de ocupar a terra, e pela nossa limitação e imaturidade espirituais.

Prosseguindo para o Novo Testamento, perceberemos o território espiritual, ocupado por forças espirituais. Nenhuma força terrena pode desalojá-los, nem ocupar seu território, pois isso só pode ser levado a termo por forças da mesma natureza – espirituais. Se iremos ocupar esse território, deverá haver em nós uma correspondência de capacidade e dimensões. Assim iremos retomar esse lugar por eles ocupado. Tudo envolve a nossa medida e capacidade espirituais.

Ascendência Espiritual, atrelada ao Crescimento Espiritual

O que o Senhor nos diz por meio desse princípio é que Ele atrelou a ascendência espiritual ao crescimento espiritual. É muito comum, em momentos de batalha espiritual, buscarmos o Senhor em oração, apelando por vitória, ascendência e domínio sobre o mal e a morte que nos acometem. Acreditamos que o Senhor irá exercitar Seu poder, nos estabelecendo em uma posição de ascendência, isso por meio de um simples ato de Sua soberania. Devemos corrigir nossa mentalidade.

O que o Senhor realmente visa é alargar-nos, para que assim possamos ocupar o espaço. Ele nos coloca em experiências que nos conduzem à uma expansão e aumento de capacidade espiritual, possibilitando, consequentemente, a ocupação do espaço tomado pelo inimigo.

A afirmação de Êxodo deixa isso bem claro diante de nós. Vemos pessoas chamadas para a vitória, para a conquista. Percebemos algo progressivo em desenvolvimento: o Senhor é Quem de fato está desapossando, indo adiante deles. “Enviarei o Anjo adiante de ti…” (Êx 33:2).

Mas vamos supor que o Senhor vá adiante do Seu povo e desaposse a terra de todos os inimigos, deixando o território desocupado? Se Seu povo ainda estiver em tão pequeno número, só ocupará parcialmente o território.

Nem Deus, nem o diabo acreditam em vácuos. Permita-se permanecer em um estado de passividade, e rapidamente estará com problemas. Vemos isso na história contada pelo próprio Senhor Jesus a respeito do homem que era possuído por demônios. O demônio saiu e a casa ficou vazia, ornamentada. Então, logo outros demônios piores vieram e tomaram o lugar [Mt 12:43-45].

O Senhor também anseia por ver tudo ocupado, em uma possessão plena. Nas questões espirituais, é essencial que haja um alargamento espiritual, antes que o Senhor conceda mais espaço.

Sinto que a Cristandade inverteu as coisas, buscando primeiramente obter espaços grandiosos, na expectativa de ocupá-los posteriormente. Não é assim que o Senhor opera. Primeiramente Ele alarga, então concede o território de acordo de acordo com esse alargamento.

A lei espiritual que foi expressa diante de nós é que a ascendência espiritual sobre as forças do mal e da morte está atrelada ao crescimento espiritual. Crescimento espiritual, portanto, é essencial para a ascendência e para o alagamento do território. O desafio do Senhor para nós é: ‘Você consegue ocupar esse território?’ Seria um desastre receber o território sem a devida capacidade de ocupá-lo.

Ascendência não é um Dom

Tudo se baseia nessa questão do desenvolvimento espiritual, porque a ascendência não é um dom. A ascendência é desenvolvida em nós por meio do crescimento e alargamento espiritual. Portanto, aqueles que conhecem mais da vitória, não são aqueles que falam muito a esse respeito, mas são aqueles que foram conduzidos à experiências e processos que os levaram a ser poderosamente expandidos espiritualmente em Cristo.

Colocando isso em outras palavras, deveria nos confortar saber que tudo que o Senhor ordena sobre nós objetiva o nosso alargamento. Então, mesmo quando passamos por situações dolorosas e somos conduzidos às profundezas e ao quebrantamento, tudo isso intenciona nos levar à uma profunda, alargada e mais elevada liberação da energia do Senhor por meio do sofrimento. Isso nos conduzirá à um lugar de poder e ascendência espirituais.

Dessa forma, o poder do inimigo é enfraquecido, porque o poder dos santos é amplificado pelo seu crescimento na graça e no conhecimento do seu Senhor e Salvador, Jesus Cristo. O poder dos santos se torna cada vez maior sobre esse fundamento.

É evidente que se não houver um pano de fundo adequado na vida daqueles que realizam assaltos contra o reino das trevas, o inimigo os despedaçará, e eles não serão capazes de permanecer firmes. Para isso, é demandada competência espiritual, riqueza, uma história secreta com o Senhor e plenitude espiritual que forneçam suporte contra o inimigo, para forçá-lo a abandonar sua posição.

Um Impedimento, se Visto da Maneira Errada

Um ponto importante é que esse fato do combate progressivo pode se tornar num impedimento, se for visto da forma errada. Podemos perceber que, no caso de Israel, muitos estavam impedidos de lutar e combater, e ficaram desencorajados para expulsar completamente o inimigo, porque todo aquele processo era progressivo e muito lento.

