T. Austin-Sparks (1888 – 1971)
“Voltei-me para ver quem falava comigo e, voltado, vi sete candeeiros de ouro e, no meio dos candeeiros, um semelhante a filho de homem, com vestes talares e cingido, à altura do peito, com uma cinta de ouro. A sua cabeça e cabelos eram brancos como alva lã, como neve; os olhos, como chama de fogo; os pés, semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa fornalha; a voz, como voz de muitas águas” (Apocalipse 1:12-15).
Como subsistiremos diante daqueles olhos de fogo naquele dia? Como poderemos permanecer diante do Senhor hoje? Homens como Daniel e João ficaram esmorecidos diante da Sua glória. Quando pensamos na grandeza do propósito do Pai e do Seu Filho, um bom ponto para começar, se você é chamado pelo Seu nome (Atos 15:14), é numa das profecias mais assombrosas registradas pelo profeta João e proferida pelo próprio Filho do Homem glorificado! Sim, Apocalipse 2 e 3 é o pano de fundo da nossa meditação! Ao contemplar o Senhor em glória, o apóstolo recebe um carinhoso recado Dele para Sua amada Igreja. Carinhoso porque essa mensagem traduz cuidado e amor tão grandes do Senhor por ela, ao ponto de deixar algo tão maravilhoso e atemporal registrado na palavra de Deus.
Essa é a profecia das profecias para a Igreja – um recado maravilhoso para aqueles que amam profundamente o Senhor. O Senhor usa aquelas 7 igrejas da Ásia para revelar 7 condições espirituais. Independente do seu ponto de vista e escola de interpretação favoritos, você não pode ficar indiferente a essas palavras.
Em poucas palavras, o Senhor vai direto ao ponto, descrevendo o estado “interior” e condição “real” de cada uma delas, trazendo sérias advertências, um veredicto e um julgamento acertado de cada uma.
Podemos, entretanto, perceber um fator governante permeando todas as 7 cartas, uma questão central envolvendo todas elas. Independente das particularidades de cada uma, existem aspectos e elementos específicos, algo que é a base comum para a continuidade da manutenção do testemunho de cada uma delas na terra. Esse testemunho é o que está em jogo, não a salvação.
Quando o apóstolo viu o Senhor de pé em meio aos candeeiros, que foram posteriormente interpretados por Ele mesmo como as igrejas, a própria visão expressa e define o Seu amor, cuidado e contínuo controle governamental sobre elas “em glória” (Ap 1:12,13; 20). Ele governa tudo. Mas ao ver claramente esse governo, qual é a prerrogativa para tomar parte desse tão honorável testemunho (candeeiro)? Temos as respostas nas palavras do próprio Filho do Homem.
A Base do Testemunho
Uma coisa é certa – o fato de uma congregação ter sido originada pelo Senhor, ter sido dirigida inicialmente por Ele, não justifica a sua preservação indefinidamente, independente do estado de caráter em que ela se encontre no decorrer do tempo. Uma história passada com Deus, mesmo que gloriosa, não é garantia de preservação de um testemunho, caso as condições que o possibilitaram inicialmente não sejam preservadas. Isso é algo que nos peneira verdadeiramente.
O próprio símbolo do Candeeiro é muito claro. No Antigo Testamento, o candelabro no tabernáculo e em Zacarias 4:2 sempre representou a expressão viva das energias do Espírito Santo. Um candelabro todo de ouro, 7 bacias, 7 pavios, o óleo sendo derramado das oliveiras vivas para as vasilhas, a fim de prover recursos para produção de luz. Essa ilustração é muito completa. Trata-se de algo vivo.
Não era algo acumulado em cisternas ou tanques feitos pelo homem, mas árvores vivas, óleo sendo derramado continuamente, sempre fresco – das artérias de um organismo vivo para um candelabro queimando incessantemente, uma luz que não se apagava ou esmaecia, mas que era sempre forte.
O testemunho é esse: uma vida inesgotável, toda-suficiente. Essa vida não se trata de algo abstrato, mas é algo que vem todo o tempo de uma fonte inesgotável, a fonte eterna de vida gloriosa. Aquela luz traz um testemunho constante da vitória sobre a morte. Enquanto reluz, ela expressa essa vitória: a vitória sobre a morte que tenta sufocar a vida, tenta apagar a chama. Mas essa luz brilha mesmo em meio à morte, e é uma declaração contínua de que a morte não tem poder de apagá-la.
As 7 igrejas são chamadas à existência para ser uma expressão viva e permanente do próprio Senhor, como testemunha Fiel e Viva, pelo poder de Deus. Nas 5 igrejas que o Senhor exorta, encontramos uma diversidade de elementos que expressam algo que é contraditório ao Espírito Santo, ao Espírito da Vida. Algo assim, encontrado entre o povo de Deus, constitui-se num elemento de morte, e dá a Satanás um ponto de apoio, um lugar, trazendo contradição ao testemunho.
Deus Nunca se Satisfará com Nominalismo
Vemos pessoas que têm um nome, boas obras, muitas coisas que o Senhor não pode julgar porque são boas, mas aquilo que é essencialmente vital e justifica a manutenção do testemunho não mais existe. Fomos salvos com um propósito. Deus nunca se satisfará com nominalismo ou bondade em geral! Apesar de sermos gratos por qualquer que seja a expressão que evidencie o nome do Senhor hoje, mesmo que seja a mais pobre das expressões que falam Dele, à luz do Seu propósito, não podemos nos satisfazer apenas com isso.
Será que, desde o início, Deus desejava uma massa geral e apenas alguns “vencedores”? O propósito de Deus é para toda a igreja – mesmo que seja realizado apenas por poucos – tudo está centrado na vida, aquela vida que vence a morte.
Qual é o testemunho do Senhor? Ele está sempre relacionado à Sua ressurreição dentre os mortos e ao fato Dele viver pelo poder que venceu a morte. Essa é a base da Sua vida. Nós somos testemunhas da Sua ressurreição. Por isso, devemos experimentalmente trazer essa marca. A marca do Senhor que transcende tudo. A vida que vence a morte. Esse é o testemunho de vida.
Resumo do capítulo 1 do livro “The Battle of Life” de T. Austin-Sparks.