Nossa natureza humana gosta das coisas instantâneas, deseja ter tudo resolvido de uma só vez, e o longo período de crescimento espiritual é extremamente desencorajador para a nossa carne. Foi por essa razão que Israel não expulsou completamente aquelas nações, porque isso demandava por persistência. Eles precisariam tomar a coisa em mãos e não desistir, em uma devoção firme, perseguindo continuamente o objetivo.

Isso também acontece conosco. É comum ficarmos desencorajados, quando parecemos fazer um progresso tão pequeno. Parece sempre haver muito mais adiante de nós, se for comparado com o que já alcançamos! Parece que andamos tão pouco!

Mas isso é parte da ordenação Divina. Enquanto estivermos aqui, o Senhor nunca nos dará uma ocasião para dizer: Agora posso descansar! Sim, estamos aguardando ansiosamente por esse dia, e, constantemente, imaginamos que não tardará até que estejamos em posição de ascendência, quando a luta terá cessado, para que possamos finalmente descansar!

Devo dizer-lhe, com toda a fidelidade, que acredito que até o último golpe desse combate, iremos sentir que praticamente nada foi feito, se comparado com o que estará diante de nós por conquistar. Ainda sentiremos que as forças que enfrentamos são arrebatadoras!

Não importa quanto progresso espiritual tenhamos feito, haverá momentos em que nos sentiremos quase que esmagados, sentindo que o lombo do inimigo ainda não foi quebrado.

O caminho da glória é o caminho da intensificação do conflito, e a parte mais amarga desse combate acontecerá quanto estivermos prestes a adentrar na glória final. O Senhor nunca nos dará razões para descansar.

O Perigo do Descontentamento

Também temos um outro exemplo na derrota de Israel. Enquanto alguns estavam desencorajados devido ao prolongado conflito, outros adentraram em um estado de descontentamento. Entenderam que combateram, chegaram até um certo ponto e consideraram que já era o suficiente.

Descontentamento pode ter um aspecto santo ou profano. É claro que existe um santo descontentamento! Enquanto existirem forças a serem desalojadas, uma grande esfera de forças espirituais contrárias ao Senhor, não devemos nos contentar.

Mas nunca devemos descansar, dizendo: ‘Senhor, o Seu ideal é inatingível!’ Se pensarmos assim, estaremos em uma triste posição. Durante os quatrocentos anos dos Juízes, uma atitude dessa natureza produziu miséria, derrota e fraqueza espirituais.

Isso provocou um terrível estado de inconstância na experiência do povo. Observe o registro do livro de Juízes e marque os períodos de escravidão de Israel. Por que eles ocorreram? A explicação está no capítulo 1. Israel não expulsou os seus inimigos, e isso resultou em miséria e derrota.

Mas o que me refiro agora é que o povo entrou em um estado de descontentamento profano. Acreditaram que o ideal era possuir toda a terra, mas que o ponto onde haviam chegado parecia estar dentro de sua capacidade, então aceitaram as coisas como estavam!

Esse é um desafio muito sério, no que diz respeito ao Testemunho do Senhor! Ao olharmos para o mundo nos nossos dias, principalmente o mundo cristão, e vermos o seu estado, corremos o mesmo risco, uma vez que as condições do nosso tempo são tão parecidas com a condição descrita no livro de juízes. Podemos nos perguntar: ‘Será que é possível sustentar um pleno Testemunho cristão? Será possível manifestar a expressão plena da mente do Senhor?’ Muitos responderiam: ‘Esse é o ideal, mas é uma tarefa impossível. Melhor aceitar a situação como está e viver com isso’.

Você irá se contentar? No meu caso, decidi que, mesmo que eu morra tentando, viverei nessa busca por uma plena expressão do propósito do Senhor. No que diz respeito à minha própria vida, que ela seja derramada até o fim nessa busca da plenitude da vontade do Senhor, e não aceitarei essa condição tão aquém da Sua vontade existente no meio do Seu povo. É profano se contentar com essa situação. Foi devido a essa falha em seguir em frente, por tudo parecer impossível, que ocorreu essa terrível paralisia e ineficiência espiritual no meio do povo de Deus, fato que perdura até os nossos dias.

A Necessidade de Comunhão

Existe uma outra necessidade premente, se realmente iremos nos empenhar em vencer essa batalha. Podemos ver isso claramente descrito no capítulo 1 de Juízes. Vemos uma pergunta:

Quem dentre nós, primeiro, subirá aos cananeus para pelejar contra eles? Respondeu o SENHOR: Judá subirá… Disse, pois, Judá a Simeão, seu irmão: Sobe comigo à herança que me caiu por sorte, e pelejemos contra os cananeus, e também eu subirei contigo à tua, que te caiu por sorte. E Simeão partiu com ele. Subiu Judá, e o SENHOR lhe entregou nas mãos os cananeus e os ferezeus; e feriram deles, em Bezeque, dez mil homens” (vs 1-4).

Aqui percebemos uma real efetividade obtida por meio da cooperação e comunhão. Percebemos a irmandade se manifestando em apoio mútuo e suporte no combate. O inimigo tinha obtido uma posição e se opunha ao povo de Deus, porque conseguiu impedir isso. Uma das estratégias de sucesso do inimigo era impedir a cooperação do povo de Deus na batalha, deixando-os espalhados, divididos, desintegrados, quando cada um vivia em sua esfera individual, em vez de adotar uma visão e prática corporativa pelo Senhor.

A grande necessidade do Senhor é obter um instrumento de oração coletivo nos dias de hoje, para que o inimigo seja desalojado do seu lugar. Isso não acontecerá com meras petições e palavras, mas devem de fato ser orações. A vitória está nas mãos do Senhor. Ele já desalojou os principados e potestades. Ele disse à Israel: “eu os expulsarei”.

Entretanto, foi necessário unidade, um tomar posse pela fé daquela vitória. Se não tivermos algo assim em nossas vidas, não experimentaremos o triunfo de Judá e Simeão. Ali podemos ver o verdadeiro progresso.

Existem situações em alguns lugares do mundo, onde o testemunho do Senhor está em ruínas, abafado, incapaz de se reerguer, e o inimigo está tomando o terreno. O máximo que o povo de Deus consegue fazer é permanecer naqueles locais. Há a necessidade de um poder para prevalecer, e esse poder depende da posição do povo de Deus em uma poderosa comunhão em oração. Isso moverá o Trono.

Muitos sabem que não conseguirão ir muito longe em suas próprias vidas de oração. A situação é grande demais para ser enfrentada por eles de maneira isolada. Precisamos da restauração de um instrumento de oração, por meio do qual, a mão do Senhor Jesus será liberada sobre as situações que estão amarradas nas mãos do inimigo.

Se for possível a nós estar com outros em oração, façamos isso. Se for possível comunhão em oração com qualquer um, na busca pelos interesses do Senhor, vamos nos lançar nisso pela liberação de situações onde ainda prevalece o domínio do poder do inimigo.

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Essas são nossas notas baseadas no capítulo 9 do livro “Strong in The Day of Battle”, de T. Austin-Sparks, publicado e distribuído por Emmanuel Church. É importante salientar que não se trata de uma tradução do texto original, mas da nossa compreensão daquilo que o autor escreveu, podendo conter divergências em relação ao seu entendimento. 


T. Austin Sparks (1888-1971) nasceu em Londres e estudou na Inglaterra e na Escócia. Aos 25 anos, iniciou seu ministério pastoral, que perdurou por alguns anos, até que, depois de uma crise espiritual, o Senhor o direcionou a abandonar aquela forma de ministério, passando a segui-Lo integralmente naquilo que parecia ser “o melhor que Deus tinha para ele”. Sparks foi um homem peculiar, que priorizava os interesses do Senhor em vez do sucesso do seu próprio ministério. Sua preocupação não era atrair grandes multidões, mas ansiava desesperadamente por Cristo como a realidade de sua pregação. Por isso, suas mensagens eram frutos de sua visão e intensas experiências pessoais. Ele falava daquilo que vivenciava, e sofria dores de parto para que aquela visão se concretizasse primeiramente em sua própria vida. Pelo menos quatro linhas gerais podem ser percebidas em suas mensagens: (a) o grandioso Cristo celestial; (b) O propósito de Deus focado em ganhar uma expressão corporativa para Seu Filho; (c) a Igreja celestial – a base da operação de Deus na terra e (d) a Cruz – o único meio usado pelo Espírito para tornar as riquezas de Cristo parte da nossa experiência. Sparks também acreditava que os princípios espirituais precisavam ser estabelecidos por meio da experiência e do conflito, quando finalmente seriam interiorizados no crente, tornando-se parte de sua vida. Sparks desejava que aquilo que recebeu gratuitamente fosse também assim repartido, e não vendido com fins lucrativos, contanto que suas mensagens fossem reproduzidas palavra por palavra. Seu anseio era que aquilo que o Senhor havia lhe concedido pudesse servir de alimento e edificação para os seus irmãos. Suas mensagens são publicadas ainda hoje no site www.austin-sparks.net e seus livros são distribuídos gratuitamente pela Emmanuel Church.

“Nenhum homem é infalível e ninguém ainda ”obteve a perfeição”. Muitos homens piedosos precisaram se ajustar, seguindo um senso de necessidade, após Deus lhes haver concedido mais luz.” (De uma Carta do Editor publicada pela primeira vez na revista “A Witness and A Testimony“, julho-agosto de 1946).

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